terça-feira, 31 de março de 2009

Inflação em queda

O IGP-M de março apresentou uma deflação (0,74%) bem maior do que a esperada pelos analistas. O prognóstico de IPCA para os próximos 12 meses do Boletim Focus (1) recuou pela sétima semana consecutiva, distanciando-se ainda mais do centro da meta de inflação de 4,5%. Já estava abaixo dela, em 4,26%, e desceu agora para 4,19%.


(1) O Boletim Focus do BC é uma fonte viciada, nesse boletim o BC faz uma média das previsões dos indicadores feita pelo "mercado", um mercado que só tem opinião de banqueiro, gestor de fundo e corretora, setor produtivo jamé. 

Medidas já envolvem desoneração de R$ 3 bi




Valor Econômico 
31/03/2009

O governo federal anunciou, ontem, medidas fiscais adicionais que elevam para R$ 3,075 bilhões a renúncia fiscal das medidas de estímulo à economia prevista para este ano. Em mais um pacote de reduções tributárias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou a extensão por mais três meses da isenção ou redução (dependendo do modelo) do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre automóveis, além do corte no IPI de uma série de materiais de construção e na Cofins incidente sobre motocicletas, além da inclusão de novos setores na lista dos setores considerados prioritários para a região da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) - como a redução de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ). Por outro lado, o governo vai subir a tributação sobre cigarros.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Perda da Aracruz é a 2º maior da história

André Vieira, de São Paulo
Valor Econômico 30/03/2009
 

Aracruz atingiu em 2008 o maior prejuízo líquido já registrado por uma companhia aberta de capital privado em mais de duas décadas e tornou-se no mesmo período o segundo maior entre todas as empresas. A fabricante de celulose registrou perda de R$ 4,23 bilhões no ano passado, em decorrência de operações financeiras com instrumentos derivativos que quase a levaram à bancarrota. 

A dívida líquida da Aracruz aumentou 171% no quarto trimestre de 2008 na comparação com o terceiro trimestre e cresceu 291% em relação ao fim de 2007 - a piora no endividamento se deveu às perdas com derivativos. A fabricante chegou no dia 31 de dezembro com endividamento líquido de R$ 8,682 bilhões, cifra suficiente para erguer uma nova Aracruz - a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo.


Comentário: o Brasil perde com a perda da Aracruz, são empregos que se vão, investimentos cancelados. Essa farra que a empresa se meteu foi estimulada pela política econômica vigente no Brasil há mais de duas décadas: câmbio valorizado e juros altos.



Legalidade, moralidade e eficiência

Fábio Wanderley Reis
Valor Econômico 30/03/2009
 

 

Em sua coluna no Valor, alguns dias atrás (20, 21 e 22 de março), Claudia Safatle comentava o parecer do procurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Lucas Furtado, que serviu de fundamento à absolvição, pela Justiça Federal, de autoridades do governo Fernando Henrique Cardoso acusadas de improbidade administrativa no processo de privatização da Telebrás. O parecer destaca que a atuação estatal "não deve mais ser balizada apenas pelos critérios de legalidade, de moralidade e de impessoalidade", mas também "pelos princípios da eficiência e da economicidade", com a ênfase na "produtividade" e na "obtenção de resultados". O foco da coluna é a preocupação com as implicações para a renovação mais ou menos urgente de concessões em diversas áreas (setor elétrico, ferrovias, internet) de uma decisão afirmativa da Justiça baseada nessa nova leitura "eficiente" dos preceitos constitucionais relevantes - "nova" não obstante o fato de que a emenda constitucional 19/98 já inclui, no artigo 37, menção explícita à eficiência entre os princípios a serem obedecidos pela administração pública, em seus diversos níveis, ao lado dos de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade.

Mesmo no nível técnico da administração como campo especial de estudo e reflexão, a questão da eficiência é objeto de grandes confusões, particularmente em suas relações com a burocracia. A tendência recente, em que Lucas Furtado se insere (tal como Bresser Pereira em sua passagem pelo Ministério da Reforma do Estado), tem sido a de contrapor uma administração "gerencial", vista como ágil e eficiente, à administração "burocrática" supostamente emperrada e estúpida, de acordo com o sentido que a expressão burocracia veio a adquirir coloquialmente e em que a adesão ritualista aos meios perde de vista os fins. Em certo sentido, é banal, naturalmente, a necessidade de lutar contra a distorção ritualista e buscar a eficiência. Mas o gerencialismo "reinventador do Estado" esquece que a burocracia é essencial à organização político-administrativa racional, ou à implantação do princípio "racional-legal" de que falava Max Weber.

Mais que isso, porém, o apego a normas legais universalistas e impessoais é condição indispensável da operação de um Estado democrático. Como tenho às vezes ressaltado aqui, se a eficiência supõe fins não problemáticos a serem alcançados através da manipulação mais expedita possível dos meios disponíveis, a própria definição da democracia envolve tomar como problemáticos os fins: a democracia reconhece que os fins são múltiplos e com frequência antagônicos, em correspondência com a multiplicidade dos atores sociopolíticos e de seus interesses, e que a grande tarefa do Estado democrático é justamente a de conciliar institucionalmente os fins diversos, num processo orientado por normas imparciais e que será por força, em alguma medida, moroso e complicado. E o desafio é o de como acomodar o desiderato banal de maximizar a eficiência nesse quadro de exigências democráticas - sem falar de que a referência à eficiência remete ela mesma à questão também complicada da acuidade na avaliação cognitiva ou intelectual da situação em que se trata de agir e das percepções variáveis quanto às relações entre meios e fins.

De qualquer modo, a Justiça é o instrumento por excelência a garantir o caráter democrático daquele processo perene de conciliação. Nessa perspectiva, é difícil ver o que poderemos ter a ganhar com alterações legais (como a da emenda 19/98) ou reinterpretações constitucionais que introduzam a possibilidade de jogar com considerações de moralidade e mesmo legalidade em nome de equívocas alegações de eficiência (apesar de formulações inevitavelmente matizadas que colocam a eficiência "ao lado" de outros princípios). Se tomamos a privatização que foi objeto da recente decisão judicial, por exemplo, os fatos conhecidos a respeito tornam patente a manipulação em que se empenharam as autoridades acusadas. Dizer isso não envolve necessariamente questionar a nobreza da motivação dessas autoridades: a manipulação que as gravações ilegais evidenciam é reconhecida mesmo por inequívocos simpatizantes políticos das pessoas agora absolvidas, com a alegação de que a manipulação "no limite da irresponsabilidade" era motivada pelo interesse de tornar mais competitiva a disputa pela concessão e, assim, pela atenção, realísticamente orientada, para o interesse público.

Mas, ainda que se preservem gradações, é fácil apontar o paralelismo dessa maneira de ver as coisas com certo maquiavelismo de araque em que a presumida justificação dos meios pelos fins, na cabeça de lideranças ideologicamente autocomplacentes, resultou há pouco no desastre do mensalão. E que fazer, por exemplo, com a questão de graus de eficiência? O fato de um grupo desqualificado pelos manipuladores ter obtido a concessão deveria ser tomado como indicando que seria necessário manipular mais? Se a Justiça pode rechaçar a acusação de improbidade em nome da busca de eficiência não deveria também ponderar a ineficiência relativa e talvez puni-la?

Não custa reforçar as preocupações que Claudia Safatle salienta quanto às consequências da situação legal produzida para os negócios futuros. Mas há, a meu ver, confusões e perigos maiores numa Justiça que ouviu cantar o galo da "eficiência" e se empenha desajeitadamente em equilibrá-la com legalidade e moralidade.

Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras

sábado, 28 de março de 2009

Operação Castelo de Areia, Petrobras, Lula e Chaves

A Operação Castelo de Areia divulgada recentemente investigou crimes financeiros de lavagem de dinheiro e remessas ilegais para o exterior. A PF prendeu várias pessoas ligadas à empreiteira Camargo Corrêa. Também descobriu-se que vários políticos (ex-PFL, PSDB, PPS) receberam doações ilegais através de laranjas, alguns deles "empresários" dirigentes da FIESP como o sr. Paulo Skaf (um empresário sem-empresa).


No Globo, Ali Kamel, o todo poderoso do jornalismo das Organizações Globo, acredita que a operação é uma ação política.



 

Da lógica do Ali Kamel

Do Globo

DESSERVIÇO

SERÁ MAIS uma vez lamentável se uma nova operação da PF, com a Justiça e o MP, for contaminada pela luta partidária e ideológica.

É IMPORTANTE desvendar casos de suposto superfaturamento de obras públicas - a refinaria de Lula e Chávez em Pernambuco, uma delas - para a Camargo Corrêa abastecer caixa dois de político.

POLITIZAR O assunto, como se sabe, é tudo o que culpados querem. Pois fica fácil desqualificar tecnicamente as acusações na Justiça.

Comentário

Deve-se investigar apenas a “refinaria de Lula e Chávez”. Qualquer outra investigação será contaminada pela luta partidária e ideológica.

É o país da piada pronta, segundo o brasileiro que mais entende de Brasil, o Zé Simão.

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/03/28/da-logica-de-ali-kamel/

Vladimir M Coutinho
www.vlad.blog.br

quinta-feira, 26 de março de 2009

Dilma rebate críticas ao pacote habitacional e diz que nem amarrada confirma candidatura

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) reiterou nesta quinta-feira que "nem amarrada" ela confirma ser candidata à sucessão presidencial em 2010. Sorridente, a ministra atacou a oposição que a acusa de utilizar o "Minha Casa, Minha Vida" --que pretende construir 1 milhão de moradias populares até 2010-- com objetivos eleitoreiros. Para Dilma, a oposição é quem antecipa a disputa eleitoral sem se preocupar com as questões prioritárias.

"Vou responder [a essa pergunta se é candidata a presidente da República em 2010], como respondi um dia desses durante o balanço do PAC [Plano de Aceleração do Crescimento]: nem amarrada eu respondo essa questão", disse a ministra, em entrevista ao programa "Bom Dia Brasil", da Rede Globo.

Dilma rebateu as críticas da oposição que acusam o governo federal de utilizar com objetivos eleitoreiros o programa de habitação, lançado na manhã de ontem em Brasília. "Essa questão quem antecipa a agenda [é a oposição] não somos nós porque tudo o que o governo faz é visto como eleitoreiro, aí eu concordo com o senador [Romero] Jucá [líder do governo no Senado], que diz se for eleitoreiro beneficiar a população e fazer com que o país cresça, aí todo o programa do governo é eleitoreiro", disse ela.

Segundo a ministra, os partidos de oposição deveriam substituir o discurso crítico pela discussão do mérito e a apresentação de propostas para aperfeiçoar o que vem do Executivo. "O que não é possível é a oposição tentar desqualificar projetos que ela tinha de estar discutindo o mérito e estar dando sugestão. Eu não acho que a pauta de eleição de 2010 tinha de estar sendo colocada agora", disse ela.

O programa "Minha Casa, Minha Vida", lançado ontem pelo governo federal, tem como objetivo construir 1 milhão de moradias para famílias com renda até dez salários mínimos (R$ 4.650).

De acordo com o governo federal, o investimento estimado para o programa é de R$ 34 bilhões, considerando o dinheiro do governo para subsídios e para o fundo garantidor das prestações. A parcela mínima será de R$ 50, enquanto o valor máximo do imóvel a ser financiado é de R$ 130 mil.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u540823.shtml

terça-feira, 24 de março de 2009

China propõe criação de moeda de reserva internacional

O banco central da China propôs a substituição do dólar como moeda da reserva internacional por um novo sistema global controlado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O presidente do BC chinês, Zhou Xiaochuan, explicou ontem que o objetivo seria criar uma moeda de reserva internacional "desconectada de países específicos e capaz de manter-se estável no longo prazo, evitando as fragilidades inerentes causadas pelo uso de moedas nacionais".

Em ensaio disponível na página eletrônica do Banco Popular da China, Zhou acredita que um novo sistema de reserva poderia ser mais estável e economicamente viável e defendeu a necessidade dele uma vez que a crise econômica global "mostrou as vulnerabilidades inerentes e riscos sistêmicos no sistema monetário internacional existente".

Alguns analistas avaliaram que a proposta indica que Pequim está preocupado com os possíveis efeitos na China das ações que vem sendo tomadas para ajudar a economia americana.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Governo teme fuga da renda fixa e acelera alterações na caderneta


Cristiano Romero, de Brasília
Valor Econômico 23/03/2009
 

O governo está dando caráter de urgência aos estudos para definir medidas que evitem a migração em massa de investimentos em renda fixa para a caderneta de poupança.

No estágio atual do debate interno, as autoridades discutem duas alternativas: a indexação da poupança a um percentual da Selic, com a instituição da cobrança de Imposto de Renda (IR) a partir de um certo limite de depósito; ou o atrelamento das cadernetas à inflação (ao IPCA, o índice oficial de preços), acrescido de juros de 2% ou 3% ao ano.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a migração dos investimentos ainda não começou a acontecer, mas, como a taxa básica de juros (Selic) deve continuar caindo nas próximas reuniões, a atratividade das cadernetas aumentará, prejudicando as aplicações em renda fixa e, em última instância, a rolagem da dívida pública. "Esse é um tema para ser tratado até o fim deste semestre, ou seja, temos 90 dias para fazer isso", previu um integrante da equipe econômica.

Nas últimas duas reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), a taxa Selic caiu 2,5 pontos percentuais. Há a expectativa, no mercado, de que caia mais 2,25 pontos até o fim do ano. Com isso, a Selic fecharia 2009 com um ganho real (em relação à inflação) de apenas 4%. Hoje, a poupança rende TR (que está próxima de zero) mais juros de 6,17% ao ano.

Até o momento, não houve migração significativa de recursos de outras aplicações para a poupança. Segundo dados do Banco Central, no dia 17 de fevereiro, as cadernetas acumulavam depósito total de R$ 271,8 bilhões. Um mês depois - no último dia 16 -, tinham R$ 274,1 bilhões. Mas, na avaliação do governo, isso deve mudar com novas quedas da taxa Selic.

A alternativa de mudança considerada mais viável dentro da equipe econômica é indexar a remuneração da poupança a um percentual da Selic e passar a cobrar IR sobre os depósitos a partir de um determinado valor. Hoje, de acordo com dados oficiais, 56% dos depositantes - cerca de 45 milhões de pessoas - têm depósitos de no máximo R$ 100 nas cadernetas de poupança.

Ampliando-se o leque, observa-se que 14,4% aplicam acima de R$ 100 e até R$ 500; 6,1%, acima de R$ 500 e até R$ 1 mil; 5,9%, acima de R$ 1 mil e até R$ 2 mil; e 6,9%, acima de R$ 2 mil e até R$ 5 mil.

A ideia em estudo é taxar os depósitos, que hoje são isentos do Imposto de Renda, cujos valores não caracterizam economia popular. Graças ao princípio constitucional da anterioridade, a cobrança só poderá ser feita, no entanto, a partir de 1º de janeiro de 2010.

Uma das vantagens da adoção da Selic como indexador da poupança, explica um economista do governo, é permitir que todos os investidores passem a se beneficiar do aumento da taxa básica de juros, e não apenas aqueles com maior poder aquisitivo.

"Com isso, passaremos também a ter a economia mais indexada à política monetária", explicou a fonte.

Outra opção em análise é indexar a poupança à inflação (IPCA) e assegurar, ainda, o pagamento de juros entre 2% e 3% ao ano. "Seria uma forma de garantir um ganho real para a poupança popular", assinalou um técnico. "Temos uma oportunidade para eliminar esse entulho, que é um entulho inflacionário", comentou outro assessor.

Os estudos mostram também que a providência tem que ser tomada através de medida provisória ou projeto de lei. A medida manteria a TR, mas trocaria o indexador da poupança e eliminaria os juros de 6,17%.

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Comentário:  quando a poupança rendia menos que a inflação, poucos defendia os pequenos poupadores, agora que a aplicação compete com a indústria dos fundos (importante fonte de ganhos para os bancos), todos pensam em limitar a rentabilidade.

Vem uns com um discurso de desindexação da poupança para garantir rentabilidade aos pequenos poupadores quando o problema da poupança não é indexação. Hoje a TR (taxa referencial) é não chega a 1,5% ao ano. A proposta dos que defendem a desindexação da poupança é justamente indexá-la à SELIC ou ao IPCA e passar a cobrar IR.

O que os bancos temem é perder o filão dos fundos onde cobram até 4% de administração. É uma indústria de centenas de bilhões de Reais.



STJ nega pedido de indenização de R$ 1,77 bi

O acréscimo de juros sobre juros voltou-se contra um banco e transformou uma cobrança indevida de R$ 3 mil na conta de uma empresa correntista num pedido de indenização judicial de R$ 1,77 bilhão no prazo de apenas dez anos.

A dívida teve origem numa cobrança indevida do Banco Bandeirantes contra a empresa Transporte Pontes. Eram exatos R$ 2.260,20. Esse valor aumentou em virtude da cobrança de juros sobre juros e de atualizações de acordo com as taxas praticadas pelo banco para o cheque especial que, em alguns anos chegou a 90%. Isso fez com que a dívida ganhasse contornos dramáticos.

Mas ao contrário do que diz alguns "cientistas" econômicos baseados em sua visão distorcida do mundo do que nos fatos, a justiça em geral trabalha para os ricos e poderosos, o STJ deu ganho ao banco em questão.

Em julgamento realizado em 19 de fevereiro, o relator do processo, ministro Carlos Fernando Mathias, afirmou que, se houve o débito de quantias indevidas, "o que se impõe não é aplicação dos encargos próprios das instituições financeiras, mas, sim, os juros moratórios e a correção monetária". O ministro Aldir Passarinho Junior disse que essa tese de punir os bancos aplicando contra eles os juros cobrados em cheque especial "foi banida pela jurisprudência do STJ, por redundar em enriquecimento sem causa do credor".

Os ministros concluíram que a restituição da valores retirados irregularmente de conta corrente de empresas deve ser realizada com acréscimo de juros remuneratórios de 1% ao mês, além de correção monetária pelo INPC e juros de 0,5% ao mês.

Com isso, a 4ª Turma do STJ reduziu a cobrança de R$ 1,7 bilhão e o Unibanco foi condenado a pagar meros R$ 28 mil.

Não estou aqui defendendo que se instabilize o sistema financeiro, defendo que haja punições aos bancos, que essas punições seja pró-ativas, que não dependam de um cliente gastar R$100 para reclamar R$50.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Bolsa Família pode diminuir impacto da crise, diz OIT

Relatório afirma que programa pode estimular consumo interno nas camadas mais pobres.


De Paris para  BBC Brasil - Um relatório produzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) indica que a ampliação do programa Bolsa Família pode contribuir para estimular o consumo interno e amortecer o impacto da crise mundial entre as camadas mais pobres da população no Brasil. 

O documento, que está sendo discutido nesta quarta-feira durante reunião da Comissão de Emprego e Política Social da organização, apresenta uma análise do programa social brasileiro, com base em dados fornecidos pelo governo e outros estudos independentes. 

"Como a população de baixa renda têm forte propensão ao consumo para suprir necessidades básicas, acreditamos que a extensão do programa vai contribuir para aumentar a demanda de alimentos e produtos de primeira necessidade, além de promover o desenvolvimento local", afirmou à BBC Brasil um dos autores do estudo, Vinícius Pinheiro. 

No final de janeiro, o governo brasileiro anunciou a extensão dos benefícios a 1,3 milhões de novas famílias. Estudos citados pela OIT apontam que o dinheiro recebido pelas famílias contempladas pela ajuda social é utilizado principalmente na compra de alimentos, roupas e material escolar. 

"O Bolsa Família tem um papel anticíclico", diz Pinheiro. "Por um lado, representa um fluxo de renda estável e regular, ajudando a população de baixa renda a manter ou mesmo a melhorar o nível de vida. Por outro, estimula a demanda, promovendo o comércio e o desenvolvimento local." 

Segundo o pesquisador, os recursos do Bolsa Família, que representam 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, acabam sendo "reinjetados" na economia. 

O documento, intitulado Bolsa Família no Brasil: análise, conceito e impactos , também indica que o programa pode servir de exemplo para políticas de inserção social em outros países do mundo. 

"O modelo brasileiro é um exemplo brilhante de que é possível realizar um processo de integração social maciço, em um curto espaço de tempo e a custos relativamente baixos", diz o relatório. 

A OIT considera, entretanto, que o programa não pode ser incondicionalmente "exportado" a todos os países do mundo. 

"Algumas condições fundamentais devem ser respeitadas", avalia Pinheiro. "Um modelo similiar somente tem sentido onde já existe uma estrutura de saúde e educação. Por isso, países mais pobres da América Latina ou da Africa têm mais limitações." 

Os dados analisados indicam ainda que o Bolsa Família é o maior programa de distribuição de renda do mundo, contribuindo "consideravelmente" para a diminuição da pobreza no Brasil. Cerca de 25% da redução da pobreza extrema no Brasil podem ser atribuídos ao programa, segundo a OIT. 

A Organização Internacional do Trabalho também enumera o que considera ser uma série de efeitos positivos indiretos do programa, entre eles a queda da mortalidade e desnutrição infantis, a emancipação da mulher e a diminuição da violência conjugal. 

A organização ressalta, no entanto, que a transferência de recursos não parece capaz de eliminar o trabalho infantil. 

"Uma das razões poderia estar ligada ao fato de que os recursos do programa ainda são insuficentes para manter as crianças longe do mercado de trabalho", diz o documento. "Estudos indicam que uma criança pode receber, com o trabalho, quase 12 vezes mais do que o valor da parcela de ajuda social transferida pelo programa." 

O relatório da OIT também contesta as críticas recorrentes de que o Bolsa Família poderia contribuir para desencorajar o trabalho. 

"O que constatamos é justamente o contrário", afirma Pinheiro. "Achamos que a transferência de recursos pode ajudar a superar muitas das barreiras à entrada no mercado de trabalho da população de baixa renda, como a falta de acesso a uma conta no banco." 

Dados analisados pela OIT indicam que a taxa de emprego entre as mulheres é 4,3% maior nas famílias que se beneficiam do programa do que em famílias de mesma condição social que não recebem os benefícios do governo. 

Para a elaboração do relatório, a OIT se limitou a analisar dados fornecidos pelo governo brasileiro e a avaliar estudos independentes. 

O documento, que segundo a organização poderá servir de base para um estudo mais aprofundado, seria apresentado nesta quarta-feira, em Genebra, na presença do ministro brasileiro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias. 



terça-feira, 17 de março de 2009

Haddad propõe mudanças nos vestibulares das universidades federais

O ministro da Educação Fernando Haddad, defendeu ontem a reformulação dos processos seletivos para ingresso nas universidades federais. A proposta do Ministério da Educação (MEC) é criar, em acordo com os reitores das universidades, um processo de seleção unificado para todo o país a ser testado em seleções no ano que vem. "Os vestibulares, como estão organizados hoje, privilegiam a memorização em detrimento da capacidade de raciocínio do aluno", disse à Rádio CBN.

Para o ministro, o atual modelo dos vestibulares não estimula o aprendizado dos alunos de maneira crítica. A intenção é criar uma avaliação única para todas as federais em que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seja usado na primeira fase. "Poderíamos complementar a segunda fase com conteúdos específicos", propôs. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ajudaria a desenvolver as provas da segunda fase. Atualmente, cada instituição desenvolve o seu próprio exame vestibular.

om o modelo unificado, o estudante poderá se beneficiar mais da expansão das universidades federais. Como o processo seletivo seria o mesmo para ingresso em qualquer universidade federal, um aluno do Nordeste, por exemplo, poderia estudar numa instituição no Sul do país. "Hoje a rede federal está em mais de 200 municípios. São 227 mil vagas de ingresso em todo o Brasil", lembrou Haddad.

Fonte: Valor Econômico 17 de Março de 2009

AIG pagará bônus a empregados da divisão financeira

A seguradora norte-americana American International Group (AIG) pagará US$ 450 milhões em bônus a seus funcionários da unidade de produtos financeiros, de acordo com o Wall Street Journal. A divisão foi uma das principais responsáveis pelo quase colapso da companhia, que utilizou US$ 173,3 bilhões do governo norte-americano para continuar funcionando até o momento.

Justamente para aqueles que fizeram o estrago são premiados. São esses mesmos executivos que definem os valores de seus bônus olhando basicamente os ganhos no curto prazo, mesmo vendo o prejuízo certo. Perdem os acionistas, e agora perde todos os contribuintes que ficarão com a conta.

AIG é a maior seguradora e a maior administradora de planos de previdência privada do mundo. Mesmo hoje, poucos o problema da excessiva financeirização.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A poupança agora é a culpada pelos juros altos

Ontem (16/03/09) jornal Valor Econômico publicou um editorial que me pareceu ter sido encomendado pelos banqueiros "Desindexar a poupança para auxiliar a política monetária".

O jornal diz que a remuneração da poupança impede que a SELIC caia mais. A poupança rende líquido uns 7,5% ao ano. Com a taxa de juros caindo a poupança se torna mais atraente.

Se as aplicações migrarem para a poupança, os banqueiros deixaram de ganhar uma montanha de dinheiro fácil. A taxa de administração cobrada dos clientes fica em torno dos 4%, quando na maioria dos casos não deveria ultrapassa 0,5%. As pessoas percebem a mordida que os bancos dão em suas aplicações. A indústria de fundos controlada principalmente pelos grandes bancos de varejo movimenta centenas de bilhões de Reais e é uma importante fonte de receita para os bancos.

Além disso, os recursos captados na poupança devem ser destinado ao financiamento do setor produtivo (crédito imobiliário e agrícola).

O BC, que muitos acham que mantém os juros altos para conter a inflação (que foi derrotada em 1994), está mesmo preocupado é em sustentar ganhos absurdo do setor financeiro.

Levando a teoria ao pé da letra

Levando a teoria ao pé da letra

Por falar em corte dos gastos correntes o governador Arruda do DF, levou a teoria pregada pelos cabeções ao pé da letra.

O programa CQC da Bandeirantes na semana passada mostrou o Hospital de Santa Maria, inaugurado em abril de 2008 no DF. O hospital, segundo a reportagem tem capacidade para atender mais de um milhão de pessoas por ano.

O prédio foi inaugurado, o hospital está fechado.

Procurador da República Rodrigo de Grandis não considera ajuda da ABIN ilegal

Veja, Globo e outros veículos da mídia cada vez mais enterrados na lama. Para defender Daniel Dantas, manipulam, mentem, te enganam.

Em nota à imprensa, o procurador responde à Veja desta semana - segundo a revista, durante a operação, o delegado Protógenes teria sido apoiado por “mais de 80 espiões da Abin”, e ele (de Grandis) e o juiz federal Fausto De Sanctis teriam conhecimento do fato.

De acordo com o procurador, nenhum documento dos inquéritos e do processo relativos à Satiagraha cita a participação dos agentes da Abin e “todos os atos de polícia judiciária são assinados por delegados e agentes de Polícia Federal”.

Mesmo ressaltando não ter sido informado sobre a participação de agentes da Abin na Operação Satiagraha, o procurador afirma não encarar isso como crime ou ilegalidade.

“A Lei do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) prevê a participação de agentes de inteligência e o compartilhamento de dados entre a polícia e os demais órgãos de inteligência. Sustentar que a participação da Abin é ilegal é o mesmo que apontar que a participação do Bacen (Banco Central), numa investigação de fraude financeira, ou da Receita Federal, numa investigação fiscal, por exemplo, é ilegal”, diz a nota do procurador.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Decisão é insuficiente para retomada econômica

Fernando Travaglini, de São Paulo
Valor Econômico 12/03/2009


Valor: Como você avalia a decisão do BC?

André Modenesi: Surpreendente. Ainda mais surpreendente por ser uma decisão unânime. Eu achava que ele cortariam um ponto até pela sinalização que estava sendo feita. Na última ata eles enfatizaram que boa parte do ajuste estava sendo feito naquele corte de um ponto e recentemente o Mário Torós [diretor de política monetária] divulgou estudo comparando a inflação no Brasil com o resto do mundo. O que explica esse corte é a deterioração muito rápida das expectativas empresariais. Os últimos dados econômicos mostram que a situação piorou muito. Por um lado é boa notícia, mas por outro lado preocupa um pouco, porque o BC fazer essa guinada mostra que a situação pode ser mais preocupante do que eu pensava.

Valor: O que muda em termos de inflação e do nível de atividade?

Modenesi: Do ponto de vista das expectativas de inflação não muda muito. Elas estão muito bem comportadas e com esse cenário de crise é difícil haver um movimento de alta. Mas eu não sei até que ponto isso pode reverter a desaceleração. Há uma deterioração muito forte das expectativas dos empresários. A Fiesp prevê crescimento zero do PIB, ou até negativo para esse ano. É claro que a decisão alivia. É um alento que o BC está dando. E mostrou que de fato ele está tendo alguma preocupação com o nível de atividade, mas não resolve o problema.

Valor: Por que?

Modenesi: Porque, em geral, a política monetária é mais eficaz para segurar o nível de atividade do que para estimular. Analogia que eu faço é com uma corda: a política monetária serve para segurar, mas não serve para empurrar. Se a economia está num processo de crescimento acelerado e o BC gera uma contração monetária, é muito provável que isso gere desaceleração do nível de atividade, mas o contrário não acontece. Nesse sentido, não espero uma recuperação surpreendente do nível de atividade em função desse corte maior. Até porque a taxa real continua razoavelmente alta [fechou ontem em 5,3%]. É difícil imaginar que o empresário vai desengavetar um plano de investimento simplesmente porque a Selic caiu um ponto e meio. É isso que quero dizer com a analogia da corda. A política monetária está deixando de ser entrave, mas não quer dizer que ela vai estimular a economia.

Valor: O que precisaria ser feito?

Modenesi: Para estimular a atividade, o governo tem um papel central. O governo tem um papel muito forte no sentido de coordenar uma retomada das expectativas. Acho que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é importante. Está tendo uma queda de demanda agregada e nessa situação o governo pode tentar compensar essa queda por meio da manutenção dos gastos, principalmente com o programa de investimentos do PAC.

Valor: Há alguma alternativa para a política monetária atual?

Modenesi: Eu interpreto, do estudo do Torós [comparando a persistência inflacionário do Brasil com outros países], que essa persistência mostra que o regime de metas de inflação é pouco adequado ao Brasil. Aqui o problema é que o desaquecimento da economia não reduz a inflação. A questão é se seria adequado concentrar a estratégia em um único instrumento, o juro, se ele está sendo pouco potente. Fundamentalmente, quando se está usando métodos de combate à inflação, há uma tendência de se negligenciar as pressões de oferta, de custos, e se valoriza a demanda. A ideia é que são necessários instrumentos complementares a política de taxas de juros. O BC não é o único responsável por criar as condições para expansão da oferta ou a redução dos custos. É uma coisa mais difícil de implementar porque não é uma receita de bolo. Tem de olhar setor por setor. Mas essa é uma oportunidade de se tentar pelo menos iniciar essa discussão, de que fatores de custo ou fatores de oferta não sofrem impacto da política monetária.

Valor: Mas a queda da Selic tem algum lado positivo?

Modenesi: O impacto mais positivo é sobre a redução dos gastos públicos no sentido de viabilizar o programa de investimento do governo. Um corte de 1,5 ponto gera economia em torno de R$ 9 bilhões nos gastos com serviços da dívida. Isso viabiliza a manutenção dos investimentos do governo em face de uma previsível queda da arrecadação, que deve ficar ao redor de R$ 20 bilhões. Isso contribui para manter um nível mínimo da atividade econômica.

Valor: Como essa redução chega ao crédito? Haverá redução dos spreads?

Modenesi: Imagino que, de uma forma geral, os spreads vão continuar alto. Não acho que 1,5 seja suficiente para estimular uma mudança no comportamento dos bancos que poderia gerar queda do spread. Com esse cenário muito deteriorado, os bancos também não vão querer emprestar. Há dois fatores. A queda de juros, por um lado, contribui para uma queda do spread, ainda que marginal, pois os títulos públicos ficam menos atrativos e isso, na margem, estaria estimulando as operações de crédito. Mas por outro lado, dado esse quadro muito sombrio, os empréstimos estão mais arriscados. O banco está mais receoso de emprestar para o empresário que possivelmente não vai ter demanda para produção fruto daquele investimento. Apesar da queda da Selic, é possível que o spread não caia. Pode até ser que ele aumente.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Brasil tem o maior juro do mundo

Mesmo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) nesta quarta-feira de cortar a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, o Brasil continua com o maior juro do mundo. Com SELIC indo para 11,25% ao ano o Brasil se mantém na liderança mundial dos juros altos. O juro real (descontado a expectativa de inflação) foi para 6,5% aa, na Argentina, por exemplo, é 4,3%.

Enquanto a mídia destaca que esse foi o maior corte desde 2003, entidades ligadas ao setor produtivo (Fecomercio, Associação Comercial de São Paulo - ACSP, as centrais sindicais) afirmam que o corte foi muito tímido. Como pode? Boa parte da imprensa critica o governo por isso e aquilo, mas defende em coro a política de Renda Máxima (ou Juro Máximo) que beneficia um pequeno número de pessoas. Cerca de 20% da carga tributária vai para pagamentos de juros. Não tem explicação. Nos outros países isso não chega a 5%.

Frente ao tamanho da crise que assola o mundo, incluindo o Brasil, é um crime o Banco Central levar 6 meses para dar uma resposta e mesmo assim pífia. Os bancos centrais no resto do mundo baixaram suas taxas de juros a níveis pouco acima de zero.

Segundo estudo recente do IPEA, o Brasil deveria baixar os juros em cerca de 6%, gerando uma economia para nossos bolsos de uns R$45 bilhões. Com esses recursos o governo poderia ampliar investimentos (estradas por exemplo) e aliviar impostos principalmente das pequenas empresas e das pessoas de menor renda.


Leia mais...
Roberto Troster (ex-economista chefe da FEBRABAN): "Não faz sentido um juro tão alto"

Ipea sugere redução gradual da taxa Selic em 2009

O Banco Central tem que ser nosso

terça-feira, 10 de março de 2009

Crise muda e encarece o crédito

Fernando Travaglini, de São Paulo
Valor Econômico 10/03/2009

Seis meses de crise foram suficientes para mudar o perfil do crédito. A forte expansão das carteiras dos últimos anos, feita com taxas de juros em queda e prazos mais longos, perdeu força e os bancos voltaram a oferecer linhas mais caras e curtas.

Para as empresas, o prazo médio do capital de giro, em janeiro, bateu em 384 dias, recuo de 21% (104 dias) em relação ao patamar de janeiro do ano passado. Nesse mesmo período, os juros subiram 7,4 pontos percentuais, sendo 3,2 desde o agravamento da crise dos mercados globais, em setembro, para 36,8% ao ano (prefixada).

Para as famílias, as linhas mais longas e baratas continuam desacelerando. O saldo para financiamento de veículos (incluindo leasing) está praticamente no mesmo patamar desde setembro (queda de 0,2%) e o prazo para compra do usado voltou a cair, de 51 para 48 meses, em fevereiro (dados da Assovesp).

Já as concessões mensais de empréstimos consignados caíram 14,1%, em janeiro, em comparação com o mesmo mês do ano anterior (10,16% em relação a setembro de 2008).

Enquanto está mais difícil acessar recursos com prestações longas, o aumento da inadimplência faz com que as pessoas recorram a linhas de auxílio rápido para cobrir o orçamento familiar. O uso do cheque especial, cujas taxas estão em 170% ao ano, avançou 9% em relação a janeiro do ano passado. O giro mensal do rotativo do cartão de crédito cresceu 43,7% nesse período (23,7% desde setembro), puxado pelas compras de Natal.

A participação dessas duas modalidades no total de concessões mensais, que vinha recuando nos últimos anos - chegou a representar 54% do total -, voltou a subir. Em janeiro respondeu por 66% dos recursos destinado às pessoas físicas.

Essa mudança estrutural, tanto para consumidores quanto para empresas, se deve à postura mais conservadora dos bancos em meio às incertezas. Com menos recursos no mercado externo, que garantiam o funding mais longo, as instituições preferem reduzir a oferta, se valendo de prazos mais curtos, spreads mais altos e maior rigor na concessão. Optam, também, por manter recursos em caixa para evitar problemas de liquidez.

Esse novo contexto surgiu de uma forma muito rápida, desde a quebra do banco americano Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008. Seis meses depois, o estoque de crédito no Brasil, que até meados de 2008 vinha crescendo a taxas superiores a 30%, permanece praticamente no mesmo patamar - o crédito com recursos livres para pessoas físicas cresceu em termos anuais 2,5%. Para empresas, o avanço anualizado foi de 12,8%.

"Antes da crise, o crédito para empresas crescia 35% em bases anuais. O simples fato de sair de 35% para zero é um baque muito grande para as empresas", analisa Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda.

Por conta do cenário adverso, Almeida espera um crescimento quase "vegetativo" para o crédito, não maior do que 5% nesse ano. "É importante analisar que o crédito hoje é mesmo de quatro meses atrás, mas tem mais gente disputando os mesmo recursos. Quando a empresa não encontra crédito, não fica parada, ela empurra para o fornecedor ou para o cliente, quando pode fazer isso, ou reduz o nível de atividade."

Duas medidas poderiam ser tomadas, segundo ele, para amenizar a situação. A primeira seria uma redução mais acentuada da Selic, na reunião do Copom que começa hoje, para reduzir o custo de atratividade de não emprestar. Além disso, deveria haver uma alguma vinculação entre a liberação dos compulsórios por parte do Banco Central e o empréstimo de recurso para a população.

Parte da desaceleração se deve ainda ao menor apetite dos bancos médios, que atendiam as empresas de pequeno e médio porte, e das financeiras, no caso das famílias. Até mesmo os varejistas reduziram a oferta, seja porque está mais difícil para o comércio fazer a ponte com o crédito bancário, hoje escasso, seja porque a inadimplência em alta reduziu a atratividade dessas operações.

Há também uma clara substituição dos bancos comerciais pelo BNDES na concessão de empréstimos. Enquanto o saldo de operações com recursos livres cresceu 4,1%, desde setembro, as operações feitas diretamente pelo banco de desenvolvimento (sem repasse) avançaram 18,3%.

Da mesma forma, os bancos públicos têm atuado para tentar minimizar esses efeitos. O estoque de empréstimos dessas instituições avançou 8,2% no período, enquanto os privados cresceram 2,7% e os estrangeiros, 3,5%. Antônio Sérgio de Carvalho Rocha, gerente executivo da diretoria de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil, destaca que na instituição não houve redução de prazo, carência ou aumento de exigências.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O BC facilitando a vida dos banqueiros

Até meados de 2008 (antes de estourar a crise americana), os bancos faziam a farra aproveitando-se do grande diferencial de juros criado pelo nosso iluminado presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Tomavam dinheiro lá fora a taxas muito menores do que os juros oficiais e emprestavam aqui no Brasil.

Depois de setembro/2008 a fonte secou. As dívidas vencendo e os bancos com um pepino nas mãos. O que o BC fez? Fez das nossas reservas internacionais acumuladas com tanto custo um seguro para aqueles que trouxeram dólares para o Brasil quando não eram necessários e agora precisam sair do país.

As linhas foram criadas com a desculpa de beneficiar as empresas, mas na verdade o BC está garantido a saída tranquila dos recursos de curto prazo que entraram no país fazendo o câmbio se valorizar demais tornando nossas exportações menos competitivas.

O BC ainda conta vantagem dizendo que a operação é muito vantajosa. As reservas tem um custo de mais ou menos 12% aa e o BC fornece dólares aos bancos remunerados pela LIBOR + 1,5%aa (atualmente a LIBOR oscila em torno de 2% aa).

O BC é tão submisso ao sistema financeiro que nem exigiu que os bancos não pesassem a mão nos spreads ao repassar esses recursos às empresas.

Leia também:
Para onde estão indo os dólares do BC

quarta-feira, 4 de março de 2009

Islândia X Argentina

Em 2001 o modelo neoliberal afundou na Argentina, o PIB caiu 10,9%. Em 2009, A Islândia, país-modelo da globalização, não tem um centésimo da população argentina mas produziu um calote bem maior que o do nosso vizinho. O PIB do pacato e ordeiro país nódico caiu 12% em 2008.

Seus bancos estavam endividados em moeda estrangeira, o governo da Islândia não podia imprimir dólares ou euros para salvá-los. Então afundaram...

Leia mais sobre a crise na Islândia...
O paraíso perdido do neoliberalismo (Carta Capital 22/10/2008 nr 518)

Ipea sugere redução gradual da taxa Selic em 2009

IPEA 04/03/2009 - 17:13

Corte de 5,75 p.p. na próxima reunião do Copom economizaria R$ 43 bilhões

"É possível enfrentar a crise de uma forma contundente, fazendo algo que o mundo inteiro está fazendo: reduzindo a taxa de juros." A afirmação foi feita pelo diretor da Diretoria de Estudos Macroeconômicos (Dimac) do Ipea, João Sicsú, ao apresentar hoje, em Brasília, a nota técnica "A gravidade da crise e a despesa de juro do governo" .

"Cortar gastos sociais, correntes, ou de investimento significa reduzir a demanda da economia e as possibilidades de crescimento. Com menor crescimento, haverá menos arrecadação. Portanto, cortar gastos públicos cujos multiplicadores de renda e emprego são relevantes significa ampliar as dificuldades de arrecadação, criar um problema fiscal e aprofundar a crise de demanda que se instalou no setor privado da economia", alerta João Sicsú.

Segundo o técnico do Ipea Roberto Messenberg, é possível enfrentar a crise mantendo ou ampliando os gastos do governo, sem desorganizar as finanças públicas. "Basta reduzir um ponto percentual na taxa Selic em cada uma das próximas reuniões ordinárias do Comitê de Política Monetária (Copom) e uma redução de 0,75 p.p. na reunião seguinte", diz. Essas reduções, do patamar atual de 12,75% para 7% ao ano, economizariam R$ 30 bilhões. "Se esta redução de 5,75 p.p. ocorresse já na próxima reunião do Copom, a economia fiscal em 2009 seria de R$ 43 bilhões", afirma.

Segundo a nota, a explicação mais plausível para a crise gravíssima da economia brasileira parece ser que os agentes econômicos estão apreensivos e, em conseqüência, tomam a decisão mais racional do ponto de vista individual: reduzem, de forma drástica, seus gastos. Por um lado, os empresários "engavetam" projetos de investimento, reduzem custos e volume de produção; por outro, os trabalhadores, temendo o desemprego, reduzem seu consumo para formar poupança motivada pela precaução. "Nesse modelo, as "profecias" se auto-realizam", lamenta Sicsú. Em outras palavras, na expectativa de futuro adverso, diminuem-se os gastos no presente e o futuro, de fato, se torna ruim.


O documento defende que "a reação a partir da demanda governamental é o único instrumento de combate à crise que pode ser utilizado". Mas adverte que o aumento do gasto público não é suficiente: "o gasto público deve ser ampliado com o objetivo de mudar o quadro expectacional e, por conseguinte, estimular o gasto privado".

Segundo o Ipea, o governo tem condições orçamentárias para enfrentar a crise. A situação fiscal brasileira encontra-se muito bem equacionada. Em 2008, o déficit nominal do orçamento federal foi de apenas 1,53% do Produto Interno Bruto (PIB). A relação dívida líquida/PIB descreve uma trajetória muito favorável, tendo atingido, em janeiro, 36,6%.

Segundo o técnico do Ipea Roberto Messenberg, é possível enfrentar a crise mantendo ou ampliando os gastos do governo, sem desorganizar as finanças públicas. "Basta reduzir um ponto percentual na taxa Selic em cada uma das próximas reuniões ordinárias do Comitê de Política Monetária (Copom) e uma redução de 0,75 p.p. na reunião seguinte", diz. Essas reduções, do patamar atual de 12,75% para 7% ao ano, economizariam R$ 30 bilhões. "Se esta redução de 5,75 p.p. ocorresse já na próxima reunião do Copom, a economia fiscal em 2009 seria de R$ 43 bilhões", afirma.

Segundo a nota, a explicação mais plausível para a crise gravíssima da economia brasileira parece ser que os agentes econômicos estão apreensivos e, em conseqüência, tomam a decisão mais racional do ponto de vista individual: reduzem, de forma drástica, seus gastos. Por um lado, os empresários "engavetam" projetos de investimento, reduzem custos e volume de produção; por outro, os trabalhadores, temendo o desemprego, reduzem seu consumo para formar poupança motivada pela precaução. "Nesse modelo, as "profecias" se auto-realizam", lamenta Sicsú. Em outras palavras, na expectativa de futuro adverso, diminuem-se os gastos no presente e o futuro, de fato, se torna ruim.

Acesse o texto integral da Nota Técnica.

terça-feira, 3 de março de 2009

Saneamento: ainda falta muito

Segundo informações do SNIS do Ministério das Cidades, construídas a partir das informações dos prestadores de serviços, o índice médio de atendimento urbano foi de 93,1% para água, 48,3% para coleta de esgotos e 32,2% para tratamento de esgotos em 2006, com elevada heterogeneidade e desigualdade regional.

O governo precisa retomar o Banco Central, abaixar os juros e usar os recursos para promover fortes investimentos na área de saneamento. Gera empregos e melhora em muito a vida da população.

Petroquímicas religam fábrica para atingir mercado externo

Valor Econômico 02/03/2009
As fabricantes petroquímicas, que produzem as matérias-primas utilizadas pela indústria do plástico, começam a ver uma luz no fim do túnel.

Depois de desativarem fábricas no fim do ano passado, em razão da forte desaceleração econômica, as empresas voltaram a acionar suas unidades e a operar a produção com ocupação acima de 90% de suas capacidades industriais - praticamente o mesmo nível anterior à crise econômica.

"Voltamos a operar normalmente e a retomada pós-dezembro se deveu principalmente à exportação", disse o presidente da Quattor, Vítor Mallmann. Segundo o executivo da segunda maior petroquímica brasileira, a desvalorização do real frente ao dólar deu à companhia maior competitividade, permitindo elevar o volume de exportação. "Logramos êxito em alcançar mercados que antes não estávamos acessando", disse.

"Temos conseguido boas oportunidades de colocar nossa produção no exterior, principalmente na Ásia e América Latina", disse Manoel Carnaúba, vice-presidente de petroquímicos básicos da Braskem, maior empresa do setor no país. A petroquímica, que é controlada pelo grupo Odebrecht, tem vendido mais no mercado externo, que hoje já representa mais de 35% do seu volume de produção, ante um quarto antes da crise.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Mais desculpas para não baixar os juros

Banco Central queria que a crise no Brasil fosse maior

Enquanto o G20 pede para baixar os juros, o BC do Lula parece que não está nem aí para crise. Segundo a cobertura de uma reunião do BC com o "mercado", o BC não ficou muito contente com o fato da economia brasileira não ter entrando numa recessão forte.

Eles esperavam que a crise fosse forte o bastante para causar uma deflação nos preços. O governo tenta mostrar esforço para manter a demanda, mas mantém no comando do Banco Central pessoas que jogam no time adversário.

Enquanto o setor financeiro dominar a direção da política econômica, não dá para esperar que o Brasil avance muito. Bancões dos EUA e da Eurolândia estão quebrando por conta das lambanças financeira. Outros, mais sérios, estão também sendo puxados pela crise.

Enquanto isso, no Brasil, os bancos iniciam nova temporada de divulgação de gordos lucros (Itaú R$7,8 bi | BB R$ 8,8 bi | CEF R$ 3,88 bi | Santander R$ 2,8bi | Bradesco R$7,6 bi). Lucros obtidos esfolando clientes com tarifas e juros absurdamente altos e a sociedade como um todo através de ganhos com a dívida pública que o Sr. Meirelles insiste em manter na estratosfera.

Alex Ribeiro - Valor 02/03/09

O Banco Central está acompanhando atentamente a lenta queda da inflação, que dá sinais de ter se descolado da atividade econômica. A produção industrial sofreu uma forte contração em dezembro, de 14,5%, mas a inflação acumulada em 12 meses apresentou uma queda bastante suave, passando de 6,3% para 5,8% entre setembro e janeiro. Outras economias, como os Estados Unidos e o Japão, convivem com o risco de deflação.

A preocupação é compartilhada por outros membros da diretoria colegiada do BC, que se mostram insatisfeitos com o lento recuo das expectativas inflacionárias. A inflação prevista pelo mercado financeiro para 2009 passou de 5% para 4,66% de janeiro até o dado mais recente da pesquisa de mercado do BC, divulgado na semana passada. Essa redução não guarda proporção com a queda nas projeções para o crescimento da economia, que passaram de 3,6% para 1,5% durante o mesmo período.

Já no Brasil, avalia o BC, existe uma grande persistência inflacionária. Essa visão é compartilhada por parte dos analistas econômicos. "Convivemos com inflação alta por décadas, por isso a cultura inflacionária e a inércia são maiores por aqui", afirma Teles. Ele cita o exemplo das mensalidades escolares, preço livremente determinado pelo mercado. No início de 2008, os aumentos ficaram entre 4% e 5% e, nesse ano, subiram para a faixa entre 6% e 7%. "Em 2007, a inflação foi mais baixa, por isso as escolas aplicaram reajustes menores nas mensalidades em 2008", afirma Teles. "Em 2008, a inflação foi mais alta, e as escolas estão fazendo um repasse ainda maior para as mensalidades neste ano."