quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Para FMI, desemprego e dívidas vão limitar retomada do consumo no Brasil

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Jornal GGN - Alejandro Werner, diretor para o departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirma que o alto nível de desemprego e o endividamento das família irá continuar pressionando a demanda em 2017. 
 
“os indicadores da atividade econômica no fim do ano apontavam para uma demora na recuperação porque os gastos privados continuam fracos", disse Werner, lembrando que Produto Interno Bruto continuou se retraindo no terceiro trimestre do ano passado. 
 
Na semana passada, o FMI rebaixou sua previsão para o Brasil e agora espera que PIB do país deve aumentar somente 0,2% este ano. 
 
 
O economista citou medidas anunciadas pelo governo como ajuda para empresas endividadas, reformas para reduzir a burocracia e os custos da atividade empresarial.
 
Ele também destacou ainda a aprovação da PEC 55, que congela os gastos públicos e limita seu crescimento à inflação por duas décadas. Outro ponto citado por Werner foi a crise fiscal dos Estados. 
 
Entre outras recomendações, o FMI fala sobre o aprofundamento de reformas estruturais, com investimentos em infraestrutura, redução da burocracia, reforço da educação, como medidas para o crescimento a médio prazo. 

O Xadrez da substituição de Teori

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Peça 1 – o neo-garantismo do Supremo

Durante toda a AP 470 e a Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal abdicou de sua função de última trincheira contra o arbítrio e de defensor da Constituição – até o limite do endosso a um golpe parlamentar.
Quando os abusos da Lava Jato excederam, ensaiou-se um grupo garantista dentro do Supremo, preparado para atuar quando o caso chegasse lá. Era composto de Ricardo Lewandowski, Luiz Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio de Mello, Celso de Mello e Teori Zavascki.
Teori era o ponto central, justamente pela ascendência sobre procuradores e delegados da Lava Jato e pelo respeito que angariou dos colegas pelo modo como conduziu a relatoria.
No entanto, não era o juiz inflexível. Aguardou oito meses para autorizar o processo contra o presidente da Câmara Eduardo Cunha. Mas se justificava devido ao enorme atrito que provocaria entre dois poderes da República e à necessidade do pleno do Supremo se manifestar de forma unânime.
O grupo se desfez com os ataques sofridos da besta – o sentimento de linchamento estimulado pela mídia e ecoado pelas redes sociais. Aliás, para quem está de fora é difícil entender o tamanho e a forma das pressões que recaem sobre os Ministros do STF.
Agora, com a delação da Odebrecht chegando no Supremo, poderia ser o momento de civilizar a Lava Jato, contando com a adesão de Ministros alinhados com o PSDB e Michel Temer – como Gilmar Mendes. A libertação de Eduardo Cunha seria o movimento óbvio, livrando a turma de Temer da ameaça final.
A morte de Teori embola o meio de campo.

Peça 2 – a isonomia nos abusos

Conspiram contra essa possibilidade dois fatores:
1.     A besta continua solta, exigindo que o trabalho seja completo.
2.     A cobrança de isonomia nos abusos, depois da blindagem oferecida ao PSDB.
Por exemplo, a manutenção da prisão de Eduardo Cunha é abusiva, por mais detestável e suspeito que seja o personagem. Mas quem ousaria, no Supremo, conceder o HC? O uso da prisão preventiva prolongada é peça central para derrubar o ânimo do preso e forçá-lo à delação. Mas quem ousaria confrontar a besta, o Ministro das “ousadias” e “modernidades” (como Barroso se auto-define na Folha, no necrológio sobre Teori) ou o “prudente” e tradicional Teori?
O artigo de Barroso ( https://goo.gl/mSUIhY) é sintomático: mostra um Supremo órfão e perdido sem a referência Teori. Mas, depois de derrubar uma presidente eleita, a volta do garantismo seria a confirmação final da grande conspiração que resultou no golpe parlamentar. Especialmente após o desaparecimento de Teori.
Enfim, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Aliás, é curioso o desconhecimento das engrenagens do Supremo e da Justiça por parte dos analistas políticos. É o caso de Rubens Figueiredo em artigo publicado no Estadão com título taxativo: “Teorias conspiratórias são ofensa ao bom senso” (https://goo.gl/Awg5Tf). Conspiração não é apenas supor que Teori possa ter sido assassinado, mas imaginar que sua morte mudará alguma coisa na Lava Jato.
Desconsidera os seguintes pontos:
1.     A influência do relator sobre o processo. Em um processo complexo como a Lava Jato, com mais de uma centena de envolvidos, o relator define o tom, o ritmo, seleciona quem será fuzilado primeiro, e quem ficará para as calendas.
2.     O fator tempo. O relator tem o controle do tempo do processo, assim como o PGR tem o controle do tempo da denúncia. O fator tempo é tão crucial que o “mensalão” do PT acabou com a cúpula do partido e o do PSDB sequer arranhou o partido, mesmo que no final, daqui a algumas décadas, inclua outros tucanos na história.
3.     Adiar os processos contra políticos significa mantê-los no poder, com seus mandatos e cargos no Executivo. Se atrasar dois anos, significa preservar seus cargos por todo o governo Temer. Mais: tirando-os do olho do furacão do momento atual, significará mais espaço para arreglos futuros.
Toda a estratégia da blindagem, portanto, consiste em empurrar os casos blindados com a barriga, esticar pelo maior prazo possível a denúncia, esperando que a besta reflua e abra espaço ou para o garantismo ou para o compadrio.

Peça 3 – os dois pontos centrais do golpe

Para entender o jogo e avaliar o futuro do governo Temer, é necessário separar os pontos centrais em torno dos quais flutua o imponderável.
Há dois pontos centrais no jogo.

A ideologia que junta os personagens

O novo regime tem uma coordenação difusa na ideologia de mercado e da globalização, uma espécie de neoliberalismo retardatário, que está sendo superado nos principais centros de estudo, a começar do Fundo Monetário Internacional (FMI).  
Em Davos, a diretora-geral do FMI Christine Lagarde rebateu a fala do Ministro da Fazenda brasileiro Henrique Meirelles, e realçou a importância  do combate à desigualdade, não apenas como questão moral, mas como essencial para a consolidação do capitalismo (https://goo.gl/4o7w9L).. Ontem mesmo, o informe do FMI mostrava que a economia brasileira não conseguia desencalhar devido aos altos níveis de desemprego e de inadimplência.
A ideia de um equilíbrio natural dos mercados e do fim da ação de Estado não resistiu a quatro eventos:
1.     A crise de 2008, desmontando a ideia do equilíbrio.
2.     O trabalho de Ben Bernanke no FED (o Banco Central norte-americano) impedindo a repetição da crise de 1929 com doses maciças de injeção de dólares que, ao contrário do que supunha a vã teoria, não provocaram choques inflacionários.
3.     A análise dos efeitos das políticas fiscais restritivas nas economias europeias.
4.     A política social casada com adesão ao mercado, implementada no governo Lula, que ampliou consideravelmente o mercado de consumo interno – em que pese o erro de não ter trabalhado uma política cambial competitiva. Durante alguns anos, o Brasil tornou-se a principal aposta global e o modelo Lula um paradigma para a socialdemocracia europeia.
Em países maduros, há as autoridades referenciais, os funcionários públicos fundamentais, entendendo a dinâmica do crescimento de forma sistêmica, sem se enquadrar em rótulos ou modismos.
No caso brasileiro, além da superficialidade histórica das elites, houve dois erros graves: no período Lula-Dilma, a definição dos campeões nacionais, concentrando nas empreiteiras praticamente todos os setores dinâmicos da economia, das obras rodoviárias às usinas hidrelétricas, do setor naval ao nuclear. No período pós-impeachment, a destruição implacável das mesmas empreiteiras, jogando fora todo o acervo de conhecimento e mercados acumulados, pelo fato de serem vistas como extensão do poder político do lulismo.
É evidente que para esses arautos da pureza irrefreável do mercado, mesmo entregando toda a encomenda acertada, o governo Michel Temer é uma parada indigesta.

O papel da besta

Conclua-se, portanto, que o mercadismo, a globalização e o desmonte do Estado são o centro: o fator Temer, o acidente de percurso. E junte-se o segundo ponto, o fato de que a besta está solta e tomou as rédeas da mídia.
Hoje em dia, defender o governo Temer significaria queimar-se junto ao público leitor. Mas, ao mesmo tempo, a crise da mídia a torna refém da publicidade oficial. Trata-se de uma ginástica ingente, entre fazer o jogo do governo e não perder a credibilidade junto aos leitores.
Essa ginástica tem impedido a cartelização completa da notícia e tem obrigado os jornais a malabarismos para enfrentar esse duplo desafio.
Caso 1 – o Estadão e Serra
O repórter do Estadão consegue amplo material de delações envolvendo o chanceler José Serra. O jornal se recusa a publicar. Dois dias depois, a reportagem sai na Folha. No dia em que sai a matéria, o Jornal Nacional deixa o caso passar em branco. Na frente da telinha, a besta começa a rugir. Dias depois, sai um balanço da Lava Jato incluindo a história de Serra.
Caso 2 – as delações de Padilha
Com Eliseu Padilha, o jogo é mais dialético.
Uma das grandes âncoras do Estado nacional são funcionários públicos de carreira, que servem ao Estado independentemente do governo de plantão
No governo Temer, o personagem mais suspeito, de longe, é o Ministro-Chefe da Casa Civil Eliseu Padilha. Coube a ele, logo na chegada, promover um expurgo de funcionários em cargos de confiança e passar a filtrar todas as nomeações dali por diante para atender às demandas de seus aliados.
A parceria se dá em duas frentes. A primeira, reduzindo as menções críticas a ele. Os fatos mais relevantes, no entanto, acabam vazando pontualmente – em geral através da Folha, conforme mostra reportagem sobre processo aberto contra Padilha por pagamentos recebidos de uma Universidade privada para quem ele fez lobby em Brasilia ( https://goo.gl/NSCSVx).
Segundo a reportagem, apesar das evidências de que ele fez lobby para a Universidade, sua consultoria emitiu notas fiscais sequenciais para o recebimento, e não houve nenhuma comprovação de serviços prestados, a Procuradoria Geral da República opinou pelo arquivamento da ação penal junto ao STF. Era Rodrigo Janot versão 2014.
A segunda, montando os ataques que interessam diretamente a Padilha.
Ele tem infiltrado parceiros em toda a administração direta. Nas empresas públicas, seu poder é menor. Com Pedro Parente, depois da Lava Jato, a Petrobras tornou-se território blindado. E há anos o Banco do Brasil logrou montar uma estrutura profissional impedindo interferências políticas maiores.
Padilha tem recorrido à parceria com a Folha para delações contra funcionários tidos como “petistas” visando pressionar presidentes de empresas a aceitar suas indicações.
No Painel da Folha (https://goo.gl/CL8xmH), "fontes do palácio" se valem do jornal para intimidar a presidência do Banco do Brasil.
No dia 10 de janeiro passado, com o título "Servidores da era PT se mantêm em cargos estratégicos do governo Temer" (https://goo.gl/7WyTT5) a reportagem delata diversos funcionários de carreira remanejados para outros cargos, sem avaliar sobre sua maior ou menor competência técnica. Inclusive o respeitabilissimo ex-presidente do Sebrae, Luiz Barreto, que fez uma gestão elogiada no órgão, taxado de "petista" pela repórter e “denunciado” por assumir a presidência da Caixa Crescer – uma instituição de microcrédito que tem 51% do capital em mãos de fundos privados e os outros 49% da CEF.
Em relação à Temer, fica claro que sua manutenção na presidência não é questão fechada pelo pool da mídia. E a besta, já saciada do sangue vermelho, está faminta por sangue azul.

Peça 4 – o pós Teori

A morte de Teori reduz o ímpeto dos que planejavam enquadrar a Lava Jato, açula a besta, inibe a mídia e lança um conjunto de indagações no ar.
O Regimento Interno do Supremo (https://goo.gl/6F5TQe) diz que, em caso de morte do relator de um processo, ele será retomado pelo sucessor nomeado. 
Art 38 – o relator é substituído (...)
IV – em caso de aposentadoria, renúncia ou morte:
a) pelo Ministro nomeado para a sua vaga; RISTF: art. 4º, § 4º (na Turma) – § 2º do art. 68 (redistribuição em HC).
b) pelo Ministro que tiver proferido o primeiro voto vencedor, acompanhando o do Relator, para lavrar ou assinar os acórdãos dos julgamentos anteriores à abertura da vaga; RISTF: art. 135, caput e § 4º (ordem de votação e voto vencedor).
Qual a razão desse quiproquó de não aceitar o novo Ministro nomeado como sucessor de Teori na Lava Jato? Obviamente porque há fundadas suspeitas sobre o discernimento e as intenções de Temer, ele próprio alvo de delações. Em país sério, suspeição dessa natureza impediria qualquer presidente de continuar no cargo.
Conforme analisado no último Xadrez, a possibilidade maior seria algum acerto com a presidente do Supremo, Ministra Carmen Lúcia. Mas sua tentativa de avocar os processos ruiu com a própria resistência interna de seus colegas.
E agora?
A possibilidade maior é a de substituir internamente o relator Teori. Mais independente dos Ministros, Marco Aurélio de Mello pediu para afastar de si o cálice da relatoria: disse que a substituição deveria ser sorteada entre os quatro ministros remanescentes da 2a Turma – à qual está sujeita a Lava Jato.
São quatro ministros. Um deles, Gilmar Mendes, faz visitas pessoais a Temer, aceita carona para Portugal e se diz amigo de trinta anos. O segundo Ministro é Dias Toffoli, que acompanha Gilmar em todos seus atos. O terceiro é Celso de Mello, adoentado, lento nas decisões e marcado por uma radicalização ampla, quando os réus eram do PT. O quarto é Ricardo Lewandowski, alvo preferencial da mídia e dos grupos de ultradireita e um garantista independentemente do partido do réu.
De qualquer forma, agora o trabalho é apenas de formalizar e validar os acordos já fechados. A partir da formalização, a represa se escancara e passa a verter água por todos os pontos. E aí o papel do relator será crucial.
A saída final será a tentativa de descriminalizar o caixa 2, ferozmente perseguida por José Serra e outros futuros réus da Lava Jato e razão principal do PGR Rodrigo Janot não ter aceito a delação do presidente da OAS – que pretendia apresentar provas de propinas nos governos de Geraldo Alckmin e José Serra.
Toda a estratégia de nomeação do próximo Ministro do STF se concentrará aí: indicar alguém que defenda a tese do caixa 2.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Direitos trabalhistas na berlinda, por André Antunes

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Reforma trabalhista apresentada por Temer em dezembro altera CLT, dá força de lei aos acordos coletivos, concretiza reivindicações históricas do empresariado nacional. Centrais sindicais divergem sobre os impactos para os trabalhadores
 
 
Por André Antunes 
 
 
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, falou em “modernização das relações do trabalho”. Ives Gandra, presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), preferiu jogar para a torcida e falou em “golaço” do presidente Michel Temer. O chefe do Executivo, por sua vez, falou em “presente de Natal” para o governo. O alvo de tantos elogios? A proposta de reforma trabalhista do governo, apresentada ao Congresso no apagar das luzes de 2016, durante cerimônia realizada no dia 22 de dezembro em Brasília. Depois de anunciar a intenção de encaminhar a reforma por meio de uma medida provisória,manobra considerada antidemocrática por centrais sindicais, parlamentares de oposição e juristas, Temer voltou atrás e resolveu apresentar a proposta que introduz mudanças na CLT e em outras leis trabalhistas brasileiras como o projeto de lei 6.787/16, que deverá ser votado pelos parlamentares em regime de urgência. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (PMDB/RJ) já sinalizou, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo no início de janeiro, que a proposta deverá ser aprovada ainda no primeiro semestre, assim como outra prioridade da polêmica agenda  do governo para lidar com a crise, a reforma da Previdência.
Entre as principais propostas estão algumas pautas históricas do empresariado nacional representado por entidades como a própria Fiesp e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), como a possibilidade de que as convenções coletivas de trabalho prevaleçam sobre o que diz a legislação, o chamado negociado sobre o legislado. A medida é uma das propostas contidas no documento ‘Ponte para o Futuro’, divulgado pelo PMDB no auge da crise política que culminou na deposição da presidente Dilma Rousseff.
O que o governo quer mudar
A ideia é que os acordos coletivos possam se sobrepor ao que diz a CLT quando tratarem de algumas questões, como por exemplo a jornada de trabalho. Na legislação atual, a jornada não pode ultrapassar oito horas diárias e 44 semanais; a proposta do governo é que o limite de 44 horas semanais seja mantido, mas o limite diário seja ampliado para 12 horas. A distribuição das horas de trabalho ao longo da semana seria pactuada entre trabalhadores e patrões por meio dos acordos coletivos.
Outro ponto da legislação que seria flexibilizado é o do intervalo para o almoço: hoje a CLT permite que os acordos coletivos estabeleçam a duração do intervalo desde que ele não seja menor do que uma hora; caso seja aprovada no Congresso, a reforma trabalhista proposta pelo governo reduziria para 30 minutos o intervalo mínimo.
Mais um ponto passível de ser estabelecido por meio de acordo coletivo é o parcelamento das férias em até três vezes, com pagamento proporcional às parcelas, e o parcelamento do pagamento da participação nos lucros e resultados das empresas. O projeto ainda amplia os contratos temporários de 90 para 120 dias, prorrogáveis por mais 120. O trabalho parcial, limitado a 25 horas semanais na legislação atual, passaria a ter um limite máximo de 30 horas por semana, sem hora extra, ou 26 horas por semana mais seis horas extras.
Como foram recebidas as propostas
A reforma é controversa. No mesmo dia em que o projeto foi apresentado, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), divulgou uma nota em que chamou de “afrontas constitucionais” a prevalência do negociado sobre o legislado. “Isso é uma grande tragédia”, sentencia o presidente da entidade, Germano Siqueira, que argumenta que no modelo de unicidade sindical vigente no Brasil, a medida pode significar a perda de direitos hoje garantidos aos trabalhadores pela CLT. “A unicidade parte de um pressuposto de que na base de um município não pode haver mais de um sindicato por categoria. Só que isso gera alguns sindicatos de perfil apenas cartorial, inativos no sentido político”, explica Siqueira, e completa: “Nesses casos o sindicato fica fragilizado, e com a possibilidade de que o negociado se sobreponha ao legislado poderemos ter convenções coletivas que estabeleçam condições de trabalho inferiores ao que diz a lei. Isso já acontece muito hoje. A aprovação desse projeto significa a redução do status jurídico de proteção dos trabalhadores”, alerta ele.
Marcos Corrêa/PR
Secretário Geral da Força Sindical, João Carlos Juruna discursa durante cerimônia em que foram apresentadas as propostas da reforma trabalhista- Foto: Marcos Corrêa/PR
Mas nem todos pensam dessa forma. Para João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, que junto com a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Nova Central e a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) vem sendo uma das principais bases de apoio do atual governo dentro do movimento sindical, a possibilidade de que os acordos coletivos se sobreponham a legislação é uma medida que fortalece os sindicatos. “Com essa proposta nós estamos saindo da tutela da Justiça do Trabalho. Não é à toa que milhões de processos estão aí. A reforma está dando poder ao sindicato, ao trabalhador, para decidir o que é melhor para ele. Tem gente que vai choramingar falando dos nossos direitos, mas a realidade é que a Justiça é que vai perder poder. Quem vai ter poder é o sindicato. E o sindicato que errar vai ser cobrado pelos trabalhadores”, afirma Juruna. Segundo ele, a negociação sobre a redução do tempo de alimentação pode servir de exemplo. “Os trabalhadores da nossa base de metalúrgicos têm buscado o sindicato para negociar que o almoço seja de meia hora para que aquela meia hora que sobra durante a semana seja descontada no sábado, para que os trabalhadores não precisem trabalhar no sábado. Têm acordos que foram feitos com o sindicato e a empresa, mas o Ministério Público tem se negado a assinar esses documentos, a fiscalização do trabalho se nega a assinar”, conta. 

Germano Siqueira, no entanto, argumenta que atualmente os acordos já permitem eliminar a jornadas aos sábados. “Já existem acordos coletivos há décadas em que você pega as quatro horas do sábado e dilui durante a semana. Então reduzir de uma hora para 30 minutos não tem nada a ver com o sábado”, rebate o presidente da Anamatra. Segundo ele, a CLT estabeleceu o intervalo de uma hora entendendo que esse é o mínimo necessário para que o trabalhador se recupere e possa retornar ao trabalho sem riscos de sofrer um acidente. “Há estudos médicos que dizem que quando você se alimenta, enquanto não se cumpre todo o processo digestivo, seu cérebro não vai funcionar adequadamente, você vai estar com o raciocínio mais lento, os seus reflexos não vão estar recuperados plenamente. A possibilidade de você ter um acidente de trabalho é maior”, aponta. E critica: “Essa lógica de que você tem que retornar ao trabalho o mais rápido possível é a lógica do lucro, da produtividade máxima, em detrimento da proteção à saúde ocupacional. Isso é discurso de patrão. É lastimável que algumas centrais sindicais o comprem”.
O presidente da Anamatra também não concorda com o argumento de que há uma tutela da Justiça do Trabalho sobre os sindicatos. “O direito do trabalho foi construído na ideia de que há um sujeito economicamente mais frágil, que é o trabalhador, e que a intervenção do Estado é importante para superar essa desigualdade. Isso tem sido feito de uma forma muito adequada”, avalia. Segundo Siqueira, o alto número de processos tramitando na Justiça do Trabalho, em sua maioria, diz respeito à falta de pagamento de indenizações devidas aos trabalhadores pelos empregadores no momento da demissão e também pelo não pagamento de horas-extras. Para o presidente da Anamatra, a proposta de que a jornada de trabalho seja definida em convenção coletiva esconde uma tentativa de reduzir o número de horas-extras devidas aos trabalhadores. “Com isso eu posso administrar a demanda por trabalho na minha empresa e estabelecer, por exemplo, quatro dias de 10 horas e mais um de oito horas, com isso somo 48 horas na semana e pago apenas quatro horas-extras, quando o certo seria pagar as duas horas diárias dos quatro dias anteriores. Isso é uma supressão de horas-extras evidente. Qual é a consequência disso? Uma transferência de renda do trabalho para o capital”, critica.
Siqueira também discorda do argumento muitas vezes usado para defender a reforma das leis trabalhistas sob a justificativa de que ela traria segurança jurídica para as relações de trabalho, repetido pelo presidente do TST, Ives Gandra, na cerimônia de lançamento da proposta. “O presidente do TST não tinha nada que estar ali, e muito menos para dizer que o presidente da República estava fazendo um golaço. O gol feito lá foi um gol contra”. O juiz avalia que as reformas planejadas pelo governo terão um efeito rebote para a estrutura da Justiça do Trabalho. “A possibilidade de haver um aumento de demanda é muito maior, ainda mais com a aprovação da reforma da Previdência e a ampliação da terceirização. A quantidade de acidentes de trabalho tende a aumentar, a desproteção previdenciária tende a aumentar e, consequentemente, a quantidade de ações na Justiça do Trabalho tende a crescer”, avalia.
A secretária nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Graça Costa, também teme o que a aprovação da proposta pode significar para os direitos dos trabalhadores, especialmente num período de  crise econômica. “Nossa Constituição já diz que se o negociado for melhor do que diz a lei prevalece aquilo que é melhor para o trabalhador. Se o empresariado não cumpre nem com a Constituição, vamos flexibilizar para quê? Para fortalecer a negociação?”, questiona, e responde em seguida: “Claro que não. É para tirar direito. E num período de recessão, com o desemprego em alta, de que jeito esses trabalhadores vão chegar à mesa de negociação? Na defensiva, óbvio”.
Na opinião da sindicalista, analisada em conjunto com outras medidas defendidas pelo governo e pelo Legislativo para retomar o crescimento econômico, a proposta de reforma trabalhista desenha um futuro sombrio para a classe trabalhadora brasileira. “O que está em curso é a desregulamentação de toda a legislação de proteção ao trabalho que começou a ser construída oficialmente em 1943 com a CLT”, diz Graça Costa, que não concorda com o argumento de que a reforma trará uma modernização da legislação trabalhista e mais se assemelha a uma ponte para o passado. “Além desta proposta de ampliação da jornada diária de trabalho, temos hoje vários projetos que nos colocam no caminho para o trabalho escravo: a reforma da Previdência, que estabelece uma idade mínima de 65 anos para aposentadoria, a regulamentação da terceirização, a discussão sobre a flexibilização da Norma Regulamentadora 12 da CLT, que trata da proteção dos trabalhadores com relação a acidentes envolvendo máquinas, o que pode aumentar a quantidade de casos e causar uma subnotificação de acidentes de trabalho. Somando todas essas maldades, estamos caminhando para antes de 1888, para a revogação da Lei Áurea”, sustenta.
Prorrogação do PPE e liberação de saques do FGTS também geram divergências
No mesmo dia em que foi anunciado o envio da proposta de reforma trabalhista para o Congresso, o governo anunciou outras duas medidas: uma foi uma medida provisória prorrogando até o final de 2017 o prazo de adesão ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE), renomeado como Programa Seguro-Emprego. Criado ainda no governo Dilma Rousseff, em 2015, o programa permite que as empresas reduzam em até 30% a jornada de trabalho e o salário de seus empregados mediante uma compensação de 50% do valor da redução salarial paga pelo governo. A outra foi a liberação do saque de contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) inativas até dezembro de 2015. A justificativa foi a de aquecer a economia: o governo projeta que os saques devem injetar na economia cerca de R$ 30 bilhões.
Para o secretário-geral da Força Sindical, as medidas são positivas. “Acho que o PPE ajudou a evitar várias demissões, evitou que as pessoa fossem retirar o Fundo de Garantia,  seguro-desemprego.  Então tem toda uma conta que foi feita que revelou que é mais positivo fazer esse tipo de acordo para os trabalhadores e para o governo porque mantém o trabalho, mantém os impostos que são cobrados”, avalia Juruna, que também vê como positiva a possibilidade de efetuar saques de contas inativas do FGTS. “Esse dinheiro fica parado lá, rendendo muito pouco. Com esse dinheiro as pessoas podem pagar suas contas, podem colocar esse dinheiro para circular na economia do país”, defende.
Germano Siqueira, contudo, é mais cauteloso. Para ele, a liberação do FGTS é mais uma medida do governo para agradar ao setor empresarial. “Evidentemente é uma medida de proteção ao setor empresarial. O que está se protegendo ai é o mercado de crédito, está se liberando ai um valor muito expressivo para gerar possibilidade de quitação de passivos, de dívidas. Não é tanto pensando no trabalhador, mas sim nos segmentos que têm passivos a receber”, ressalta.
Com relação à prorrogação do PPE, renomeado como Programa Seguro-Emprego, também há críticas por parte de sindicalistas. Em nota, a Intersindical alertou que o programa, que acusou de ser a “versão piorada do PPE”, serve para proteger e assegurar “os interesses do capital em ter cada vez mais condições de diminuir salários e direitos dos trabalhadores”. Para a central, o programa não impediu que as demissões continuassem, uma vez que “os patrões demitiram milhares, antes de aderir ao Programa, ou seja, demitiram, reduziram salários e continuam a demitir”.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Governo espera arrecadar R$ 4,5 bi com leilões da ANP

Voltou a era do entreguismo.
http://jornalggn.com.br/noticia/governo-espera-arrecadar-r-45-bi-com-leiloes-da-anp

 

 
Jornal GGN - Com os leilões que serão promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) neste ano, o governo espera a entrada de até R$ 4,5 bilhões. Deste total, até R$ 3,5 bilhões viriam somente com o pré-sal, segundo Fernando Coelhos Filho, ministro de Minas e Energia. 
 
O montante virá do pagamento pelo direito de exploração das áreas, tanto na forma de bônus de assinatura como lucro-óleo, um ressarcimento à União pela produção na área do pré-sal. 
 
Previsto para maio, o primeiro leilão será menor e terá áreas em terra, e é esperado que a disputa pelas unidades do pré-sal até o final do primeiro semestre. 
 
 
A Petrobras tem preferência para determinar qual seu percentual de participação no pré-sal, mas a mudança na regulação tirou a obrigação da empresa de ser operadora em todos os campos. 
 
O governo irá promover a 14ª Rodada de Licitações em setembro, seguindo o modelo de leilão de concessão de áreas realizado há quase vinte anos. Serão oferecidos blocos do pós-sal em áreas marítimas, onde já atuam empresas de grande porte. 
 
O novo diretor-geral da ANP, Décio Oddone, defende que o debate no setor de petróleo tenha menos “ideologia”. Ele também afirmou que, apesar do interesse em atrair investimentos, não irá deixar de aplicar sanções contra empresas que desrespeitarem as regras. 
 
Oddone ainda disse que acredita que o Brasil vai se tornar um grande exportador e terá autossuficiência de petróleo no começo na próxima década. 


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Inflação pelo IPC-S tem alta acumulada de 6,18% em 2016

http://jornalggn.com.br/noticia/inflacao-pelo-ipc-s-tem-alta-acumulada-de-618-em-2016


Jornal GGN - De acordo  com Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) teve alta acumulada de 6,18% entre janeiro e dezembro de 2016.
O percentual representa uma desaceleração da inflação em relação a 2015, quando o índice chegou a 10,53%. Ao longo de 2016, planos de saúde, refeições em bares e restaurantes, tarifas de ônibus urbano e aluguel residencial foram itens que influenciaram o aumento do índice.
Na última semana do ano, a inflação medida pelo IPC-S teve alta de 0,33%, puxada por seis das oito classes de despesa pesquisadas. Transportes teve aumento de 0,78% contra 0,55 na medição anterior, com forte influência da gasolina, que passou de 0,76% para 2,05%.
Expectativa do mercado
Segundo o Boletim Focus, do Banco Central (BC), o mercado financeiro espera que a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) chegue a 4,87% em 2017, abaixo da projetada para 2016, que passou de 6,40% para 6,38%.
Em relação à Selic, a taxa básica de juros, as instituições financeiras esperam que ela encerre 2017 com 10,25% ao ano. A previsão anterior era de 10,50%, sendo que atualmente a taxa em 13,25%.
O Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a taxa em 0,25% em suas duas últimas decisões. a próxima reunião do Copom acontecerá nos dia 10 e 11 de janeiro.

Petrobras devolve campo de 500 milhões de barris. Mais um para doar?

http://www.visaopetroleira.com/single-post/2017/01/03/Petrobras-devolve-campo-de-500-milh%C3%B5es-de-barris-Mais-um-para-doar
 Agência Reuters noticia que indica que uma publicação, hoje, no Diário Oficial da União “a devolução pela Petrobras e Repsol Sinopec do Brasil da concessão de exploração e produção de petróleo e gás natural referente ao campo de Piracucá”.

Piracucá é o nome que tomou o bloco BM-S-7, na Bacia de Santos, e o campo teve, em 2009, formalizada a Declaração de Comercialidade “de uma descoberta de óleo leve e gás em reservatórios acima da seção salífera”, na qual a petroleira brasileira estimou um volume de jazidas de 88 milhões de metros cúbicos de óleo e gás, somando “cerca de 550 milhões de barris de óleo equivalente”.

No comunicado, fica claro que a estimativa não era preliminar, mas “o resultado de intensa atividade exploratória realizada pelo Consórcio (Petrobras 63%- Repsol 37%)  no bloco.” Na ocasião da descobertas, em janeiro de 2009, a Petrobras disse ais jornais que o achado tinha “grande importância devido ao potencial de produção de gás em águas rasas no sul da bacia de Santos”. E tinha razões, porque a profundidade é de 214 metros, o que reduz muito os custos de implantação e operação de um campo.

Pode haver alguma razão técnica desconhecida, uma vez que a Petrobras não comentou o assunto. Mas, a esta altura, já não é de duvidar de nada, na operação de desmonte em curso na empresa.