quinta-feira, 31 de julho de 2014

A verdade sobre o aécioporto

Fica difícil explicar o aeroporto de Cláudio, cidade de 25 mil habitantes perto de Divinópolis (400 mil habitantes) que já tem aeroporto. Mais difícil explicar porque os parentes de Aécio que na prática controlam o acesso ao aeroporto.

Dinheiro de estado para construir um bem para uso pessoal. R$14 milhões.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

AÇÃO DA PETROBRAS EM 72%

Papéis da estatal atingem valor mais alto em 22 meses; pico de R$ 21,05, nesta semana, representou alta de 72% sobre pior cotação no ano, de R$ 11,81, em março; além da especulação feita em torno das pesquisas eleitorais, agora investidores reconhecem que elevação para 1,95 milhão de barris/dia de petróleo extraídos pela estatal no País garante ótimos resultados financeiros; da área do pré-sal já saem mais de 500 mil barris/dia nos primeiros poços; "É a Harvard das águas profundas", comparou, elogiando, o banco Credit Suisse; JP Morgan e Goldman Sachs também recomendam compra dos papéis em razão de "crescimento consistente" na produção; presidente Graça Foster comemora: "Aqui dentro temos uma espécie de mantra: produção, produção e produção", diverte-se ela



Do Jornal da Gazeta
O "mercado" não quer Dilma. Isso está nas manchetes há dias, semanas. A Bolsa sobe ou cai a depender de pesquisas mostrarem Dilma em baixa ou em alta.

E não só pelos erros do governo Dilma. Em 2002, governo Fernando Henrique, o "mercado" fez terror com a hipótese da vitória de Lula. Qual foi o resultado daquele terror todo? 

Basta conferir num site de buscas. O governo Fernando Henrique terminou melancólico, com dólar a quase R$ 4, risco-país acima de 4 mil pontos, e inflação de 12, 53%.

Sobre qualquer assunto que tenha algo a ver com economia, largos setores da mídia dão voz preferencial a "especialistas" do "mercado".

O que é o "mercado"? É o sistema de bancos e demais instituições financeiras. Assim sendo, vale lembrar os custos da crise criada no e pelo "mercado" desde 2008. 

Mark Anderson, ex-chefe da Standart and Poor's, o homem que rebaixou a nota de crédito dos EUA, diz que o custo final da crise mundial é de US$ 15 trilhões.

Estima-se que hoje o chamado "mercado de derivativos" seria de US$ 1,2 quatrilhão. Isso é 20 vezes todo o PIB do mundo. Ou seja, é ficção. É "dinheiro" de mentira.

Isso só existe como alavanca para quem pilota o tal "mercado" acumular ainda mais fortuna. Com grandes riscos para o próprio sistema. 

Relatório da ONG britânica Oxfam informa: 85 pessoas tem patrimônio igual à metade da população do mundo.

O 1% mais rico do mundo tem US$ 110 trilhões. O que é 65 vezes mais do que tudo que tem metade da população mundial.

No Brasil, apenas 4 dos bancos tiveram lucro líquido de R$ 50 bilhões em 2013. Isso é mais do que a soma do PIB de 83 países no mesmo ano passado.

Isso é o tal "mercado". O resto é conversa mole.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Faz toda diferença

“Todos nós erramos porque ninguém tinha noção ou controle de como ficaria o sistema financeiro internacional. Nós todos tivemos um trabalho danado para sair da crise. E a nossa política não foi de desempregar, arrochar salário e fazer com que população pagasse o pato. Nós impedimos isso. Nos minimizamos esses efeitos”
Dilma na sabatina da Folha na segunda-feira dia 28/07.

E quando a última gota cair? 6 perguntas sobre a crise em SP

Do Planeta Sustentável
 
Vanessa Barbosa
Assim como futebol e política, “água” virou assunto corrente nas conversas de quem vive em São Paulo. No supermercado, na fila do ônibus, na hora do almoço, as perguntas estão sempre lá: Vai ter racionamento? A água do volume morto é boa? Como São Paulo mergulhou nessa crise? E se não chover, vai faltar? Veja a seguir algumas respostas para as dúvidas mais comuns sobre a crise.

1 – COMO SÃO PAULO MERGULHOU NESTA CRISE?
São Pedro tem participação, mas pequena. O último período chuvoso, que vai de outubro à março, foi o mais seco em 45 anos, segundo dados do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Não à toa, o verão de 2014 fez São Paulo bater vários recordes de calor.

Mas, veja bem, a responsabilidade do santo guardião da chuva termina aí. Uma parcela bem maior cabe ao poder público, o zelador oficial da água, incumbido de gerenciar esse recurso natural com parcimônia.
Faz pelo menos quatro anos que o Estado de São Paulo está a par dos riscos de desabastecimento de água na Região Metropolitana. Em dezembro de 2009, o relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, feito pela Fundação de Apoio à USP, não só alertou para a vulnerabilidade do sistema Cantareira como sugeriu medidas cabíveis a serem tomadas pela Sabesp a fim de garantir uma melhor gestão da água.

Antes disso, na outorga de 2004, uma das condicionantes era que a Sabesp tivesse um plano de diminuição de dependência do Cantareira. O grande problema foi a demora de planejamento.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instarou um inquérito civil para esclarecer a crise no Sistema Cantareira e apurar informações sobre a possibilidade de erros de gestão da Sabesp.

2 - QUAL O IMPACTO DO USO DO VOLUME MORTO NA QUALIDADE DA ÁGUA E NA SAÚDE PÚBLICA?
Este é um dos temas mais delicados. Afinal, nunca São Paulo tinha bebido do chamado volume morto, uma reserva abaixo do nível de captação de água feita pela Sabesp. Por se tratar de uma área mais funda, essa reserva “técnica ou estratégica”, como diz o governo, serve de zona de sedimentação dos micropoluentes no ambiente aquático e, também, de alguns metais pesados. Quando remexida, pode impactar não só a qualidade da água, mas a vida dos seres daquele ecossistema.

Estima-se que os gastos da Sabesp tenham aumentado em 40% com tratamento dessa água, comparada à água do volume útil. Procurada pela reportagem, a Sabesp não confirmou a informação.

Em nota, a Cestesb afirmou que realiza, periodicamente, análises da qualidade da água do Reservatório Jacareí, com o objetivo de avaliar os aspectos ambientais do denominado “volume morto”.

"Essa caracterização é realizada por meio de parâmetros físicos, químicos e biológicos. Com base nessa análise, verifica-se que a água do reservatório continua apresentando boas condições de qualidade, tanto para proteção da vida aquática quanto captação visando o abastecimento público”, diz o órgão.

3 – O QUE O GOVERNO ESTADUAL E A SABESP TÊM FEITO PARA TENTAR CONTORNAR A CRISE HÍDRICA?
De saída, a Sabesp ofereceu desconto de até 30% na conta para quem economizasse água. Com a adesão popular e controle dos desperdícios, a ação tem sido bem sucedida.

Outra medida, essa menos popular por vários motivos, foi a tentativa de provocar chuva artificial, um processo chamado de semeadura de nuvens, ao custo de R$ 4,5 milhões.

A investida mais radical, no entanto, foi recorrer a obras para retirada do volume morto, considerada por alguns especialistas uma ação deletéria.

Eles definem o quadro como uma ilusão da abundância em plena escassez, com consequências nefastas para o meio ambiente, a economia e para o próprio bem-estar da população.

Para os experts em recursos hídricos, a reserva do volume morto deveria ser usada a apenas em situação extrema, somente após iniciado um rodízio e caso as chuvas de outubro não chegassem em quantidade suficiente.

Outra alternativa, que depende menos do estado e mais da disposição dos vizinhos, é a proposta de construir um canal para retirar água da bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastece o Rio de Janeiro.

4 – O SISTEMA CANTAREIRA CONSEGUIRÁ SE RECUPERAR? QUANDO?
Deixar o manancial se esgotar, como está ocorrendo, gera graves efeitos ambientais. O esgotamento de uma represa afeta os lençóis freáticos do entorno e todo o ecossistema.

“Esses mananciais precisam ser preservados e não explorados à exaustão. É uma questão de preservação da qualidade da água”, diz Roberta Baptista Rodrigues, doutora em recursos hídricos e professora dos cursos de Engenharia Ambiental e Sanitária e de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi.

Recuperar esses sistemas vai ser muito mais complicado, mesmo com chuvas. À medida que o nível da água reduz, aumenta a taxa de evaporação, porque o solo fica mais seco e em contato com a atmosfera. Assim, a água da chuva infiltra e evapora”, acrescenta.

Segundo análise estatística do comitê que monitora a crise, o sistema tem só 25% de chance de acumular entre dezembro e abril de 2015 uma quantidade de água (546 bilhões de litros) suficiente para repor o "volume morto" usado emergencialmente e ainda devolver ao Cantareira 37% da sua capacidade antes do próximo período de estiagem.

5 - VAI TER RACIONAMENTO?
Para especialistas em recursos hídricos, SP já deveria estar racionando água, tanto para poupar este recurso quanto para preservar os mananciais. Sujeitar 9 milhões de pessoas a regime de racionamento não é uma decisão fácil. Mas é necessária, segundo Marco Antonio Palermo, doutor em engenharia de recursos hídricos pela USP.

“O uso do volume morto é uma estratégia paliativa e muito deletéria, que não trata o problema de forma estrutural. Pior, está virando rotina. Isso não pode ser prática de uma política de gestão de recursos hídricos, que deve focar na produção de água e no uso do volume útil”, defende.

Segundo ele, se São Paulo tivesse iniciado o rodízio no começo do ano, não teria sido necessário recorrer à reserva técnica, que só seria usada como estratégia última. Com isso, cresce o risco de SP enfrentar um racionamento drástico com o aprofundamento da crise.

6 – E SE AS CHUVAS NÃO VOLTAREM EM OUTUBRO E NOVEMBRO PARA ACUDIR OS RESERVATÓRIOS? SP CORRE O RISCO DE FICAR SEM ÁGUA?
"Somente se não chover até outubro é que teremos problemas", disse, em maio, o diretor de relações com investidores da Sabesp, Mario Sampaio. No pior cenário, a água se esgota até outubro, pelo cálculos do grupo de monitoramento da crise, formado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado (DAEE).

Os cálculos contrariam a afirmação do governo de que até março de 2015 água está garantida. Recentemente, a Sabesp anunciou que pode recorrer ao volume morto do Alto Tietê, o segundo maior sistema de água da Região Metropolitana.

Estimativas apontam que a medida daria apenas um mês de sobrevida ao sistema. Qual será o plano C, quando a última gota chegar? Procurada pela redação, a Sabesp não se manifestou até o fechamento desta reportagem.

Agora que a crise já está instalada, começam a sair do papel projetos antigos que podem proteger a cidade de futuros colapsos. É o caso da construção de um novo reservatório de água, em Ibiúna, fruto de parceria público-privada, prevista para ser concluída em 2018.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Janot arquiva representação contra compra da Refinaria de Pasadena

Da Agência Brasil
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-07/janot-arquiva-representacao-contra-compra-da-refinaria-de-pasadena

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, arquivou hoje (23) um pedido de investigação protocolado por um grupo de senadores contra o Conselho de Administração da Petrobras e a presidenta Dilma Rousseff para apurar  supostas irregularidades na compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006. Na época, Dilma presidia o conselho.
 
Na decisão, Janot reconhece que a operação pode ter provocado prejuízos financeiros, mas ressalta que a decisão do Conselho de Administração que aprovou a compra, por unanimidade, estava alinhada com o planejamento da Petrobras e seguiu as regras do estatuto da empresa.
 
“Ainda que se esteja diante de uma avença [acordo] malsucedida e que importou, aparentemente, em prejuízos à companhia, não é possível imputar o cometimento de delito de nenhuma espécie aos membros do Conselho de Administração, mormente quando comprovado que todas as etapas e procedimentos referentes ao perfazimento do negócio foram seguidos”, disse Janot.
 
Sobre a apuração de possíveis prejuízos, o procurador afirmou que as responsabilidades deverão ser apuradas pelos órgãos de controle, como o Tribunal de Contas de União (TCU), por exemplo.
 
A polêmica sobre a compra de Pasadena é motivada pelo valor pago pela Petrobras, que desembolsou no total US$ 1,25 bilhão no negócio. Segundo a presidenta da estatal, Graça Foster, a companhia belga Astra, antiga dona da refinaria, pagou, no mínimo, US$ 360 milhões, e não US$ 42,5 milhões, conforme divulgado. Graça disse, em depoimento na CPI da Petrobras, que a estatal brasileira pagou US$ 885 milhões, e a Astra, US$ 360 milhões. O restante foram juros e honorários.

Proposta da Sabesp pode deixar o nível do Cantareira negativo em 30%

Do Estadão
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,proposta-da-sabesp-pode-deixar-o-nivel-do-cantareira-negativo-em-30,1534885

FABIO LEITE - O ESTADO DE S. PAULO
 
Concessionária busca aval dos órgãos gestores para captar mais 116 bilhões de litros do volume morto dos reservatórios
SÃO PAULO - A proposta da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para retirar uma segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira, sem reduzir a vazão captada, pode deixar o nível do principal manancial paulista no vermelho em até 30% para o início de 2015.
A concessionária busca aval dos órgãos gestores para captar mais 116 bilhões de litros da reserva profunda dos reservatórios, além dos 182,5 bilhões que começaram a ser sugados em junho e devem acabar entre outubro e novembro.
Em janeiro deste ano, quando a crise da água foi declarada, o sistema estava no azul com 23% da capacidade.
Só das represas Jaguari-Jacareí, que ficam entre as cidades de Bragança Paulista e Joanópolis, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, a Sabesp quer retirar mais 90 bilhões de litros represados abaixo do nível das comportas. Se a quantidade for toda utilizada, os reservatórios que representam 82% da capacidade ficarão com apenas 4% do seu volume total, incluindo o útil e o morto. Até este domingo, a Sabesp já havia retirado 65,8 bilhões de litros do fundo das duas barragens, restando 38,5 bilhões de litros da primeira cota dessas represas, que devem durar até o fim de agosto.
A partir daí, a concessionária deve iniciar a captação de 78,1 bilhões de litros da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, com duração prevista até o fim de outubro, quando começa o período chuvoso. Sem a garantia de que as chuvas voltarão à normalidade e querendo manter a vazão atual de 19,7 mil litros por segundo para abastecer mais de 40% da Grande São Paulo, a Sabesp quer usar mais 116 bilhões do volume morto, totalizando 298 bilhões de litros da reserva, o equivalente a 30% do volume útil do manancial, que se esgotou no início deste mês. A proposta ainda precisa ser aprovada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE).
Licitação. A Sabesp já abriu licitação para comprar mais 19 conjuntos de bombas flutuantes e fazer um canal subaquático necessário para retirar mais água do volume morto do Cantareira e do Sistema Alto Tietê, segundo maior manancial que abastece a Grande São Paulo e que também passa por grave crise de estiagem.
No início do mês, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia negado que usaria mais uma cota da reserva profunda do Cantareira, embora a Sabesp já estivesse planejando retirar mais 100 bilhões de litros, conforme o Estado antecipou. Agora, a empresa quer aumentar em 16% a segunda cota do volume morto, que tem ao todo 400 bilhões de litros.
Estimativas apontam que, se a vazão afluente, ou seja, a quantidade de água que chega aos reservatórios, for 50% abaixo da mínima histórica, e não houver redução no volume destinado ao abastecimento da população, a segunda cota do volume morto pode acabar ainda em dezembro deste ano, o que deixaria uma crise ainda mais grave para 2015. Em julho, por exemplo, a vazão média afluente está 68% abaixo da pior já registrada para o período. O mês será o mais seco da história do sistema, o que deve resultar em déficit de 51,5 bilhões de litros, ou 5,2% da capacidade. Na média, agosto e setembro costumam ser mais secos do que julho.
Risco. “O volume morto é como se fosse o cheque especial do banco. Mas, em vez de poupar e reduzir o consumo, o governo quer ampliar o limite para gastar mais. Essa fatura ficará mais cara em 2015, porque vamos começar o ano no negativo. A crise será ainda pior”, afirma o engenheiro e diretor do departamento de hidrologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antonio Carlos Zuffo. Segundo ele, quanto mais fundo a Sabesp for buscar água, maior o risco de contaminação. “A dragagem está revolvendo muito lodo do fundo, onde ficam os poluentes, os metais pesados”, completa.
O uso da segunda cota, caso seja autorizada, também deve retardar o processo de recuperação do Cantareira. No início do mês, o Estado revelou que uma análise estatística mostrou que a chance de o sistema acumular entre dezembro deste ano e abril de 2015 um volume de água suficiente para tirá-lo da crise após o término da primeira parte da reserva profunda era de apenas 25%.
Outro lado. A Sabesp informou em nota que “não houve um aumento na proposta de uso da segunda parte do volume morto” e que a “empresa segue em processo de avaliação para definir se o volume será de 100 e 116 bilhões de litros”. Segundo a concessionária, caberá aos órgãos reguladores decidirem sobre a proposta. O pedido precisa de aprovação da ANA, do governo federal, e do DAEE e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), ambos do governo paulista.
Segundo a Sabesp, a proposta apresentada aos órgãos gestores tem por objetivo garantir a vazão atual retirada do Cantareira para não ser obrigada a decretar racionamento de água na Grande São Paulo. “A companhia quer manter a vazão de 19,7 mil litros por segundo, porque é necessário para garantir as condições atuais de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. Do contrário, grande parcela da população seria prejudicada, sobretudo aquela mais carente”, afirmou.
A concessionária informou que “não há nenhum risco” de utilizar mais 90 bilhões de litros das represas Jaguari-Jacareí e disse que fará dragagem para a retirada de água do fundo dos reservatórios. “Na Represa Atibainha, a empresa continuará com o bombeamento existente em cotas mais baixas. No Jaguari-Jacareí, será feita uma nova ensecadeira e um novo sistema de bombeamento, mas sem dragagem”, completou.
A Sabesp disse ainda que é “irresponsável e temerária a inferência de que haveria problemas para a qualidade da água” com o uso da nova cota. “A água distribuída pela Sabesp segue todos padrões de qualidade e potabilidade do Ministério da Saúde”, disse. A empresa informou ainda que 76,5% dos 400 bilhões de litros do volume morto já são liberados para a região de Campinas por meio das descargas de fundo, conforme o Estado revelou em maio. “É justamente esse fluxo contínuo da água na reserva profunda uma das garantias de a água ter boa qualidade para o abastecimento público”, completou.

Santander e propaganda eleitoral irregular


O Santander, que entrou no Brasil pelas mãos do tucanato pela compra do Banespa, enviou junto com os extratos da sua clientela de elite uma avaliação de natureza político eleitoral insinuando que se Dilma ganhar o Brasil vai acabar.

Segue a íntegra da mensagem enviada pelo Santander:
“A economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta -corrente. A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vem caindo nas últimas pesquisas, e que tem contribuído para a subida do Ibovespa. Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos”.
http://180graus.com/blog-da-ana-formiga/banco-santander-faz-propaganda-contra-dilma-e-diz-que-ela-vai-quebrar-a-economia

domingo, 27 de julho de 2014

A hora de discutir as metas inflacionárias

Do Blog do Nassif
http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-hora-de-discutir-as-metas-inflacionarias
No controle da inflação, as expectativas desempenham papel central. Se todos os agentes acreditam que a inflação poderá aumentar, passarão a reajustar seus preços transformando a profecia em realidade. E vice-versa.
O sistema de metas inflacionárias surgiu para permitir ao BC articular as expectativas de uma forma clara e eficiente. Especialmente depois que o avanço das transações eletrônicos e a sofisticação das operações financeiras acabou com os diversos conceitos de meio circulante.
Consiste no seguinte:
  1. Primeiro, o BC define uma meta para a inflação a ser alcançada – com uma margem para cima ou para baixo.
  2. Se o mercado acredita que a inflação futura ficará acima da meta, o BC aumenta os juros básicos da economia. Se acredita que ficará abaixo, o BC diminui os juros.
  3. Teoricamente, aumentando as taxas básicas de juros, o BC conseguiria interferir em toda estrutura de juros da economia, encarecendo o crédito e, por consequência, reduzindo a demanda, ajudando a derrubar os preços; e vice-versa.
***
Havia vários inconvenientes na adoção do sistema pelo Brasil.
O primeiro, a própria estrutura de juros da economia. As taxas de juros na ponta são tão elevadas que  mudanças na Selic mal fazem cócegas no custo final do dinheiro.
O segundo, a cartelização do processo de formação de expectativas. Em economias desenvolvidas, há vários agentes influindo nas expectativas do mercado – o maior dos quais é o próprio Banco Central. No caso brasileiro, as expectativas são formadas por uma cobertura jornalística concentrada, cartelizada, baseando-se em poucos canais de informação alimentados por fontes com interesses objetivos na alta de juros.
Cada decisão do Copom sobre nível de juros movimenta apostas pesadíssimas  – seja entre comprados e vendidos, no mercado futuro, seja nas próprias expectativas de rentabilidade das tesourarias de empresas.
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O BC sabe, qualquer economista de bom senso sabe que, contra o excesso de demanda, há medidas muito mais eficazes que a taxa Selic. O BC pode instituir tributos sobre o crédito, aumentar o compulsório (parcela dos depósitos bancários que é recolhido), reduzir prazos de financiamento, exigir parcelas maiores à vista etc.
Sabe, também, que quando ocorrem choques de oferta (frustração de safra nos EUA, seca no Brasil etc.) aumentos de juros são ineficazes.
Teoricamente, portanto, bastaria o BC acenar com qualquer dessas medidas para derrubar as expectativas de alta da inflação.
Ocorre que, pelo sistema atual, aceita-se apenas um único tipo de atitude do BC para rebater expectativas inflacionárias: o aumento da taxa básica de juros. A única prova que os lobistas exigem é alta nos juros.
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Com isso, as discussões técnicas passam a ser ferozmente contaminadas por interesses pessoais de operadores se posicionando no mercado de taxas – tanto os altistas quanto os baixistas.
No dia em que as expectativas inflacionarias puderem ser rebatidas com medidas no compulsório ou impostos no crédito, acaba a frescura de certos analistas com taxas de juros neutra e outros conceitos vagos.
É hora de começar a se discutir a sério o fim ou a reformulação radical do sistema de metas inflacionárias.

domingo, 20 de julho de 2014

Seca não é ideológica; mídia, é. Demissões da água em São Paulo só saem no “Valor”

http://tijolaco.com.br/blog/?p=19206

17 de julho de 2014 | 17:31 Autor: Fernando Brito
torneiratucana
São Pedro, sabe-se, não tem partido e pouca chuva não é problema ideológico, mas hidrológico.
Mas os efeitos e a capacidade de enfrentá-los é, sim, ação de Governo.
Todo mundo acompanhou a agitação, nos primeiros meses do ano, com o “terror do apagão elétrico” que a seca iria provocar.
E não provocou, nem vai provocar, embora as condições sejam, de fato, delicadas e se vá chegar à época das chuvas com um armazenamento muito baixo.
É a verdade, são fatos e fatos não são partidários.
Mas a imprensa é.
Você consegue imaginar o que seriam as manchetes dos jornais brasileiros e as indústrias estivessem demitindo trabalhadores e suspendendo investimentos por conta de uma esperada falta de luz?
Mas isto está acontecendo com a indústria paulista em função do medo de não terem água para trabalhar.
Nem a Folha, nem o Estadão divulgam a pesquisa apresentada hoje pela Fiesp.
Achei apenas no Valor a informação, junto com a notícia de que se estima que três mil empregos tenha sido perdidos com a redução da atividade das empresas pelas restrições atuais ao uso da água.
Como o jornal é voltado para empresas, não pode deixar de noticiar uma coletiva da Fiesp.
Leiam abaixo:
Levantamento divulgado pela Fiesp nesta quinta-feira durante seminário sobre escassez de água na região do PCJ mostra que, em cada três empresas, duas estão preocupadas com possível interrupção no fornecimento. A possibilidade de um racionamento de água ainda neste ano é um fator de preocupação para 67,6% das 413 indústrias ouvidas pela pesquisa realizada pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp.
O levantamento foi feito entre os dias 12 e 26 de maio com 229 empresas de micro e pequeno porte (até 99 empregados), 140 de médio porte (de 100 a 499 empregados) e 44 de grande porte (500 ou mais empregados).
A pesquisa revela que são justamente as empresas de grande porte as mais preocupadas (75% ante 68,1% das pequenas e 64,3% das médias).
Já pensando nas consequências de uma interrupção no fornecimento de água, 64,9% das empresas avaliam que a medida teria impacto sobre seu faturamento: 17,9% avaliam que o impacto seria “forte” enquanto para 47% seria “pequeno”.
As empresas de grande porte foram as que mais indicaram impacto sobre o faturamento: “pequeno impacto” para 50% das grandes ante 48,9% das pequenas e 42,8% das médias; “forte impacto” para 29,5% das grandes ante 17,9% das pequenas e 14,3% das médias.
Das indústrias ouvidas, 62,2% indicaram que a produção pode ser prejudicada, mas não precisa ser interrompida em caso de racionamento. Para 11,9%, a produção é paralisada apenas no momento da interrupção e retomada em seguida. Já 12,1% responderam que a produção não seria afetada.
E das empresas que participaram da pesquisa, 54,5% não possuem uma fonte alternativa de água, enquanto 21,8% possuem e são capazes de manter a produção durante eventuais interrupções, enquanto 20,8% não dependem do sistema de abastecimento de água.
Se os “departamentos de engenharia” da nossa mídia, que analisam com profundidade todas as obras federais, fizerem uma continha simples, vão ver que a velocidade do esvaziamento do Jacareí-Jaguari está se acelerando e muito provavelmente não se atingirá o volume esperado até que a cota fatal de 815 metros seja atingida, porque haverá o isolamento do Jaguari, empoçamentos e perdas extras de evaporação com o afinamento da lâmina d’água.
Entre os dias 16 e 17 do mês passado, um a retirada de 1,21 bilhão de litros correspondeu a uma queda de seis centímetros no nível da represa.
Um mês depois, de ontem para hoje, caiu os mesmos seis centímetros com a drenagem de 920 milhões de litros.
24% menos água para o mesmo nível de rebaixamento.
Não sei se preciso desenhar para os editores dos jornais um funil, para que eles entendam que isso vai piorar mais rapidamente.
É inacreditável que seja um pequeno e desaparelhado blog quem tenha, há cinco meses, de falar que a situação é grave, gravíssima.

Brasil 2015: o desafio de mudar o tripé econômico

Do blog do Nassif

Primeiro: controle da inflação, das contas fiscais e das contas externas são medidas de responsabilidade, independentemente de qualquer conversa de tripé.
Entendido isso, vamos ao desafio de substituir as metas inflacionárias.
***
Em geral, movimentos inflacionários começam com altas pontuais, provocadas por fenômenos imprevistos  que acabam se irradiando para outros preços, seja através da cadeia produtiva dos setores afetados seja pelas expectativas dos agentes econômicos.
***
Historicamente, a política econômica consagrou um conjunto de ferramentas para atacar o fenômeno pontualmente, onde se manifestam as pressões inflacionárias, como estoques reguladores, medidas de impacto direto sobre o crédito etc.
As metas inflacionárias trocaram tudo isso por uma espécie de pedra filosofal.
Define-se uma meta inflacionária com uma margem de manobra. Depois, medem-se as expectativas do mercado em relação à inflação. Se estiver acima da meta, aumentam-se os juros básicos da economia. Se abaixo, diminuem-se.
O que ocorre, de fato, é que com mais juros há maior atração de dólares, provocando uma apreciação do câmbio – que reduz o peso dos chamados produtos comercializáveis (aqueles cujas cotações são em dólares). É o câmbio que segura a inflação, não a demanda.
A teoria é falsa, nefasta, afeta política industrial, pressiona o orçamento público, mas influencia as expectativas. É uma macumba planilhada.
***
Se é tão nefasta assim, porque é tão incensada?
Porque seu único objetivo é preservar o capital e minimizar os estragos sobre as grandes companhias, com poder de mercado.
Quando o Banco Central aumenta a taxa Selic e aprecia o câmbio, são os seguintes os efeitos sobre os diversos agentes econômicos, supondo-se aumento da inflação e da Selic:
Investidor em US$  - ganha com o aumento dos juros e com a apreciação do real. No exemplo, mostro como sua rentabilidade pode saltar de 7,5% ao ano para mais de 26%.
Investidor em R$ - sua rentabilidade real (descontada a inflação) aumenta porque a alta da Selic, em geral, é superior à alta da inflação esperada.
Grandes empresas com domínio de mercado – tem poder para reajustar seus preços e compensar as perdas com aumento de custos. Seus ganhos financeiros crescem com juros maiores.
Empresas em mercados competitivos – perdem na redução das vendas, no aumento dos custos operacionais, na dificuldade em reajustar preços e na elevação do custo financeiro.
Pessoa física – ganha nos investimentos, perde no crediário. A médio prazo, perde com o menor dinamismo da economia.
***
O Banco Central não é cobrado quando erra para cima; mas é crucificado quando erra para baixo (reduz os juros e a inflação aumenta, mesmo não tendo relação alguma). É isso que explica o comportamento burocrático do Banco, de convalidar tais teorias.
Daí que não basta simplesmente eliminar a teoria, mas desenvolver um conjunto de princípios que permitam retomar as ferramentas originais de combate à inflação sem perder o controle sobre as expectativas.

Um diagnóstico sobre a dramática situação do Sistema Alto Tietê

http://jornalggn.com.br/blog/sergiorgreis/um-diagnostico-sobre-a-dramatica-situacao-do-sistema-alto-tiete

Um diagnóstico sobre a dramática situação do Sistema Alto Tietê
Após fazer declarações confiantes a respeito da segurança hídrica do Alto Tietê por meses, pela primeira vez o governador Geraldo Alckmin admitiu, no último fim de semana, a realização de estudos para o aproveitamento do volume morto do Sistema Alto Tietê. Não é para menos, já que, em termos percentuais, o esvaziamento dos seus reservatórios é ainda maior do que o observado para o Sistema Cantareira (nos últimos dois meses, o primeiro perdeu 9,6 pontos percentuais da sua capacidade, e o segundo, 8,8 pontos) – que tem sido, desde a declaração da existência de uma crise, muito mais priorizado nas análises e matérias jornalísticas.
Essa priorização não é por menos: de fato, o Cantareira é o sistema produtor mais relevante do ponto de vista do seu alcance populacional: são 14 milhões de beneficiados, ao passo em que o Alto Tietê atende a quase 5 milhões de habitantes. Mas há, também, um problema de transparência: são muito mais abundantes os dados publicizados sobre o sistema maior, possivelmente em razão de sua gestão ser compartilhada – as informações disponibilizadas diariamente pelo Comitê Anticrise, formado por técnicos da ANA, DAEE e SABESP, são consideravelmente mais completas do que as apresentadas na seção de transparência da SABESP (também responsável pelo Alto Tietê). Talvez, por sinal, este seja um caso bem sucedido de competição administrativa entre governo federal e estadual pela transparência – o que não ocorre no caso do Alto Tietê. Talvez, também, a falta de atenção dada a esse sistema também derive do fato de abastecer zonas periféricas de São Paulo, ao passo em que o Cantareira produz para regiões urbanas centrais em vários aspectos: Consolação, Jardins, Alto de Pinheiros, Higienópolis, Vila Mariana, etc. No entanto, caso seja essa a razão, comete-se uma negligência fundamental: é na região abastecida pelo Alto Tietê onde se encontram algumas das maiores indústrias de São Paulo.
O foco deste texto, no entanto, não está na qualidade da abordagem do tema, mas sim em sua gravidade, a meu ver tão ou mais considerável do que a observada para o Cantareira. Primeiramente, vale explicar um pouco mais o Alto Tietê: trata-se de um sistema responsável pela produção de cerca de 15 m³/s (um pouco menos da metade da capacidade nominal do Cantareira). Ele é formado principalmente a partir de 5 represas: Paraitinga, Ponte Nova, Biritiba-Mirim, Jundiaí e Taiaçupeba (pela ordem da trajetória da água, até seu envio para consumo). Pode-se dizer que esse sistema é ainda mais complexo do que o Cantareira, já que conta com uma estação elevatória que é responsável por transportar a água das duas primeiras represas até a Biritiba-Mirim. Em outras palavras, só a partir daí é que o sistema funciona por gravidade. O desenho abaixo esclarece as informações acima:
Sistema Produtor Alto Tietê
Um outro aspecto importante é que, de forma geral, os reservatórios são muito menores do que os encontrados no Sistema Cantareira. O maior deles, Ponte Nova, tem uma capacidade útil de 289,85 hm³ (pouco mais de 1/3 do o Jaguari-Jacareí, o maior reservatório do Cantareira, pode abrigar). Ele é seguido pelos muito menores Taiaçupeba (81,75 hm³), Jundiaí (74,1 hm³), Paraitinga (37,1 hm³) e Biritiba-Mirim (34,4 hm³). Na medida em que envolve a coordenação de vários reservatórios pequenos por meio de estratégias distintas (bombeamento e gravidade), de fato a gestão do Alto Tietê contém desafios particulares.
Do ponto de vista do controle social, então, seria fundamental contar com os dados desagregados para cada barragem, para que o cidadão tenha condição de entender a gravidade real do problema. Infelizmente, conforme comentado, esses dados não estão disponíveis na transparência ativa da SABESP. No entanto, o pouco conhecido Sistema de Alerta a Inundações (o SAISP – falei dele no último artigo, sobre o racionamento noturno que muito provavelmente ocorre no Cantareira) nos apresenta, em tempo real, os dados referentes às cotas (altura da água em metros) de cada reservatório. Além disso, o Volume 4 do Relatório do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (disponível neste link:http://www.fabhat.org.br/site/images/docs/volume_4_pat_dez09.pdf) nos indica alguns dos dados mais relevantes a respeito da capacidade de cada reservatório. Após fazermos a regressão da curva, conseguimos chegar à quantidade de água existente em cada um deles, a cada centímetro de queda ou elevação de nível.
E os dados nos mostram que a situação do Alto Tietê é ainda mais dramática do que parece, conforme a tabela abaixo (dados de 17/07, por volta das 15 horas):
Volume Útil e Capacidade Atual dos Reservatórios do Alto TietêA análise do histórico recente nos mostra que a SABESP tem tentado preservar os dois primeiros reservatórios; ao mesmo tempo, observamos que o Jundiaí se encontra praticamente vazio. Como as diferenças de altura entre as três últimas represas são muito pequenas (os mínimos operacionais são, respectivamente, de 752,5 metros, 748,42 metros e 739,5 metros) e elas funcionam por gravidade, não sabemos se estão sendo capazes de transferir água uma para a outra com o que se costuma chamar de “maior capacidade de transporte possível”. Vale comentar, aqui, que foi essa situação, na verdade, que levou à antecipação, ao máximo viável, da instalação das bombas para a extração do volume morto do Jaguari-Jacareí (a diferença das cotas mínimas operacionais entre esse reservatório e o Cachoeira é de menos de 9 metros e, em meados de Maio, a iminência do esgotamento do reservatório maior reduziu o diferencial para cerca de 5 metros, reduzindo a vazão máxima de transferência de 33 m³/s para apenas 12 m³/s – o que, se continuado, levaria à rápida falência do Cantareira ainda antes do fim do volume útil por significar o esvaziamento das demais represas – algo não percebido pela imprensa mainstream). A questão complicada é que, diferentemente do notado para o Cantareira, aparentemente não existem estudos para identificar, no Alto Tietê, o impacto do esvaziamento dos reservatórios na diminuição das vazões máximas. É provável que isso jamais tenha sido, na verdade, aventado para esse sistema – ao passo em que, no caso do Cantareira, relatórios com esse interesse foram desenvolvidos após a iminência da catástrofe de 2004 (agora repetida e incrivelmente aprofundada).
Mais grave, no entanto, é a seguinte circunstância: a Estação Elevatória de Biritiba tem capacidade de transportar, no máximo, 9 m³/s de água – 60 % da vazão atualmente disponibilizada pelo Alto Tietê (um pouco menos, até, se pensarmos que 2,1 m³/s estão sendo enviados para poupar o Cantareira – imaginamos que Alckmin não está retirando água dos beneficiários do Alto Tietê, e sim aumentando provisoriamente a vazão de retirada, mas tudo é possível no mundo da gestão sem transparência). Ou seja: se os reservatórios após a Elevatória secarem, então o racionamento não só é absolutamente obrigatório – é uma imposição física.
É possível, então que, a partir do agravamento do cenário – notadamente nas três barragens supracitadas –, Alckmin foi forçado a rever o discurso, autorizando a realização de estudos para a extração do volume morto do Alto Tietê, a la Cantareira. Mais uma vez, emerge a polêmica de se retirar uma porção de água que, sabidamente, funciona para manter o sistema vivo, como uma capa protetora do ecossistema – e Alckmin, ao declarar que a “reserva existe para ser usada”, conforme esta matéria da Folha de 21 de Março (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/03/1428326-reserva-e-para-se...), mostra que não apenas desconhece noções básicas de meio ambiente, mas também que pouco se importa para elas, dada a autorização dada para a exploração desse volume a meses do período eleitoral. E, mais do que isso, como marca do imenso despreparo gerencial desse governo – que permite que a crise hídrica chegue a esse ponto tão historicamente negativo –, esses estudos serão realizados pela primeira vez. E, pelo contexto dramático, ocorrerão no afogadilho, a toque de caixa, justamente quando estamos lidando com uma situação que afeta tão direta e literalmente a vida das pessoas.
Os dados nominais a respeito da quantidade de água existente abaixo dos volumes operacionais dos cinco reservatórios são os seguintes (também conforme o relatório supracitado):
Volume Morto de Cada Reservatório do Alto Tietê
É possível notar que esse volume morto hipotético é consideravelmente menor do que o existente para o Cantareira, tanto em termos absolutos como relativos. No sistema maior, a “reserva técnica” é de aproximadamente 510,89 hm³, algo como 34,23% da capacidade total do Cantareira. Já no Alto Tietê, esse volume, como vemos acima, é de 119,35 hm³ (18,75% da capacidade total desse sistema). O que nós percebemos, em um primeiro momento, é que a quantidade de água eventualmente disponível situada abaixo da cota mínima operacional nos reservatórios Paraitinga e Taiaçupeba é bastante irrelevante. Em sendo possível extraí-la (algo que, conforme comentado, ainda não sabemos), duraria possivelmente menos de 10 dias. Com relação aos demais reservatórios, também não são significativos, o que potencialmente demandaria a rápida transferência das bombas de um para outro, bem como a construção de três “puxadinhos” como os realizados para o Jaguari-Jacareí – que foi entregue, ao contrário do anunciado, bastante incompleto (com metade das bombas em operação), após dois meses de obras; e, até hoje, não sabemos se as edificações necessárias para a colocação das bombas foi concluído para o Atibainha.
É preciso observar, ainda, que mesmo no que se refere aos dados disponibilizados no relatório comentado acima (e que foram utilizados para as estimativas de cálculo deste artigo), não se sabe, ao certo, quais são as cotas mínimas quando o volume morto se aproxima de zero. Se no caso do Paraitinga e do Taiaçupeba essas informações realmente não são relevantes, com relação aos outros três reservatórios esses dados são essenciais para a determinação da efetiva capacidade de bombeamento. Isso porque se imagina que 1) não se bombeia até o “0”, sabendo-se que tal operação significaria revolver barro e toda sorte de detritos – inclusive, potencialmente, os metais pesados que aí se situam –, evidentemente pondo em risco real a população; 2) represas excessivamente profundas dificultam ou até inviabilizam a sucção das bombas – não é à toa que, no caso do Cantareira, a autorização da retirada para o Jaguari-Jacareí foi de 5,8 metros, e para o Atibainha, de 6,14 metros –; se as represas forem “funis”, então o risco de empoçamento é significativo (e simplesmente não sabemos o relevo desses solos – pelo menos publicamente). Relatórios mais antigos, como um apresentado em 2002, expressam grande divergência entre SABESP e DAEE até mesmo com relação à capacidade máxima de cada reservatório – ao contrário do Cantareira, que possui essas informações discriminadas em seus relatórios e documentos de outorga.
Nos últimos 30 dias, o Alto Tietê perdeu praticamente 1 bilhão de litros de água por dia. Em termos de perda por segundo, são 11,57 m³/s. Em outras palavras, de no mínimo 15 m³/s que são distribuídos à população – e digo “no mínimo” imaginando que não ocorra diminuição de pressão durante as madrugadas, conforme o eventualmente observado no Cantareira –, apenas 3,43 m³/s estão entrando em razão da vazão natural dos rios (mais chuvas). Alckmin, portanto, dispõe de um cenário cada vez mais crítico, considerando-se a tendência de redução ainda mais significativa da entrada de água para o mês de Agosto (assim como para o Cantareira, no Alto Tietê as mínimas históricas de vazões também ocorrem nesse mês, conforme o relatório supracitado). Esse cenário é ainda mais grave diante da relevância modesta do volume morto à disposição e, principalmente, em razão do já comentado limite físico de transporte de água da Estação Elevatória.
O que temos, em termos numéricos, é o seguinte: a partir dos níveis de perda observados para os últimos 30 dias, caso a SABESP mude sua estratégia e passe a buscar evitar o colapso dos três últimos reservatórios – para tentar manter o sistema todo unido, sem limitação de vazões e sem racionamento, portanto –, seria preciso, então, realizar o envio máximo de água por meio dos reservatórios Paraitinga e Ponte Nova até a Estação Elevatória, 9 m³/s (limite, por sinal, não só físico, mas também estabelecido na outorga do sistema no que se refere à retirada de água dessas represas), e tentar produzir uma perda de apenas cerca de 2,6 m³/s a partir dos três reservatórios subsequentes (resultando na perda total atual, de 11,57 m³/s). Nesse cenário, e: 1) admitindo, de forma otimista, que essas pequenas represas não teriam perdas de vazão conforme seriam esvaziadas; 2) que a vazão de entrada dessas três represas seja, agregadamente, de 1,5 m³/s; 3) que a vazão de entrada das outras duas represas seja de 1,9 m³/s (totalizando o ingresso médio atual do último mês, aproximadamente 3,4 m³/s); 4) que as vazões sejam destinadas para as represas que se aproximam do esvaziamento, de modo a preservar sua sobrevivência; 4) que a SABESP respeite a determinação da outorga de continuar a descarregar para os rios (já que eles alimentam outros sistemas produtores e outras cidades, que precisam dessa água) as vazões mínimas de 0,5 m³/s do Paraitinga, 0,3 m³/s da Ponte Nova, 0,1 m³/s do Jundiaí e 0,7 m³/s do Taiaçupeba, temos o seguinte (vejam quantas premissas, em geral bastante positivas diante do atual contexto):
·         O diferencial entre a vazão de entrada nas três últimas represas e aquela que é obrigada a ser descarregada é de 0,4 m³/s nessa hipótese (secando ou não as represas);
·         O volume útil da represa Taiaçupeba acaba em 70 dias. Com a pequena entrada diária acumulada no período, chega-se a mais 10 dias, em um total de 80 dias;
·         A seguir, a represa Jundiaí seca em 31 dias. Com mais 4 dias de vazão com as entradas diárias, persiste por um total de 35 dias;
·         Finalmente, a represa Biritiba tem seu volume operacional esvaziado em 30 dias. Novamente, com as entradas diárias acumuladas, chega a 34 dias.
·         No total, então, a vazão de 2,6 m³/s, a partir de todos os pressupostos apontados, pode ser mantida nesse conjunto de 3 represas por um período de 149 dias;
·         Já com relação às duas represas acima da Estação Elevatória, supõe-se que o diferencial entre as vazões de entrada e aquelas que precisam ser despejadas no rio por força da outorga é de 1,1 m³/s;
·         Nesse sentido, o volume útil da Ponta Nova se esgota em 99 dias. Com as afluências diárias, a represa dura mais 41 dias. No total, o reservatório continua a ser capaz de fornecer 9 m³/s por 140 dias;
·         A represa Paraitinga, por sua vez, sobrevive por 15 dias. A partir dos ingressos da vazão natural, seu esgotamento total ocorre em 21 dias;
·         Com isso, a partir da hipótese construída, essas duas represas poderiam, na melhor das condições, manter seu funcionamento por mais 161 dias.
Em síntese, então, levando-se em conta que o prazo máximo em que o Sistema Cantareira poderá continuar a funcionar de forma integrada – abstraindo-se toda a questão das implicações hidrostáticas do esvaziamento das represas que operam por gravidade, a irregularidade das vazões e uma gestão eventualmente inadequada dos fluxos (hoje, como disse, parece que são os reservatórios que são incapazes de atender a toda a produção justamente aqueles que estão sendo preservados), Alckmin tem 149 dias para finalizar os estudos sobre a viabilidade da utilização do volume morto, para comprar bombas e para fazer obras em, provavelmente, três reservatórios. Vale ressaltar que, conforme os reservatórios esvaziam, também diminui sensivelmente a vazão natural dos rios. Não é apenas uma questão de chuvas, como se sabe, mas da dinamicidade do funcionamento dos mananciais. Então não será surpreendente caso venha a ocorrer a piora das já dramáticas condições do sistema, que poderão, conjuntamente com uma gestão arrogante da crise, levar ao colapso do Alto Tietê em um prazo ainda muito menor do que o apontado.
Vale dizer, reforçando o argumento, que uma gestão inadequada do Alto Tietê nesse momento será devastadora para a sua continuidade como sistema produtor. Se, em uma conta simples, percebemos que toda a água pode acabar em 118 dias a partir de uma gestão “laissez-faire” do sistema (e a hipótese acima dá a sobrevida de 1 mês mais ao conjunto de reservatórios, na consideração mais otimista sobre a situação), é possível notar que a preservação das duas represas “de cima” – que ocorre hoje – poderá fazer com que, em não mais de um mês, o sistema deixe de abastecer algo como 40% da sua capacidade, implicando inevitavelmente no racionamento. Isso pode ocorrer, por exemplo, se os pouco mais de 29 hm³ de Biritiba, Jundiaí e Taiaçupeba forem todos consumidos em detrimento da redução máxima da vazão de saída de Paraitinga e Ponte Nova. É essa a dimensão da iminência da tragédia.
Enfim, mais uma vez ressaltamos que a crise que ocorre hoje – em mais um sistema importantíssimo de produção de água – é uma crise hídrica, mas é também, e especialmente, uma crise de planejamento, de gestão, de transparência, e social de primeira ordem, por todo o conjunto de desrespeitos à vida que representa a falência da produção de água em um Estado tão rico em termos financeiros, em conhecimento técnico, em histórico, em outras áreas, de construção de políticas públicas transparentes e participativas e, por que não, até mesmo em disponibilidade hídrica potencial, dada a relevância em contexto mundial de aquíferos como o São Paulo e o Guarani. Tendo Alckmin, seu governo, seus órgãos e seu partido – há 20 anos no poder – jogado fora tamanhas oportunidades, resta agora torcer para que o cenário “São Paulo sem água”, cada vez mais próximo, tenha o menor impacto possível na cidadania – o que é improvável diante da centralidade da água para a vida.
Sérgio Roberto Guedes Reis