quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Cuba

José Luís Fiori - Valor Econômicao - 27/02/2008

Foi logo depois da conquista da Flórida, em 1819. Os Estados Unidos só tinham 40 anos de idade e seu território não ia além do Rio Mississipi.

James Monroe era o presidente dos EUA, mas foi seu secretário de Estado, John Quincy Adams, quem falou, pela primeira vez, da atração americana por Cuba. Quando disse, numa reunião ministerial do governo Monroe, que "existem leis na vida política que são iguais às da física gravitacional: e, por isto, se uma maçã for cortada de sua árvore nativa - pela tempestade - não terá outra escolha senão cair no chão; da mesma forma que Cuba, quando se separar da Espanha, não terá outra alternativa senão gravitar na direção da União Norte-Americana. E por esta mesma lei da natureza, os americanos não poderão afastá-la do seu peito" [W.C. Ford (ed), The Writings of John Quincy Adams, Mac Millan, NY, VII, p: 372-373]. Naquele momento, o desejo de Adams não era conquistar a ilha, era preservá-la, e por isso deu ordem ao seu embaixador em Madrid que comunicasse ao governo espanhol a "repugnância americana à qualquer tipo de transferência de Cuba para as mãos de outra potência".


Atração precoce e obsessão permanente dos EUA por Cuba não autorizam grandes ilusões, nesse momento de mudança dos dois países


Em 1819, a capacidade americana de projetar seu poder para fora de suas fronteiras nacionais ainda era muito pequena, mas a declaração de Adams explicitou um desejo e antecipou um projeto que se realizaria plenamente a partir de 1890. Logo no início da década, o almirante Alfred Thayer Mahan publicou um livro clássico [Mahan, A.T. (1890/1987) The Influence of Sea Power upon History 1660-1873, Dover Publication, NY] que exerceu imensa influência sobre a elite dirigente americana, sobre a importância do poder naval e das ilhas do Caribe e do Pacífico para o controle dos oceanos e a expansão das grandes potências. Logo em seguida, os EUA anexaram o Havaí, em 1897, e venceram a Guerra Hispano-Americana, em 1898, conquistando Cuba, Filipinas e algumas outras ilhas caribenhas, onde estabeleceram um sistema de "protetorados" como forma de governo compartido destes territórios.


Logo depois da sua vitória contra a Espanha, o presidente William McKinley repetiu, frente ao Congresso Americano, em dezembro de 1989, a velha tese de Quincy Adams: "A nova Cuba precisa estar ligada a nós, americanos, por laços de particular intimidade e força, para assegurar de forma duradoura o seu bem-estar" (Pratt, J. A (1955) History of United States Foreign Policy, The University of Buffalo, p: 414) . E foi isto que aconteceu: os cubanos aprovaram sua primeira Constituição independente em 1902, mas tiveram que anexar ao seu texto uma lei aprovada pelo Congresso Americano e imposta aos cubanos, em 1901 - a Platt Amendment - que definia os limites e as condições de exercício da independência dos islenhos. Os EUA mantinham sob seu controle a política externa e a política econômica de Cuba, e ficava assegurado o direito de intervenção dos americanos na ilha, em "caso de ameaça à vida, a propriedade e à liberdade individual dos cubanos" [idem, p: 415). Em 1934, a Emenda Platt foi abolida e substituída por um novo tratado entre os dois países, que assegurou o controle americano da Base Naval de Guantânamo e garantiu a tutela dos EUA sobre o longo período de poder de Fulgêncio Batista, que assumiu o governo de Cuba em 1933, a bordo de um cruzador americano, e depois governou Cuba, de forma direta ou indireta, até 1959.


Depois da Revolução Cubana de 1959, entretanto, a ilha deixou de ser a "maçã" de Adams sem deixar de ser o "objeto do desejo" dos americanos. O novo governo revolucionário assumiu o comando da sua economia e da sua política externa, e provocou a reação imediata e violenta dos EUA. Primeiro foi o "embargo econômico" imposto pela administração Eisenhower, em 1960, e logo depois a ruptura das relações diplomáticas, em 1961. Em seguida, foi a administração Kennedy, que promoveu e apoiou a frustrada invasão da Bahia dos Porcos, a expulsão cubana da Organização dos Estados Americanos e vários atentados contra dirigentes cubanos. No início, os EUA justificaram sua reação, como defesa das propriedades americanas expropriadas pelo governo cubano, em 1960, e como contenção da ameaça comunista, situada a 145 quilômetros do seu território. Mas, depois de 1991 e do fim da URSS e da Guerra Fria, os EUA mantiveram e ampliaram sua ofensiva contra Cuba, só que agora em nome da democracia, apesar de que mantenham relações amistosas com o Vietnã e a China. No auge da crise econômica provocada pelo fim de suas relações preferenciais com a economia soviética, entre 1989 e 1993, os governos de George Bush e Bill Clinton, tentaram um xeque-mate contra Cuba, proibindo as empresas transacionais norte-americanas instaladas no exterior de negociarem com os cubanos, e depois impondo penalidades às empresas estrangeiras que tivessem negócios com a ilha, através da Lei Helms-Burton, de 1966.


Esta atração precoce e obsessão permanente dos EUA não autorizam grandes ilusões, neste momento de mudanças nos dois países. Do ponto de vista americano, Cuba lhe pertence e está incluída na sua "zona de segurança". Além disto, aos olhos dos americanos, a posição soberana dos cubanos transforma a ilha num aliado potencial dos países que se propõem a exercer influência no continente americano de forma competitiva com os Estados Unidos. Por fim, Cuba já se transformou num símbolo e numa resistência que é intolerável por si mesma, para os seus vizinhos americanos. Por isto, o objetivo principal dos Estados Unidos, em qualquer negociação futura, será sempre o de fragilizar e destruir o núcleo duro do poder cubano. Por sua vez, Cuba não tem como abrir mão do poder que acumulou a partir de sua posição defensiva e de sua resistência vitoriosa. A hipótese de uma "saída chinesa" para Cuba é improvável porque se trata de um país pequeno, com baixa densidade demográfica e com uma economia que não dispõe da massa crítica indispensável para uma relação complementar e competitiva com os norte-americanos. Por isto, apesar da mobilização internacional a favor de mudanças nas relações entre os dois países, o mais provável é que os Estados Unidos mantenham sua obsessão de punir e enquadrar Cuba; e que Cuba se mantenha na defensiva e lutando contra a lei da gravidade formulada por John Quincy Adams, em 1819.

José Luís Fiori é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ e autor do livro "O Poder Global e a Nova Geopolítica das Nações" (Editora Boitempo, 2007). Escreve mensalmente às quartas-feiras.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Justiça proibe Telefônica de cobrar provedor dos assinantes Speedy

Como na maior parte do estado, o Speedy é o único serviço de "banda larga", a Telefônica obrigava seus clientes a contratarem também um provedor. No entanto, neste tipo de serviço, todo acesso à internet é provido pela operadora, não sendo necessário um provedor. A grana que você paga para o provedor é em grande parte embolsada pela telefônica.

Há uma liminar em vigor que obrigou a Telefônica a partir de quarta-feira, 26 de Setembro de 2007 a oferecer conexão à Internet através do login ‘internet@speedy.com.br’ e da senha ‘internet’.

Os serviços e o atendimento da Telefônica são lamentáveis. Falta o poder público entrar nesse jogo para oferecer acesso à internet a todos e com qualidade. Lá em Belo Horizonte, a prefeitura está cobrindo a cidade com uma rede sem fio. Essas iniciativas são louváveis.

Como alterar DNS em conexão ADSL

Nesse tutorial vou ensinar alterar o DNS de uma conexão ADSL para usuários do WINDOS VISTA. Estou preparando este mesmo tutorial para windows xp. É bem parecido. Vou também colocar ainda nesta semana um tutorial para roteador wi-fi.


1. vá no Painel de Controle e clique em Centro de Rede e Compartilhamento.

2. procure o ícone de sua conexão. No meu caso , foi nomeada de Speedy.

3. clique com o botão da direita na sua conexão ADSL e escolha Propriedades.

4. na janela de propriedades, vá para aba rede, escolha Protocolo TCP/IP versão 4; clique em propriedades.

5. na janela que se abre, marque a opção: usar os seguintes endereços de servidor DNS. Informe o dns principal e o secundário. Eu estou usando os DNS da Intelig (200.184.26.3/200.184.26.3). Há uma lista com vários endereços de servidores DNS em http://www.abusar.org/dns.html.

6. agora é só dá OK e ver se agora os sites abrem na primeira tentativa. Se quiser, pode tentar outros DNS.


Qualquer dúvida, deixe um comentário.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Windows reinicia ao acessar a internet

Passei uns apuros esses dias. As máquinas aqui na rede onde administro estavam reiniciando ao entrar em alguns sites. Foi muito dificil detectar o causador. Depois de apanhar muito, conseguimos descobrir o culpado: GBPlugin.

O GBPlugin é instalado por alguns bancos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, talvez outros) como ferramenta para evitar fraudes. Ele analisa o conteúdo da página, se a página for uma imitação da página do banco, ele redireciona para a página verdadeira. A idéia é excelente e funciona bem. Acho que os bancos só ficaram devendo mais informações aos usuários ao instalar o plugin.


Como ver se o plugin está instalado? Basta apertar CRTL+ALT+DEL e ver no gerenciador de tarefas se há um processo com nome gbpsv.exe.

Estando lá (veja o processo selecionado na figura ao lado).

Como remover o GBPlugin?
Dê um boot com alguma ferramente que acessa os dados do disco (Kurumin, PartPE). Apague a pasta GbPlugin em c:\arquivos de programa\GbPlugin

Agora vá na pasta C:\WINDOWS\Downloaded Program Files e apague todos os arquivos que comecem GbP.

Pronto.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Inglaterra estatiza banco

O ministro das finanças inglês anunciou domingo passado a estatização do banco Northern Rock, que passava por uma grave crise. Esta é a primeira vez desde 1970 que um banco é oficialmente nacionalizado no Reino Unido.

O Northern Rock, especializado em crédito imobiliário, começou a enfrentar graves problemas em setembro quando outros bancos, preocupados com a crise do “subprime”, pararam de emprestar dinheiro à instituição. Teve que apelar ao Banco da Inglaterra, que fez um empréstimo como “último recurso”. Para frear o pânico entre os clientes do banco o governo teve que garantir todos os depósitos com fundos públicos. Em troca ficou com o banco.


Que diriam os neoliberais daqui?

As estatais chinesas avançam mundo afora, os indianos com apoio do Estado também. Até os neoliberais da Colômbia através de uma estatal compraram uma distribuidora de energia em São Paulo.

Brasil e Coréia

Delfim Netto

19/02/2008 - Valor Econômico

Em meados de 1961, o general Chung Hee Park assumiu o controle da junta militar coreana que havia deposto o governo eleito. Em seguida elegeu-se três vezes (1963, 1967 e 1971). Acabou assassinado num golpe de Estado em 1979. O regime político na Coréia do Sul continuou fechado até 1988, quando se instalou a "Sexta República" como uma democracia multipartidária. No Brasil, entre 1970/72, a economia crescia à taxa de 11,2%, a inflação havia caído de 19,3% para 15,7% e as exportações cresciam à taxa anual de 20,7%. O vetor portador do crescimento tinha três componentes: 1) um vigoroso mercado interno; 2) um obsessivo programa industrial-exportador; e 3) um forte suporte creditício e tecnológico ao setor agrícola. A base macroeconômica dessa política foi a ampla reforma feita na organização nacional entre 1964/67.

Em 1972, um amigo, em cujo depoimento confio absolutamente, teve uma longa conversa com o general Park, recém-reeleito. Este conhecia a experiência brasileira e a considerava pouco ambiciosa. E mais, inadequada para a Coréia, devido às formidáveis diferenças históricas, geográficas, culturais e de recursos naturais dos dois países. Em 1972, o Brasil tinha 98 milhões de habitantes, e a Coréia, 34 milhões.

Park expôs o programa de desenvolvimento que tinha em mente. Falou de seis setores que atacaria simultaneamente. Deu ênfase ao fato que eles seriam "protegidos" (com taxa de câmbio, tarifas e crédito barato) até adquirirem musculatura para serem expostos à competição do mercado externo: 1) a indústria do aço; 2) a indústria pesada de máquinas, ferramentas e equipamentos; 3) a indústria química; 4) a indústria naval; 5) a indústria eletrônica; e 6) a indústria automobilística. Ele tinha uma idéia clara de onde iria instalar tais indústrias e quais grupos (ou famílias) locais seriam "escolhidos" para realizar cada tarefa. Em 1971, a Coréia havia exportado US$ 1,13 bilhão (o Brasil, US$ 2,9 bilhões). Park afirmou que esperava, no fim da década, que 50% das exportações coreanas fossem de produtos daqueles setores.

Ao meu amigo tudo pareceu um lindo sonho com baixa probabilidade de se tornar realidade. A Coréia vinha fazendo progresso e tinha algumas condições iniciais interessantes: uma cultura milenar, uma distribuição de renda mais razoável (havia feito a reforma agrária) e um nível melhor de educação, mas tinha, como nós, um problemático passado colonial. Uma reflexão cínica levou-o a suspeitar que, no fundo, o que Park realmente queria era dar à Coréia uma certa "autonomia militar" (que se confirmou depois quando ela transformou-se, juntamente com a França e o Japão, em exportadora de tecnologia para produzir energia nuclear). Em janeiro de 1973, Park anunciou à nação seu "programa de industrialização": o mesmo exposto acima! Suas projeções para 1980, que pareciam sonho, foram amplamente superadas.

Com parcerias, país seria hoje maior produtor global de aço

Meu amigo nunca esqueceu a capacidade e a inteligência de Park de "ver" o futuro. Ele certamente foi um déspota pouco benevolente, mas soube aproveitar a oportunidade que a expansão mundial lhe ofereceu para desenvolver a Coréia. Em 1972, o seu PIB per capita (medido em paridade do poder de compra) era uma fração do nosso. Hoje, é 2,5 vezes maior.

Por que essa história agora? Por quatro motivos: 1) porque ela mostra que a nação que não se pensa 25 anos à frente será sempre apenas o que os outros fizeram dela; 2) porque é um contrafactual ridículo sugerir que o desenvolvimento coreano teria sido mais eficiente se feito com "os preços certos estabelecidos pelos mercados". Sejamos minimamente honestos: o "mercado" jamais o teria realizado, porque nenhum investidor privado correria os seus riscos; 3) porque é ainda mais falso e ilusório supor que ele hoje possa ser repetido, como alguns ainda sugerem; e 4) porque a Coréia (como a China agora) não usou o "Estado-Produtor", mas o "Estado-Indutor", cooptando o setor privado, que é o que o Brasil precisa fazer, "sem medo de ser feliz"...

É inteiramente óbvio que, se em lugar de insistirmos na Siderbras, por exemplo, tivéssemos feito parcerias (ainda que tenebrosas, como as coreanas e as chinesas!) com dois ou três investidores privados (nacionais ou estrangeiros), seríamos hoje, provavelmente, o maior produtor de aço do mundo, em lugar do maior catador de minério de ferro... O que deu certo no passado (estradas, hidrelétricas, portos) foi exatamente o que o Estado contratou com o setor privado!

Deve ser claro que pensar o Brasil 25 anos à frente exige esquecer definitivamente o "Estado-Produtor", esmagado pela força de gravidade da massa corporativa que o parasita. É imperativo continuar a transferir com a maior urgência possível o "Estado-Produtor" da infra-estrutura para o setor privado, com leilões competitivos transparentes e eficientes. E controlá-lo através de agências independentes, que garantam a continuidade da concorrência e protejam os consumidores.

Para quem ainda tem dúvida sobre a ineficiência do "Estado-Produtor", mesmo naquilo que só ele pode fazer (bens públicos), recomendo a leitura da magnífica monografia "Estudo Comparativo das Despesas Públicas dos Estados Brasileiros" (de Júlio Brunet, Ana Berlê e Clayton Borges) para a qual chamou a atenção a excelente jornalista Cláudia Safatle, do Valor. Imaginem o que seria ele fazendo estradas, hidrelétricas, comunicação, saneamento, portos etc...

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Investimentos do exterior no Brasil e brasileiro no exterior

Valor Econômico 13/02/2008




De forma esquemática e simplificada, quando o exterior investe no Brasil gera empregos e, por conseguinte, alimenta compras internas - e, ao obter lucros, pode tomar a decisão de remetê-los para fora ou reinvesti-los no Brasil. Esta segunda modalidade transfere para um outro momento a remessa de lucros para o exterior. Ela é legítima, mas é uma saída de recursos do país. A linha de defesa clássica do investimento estrangeiro sublinha que ele eleva o investimento no país, acima da poupança nacional. Teria o mérito adicional de transferir tecnologia e eventualmente desenvolvê-la. Finalmente, se exportasse, a filial estrangeira estaria gerando divisas e, se substituísse importações, auxiliando o Brasil nas transações externas. Quando brasileiros, pessoas jurídicas ou físicas, investem no exterior, em tese, por simetria, estariam gerando empregos lá fora e capturando rendimentos e dividendos para os residentes no Brasil. É óbvio, o melhor para o país acontece quando empresários e pessoas físicas nacionais investem aqui, pois seriam geradas rendas pelo emprego e capital que alimentariam virtuosamente a dinâmica nacional.


O Banco Central informa que, em 2006, o Brasil recebeu investimentos estrangeiros de US$ 22,2 bilhões. A parcela virtuosa seria na indústria (US$ 8,7 bilhões). A surpresa está no investimento em atividades primárias, que deve estar associado à elevação do preço da terra agrícola. A maior parcela (US$ 12,1 bilhões) ocorreu no setor terciário e isto é um imbróglio que vai desde investimentos em instituições financeiras até aplicações em comércio, prestação de serviços, transporte etc.


Em contraponto, desde 2003 cresce velozmente o investimento de brasileiros fora do Brasil. Saíram daqui US$ 1,4 bilhão em 2003; em 2005, US$ 10,1 bilhões; em 2006, a aceleração foi assustadora, atingindo US$ 32,3 bilhões, quase 50% a mais que os estrangeiros investiram no Brasil. É óbvio que não falta poupança aqui. Falta apetite dos empresários brasileiros para investirem em nosso país.


Lula está certo quando diz à Vale que ela é estratégica e que a compra da Xstrata não pode pôr em risco o controle brasileiro sobre a companhia


O surpreendente do investimento brasileiro no exterior é o destino. Na modalidade mais importante, nossos investimentos são predominantemente nas Bahamas, Bermudas, Ilhas Cayman, Luxemburgo, Ilhas Virgens. De um fluxo total de US$ 32,3 bilhões, mais da metade (US$ 18,7 bilhões) foram para esses conhecidos paraísos fiscais. Nos países sul-americanos e nos EUA, é insignificante o investimento brasileiro. Porém, o que mais impressiona é a insignificância dos investimentos industriais (menos de US$ 2 bilhões) em relação aos do terciário (mais de US$ 30 bilhões). Nos paraísos fiscais, é facílimo registrar empresa para aplicações financeiras que caem no anonimato. Ninguém garante, mas provavelmente estas empresas de brasileiros que gozam das delícias paradisíacas retornam em parte para o Brasil. Alguém perguntaria: por quê? Nos últimos anos, com apoio irrestrito do comando monetário financeiro brasileiro, foi desonerado o imposto de renda sobre juros obtidos em aplicações em dívida pública. Assim, além do anonimato, o brasileiro metamorfoseado em aplicador financeiro internacional pode desfrutar da espetacular taxa de juros real que o BC pratica.


No momento, está em aberto a discussão sobre se a Companhia Vale do Rio Doce deve ou não comprar a suíça Xstrata, a que preço e a partir de que operações financeiras. Após sua privatização acelerada no governo de FHC, a CVRD se converteu num gigantesco patrimônio e, hoje, a maior parcela de seu capital não pertence mais a brasileiros, estando esta fatia condensada em uns poucos bancos no exterior que foram, diretamente e por seus fundos, adquirindo as ações preferenciais "privatizadas". O Morgan Stanley detém uma parcela expressiva. O Brasil manteve o controle da Valepar, que detém a maior parcela de ações ordinárias da CVRD. O governo manteve uma golden share que lhe dá poder de veto em última instância às decisões estratégicas da Companhia. A Valepar é controlada pelo Bradesco, Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB), BNDES e pelo banco japonês Mitsui. No primeiro governo Lula, o BNDES recomprou as ações da Valepar que FHC havia vendido como "bônus" para alguns ex-funcionários da Vale. Ao exercer a preferência, barrou a pretensão do Mitsui de assumir direito de veto na Valepar.


Agora, a compra da Xstrata é tecnicamente conveniente para a Vale, pois reforçará sua posição na produção de carvão e alguns outros metais. A compra da empresa suíça será por valor superior a US$ 80 bilhões. A Vale pode se endividar no sistema internacional e trocar parte das ações controladoras da Xstrata por ações preferenciais da Vale. O presidente Lula está correto quando lembra à CVRD que ela é estratégica para o Brasil, que a compra da Xstrata não pode deslocá-la dos interesses nacionais e que o modo de montar a operação não pode conter risco de perda do controle brasileiro da companhia.


As pré-condições de Lula comprometerão uma parcela expressiva de recursos do Sistema BNDES. É um enorme desvio de recursos financeiros voltados para novos investimentos produtivos no país. Poderia ser justificável esta operação se uma parcela de recursos da reserva internacional brasileira fosse, via um fundo soberano, aplicado em ações novas da Vale. Digo isto porque, se a Vale não distribuir dividendos por três anos, as preferenciais ganham direito a voto e a CVRD será uma empresa controlada por bancos estrangeiros. Posso simular uma situação em que a crise americana seja acompanhada por uma redução do crescimento chinês. Isto jogará para baixo o preço do minério de ferro e metais. A Vale, muito endividada, poderá ser pressionada. Os bancos do exterior certamente gostariam de dispor da Vale para negociá-la com outro grupo minerador. O Bradesco fez uma das suas melhores aplicações patrimoniais quando adquiriu as ações da Vale, porém é um banco que terá que competir com bancos que estão se agigantando no Brasil. Não será contra uma boa venda de sua posição na Vale. O Bradesco não pretende viver de dividendos da Vale, mas crescer mais como banco que seus competidores.


Finalmente, o presidente está certo quando fala dos interesses nacionais. A desnacionalização da Vale é ameaçadora para o Brasil, pois a CVRD é nossa principal presença na província mineral de Carajás e poderá ser a alavanca em relação a outras reservas minerais da Amazônia. A Vale deve ser objeto de planejamento estratégico para o país. Surgiu quando os brasileiros quiseram reter para si os ganhos com minério de ferro. Arthur Bernardes dizia que, sem siderurgia, o Brasil ficaria apenas com os buracos das minas esgotadas. Creio que a CSN ficou separada da CVRD porque, naquele tempo, se conferia à siderurgia o papel central de desenvolvimento empresarial do Brasil. A Vale, com lucidez, investiu na Companhia Siderúrgica de Tubarão. Num ato insensato, vendeu a CST, que hoje está em mãos do grupo siderúrgico hindu Mittal; posteriormente, em um ziguezague, associou-se ao Grupo Thyssen para reproduzir a CST. O governo, estimulado por Lula, não pode comprar gato por lebre.

Carlos Lessa é professor-titular de economia brasileira da UFRJ. Escreve mensalmente às quartas-feiras.

Speedy falhando ao abrir sites

Muitas vezes ao tentar navegar na internet obtemos uma mensagem informando que determinado site não existe ou está fora do ar. Os usuários do Speedy e de outros serviços de internet têm tido freqüentemente estes problemas.

O que ocorre muitas vezes é quando o DNS fornecido pelo prestador do serviço fica sobrecarregado (venderam mais assinaturas do que suportam atender). O DNS (Domain Name Server) é o servidor que converte os nomes dos sites para o endereço da máquina onde ele está; quando há muita demanda ele não consegue responder em tempo hábil a requisição do navegador e recebemos uma mensagem de que o site está fora do ar. Há varios DNS disponíveis na internet, não é necessário usar o do seu provedor. Basta escolher um servidor (hoje eu uso os da Intelig: 200.184.26.3 e 200.184.26.4) e trocar a configuração no seu micro ou no seu roteador. Caso precise, posso fornecer mais detalhes de como alterar o DNS e uma lista de vários deles disponíveis abertamente. Deixe sua dúvida num comentário em http://www.vlad.blog.br/search/label/Informática.

Ao ligar para atendimento desta companhias P R I V A D A S, eles geralmente eles não resolvem o problema. Como em muitos lugares, há somente um serviço disponível (aqui no meu bairro em Campinas-SP, só há o Speedy da Telefônica),eles te consideram como cliente cativo e só se preocupam em vender novas assinaturas.

A Telefônica é tão cara de pau que ao ligar para reclamar algum problema, o atendente diz sempre que o problema é no seu equipamento ou que o uso de roteador WI-FI (sem fio) não está previsto no contrato. O usuário, sem entender direito acaba sendo embromado . A atendimento por email só existe para inglês ver.

Se reclama muito dos serviços públicos, do Estado, das taxas públicas, mas as pessoas continuam pagando a assinatura do Speedy...

A mídia e seus papagaios falaram muito em acabar com os monopólios. Acabaram com os monopólios públicos e colocaram monopólios privados no lugar. Somente os usuários de renda elevada saíram ganhando. Nos Jardins em São Paulo há conexão de 30.000 kbps, enquanto nos resto de estado a telefônica vende 1.000 kbps e entrega 256. Em alguns bairros (das cidades mais ricas) a Telefônica fica oferecendo uma segunda linha, em outras, só instalam um telefone depois de muita insistência e queixa protocolada na Anatel (que agora passou a olhar um pouco para os usuários).

Só quem não acredita nos lindos comerciais da TV.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

CONVÊNIOS NÃO AUTORIZAM CONSULTAS E EXAMES NECESSÁRIOS

FONTE: ÚLTIMA SEGUNDO - 06/02/2008

Felipe Grandin e Ana Carolina Moreno

Quase metade dos médicos paulistas credenciados em planos de saúde afirma que as operadoras interferem no tratamento do paciente. É o que revela pesquisa feita com 400 médicos do Estado e divulgada pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
Dos 55% que atendem convênio, 43% afirmam sofrer restrições ou imposições das operadoras. A maioria ( 82%) se queixa que as empresas não autorizam consultas, exames e procedimentos considerados necessários.
Outros 55% dizem que os convênios interferem no tempo de internação dos pacientes. E 22% reclamam que as operadoras os forçam a quebrar o sigilo dos pacientes e dizer, por exemplo, se eles têm uma doença pré-existente ou fumam.
"Todas as queixas são muito graves e decorrem de uma lógica de lucro, que infelizmente está afetando a medicina privada", afirma o presidente do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves. "Quando você interfere nas posições do médico ou deixa de fazer um procedimento, pode provocar a morte de uma pessoa. É um dano irreparável, não dá para medir em dinheiro."

A FÁBULA DA ÁGUIA E DA GALINHA

"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a
fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia.

Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.

Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um
naturalista.

Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.

- De fato, disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não
é mais águia. É uma galinha como as outras.

- Não, retrucou o naturalista.

- Ela é e será sempre uma águia. Este coração
a fará um dia voar às alturas.

- Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem
alto e, desafiando-a, disse:

- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra
então abra suas asas e voe!

A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava
distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou
para junto delas.

O camponês comentou:

- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

- Não, tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia
sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.

Sussurrou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!

Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi
parar junto delas.

O camponês sorriu e voltou a carga:

- Eu havia lhe dito, ela virou galinha!

- Não, respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um
coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei
voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a
águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e
dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra,
abra suas asas e voe!

A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não
voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de
sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões
do vasto horizonte.

Foi quando ela abriu suas potentes asas.

Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e
voar cada vez mais para o alto.

Voou. E nunca mais retornou."

"Existem pessoas que nos fazem pensar como galinhas. E ainda até pensamos
que somos efetivamente galinhas. Porém é preciso ser águia. Abrir as asas e
voar. Voar como as águias. E jamais se contentar com os grãos que jogam aos
pés para ciscar."

Extraído de artigo publicado pela Folha de São Paulo, por Leonardo Boff,
teólogo, escritor e professor de ética da UERJ.