Acabo de ler o artigo de um consultor que procura exagerar as dificuldades da economia.
Ele escreveu que a economia brasileira anda crescendo tão pouco que o
desempenho do governo Dilma Rousseff, até agora, só não é pior que o de
Fernando Collor, que seqüestrou a poupança e impôs uma recessão
selvagem com o argumento de que iria controlar a inflação.
A situação do Brasil já esteve muito melhor durante o governo Lula e muita gente acha que hoje não precisava estar tão morna.
Mas, se o governo Dilma passar os quatro anos do mandato com o mesmo
desempenho de 2011, já terá sido melhor do que os oitos anos do governo
de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo.
No ano passado, o Brasil cresceu 2,7%. A média de crescimento no
governo FHC foi de 2.2%. Em dois anos o crescimento ficou em torno de
0%.
O erro mais freqüente de consultores é enxergar seus interesses com mais nitidez do que a realidade.
O esforço para exagerar os males da economia tem uma razão política. Não se pretende aumentar o crescimento.
O que se quer é aumentar a pressão pela realização de reformas que
implicarão em sacrifícios aos trabalhadores e a maioria da população.
A mãe desses sacrifícios envolve a Previdência Social. Recentemente, o
governo reduziu as contribuições de determinadas empresas à
Previdência. É uma decisão que pode se justificar como um esforço para
animar o crescimento. Mas será preciso examinar, dentro de um ano, por
exemplo, se os benefícios anunciados pelas empresas foram atendidos.
A ampliação desses benefícios pode tornar difícil pagar
aposentadorias e pensões no futuro, até porque a população está
envelhecendo – e aí, pode-se prever, entraríamos numa segunda fase, de
pressão dos consultores pela privatização da própria previdência.
Até agora não vi estudos definitivos sobre os danos e vantagens que
essa medida irá causar à Previdência. Mas estranho que muitos
observadores, sempre ocupados em denunciar o “rombo da Previdência”
desta vez tenham ficado quietos.
Outra pressão envolve a saúde pública. O governo segue sem definir uma fonte de recursos para aprimorar o SUS.
As verbas da extinta CPMF – que poderiam ser usadas para este fim,
embora tenham sido desviadas por muito tempo – não foram substituídas.
Isso quer dizer que em breve haverá mais mercado para a medicina
privada, conseqüência inevitável do esvaziamento do SUS.
Basta olhar para aquilo que os estudiosos chamam de pirâmide
demográfica para entender o que o futuro nos reserva. Estamos falando de
um país que envelhece em passos acelerados e em breve será um imenso
mercado para quem precisa de pensões e consultas médicas.
Como se vê, nossos consultores não erram sem uma boa razão.
http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2012/05/24/a-volta-do-terror-economico/