sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Lula prevê crescimento de 6,5% em 2008

Quando eu vi essa manchete no Valor de hoje pensei: Lula vai demitir o Meirelles.
Se não fosse pela política monetária extremamente restritiva, estáriamos crescendo mais que isso desde o primeiro mandato.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Análise do setor externo outubro/2007

Em 2007 está havendo uma clara deterioração na conta corrente brasileira. De janeiro a outubro, ela apresentou saldo positivo de US$ 5,59 bilhões, pouco menos da metade dos US$ 11,79 bilhões em dez meses de 2006. As transações correntes apresentaram déficit de US$42 milhões, segundo do ano, em julho já havia apresentado um déficit de US$792 milhões.

Por outro lado, o balanço de pagamentos registrou saldo positivo de US$4,3 bilhões em outubro, acumulando neste ano, superávit de US$78 bilhões, demonstrando de vez que são as entradas financeiras o fator responsável pela excessiva valorização do real. A conta capital e financeira apresentou ingressos líquidos de US$3,8 bilhões. No mês, destacaram-se os ingressos líquidos em investimentos estrangeiros em carteira, US$6 bilhões; o superávit comercial, US$3,4 bilhões; e os ingressos líquidos em investimentos estrangeiros diretos, US$3,2 bilhões.

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Os aposentados e o déficit em conta corrente

Em entrevista ao Valor (18/11/2007), Amírnio Fraga, ao comentar sobre o possível o déficit externo Brasileiro diz:
"Acho lamentável que não se discuta com seriedade a questão da previdência, que já consome 13% do PIB."

O "mercado" está desviando a atenção da imprudência do BC (controlado pelo sistema financeiro) na questão cambial e dizendo que a tendência de déficit na conta corrente em 2008 é culpa dos gastos públicos, especialmente as aposentadorias. Há tempos eu alerto que a valorização do câmbio, apesar da alta (passageira??) das commodities, iria causar um estrago na nossa conta corrente.

O mercado financeiro faz a farra trazendo dólares para ganhar na arbritagem, fazem o Tesouro e o BC arcarem com grandes custos para carregar as reservas e com as operações de swap reverso. Só este ano até outubro o BC acumula R$60 bilhões de prejuízo.

Os juros altos e o câmbio valorizado são as principais causas da perda de competitividade das nossas empresas no exterior. As importações estão crescendo quase o dobro das exportações, e a nossa pauta está cada vez mais concentrada em commodities. Daqui a poucos meses nossos superávit comercial não vai dar nem para cobrir a conta de serviços (fretes, seguros, juros, remessas de lucros) e vamos voltar a depender de entrada de capital (aumentar nosso passivo externo).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Capitalismo desregulado = + probreza

Hoje nos Estados Unidos existem cerca 40 milhões de pessoas que não têm acesso a um sistema de saúde. Não são pobres o suficiente para serem atentidos pelos programas públicos, mas não têm renda o suficiente para poder pagar pelo acesso à rede privada. O sistema de saúde pública nos EUA não tem, como aqui no Brasil, o objetivo de atender a todos.

Na União Européia são 78 milhões de pobres e isso preocupa as autoridades. Pobres também votam não. Lá o critério para a linha da pobreza é um pouco mais a avançado: segundo a ONU a linha da pobreza é marcada por quem ganha menos de US$ 2,00 por dia. Na Europa, uma família que ganhe menos de 60% da média do país pode ser considerada pobre.

A pobreza avança não só pela entrada de novos países do leste e pela entrada de imigrante. Nas periferias das grandes cidades como Paris ou Roma cresce o número de bairros de pobres.

O objetivo dos europeus é o de erradicar a pobreza no continente até 2010. No total, 75 bilhões irão para programas sociais na Europa até 2013.

Fim da CPMF


Um ex-presidente que tem um altíssimo nível de rejeição e um senador (Arthur Vírgilio) que não conseguiu 3% dos votos para o governo do Amazonas se colocam como defensor do povo ao derrrubar um imposto que financia gastos sociais.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Entrevista do Ministro da Educação Fernando Haddad a Renata Cafardo, do “Estadão”

Como o senhor analisa os resultados das escolas privadas no Pisa, também muito ruins?

Eu nunca acreditei na correlação entre renda e mérito. Há também uma elite dentro da escola pública, que se sai melhor. Mas o problema da educação é nacional. Precisamos lembrar que nossa escola pública tem o menor investimento por aluno de todos os países do Pisa. Mesmo nessas condições, ela consegue, com o investimento que representa um quarto ou menos de uma mensalidade escolar, não estar tão distante da escola privada. O que a escola pública é capaz de fazer com um investimento de R$ 170 por aluno por mês deveria surpreender tanto quanto os resultados.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O problema do pobre

ADIB D. JATENE

Folha de São Paulo 03/12/2007


QUANDO OCUPEI a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (1979 a 82), chamou a minha atenção a diferença gritante entre o número e a qualidade dos centros de saúde no interior e os existentes na Grande São Paulo.
Era difícil entender que os municípios do interior, com 49% da população do Estado, tivessem 549 centros de saúde -quase a totalidade- em prédios especialmente construídos, e a Grande São Paulo, com 51% da população, tivesse 257, dos quais só 54 especialmente construídos. Os demais ocupavam casas alugadas, totalmente inadequadas, na periferia da capital e em cidades-dormitório.
A perplexidade começou a se desfazer quando resolvi atender a convites para ir a assembléias populares, convocadas pela população, apoiadas nas comunidades eclesiais de base. Eram reuniões agressivas e difíceis, mas me ensinaram aquilo que todo homem público deve incorporar. Ficou claro, para mim, que os pleitos eram simples e legítimos, como ter onde vacinar seus filhos -e não tinham!
Foi a partir daí que criei a frase: "O grande problema do pobre não é ele ser pobre, é que o amigo dele também é pobre!". Ele não tem amigo que fale com quem decide, que marque uma audiência, que o ajude a elaborar um projeto, que negocie financiamento.
Ele está confinado em áreas pobres, com deficiência de saneamento básico, problemas de segurança, transporte, educação, saúde, lazer etc. Isso nos moveu a elaborar o Plano Metropolitano de Saúde: propusemos construir 490 centros de saúde e 40 hospitais nas áreas mais carentes. Passados 25 anos, menos de dois terços da proposta foram construídos -e a população saltou de 12 milhões para 18 milhões de habitantes.
Quando, em 1999, estudei a distribuição dos leitos hospitalares na cidade de São Paulo, com 10 milhões de habitantes e dividida em 96 distritos, a situação continuava da maior gravidade. Em 25 distritos, com 1,8 milhão de pessoas, existiam 13 leitos por mil habitantes, concentrando os maiores e melhores hospitais; nos outros 71 distritos, onde estavam 8,2 milhões de pessoas, existiam apenas, na média, 0,6 leito por mil habitantes.
Essa realidade perversa -menos de 20% da população tem todos os recursos mais modernos, enquanto 80% sofrem todo tipo de restrições- é difícil de ser aceita como razoável. Por isso venho, há muito tempo, tentando convencer os que vivem com conforto e com os mais modernos recursos de saúde à sua disposição de que a distribuição dos recursos é injusta e não pode ser perpetuada.
A discussão sobre a prorrogação da CPMF mostra claramente isso. A parcela mais bem aquinhoada da sociedade -a que financia as campanhas políticas e sustenta a mídia- lança mão de todos os recursos para subitamente constranger o governo a abrir mão de cerca de R$ 40 bilhões, quase a metade destinada ao SUS, e não se constrange de induzir pessoas que dependem desses recursos a assinar listas e mais listas, convencendo-os de que estão sendo explorados.
Não tenho dúvida de que o chamado excesso de arrecadação ocorre porque a eficiência da Receita, nos três níveis de governo, graças à informática e aos cruzamentos possíveis, está resgatando parte da sonegação, que permitiu a escandalosa concentração de renda existente no país.
Todos os argumentos contra a CPMF vêm sendo repetidos desde quando a propusemos, em 1995. Nenhum dos argumentos catastróficos se confirmou. O país nunca exportou tanto, o saldo comercial vem ano a ano crescendo, a dívida externa, que em 2002 era de 43% do PIB, é hoje de 14%. As reservas do Banco Central atingiram inacreditáveis US$ 170 bilhões, a taxa de inflação é a mais baixa dos últimos 30 anos e a indústria automobilística produziu neste ano, até aqui, incríveis 2 milhões de carros. Portanto, não se confirmam os prejuízos apregoados. O que é inegável é que a CPMF é um indicador da sonegação.
Quando de sua regulamentação, foi proibido, na lei, o cruzamento de informações para efeito de Imposto de Renda, afinal revogado quando o secretário da Receita à época mostrou que, dos 100 maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham pago Imposto de Renda e que existia microempresa -que, para ser micro, não podia movimentar mais que R$ 120 mil/ano- que chegava a movimentar R$ 100 milhões/ano. O simples cruzamento de informações elevou a arrecadação de cerca de R$ 7 bilhões para mais de R$ 20 bilhões/mês.
Quero crer que a luta pela extinção da CPMF, isoladamente, não tenha relação com o fato de ser um eficiente indicador de sonegação, mas esteja vinculada à idéia -para mim, equivocada- de que a carga tributária é muito elevada e toda redução é bem-vinda. Sou dos que acreditam que a carga tributaria é elevada para os que ganham pouco e baixa para os que têm muito, daí a concentração de renda.
Melhor seria se o esforço que está sendo feito para extinguir a CPMF fosse dirigido para uma discussão séria e abrangente da sempre lembrada e nunca conseguida reforma tributária, capaz de compatibilizar os recursos públicos com a riqueza ostensiva de parcela minoritária da população.
Nunca é demais lembrar que todas as convulsões sociais na história da humanidade ocorreram quando a desigualdade se tornou aguda. A distribuição de leitos hospitalares na cidade de São Paulo é exemplo gritante dessa desigualdade, melhor dizendo, dessa desumanidade para com os mais pobres.


ADIB D. JATENE , 78, cardiologista, é professor emérito da Faculdade de Medicina da USP. Foi ministro da Saúde (governos Collor e FHC) e secretário da Saúde de São Paulo (governo Maluf). É idealizador da CPMF.

A espiral política do continente

Do blog do Luís Nassif

Brasil e América Latina se desenvolvem em forma de espiral. Sempre dão uma volta acima da volta anterior, mas sempre percorrendo o mesmo ciclo e sem grandes saltos.

Os ciclos são conhecidos.

Democracia clássica disfuncional, com os chamados grupos de elite não conseguindo definir um projeto nacional.

  • Populismo, com emergência de novas classes sociais.
  • Regime autoritário.
  • Democracia clássica disfuncional
  • Populismo, com democracia disfuncional.

Todos esses passos, em geral, estimulados por fatores exógenos (crises e oportunidades internacionais) e por fatores endógenos que independem de políticas públicas (emergência de novas classes sociais). Em cada fase há riscos e oportunidades. Com exceção do período Varguista – que se estende até meados dos anos 70, quando é atropelado pela crise da OPEP.

Em geral, nossos governantes forem bem melhores do que os vizinhos ao longo do século. Nossos populistas, militares, neoliberais foram bem melhores do que os congêneres argentinos e latino-americanos em geral. Mas faltaram em quase todos os momentos (com exceção dos governos Vargas, JK e Castello) estadistas no sentido amplo, capazes de perceber as oportunidades do momento e dar o salto para sair da espiral.

Para entender o ciclo da República:

1. O pacto conservador do Império é erodido pela ascensão de uma nova classe média urbana e pela classe militar, o único aspecto do poder público profissionalizado no país.

2. O ciclo de financeirização mundial abre enormes possibilidades de desenvolvimento – muito bem aproveitadas pela Argentina. No Brasil, o ciclo abre espaço para a expansão dos interesses dos financistas. O país perde o bonde e, até os anos 20, fica perdido sem um projeto nacional capaz de dar substância a um novo regime. Há uma democracia formal que acomoda os interesses das classes dirigentes, mas nem é inclusiva nem desenvolvimentista.

3. Esse ciclo se esgota nos anos 20, quando, externamente, a crise do padrão ouro e a Primeira Guerra enfraquecem os vínculos do capital internacional. Internamente, há o aparecimento de uma classe urbana proletária.

4. Com a democracia formal viciada, sem potencial para assimilar as mudanças, começa o ciclo autoritário, com a Aliança Libertado Nacional e, posteriormente, o Estado Novo. No plano internacional, esse movimento é acelerado pela grande crise internacional pós-29. Internamente, pela expansão do proletariado. O Estado assume funções maiores.

5. Esse movimento se esgota em 1945, quando se volta à democracia formal, ainda disfuncional. Há uma tentativa de financeirização da economia, com Dutra, Vargas eleito, e uma crise política que se estende até 1964. Nesse período, há a ampliação do movimento sindical, ingressa-se em um populismo complicado, com Jango, que torna a democracia completamente disfuncional. O resultado é o esgotamento do ciclo democrático e a volta do período autoritário.

6. Segue-se o ciclo autoritário, com um período inicial de racionalidade, mais tarde, uma entropia gradativa, em que a falta de aparas ao poder absoluto leva a um superdimensionamento do tamanho do Estado. A crise internacional, com o choque do petróleo e o reinício do processo de financeirização mundial aceleram o final do modelo.

7. Segue-se a Nova República, os passos trôpegos iniciais, com Sarney e Collor, Itamar e FHC. Até que surge o Plano Real. E aí são cometidos os mesmos erros do início da República. O regime se curva aos interesses rentistas, as políticas de inclusão social são tímidas, não há um projeto de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, há a ascensão das novas classes sociais, D e E. E a democracia vai se tornando disfuncional, pela incapacidade de se adaptar e incluir os novos atores.

8. É aí que se perde o grande bonde da história, pela falta de visão de FHC, por sua subordinação aos interesses imediatos. Ali, naquele grande pacto de 1994 estavam abertas as possibilidades de se romper com o ciclo da espiral. Lula percebe os novos agentes, mas também não dispõe do projeto de país.

9. Pelo andar da carruagem, há o risco efetivo de um novo ciclo populista, que já se observa em outros países da América Latina. A questão é que Lula não representa esse ciclo.Para sorte, não se vê nele pendores autoritários ou populistas. Ele e FHC pertencem ao mesmo modelo de transição, de uma evolução lentíssima e gradativíssima, subordinada aos interesses do mercado. Com todo seu espírito de acomodação, Lula não impediu uma imensa polarização política no país.

10. A fricção provocada pelo surgimento das novas classes, pela falta do projeto nacional, vai acabar explodindo em um ponto qualquer do futuro.

Para os últimos capítulos da crise:

1. Cresce ameaça de recessão nos EUA. Nesse caso haverá uma redução ainda maior do superávit chinês, um enfraquecimento maior do dólar avançando sobre a economia européia (concorrendo com produtos europeus em outros mercados).

2. Cresce inflação na União Européia, deixando o Banco Central Europeu na sinuca de bico. Se aumenta os juros para combater a inflação, valoriza ainda mais o euro, deixando a economia mais vulnerável. Se não aumenta, a inflação sobe.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Como é dividida a CPMF

Total arrecadado em 2007 (até outubro): R$31 bi
  • Saúde: R$15,7 bi (51% do total arrecadado)
  • Previdência: R$7,9 bi (25% da CPMF)
  • Desenvolvimento social: R$7,5 (24%)
87% dos recursos empregados no Bolsa Família saem da CPMF

Fonte: Paulo Henrique Amorin

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Governo Federal investe R$3,5 milhões milhões no Projeto BH Digital

Até a metade de 2008, toda a cidade de Belo Horizonte estará conectada à internet banda larga sem fio. O Ministério das Comunicações investiu R$ 3,5 milhões e a prefeitura de Belo Horizonte, cerca de R$ 800 mil. A previsão inicial é conectar 250 pontos, entre escolas públicas, postos de saúde, hospitais, comunidades carentes, prédios públicos, parques e praças. Com a conclusão do projeto, Belo Horizonte será a primeira metrópole brasileira completamente coberta pela internet.

Fonte: Ministério das Comunicações
http://www.mc.gov.br/003/00301099.asp?ttCD_CHAVE=19238

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Por que não leio Veja

Do blog do Mino Carta

"a Veja, que se apresenta como uma das maiores do mundo por causa de sua tiragem, de fato alentada, é uma da provas da indigência mental da chamada classe média nativa. Sem falar dos abastados. Estão aí os leitores de cabresto, incapazes de perceber o péssimo jornalismo praticado pela revista da Abril, de um reacionarismo ignóbil, facciosa além da conta e extraordinariamente mal escrita. Somos uma nação desimportante, a despeito das incríveis potencialidades da terra, exatamente por causa desta pretensa elite, que repete o besteirol da Veja, da Globo e dos jornalões. Não perco as esperanças, por que ainda confio na cultura dos desvalidos."



Concordo!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Vício em trabalho pode ser falta de sexo

Dedicação extra está relacionada à insatisfação na vida sexual, diz pesquisa. Sem sexo, pessoas preferem trabalhar mais e fazer mais horas extras.

Da Reuters

Os viciados em trabalho, os chamados "workaholics", da Alemanha podem estar sofrendo de falta de sexo, segundo um estudo divulgado nesta sexta-feira (3).


Uma pesquisa com 32 mil homens e mulheres realizada por cientistas da Universidade de Goettingen indicou que mais de 35% daqueles que relataram insatisfação com sua vida sexual tendiam a usar o trabalho como distração.

Cerca de 36% dos homens e 35% das mulheres pesquisados disseram que tinham inclinação em trabalhar horas extras e de se voluntariar para tarefas a mais.

A ética de trabalho duro daqueles que declararam não manter relações sexuais era ainda mais pronunciada, de acordo com a pesquisa. "Essas descobertas são preocupantes", afirmou um dos cientistas.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O Real valorizado e o futuro do país

A valorização do real vem pelo mercado financeiro e causa um tremendo estrago no setor produtivo.


A valorização do Real está associada a movimentos financeiros devido ao diferencial de juros, fazendo entrar dólares quando não precisamos (temos saldo em transações correntes). Recursos estes que não trazem benefícios à nossa economia e saem no dia que passamos a depender deles.
Olhando o balanço de pagamentos brasileiro (http://www.bcb.gov.br/?SERIEBALPAG) e vemos que neste ano mais 96% da entrada de dólares no país é oriunda da conta financeira e a maior parte desses recursos são operações líquidas, ou seja, o aplicador pode sair a qualquer hora. Só em investimentos em carteira (títulos do tesouro, ações) de janeiro a setembro de 2007 já entraram US$35,5 bi , muito mais que o saldo em transações correntes que foi de apenas US$5,6bi.

Enquanto a China mantém sua moeda desvalorizada, o setor de serviços de TI da Índia reclama da valorização da Rúpia, a União Européia está preocupada com o efeito da valorização do Euro frente ao Dólar, a incompetente tecnocracia instalada no Banco Central fica apática.

No história do desenvolvimento das principais nações e o que se via (e ainda se vê) era a busca por um câmbio competitivo (exceto quando o objetivo era impor a moeda nacional para o resto do mundo como foi o caso da Libra e após a Segunda Guerra o Dólar) .

Até o FMI se mostra preocupado com a valorização excessiva do Real que reduz a competitividade das nossas exportações e favoresse a subtituição de insumos e produtos nacionais por importados deixando de gerar milhares de empregos. Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), comparou o caso da moeda brasileira ao dólar canadense e ao euro, afirmando que 'alguns países têm sobre seus ombros um peso do ajuste muito maior do que deveriam'.

Roberto Gianetti, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, apresentou recentemente propostas para segurar o câmbio. A primeira medida mais urgente é o fim da isenção de IR para estrangeiros investirem em títulos públicos brasileiros. “Tenho vergonha de falar disso quando vou ao exterior”. (Folha Online 17/10/07) Esta idéia sem cabimento foi do sr. Henrique Meirelles no início de 2006 e foi aplaudida pelos tecnocratas do tesouro.

Assim é a república dos banqueiros...

Troca de comando do IPEIA causa subida do dólar

Não dá para acreditar que publicaram isso. Quem dera o Márcio Pochman e o IPEA tivesse tamanho poder de fogo!!!


Dólar comercial sobe mais de 2% a R$ 1,862

27/11 - 10:47 - Agência Estado

O dólar comercial registrava alta de 2,08% e era negociado a R$ 1,862 no mercado interbancário de câmbio, às 10h25. No pregão viva-voz da Bolsa de Mercadorias & Futuros, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 1,863, alta de 2,11%.

É a taxa máxima registrada hoje desde o início das negociações.

Segundo operadores de câmbio, há uma conjunção de "pequenos fatores" que estão causando a alta firme do dólar. Há uma semana, a taxa de câmbio estava na casa de R$ 1,76. A alta acumulada em novembro, com o dólar a R$ 1,86 hoje, supera 7%.

Na lista de razões que pressionam o dólar estão movimentos políticos relacionados a mudanças no Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea), a criação do fundo soberano e os constantes aumentos nos gastos públicos. Há ainda um fator sazonal: a demanda maior por dólares, habitual no final do ano. Assim, o movimento principal que sustenta a alta da cotação do moeda norte-americana nos últimos dias e que se repete esta manhã, segundo operadores, é o desmonte de posição vendida no mercado futuro. Ou seja, o desmonte de arbitragem entre dólares e reais, que demonstra que a aposta única em queda constante do dólar está sendo revista. E ainda há a saída de estrangeiros da Bolsa paulista.


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Destacaram motivos que não tem relação nenhuma com o aumento do dólar e minimizaram os problemas relacionados a fatores externos (crise no EUA, desmonte de operações de arbritagem com o Real e realização de lucros). No meio colocaram uma inverdade: crescimento dos gastos públicos.

A favor da democracia?

"Eu não posso jamais aplaudir ninguém que é capaz de dar um voto em Hugo Chávez".

Antonio Carlos Magalhãos Neto (DEMOCRATAS-BA)


Entendi... um país só é democrático se eleger políticos alinhados com a elite financeira local e internacional.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Juros e corrupção

E como tratar o caso dos tecnocratas colocados na direção do Banco Central pelos rentistas? Por trás de uma decisão "técnica" do COPOM escondem-se os interesses daqueles que ganham muito dinheiro com o resultado da reunião.

A decisão de manter os juros num patamar 3% ou 4% acima do necessário trazem um duplo prejuízo ao país:

1) recursos públicos que poderiam ser investidos em infraestrutura ou em gastos sociais vão para o bolso dos já endinheirados.

2) inibe várias decisões de investimento do setor privado, além de causa excessiva valorização cambial.

Esses prejuízos causados pela completa falta de bom senso na gestão da política monetária causa muito mais prejuízo do que as relações promíscuas entre o poder público e empreiteiros que tinhámos antes das reformas neoliberais da década de 1990.

Na república dos empreiteiros tinhámos planejamento e execução de importantes obras de infra-estrutura de transportes e de energia. Tínhamos crescimento acelerado.

Depois que o Estado saiu de cena enfraquecido pela crise da dívida tudo desandou no nosso país e os banqueiros se apoderaram de vez da política monetária direcionando todo esforço do Estado para pagar uma conta de juros sufocante.

Bom senso estratégico

Carlos Lessa
Valor - 21/11/2007

Um fantasma acompanha a macroeconomia brasileira: uma sucessão de "apagões", alguns muito visíveis, outros anônimos. Quando a imprensa noticia que cirurgiões utilizam antiquadas brocas mecânicas para operações cranianas porque falta material cirúrgico de qualidade; quando a rede de saúde do Nordeste beira a inanição; quando jovens brasileiros concluintes do ensino fundamental, em uma análise comparativa com outros jovens de trinta países, ocupam o 31º lugar em aproveitamento didático; quando nas universidades são freqüentes misérias como goteiras, progressão de cupins e atrasos em pagamentos de energia elétrica; quando um mal desempenho se sucede a outro é possível afirmar um "apagão" das políticas sociais públicas. A brutal mortandade em acidentes de trânsito e a elevação dos fretes devido à degradação das rodovias evidenciam um "apagão" nas políticas de transporte. O aumento progressivo do tempo de deslocamento residência-trabalho-residência nas grandes cidades brasileiras é a expressão de um "apagão" nos investimentos de infra-estrutura urbana.

São muitos estes "apagões" derivados da prioridade absoluta à conta dos juros de Dívida Pública e ao alto nível da taxa determinada pelo Banco Central e multiplicada pelo sistema bancário existente no país. Ocioso recordar que, em uma economia com medíocre desempenho e inclinada para a estagnação, dinâmico é o lucro crescente dos bancos e de seu mercado de "capitais-satélites". Um cenário de múltiplos "apagões" vai obrigando o povo brasileiro a enfrentar novas carências. Em determinados capítulos, o "apagão" ganha espetaculosidade. A crise no sistema aeroviário é um "apagão" marcado por traços dramáticos e documentado abundantemente pela mídia. É espetacular ver a ante-sala dos suntuosos prédios de aeroportos improvisada em dormitórios.

O governo de FHC reinaugurou, de forma turbulenta, o "apagão" de energia elétrica. Preocupado com a privatização, desarticulando os sistemas de planejamento e financiamento do setor elétrico, FHC reeditou a década de 50, quando o sambista carioca dizia: "Rio, cidade que me seduz: de dia falta água e de noite falta luz". De forma improvisada e submisso às orientações do FMI e do Consenso de Washington, transferiu para o governo Lula o trauma do "apagão" energético e da solução improvisada da termo-eletricidade, consumindo gás e petróleo. No acordo com a Bolívia, o Brasil se comprometeu a comprar diariamente um volume de gás. Não havendo consumo termo-elétrico, foi estimulada a utilização industrial, o uso veicular etc a um preço sedutor para absorver a sobra de gás boliviano. Há alguns anos ficou claro que iria faltar gás. Na ocasião, foi afirmado que o campo de petróleo da Bacia de Santos reforçaria o gás. A economia brasileira cresceu alguma coisa nestes últimos dois anos. Surgiu o que era previsível: a ameaça de um "apagão" energético e a falta visível de gás.

É altamente inquietante definir a Petrobras como "uma das petroleiras mundiais", em vez de uma empresa estratégica para o futuro brasileiro

Há poucos dias, foi anunciado que o Brasil "irá integrar a Opep e se converterá em um grande produtor de petróleo", a partir das reservas estudadas pela Petrobras na Bacia de Santos. O preço do petróleo vem disparando - apesar da Petrobras e do governo terem, em 2003, garantido que o preço do barril ficaria estabilizado entre US$ 40, e US$ 50. Acima de US$ 100, serão utilizadas areias betuminosas, petróleos ultra-pesados e campos submarinos ultra-profundos. Certamente a Petrobras e as universidades brasileiras desenvolverão a tecnologia para extrair o óleo a mais de 5 quilômetros da superfície e enfrentando grandes depósitos de sal fóssil. O custo do barril, nessas condições, será extremamente elevado. Entretanto, o óleo a ser extraído de Santos em um futuro não programável não resolverá o "apagão" energético do governo Lula, porém faz uma cortina de entusiasmo a abafar o mal-estar de um "apagão" que reflete o baixo investimento público, procrastinado pela prioridade dos juros - a despesa favorita dos governos FHC e Lula.

Acompanhou o festival ligado à nova condição de "um Brasil potência petroleira" o anúncio de uma mudança nas regras de concessão, a companhias privadas, de lotes potencialmente produtivos. Espero que haja uma recuperação de bom senso estratégico no Brasil.

É altamente inquietante definir a Petrobras como "uma das petroleiras mundiais", em vez de uma empresa estratégica para o futuro brasileiro. Uma derivada dessa banalização foi a venda, para o exterior, de uma grande fração do capital da companhia e seu estímulo a reproduzir os procedimentos de suas congêneres, praticando a geopolítica assustadora da indústria de petróleo. No governo FHC tentou-se, inclusive, apagar o nome da Petrobras, se não me engano, por um ridículo "Petrobrax".

É uma péssima política energética o Brasil exportar petróleo. Seria admissível, no máximo, a troca de algum óleo pesado brasileiro por petróleo leve do exterior. Entretanto, nos lotes privatizados, o Brasil garante a comercialização do óleo produzido, ou seja, admite sua exportação. A Indonésia fez o mesmo e, como membro da Opep, vendeu seu petróleo a US$ 3 o barril, e hoje, com seus campos esgotados, importa petróleo a quase US$100 o barril. É fácil projetar que, com a estagnação dos últimos 25 anos, o Brasil terá algum petróleo para exportar. Entretanto, em nível mundial, a tendência de alta do óleo é firme. Campos de petróleo reconhecidos e desenvolvidos para atender ao consumo nacional são estratégicos para o Brasil de amanhã. A China não explora todo o petróleo que vem localizando. Afinal, este é um tesouro em continuada valorização financeira. Espero que a Petrobras fique com todo o campo da Bacia de Santos, que faça um novo esforço tecnológico para disponibilizar este óleo. No futuro, talvez venha a ser uma ótima combinação óleo pesado com petróleo leve para construir um barril mais barato para o desenvolvimento da vida brasileira.

Carlos Lessa é professor-titular de economia brasileira da UFRJ. Escreve mensalmente às quartas-feiras.

domingo, 25 de novembro de 2007

Juros sobre juros

Na média dos anos 1993 a 2005, os juros representaram 29% da renda interna disponível.

Fonte: Instituto Desemprego Zero

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Internet para todos

O governo pretente investir até R$ 2 bilhões na Telebrás para levar acesso à internet banda larga a todos os municípios do Brasil. Em muitos municípios Brasil a dentro ninguém tem interesse em prover serviços de internet, as poucas opções ou são muito precárias (linha discada para provedor em outro município) ou muito caras (acesso via satélite).

Meu irmão que é pastor e trabalha no interior do Estado do Amazonas diz que é muito difícil encontrar até telefone em algumas cidades, muito mais difícil é conseguir ler um e-mail.

A proposta é muito bem vinda, já que no Brasil os serviços de internet são caros e de baixa qualidade. Quem não gostou foram os provedores, eles esão dizendo que os serviços do governo são caros e de baixa qualidade. Se é assim ele não deveriam estar tão preocupados como mostraram na carta divivulgada pela associação dos provedores que criticava pesadamente o Ministro das Comunicações.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

País do dr. Pangloss

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

O bom momento das vendas internas está acabando; pagaremos caro por acreditar nos Panglosses locais

Folha de São Paulo, 19/11/2007
ENQUANTO a crise financeira nos Estados Unidos se aprofunda, os juros interbancários sobem, as pessoas endividadas com hipotecas perdem suas casas e os consumidores americanos começam a perder sua confiança na economia, avolumando-se as perspectivas de recessão no país, os brasileiros comemoram um crescimento de cerca de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) estimado para este ano, e a minha impressão é a de que vivo no país do dr. Pangloss - no melhor dos mundos possíveis.


Essa euforia local é ainda mais surpreendente porque, se os 5% são uma boa taxa em comparação com os anos anteriores, é uma taxa modesta em relação aos grandes países em desenvolvimento que estão crescendo em média quase o dobro desse número.


Dentro desse quadro, o jornal "Valor" publicou recentemente duas reportagens, em uma mesma edição, que pareciam contraditórias. Uma delas reportava, com precisão, as crescentes dificuldades para exportar que a taxa de câmbio, cada vez mais sobrevalorizada, está causando às empresas industriais: um grande número delas já parou de fazê-lo, enquanto outras estão diminuindo o componente nacional dos bens que produzem. A outra reportagem, entretanto, falava nas boas vendas e nos lucros elevados que as empresas industriais estão apresentando.
Digo que essas duas notícias são apenas aparentemente contraditórias porque fazem parte de um todo coerente que não é difícil compreender. A apreciação crescente da taxa de câmbio é o resultado da combinação perversa da "doença holandesa" - que leva a taxa de câmbio para o nível compatível com a lucratividade das commodities beneficiadas com amplos recursos naturais - com as entradas de capitais especulativos e de investimentos diretos que causam diretamente essa apreciação. À medida que isso acontece, as exportações industriais diminuem, enquanto aumentam as importações. Entretanto, ao mesmo tempo em que a apreciação, no médio prazo, vai causando o lento processo de desindustrialização prematura pelo qual o país vem passando desde 1990, essa mesma baixa da taxa de câmbio aumenta os salários reais - aumenta o poder aquisitivo de trabalhadores recebendo os mesmos salários nominais - e, com isso, aumenta a demanda de bens industriais para o mercado interno.
É esse fato que explica a prosperidade da indústria brasileira neste segundo semestre de 2007. É uma prosperidade real, já que as vendas para o mercado interno são boas, mas é uma prosperidade precária, que resulta do aumento dos salários reais devido à apreciação do câmbio e do fato de que os importadores de bens de consumo não-convencionais (ou seja, de bens que não são importados regularmente) ainda não lograram aumentar decisivamente suas importações.
Os aumentos das importações decorrentes de apreciação começam em geral por commodities (que importamos pouco), depois por bens de capital (que já estamos importando muito), depois por bens de consumo convencionais (vinhos, por exemplo), e só em uma última etapa atingem os bens convencionais. Como essa etapa ainda não se realizou, as empresas industriais brasileiras estão aproveitando o aumento artificial dos salários para vender no mercado interno. Está claro, porém, que esse tempo está acabando, e, de outro lado, a desaceleração da economia americana já está em curso.
Pagaremos caro por acreditar nos Panglosses locais.


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 73, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia, é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.br

terça-feira, 13 de novembro de 2007

CCJ aprova a renovação da CPMF

pós mais de seis horas de discussão, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, na noite de hoje (13), a renovação da CPMF, tributo que rende cerca de R$ 40 bilhões por ano ao governo. O relatório da senadora Kátia Abreu (DEM-TO, aquela que defendeu o trabalho escravo na Pangrisa, usina de álcool do Pará), que era contrário à prorrogação da CPMF, foi derrubado por 12 votos a 9. Pelo mesmo placar, os governistas conseguiram emplacar o voto em separado de Romero Jucá (PMDB-RR).

domingo, 11 de novembro de 2007

Em busca dos valores republicanos originais

O neoliberalismo nos fez recuar na história mais de um século, reafirmando os velhos valores liberais, e eu proponho que recuemos ainda mais, não menos que dois séculos, em busca da afirmação dos valores republicanos originais. Isto é, liberdade, igualdade, fraternidade na versão européia; o princípio de cidadania ampla, na versão americana; e o conceito de direito ao trabalho, que estava implícito nos estatutos agrários da Revolução Francesa e da Revolução Americana.

Como economistas republicanos brasileiros não queremos muito. Queremos simplesmente que se resgate o princípio do respeito ao direito e ao interesse público, e da promoção do bem comum. Isso começa por uma economia que garanta trabalho remunerado para todo mundo que quer e que está apto a trabalhar.

J. Carlos de Assis
http://www.desempregozero.org.br/editoriais/em_busca_dos_valores_republicanos_originais.php

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

China limita investimentos estrangeiros

Enquanto no Brasil o governo dá incentivo fiscal para especulador que faz arbritagem com taxa de juros, a China anuncia novos limites aos investimentos estrageiros. Nas novas diretrizes há limites rígidos para investimentos financeiros, no setor imobiliário e em setores onde os chineses já detenham tecnologia. Eles sabem que para construir uma rodovia, uma ferrovia ou uma siderúrgica não são necessários dólares.

Por outro lado, o Ministério do Comércio chinês estimula os investimentos em setores de alta tecnologia principalmente na área de proteção ambiental, de energias renováveis e de controle da poluição.

No âmbito do FMI também há uma pressão por parte dos países ricos para limitar investimentos dos fundos soberanos constituídos pelas países em desenvolvimento. Aos ricos não interessam que Chineses, Russos ou Brasileiros passem a comprar o controle de suas companhias.

Enquanto isso aqui no Brasil o dólar segue ladeira abaixo prejudicando o desenvolvimento do setor produtivo nacional. Mesmo assim não a discussão sobre o uso de controles de capitais para conter a enxurrada de dólares não avança. Quem é contra diz que não acha bom, quem defede a imposição de limitação à entra de capitais estrangeiros não tem espaço na mídia. Se não fosse bom este instrumento por que então as economias que mais crescem (China e Índia) fazem uso dele? Chile, Malásia, Argentina fizem uso deste instrumento quando necessário, assim como boa parte dos países hoje ricos.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Câmbio derruba grande exportador

As maiores exportadoras de bens manufaturados do país estão reduzindo seus embarques. Como operam com contratos de longo prazo, que duram dois a três anos, e têm maior acesso a instrumentos financeiros, como o hedge, as grandes empresas são as últimas a sentir o efeito negativo do câmbio. Mas a valorização do real já se prolongou tempo suficiente para prejudicar a receita obtida por essas companhias no exterior.


Com base no ranking das 40 maiores empresas exportadoras do Ministério do Desenvolvimento, o Valor identificou 12 fabricantes de manufaturados, como automóveis, autopeças, celulares e máquinas. Metade dessas companhias diminuiu as exportações este ano e uma se esforça para manter as vendas. As cinco restantes ainda conseguem aumentar as vendas externas por motivos específicos (ver matéria abaixo). Estão fora dessa lista as empresas que vendem commodities, caso do aço e da celulose.

"A maioria dessas transações é entre matriz e filial. As multinacionais não perdem, já que atendem os mercados através de outras fábricas ao redor do mundo. É o Brasil que perde", avalia José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele explica que as filiais brasileiras não estão conseguindo renovar os contratos e o custo do hedge se tornou muito alto com o atual patamar do dólar.

As grandes empresas apontam a valorização do real como o principal motivo para a queda das exportações. Desde o fim de 2002, quando o dólar estava a R$ 3,5, a moeda brasileira acumula alta de 102,6%. Ontem, o dólar fechou a R$ 1,75. Outro fator que também reduz as vendas ao exterior é a atratividade do mercado brasileiro, que é amplo e está aquecido. Por conta disso, as multinacionais vendem seus produtos internamente e utilizam menos o país como plataforma de exportação.


O "boom" de exportação de celulares "made in Brasil" também pode estar no fim. De janeiro a setembro de 2005 em relação a igual período de 2004, a Nokia aumentou as exportações em 360%. Em 2006, a companhia decidiu abastecer o mercado dos Estados Unidos via México ao invés do Brasil. As exportações da filial brasileira caíram 48% naquele ano. Em 2007, a Nokia não figura entre as 40 maiores exportadoras do país, segundo a lista do Mdic.

Petróleo chega a US$ 97 em NY

O barril do petróleo chegou a US$ 97 em Nova York e se confirmarem queda nas reservas estratégicas americanas, chegará em US$ 100. Logo logo veremos o efeito desse choque de preços na economia mundial.

Aqui em Pindorama, se a Petrobrás repassar os aumentos do preço do petróleo para os combustíveis o BC terá uma desculpa até para elevar os juros.
Como estatal, a Petrobrás tem uma papel importantíssimo na política econômica, tanto na estabilização dos preços dos combústiveis como sendo intrumento de política industrial (estímulo aos estaleiros nacionais com as encomendas de plataformas).

Uma questão que poucos discutem, o papel que as estatais tinham na política econômica. Os custos de se subsidiar uma estatal para ela segurar uma tarifa muitas vezes era menor do que o custo dos juros causados pela política monetária. No seu conjunto elas tinham um papel na geração de empregos, na estabilização de preços, na geração de demanda para a indústria nacional e na produção de tecnologia nacional.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Forte expansão da demanda não gera pressão inflacionária

Valor 05/11/2007


A visão predominante hoje - expressa, inclusive, na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) - é a de que o alto nível de utilização da capacidade em alguns setores poderá pressionar a inflação. A equipe de macroeconomia do Credit Suisse (CS) decidiu estudar o assunto a fundo e acaba de chegar à conclusão de que não: o atual ritmo de expansão da demanda não é inflacionário.

Em sua análise, a equipe do banco dividiu o IPCA em três grupos: alimentos e bebidas, serviços e preços livres (produtos industrializados excluindo a indústria de alimentos). Juntos, esses três grupos representam 69% do IPCA. Ficaram de fora da análise os preços administrados.

Na área de alimentos e bebidas, cuja inflação acumulada em 12 meses subiu de 1,2% em dezembro de 2006 para 9,7% em setembro de 2007, a expectativa é que o resultado de outubro indique o primeiro recuo desde junho do ano passado. Em dezembro, a expectativa é que a inflação anual desse grupo caia a 8,5% em dezembro.

No segundo grupo, dos serviços, após uma breve interrupção do movimento de queda em agosto, o indicador já começou a recuar em setembro e o Credit Suisse prevê um novo patamar baixo em outubro, de 0,28%. Para 2008, a expectativa da inflação de serviços é de 4%.

Entre economistas, a grande dúvida está no terceiro grupo, o dos preços industrializados, que representam um quarto do IPCA. Segundo Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse, há outros fatores que influenciam esses preços, como taxa de câmbio, aumento da participação das importações no consumo e crescimento dos investimentos. "Além disso, consideramos a expectativa de os empresários subirem ou não os preços nos próximos três meses, medida pela sondagem da Fundação Getúlio Vargas", explica Teixeira. Números recentes mostram que o nível de utilização da capacidade está descasado com a intenção dos empresários de aumentar preços.

Um dos fatores que devem barrar a inflação é a apreciação cambial. O Credit Suisse recentemente revisou sua expectativa para a taxa de câmbio de R$ 1,80 para R$ 1,70 por dólar no fim deste ano. Com a atividade mais forte, a transferência dessa apreciação cambial para os preços demora mais para acontecer (em um primeiro momento, o empresário a apropria como margem), mas acontece, segundo Teixeira. Além disso, diz, o câmbio incentiva as importações, elevando a participação dos produtos importados no mercado doméstico. Mesmo com um alto nível de utilização da capacidade, portanto, o consumo em alta é atendido pelo crescimento das importações. E o preço em reais dos produtos importados - inclusive insumos industriais - contribui para a manutenção da inflação baixa. O aumento das compras no exterior tem ainda outro efeito: aumenta a competição com os produtores nacionais, inibindo o aumento de preços dos produtos domésticos.

Teixeira afirma que outro fator analisado foram os investimentos, que, após quatro trimestres, transformam-se em capacidade produtiva. "Hoje, a economia está mais previsível, há crédito e investimentos. O empresário, em vez de aumentar preços, quer aumentar os investimentos para produzir mais. O país, hoje, consegue conviver com uma maior utilização da capacidade sem gerar pressão inflacionária", conclui.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Juros são responsáveis pelo crescimento da dívida pública

Juros são responsáveis pela dívida
Estadão 25/10/2007


Desde o mês de janeiro deste ano a dívida pública federal ficou sob o controle do Tesouro, enquanto, anteriormente, dependia também do Banco Central (BC). Se essa concentração parece justificada, pode-se lamentar que tenha reduzido a responsabilidade do BC nas emissões de títulos da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi).

Em setembro, o estoque da Dívida Pública Federal (DPF) atingiu R$ 1,315 trilhão, acusando um crescimento de R$ 78,97 bilhões nos nove primeiros meses do ano. Esse aumento não foi produzido pelo déficit nominal do Tesouro no período, mas, essencialmente, pela apropriação dos juros, da ordem de R$ 72,5 bilhões, respondendo, portanto, por 91,8% do crescimento do estoque da dívida.

O valor dos juros pagos depende de vários fatores, como a taxa cambial e a evolução dos índices de preços, mas, principalmente, da taxa Selic fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que favorece as operações de arbitragem e é em parte responsável pela apreciação da moeda nacional em razão da entrada de capital especulativo.

O que se constata é que a atuação do Copom contribui para o aumento constante da DPMFi, cujo nível, por sua vez, representa um fator negativo na avaliação internacional. Uma redução dos juros pagos permitiria ao governo dispor de recursos importantes, aumentar os investimentos em infra-estrutura e reduzir a carga tributária.

Em setembro, houve uma melhora da DPMFi, com o recuo de 34,09% para 33,125% dos papéis a vencer em até 12 meses, e um aumento da parcela da dívida com vencimento acima de cinco anos, que passou de 12,18% para 13,46% - detalhes importantes numa fase de perturbação no mercado internacional, que é o mais interessado nesses papéis de prazo longo.

Em setembro, o custo médio da DPMFi, acumulado em 12 meses, caiu de 13,45% para 13,16%: a valorização do real em relação ao dólar e à taxa Selic explica essa evolução.

O Tesouro continua satisfeito com o aumento da colocação de títulos prefixados (LFT), que representaram 44% das vendas recentes.

Trata-se de um título cuja remuneração é alta, embora com a vantagem de não apresentar a volatilidade das outras taxas. Mas continuamos achando que, num contexto melhor da economia, mais adiante valeria a pena o Tesouro examinar se realmente deve continuar dando prioridade a esse título de curto prazo.

domingo, 28 de outubro de 2007

Facetas da reestatização

Paulo Renato (PSDB) critica atuação do Branco do Brasil. Tirem suas conclusões.

Quem encomendou o artigo do ilustre deputado foi o Bradesco. Na sua esperteza plena, ao mandar o artigo para a avaliação do Cypriano acabou enviando uma cópia para a Folha de São Paulo. A Folha publicou a gafe. Em vista disso, o Paulo Renato entregou o artigo para o Estadão.

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Facetas da reestatização

Paulo Renato Souza

Estadão 28/10/2007

O governo Lula mais uma vez oferece sinais contraditórios na política econômica. De um lado, há movimentos inequívocos que visam à reestatização de vários setores da economia. Nos últimos meses constatamos iniciativas concretas nessa direção e um balão-de-ensaio - este último, a frustrada tentativa de criar um fato político com o chamado plebiscito sobre a reestatização da Vale do Rio Doce e que foi objeto de meu último artigo neste mesmo espaço. De outro lado, rende-se mais uma vez à realidade e promove o leilão de concessões de rodovias ao setor privado e anuncia outras ações semelhantes de privatizações na área de infra-estrutura.

As iniciativas concretas de reestatização já se observaram em alguns setores e, mais recentemente, no sistema financeiro. Neste campo, o governo anunciou que o Banco do Estado de Santa Catarina será entregue ao Banco do Brasil, ao arrepio da legislação vigente.

A possibilidade de federalização de um banco estadual não foi prevista quando da edição do Programa de Estímulo à Redução da Participação Estadual no Setor Financeiro (Proes), a partir da Medida Provisória (MP) 1.514, de 1996, posteriormente convertida na MP 2.192, de 2001. Esse programa fixou regras claras, pautadas pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, previstos no artigo 37 da Constituição. Essa legislação determina explicitamente que a desmobilização de ativos financeiros pertencentes ao setor público deve ser feita somente por meio de ofertas públicas e dos conseqüentes leilões, “assegurada a igualdade de condições a todos os concorrentes”. Segundo a lei, a União pode assumir o controle de uma instituição financeira estadual “exclusivamente para privatizá-la ou extingui-la”.

A expansão estatal no setor financeiro se observa também nas ações para assumir as folhas de pagamento de vários Estados. O Banco do Brasil vem oferecendo como contrapartida a aplicação nos respectivos territórios de linhas de crédito que só ele detém, por força das suas funções de agente financeiro do governo. Tais linhas estarão à disposição somente dos Estados afinados com a estratégia de expansão do banco sob controle do governo federal, com nítida ofensa às regras concorrenciais.

A atuação do Estado brasileiro no setor financeiro tem raízes históricas muito importantes. O Banco do Brasil cumpre algumas funções que dificilmente seriam atendidas pela rede bancária privada. A presença territorial do banco, atendendo a pequenas cidades, seguramente é uma delas. Não se contam entre elas, contudo, a prestação de determinados serviços que podem ser oferecidos, inclusive com mais eficiência, pelo setor privado.

Nossa Constituição consagra a livre iniciativa, restringindo a intervenção direta do Estado na economia como agente produtor apenas para situações extraordinárias. A grande presença estatal na economia nacional tinha raízes históricas muito anteriores à vigência da atual Carta Magna. O esforço para levar adiante o processo de privatizações no Brasil se iniciou nos anos 1990. Na época se discutia a ineficiência da gestão pública em alguns setores e o enorme peso orçamentário e financeiro que o governo tinha de suportar em razão dos déficits constantes e da necessidade de canalizar recursos fiscais para o investimento nas estatais. Numa outra visão, o programa de governo do então candidato Fernando Henrique Cardoso às eleições presidenciais de 1994 outorgou papel central às privatizações como uma das fontes de recursos para financiar os investimentos públicos.

Todo o processo de privatização se deu ao abrigo de legislação específica na defesa do interesse público e segundo princípios e práticas transparentes. É inquestionável o seu retumbante êxito, tanto na arrecadação de recursos para o Estado quanto na melhoria da produção, do emprego e da produtividade nas empresas privatizadas. Ênfase especial deve ser dada ao ocorrido nos setores de telefonia, siderurgia, mineração e produção de aeronaves. Além dos enormes ganhos econômicos e sociais para o País, evitaram barganhas políticas no loteamento de centenas de cargos de direção nas empresas privatizadas. Lembremo-nos de que apenas na telefonia havia 27 empresas de âmbito estadual pertencentes ao chamado Sistema Telebrás.

O primeiro ano do governo Lula, em 2003, foi consumido com ações para demonstrar que ele cumpriria os contratos e ajustes anteriormente fixados. Foi um esforço louvável e reconhecido amplamente pela sociedade brasileira e pela comunidade internacional. Já no primeiro ano do seu segundo mandato, o presidente lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para o qual esse histórico anterior lhe permitiria pedir a participação de agentes privados em projetos de longo prazo, em parceria com o Estado.

Para manter essa credibilidade será necessário, entretanto, conter no governo, em órgãos públicos e empresas estatais o ímpeto de agentes que julgam ser um mero detalhe o cumprimento da legislação e de obrigações e contratos. É estranho que, em boa parte desses eventos de reestatização, a iniciativa tenha partido de empresas públicas ou de economia mista, mobilizando o governo e mesmo órgãos reguladores para abocanhar fatias do mercado. Se existe a intenção de reestatizar setores da economia, é preciso submeter essa decisão ao Congresso e mudar a legislação hoje vigente no País. Sem a garantia do cumprimento da Constituição federal e das leis será inútil exibir índices positivos na economia brasileira para captar recursos e financiar projetos públicos.

Paulo Renato Souza, deputado federal por São Paulo, foi ministro da Educação no
governo Fernando Henrique Cardoso, reitor da Unicamp e secretário de Educação
no governo Montoro. E-mail: dep.paulorenatosouza@ camara.gov.br.
Site: www.paulorenatosouza.com.br


terça-feira, 23 de outubro de 2007

Habemus juros

A carga tributária cresceu na última década porque as despesas com juros cresceram demasiadamente

Poderia haver regra para limitar quanto o governo poderia gastar na rubrica despesas de juros


JOÃO SICSÚ
diretor do Ipea

Folha de São Paulo 21/10/2007

Diretor do Ipea defende limite de gastos com juros

Para João Sicsú, despesas do governo com o pagamento de juros da dívida pública não geram empregos nem bem-estar

Com a taxa de câmbio valorizada, economista alerta para o risco de déficit em transações correntes no próximo ano

PEDRO SOARES
Folha de São Paulo 21/10/2007

Tido como desenvolvimentista entre os economistas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), João Sicsú, novo diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão, afirma que a economia vai bem, mas existem duas fragilidades: a taxa de juros ainda é muito alta, e a taxa de câmbio está demasiadamente valorizada.

FOLHA - Como o sr. avalia a questão do aumento de gastos públicos? O que acha da regra de limitá-los?
JOÃO SICSÚ
- Gastos de um governo devem ser analisados pelos benefícios que podem gerar. Gastos de custeio, capital, pessoal e previdenciários geram benefícios para a sociedade, geram empregos e bem-estar social. Há gastos que não geram empregos nem bem-estar.
Um exemplo é o gasto do governo com o pagamento de juros referentes à dívida pública. Quem recebe essa transferência, em geral, não transforma essa renda em gastos de consumo ou investimento. Normalmente, compram mais títulos da dívida. Por outro lado, quem recebe o Bolsa Família transforma a sua renda adicional em gasto de consumo, o que reduz a insatisfação e gera empregos.
Acho que poderia haver uma regra que deveria limitar quanto o governo poderia gastar na rubrica despesas de juros: o governo gastou cerca de, entre 2003 e 2006, R$ 600 bilhões. Essa despesa não gera empregos nem bem-estar.

FOLHA - Uma política de aumento real expressivo do salário mínimo não é contraditória com a necessidade de conter gastos especialmente por causa do impacto nos benefícios previdenciários?
SICSÚ
- O aumento do salário mínimo é um mecanismo potente de prevenção e redução da pobreza, usado em economias desenvolvidas, como um dos pilares da política social. Assim, como a busca do equilíbrio do Orçamento da União não deve utilizar critérios exclusivamente contábeis, o equilíbrio orçamentário da Previdência Social não é um problema a ser resolvido com critérios meramente atuariais.

FOLHA - O que o país precisa fazer para acelerar o crescimento econômico? O país não precisa de um choque de gestão?
SICSÚ
- A inflação está controlada e a economia está crescendo a um ritmo considerado muito bom, quando comparado com o que ocorreu nas últimas duas décadas. Entretanto, a economia não está totalmente estabilizada. Variáveis estratégicas ainda estão fora do lugar. A taxa de juros ainda é muito alta e a taxa de câmbio está demasiadamente valorizada. Em 2008, perderemos provavelmente o saldo positivo em transações correntes, se o câmbio permanecer valorizado e a economia continuar crescendo.
Essa é uma fragilidade importante no front externo, mas temos, para compensar, um volume considerável de reservas, uma dívida externa bastante reduzida e a entrada de investimento direto estrangeiro. Uma segunda fase ainda mais vigorosa do PAC é o que o país precisa para fazer um longo ciclo de crescimento.

FOLHA - Quais reformas econômicas ainda precisam ser conduzidas e quais propostas o sr. tem para elas?
SICSÚ
- No campo da economia, a principal reforma que o país precisa é a tributária. A carga tributária no Brasil cresceu na última década porque as despesas públicas com juros cresceram demasiadamente, apesar das privatizações dos anos 1990 que foram justificadas, porque seriam utilizadas para reduzir a dívida pública.
O ponto é que temos a carga tributária elevada, porque praticamos juros elevados. Uma carga elevada, em tese, não necessariamente deve ser considerada negativa. A brasileira deve ser considerada negativa porque ela é "no-delivery': não entrega o que foi prometido na Constituição de 1988.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Henrique Meirelles: O melhor presidente do Banco Central de todos os tempos

Os títulos públicos estão rendendo o dobro para o "investidor" estrangeiro. Vejam só:
Com queda do dólar e isenção de IR, aplicação de investidor externo dá ganho de 89% desde fevereiro de 2006 (o estrangeiro embolsa também a valorização cambial). Se aplicassem em títulos do tesouro norte-americano levariam uns 15 anos para ganhar o mesmo.

Esta conta foi feita com base nos títulos de longo prazo atrelados ao IPCA, os mais procurados pelos estrangeiros. Estes títulos rendem a variação do IPCA mais uma polpuda taxa prefixada. Quando há expectativa de queda na taxa de juros esses papéis valorizam, foi o que ocorreu no período.
Um investidor brasileiro no mesmo período ganhou "apenas" 42% (já descontado o IR).

Em 2006, investimentos estrangeiros em títulos públicos somaram US$ 11 bi; neste ano, até agosto, fluxo era de US$ 14 bi. São capitais de curto prazo que vêm para o Brasil ganhar com arbitragem de juros.

O país não ganha nada com isso, ao contrário, o dinheiro dos impostos pagos pela sociedade ao invés de ser gasto com a população carente de serviços vai para o bolso da elite financeira nacional e internacional.

O marquetólogo, os juros e a área

JOÃO SICSÚ

O marquetólogo, os juros e a área

O marquetólogo pensa que fiscais da Receita ficam em escritórios refrigerados só analisando declarações de IR

Folha de São Paulo 20/10/2007

MARQUETÓLOGO é o estudioso das teorias de marketing. Mas também podemos atribuir ao termo outro significado: ideólogo a serviço dos ganhos exorbitantes do mercado financeiro. Os marquetólogos tiveram boa formação acadêmica. Mas marquetólogo é aquele que já abandonou critérios científicos de abordagem da realidade, é apenas um crente, é uma "caixa de som" portadora de idéias que nem sabe sequer a origem. O mercado financeiro não contrata apenas marquetólogos. Sérgio Werlang é um exemplo de um cientista a serviço de um grande banco.
Os marquetólogos têm idéias muito simples: 1) superávits primários fiscais e juros devem ser altos porque garantem ganhos seguros e elevados para os seus patrões e clientes e 2) o nanico Estado brasileiro é considerado culpado por todos os males da economia. Eles não percebem que o Estado não gera bem-estar social porque, acima de tudo, não tem um quantitativo de funcionários capaz de atender aos milhões de brasileiros carentes de serviços, por exemplo, de educação e saúde de boa qualidade.
Um desses marquetólogos me criticou, em artigo publicado na Folha, por ter usado como proxi para mensurar o nanismo do Estado brasileiro a quantidade de fiscais por 1.000 km2 relativamente a Bélgica, Japão, Holanda e outros países. Quando apresentei os dados, já esperava que tal crítica fosse feita. Mas, como a crítica demorou a aparecer, avaliei que tivesse subestimado a inteligência dos marquetólogos de plantão. Porém a crítica veio: não subestimei.
Segundo o Unafisco -Sindicato Nacional dos Fiscais da Receita Federal- e o estudo da OCDE que mencionei como fonte dos dados que havia apresentado, é reconhecido que a quantidade de fiscais da receita pública deve ser avaliada por duas dimensões:1) pelo tamanho do território/fronteiras e 2) pelo total de habitantes de um país.
A primeira dimensão, desprezada pelo marquetólogo, é muito importante, porque os fiscais da Receita Federal têm o dever de combater contrabando e atividades econômicas ilícitas, tal como a pirataria. O contrabando pode passar por fronteiras abandonadas. As mercadorias piratas podem ser produzidas em qualquer recanto do vasto território nacional. Cabe esclarecer, inclusive, que está escrito na carteira funcional dos fiscais da Receita Federal que estão autorizados a utilizar arma de fogo porque sua tarefa é fiscalizar regiões perigosas e desertas. O marquetólogo pensa que fiscais da Receita ficam dentro de escritórios refrigerados analisando declarações de Imposto de Renda.
É também um critério importante a ser levado em conta a relação entre a quantidade de fiscais e a quantidade de habitantes de um país. Pelo critério espacial, o Estado brasileiro é nanico. Pelo critério populacional também. O Brasil possui 0,04 fiscal por mil habitantes. A Bélgica possui 0,32, a Holanda, 0,58, e o Japão 0,30.
De fato, o Brasil precisa não somente de fiscais; precisa também contratar por concurso público para receber salários dignos: professores, médicos, enfermeiros, policiais, engenheiros e pesquisadores.
O marquetólogo tratou de um tema que desconhece. Deveria ter criticado é o Banco Central, onde foi diretor. Ele sabe como as coisas são decididas nessa instituição. Será que o Banco Central utilizou como base o tamanho continental do território nacional para manter a elevadíssima taxa Selic em 11,25% na sua última reunião? Talvez essa seja a explicação absurda que sustente a decisão absurda.


JOÃO SICSÚ é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor do Instituto de Economia da UFRJ. É autor do livro "Emprego, Juros e Câmbio" (Campus-Elsevier, 2007) e co-autor e organizador do livro "Arrecadação (de onde vem?) e Gastos Públicos (para onde vão?)", Boitempo Editorial, 2007.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A turma da bufunfa comemora

Por unanimidade, o COPOM decidiu manter a taxa de juros em 11,25%. Segundo eles, os pobres e miseráveis do Brasil estão comendo demais. Á uma explosão de demanda.

Nenhum analista minimamente sério tem coragem de dizer que há uma expansão excessiva da demanda. Pelos números do IBGE vemos que o crescimento do PIB é puxado pelos investimentos, que significam capacidade produtiva para atender a demanda futura.

Se a situação dos mais pobres está melhorando um pouquinho (bolsa família e aumento real do salário mínimo), é claro que o consumo vai crescer, é isso que faz a economia movimentar. Alguém investe hoje pensando que no futuro haverá renda para compra a sua produção. Para a direção do COPOM (escolhida a dedo pelos grandes players do mercado financeiro) qualquer avanço na renda é desculpa para manter os juros altos.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Huck x Ferrez

Gritos e resmungos
Nas últimas semanas, os debates suscitados pela controvérsia Huck-Ferrez desataram um desfile de fúria e descontrole moral.
(...)
A generosa distribuição de adjetivos foi acompanhada de exaltadas conclamações para o retorno dos militares ou sugestões para que os correrias de Ferréz fossem mais eficientes em seu "empreendedorismo" anárquico e, não raro, mortal.
(...)
Torço para que o destampatório seja mais um esgar do que um ideário consistente. Mas não custa ficar esperto: os estudiosos do totalitarismo sabem que a "autovitimização" da "boa sociedade" e a inculpação do "outro" foram métodos eficientes para a conquista do poder absoluto.

Vejo nos blogs: os mais furiosos se apresentam como "humanos direitos", em contraposição aos defensores dos "direitos humanos". Fico a imaginar como seria a vida dos humanos direitos na moderna sociedade capitalista de massas, crivada de conflitos e contradições, sem instituições que garantam os direitos civis, sociais e econômicos conquistados a duras penas. A possibilidade da realização desse pesadelo, um tropismo da anarquia de massas, tornaria o Gulag e o Holocausto um ensaio de amadores.

Hanna Arendt, em "Origens do Totalitarismo", abordou as transformações sociais e políticas na era do capitalismo tardio e da sociedade de massas. A economia dos monopólios promoveu a substituição empresa individual pela coletivização da propriedade privada e, ao mesmo tempo, a "individualização do trabalho" engendrada pelas novas modalidades tecnológicas e organizacionais da grande empresa. (...) A operação impessoal das forças econômicas produziu, em simultâneo, o declínio do homem público e a ascensão do "homem massa, cuja principal característica não é a brutalidade nem a rudeza, mas o seu isolamento e sua falta de relações sociais normais".

Trata-se da abolição do sentimento de pertinência a uma classe social sem a supressão das relações de dominação. (...)

Em seu último livro, "The Assault on Reason", misteriosamente não divulgado no Brasil, Al Gore, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2007, diz que "Hanna Arendt escreveu sobre o totalitarismo no século XX e ressaltou a importância da esfera pública (onde se forma o consensus iuris): ' O único remédio contra o mau uso do poder público pelos indivíduos privados está na constituição de um espaço público capaz de avaliar os procedimentos de cada cidadão, submetendo todos os indivíduos à visibilidade'. Quando as opiniões são bloqueadas (pelo particularismo dos monopolistas da informação), a meritocracia das idéias sofre um grave dano e o debate democrático escapa às normas da razão e pode ser manipulado".


Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp
Valor 16/10/2007

Proteção à indústria une emergentes

Brasil, Índia, África do Sul e outros emergentes preparam-se para propor corte menor de tarifas e aumento no número de setores industriais sensíveis na Rodada Doha. A Índia submeteu discretamente a seus principais parceiros um "esboço de proposta" que levaria o Brasil e outros emergentes a ter flexibilidade 50% maior para proteger sua indústria - de 10% para 15% das linhas tarifárias.

O texto industrial em negociação na OMC propõe uma redução tarifária entre 55% e 60% e flexibilidade para cortar menos em 10% das alíquotas. O documento da Índia segue a linha da mensagem a ser dada pelos líderes dos três países, que se reúnem amanhã em Pretória: continuam empenhados no sucesso da rodada, mas se recusam a fechar um acordo a qualquer custo.

Valor 16/10/2007

Petróleo fica acima de US$ 86 nos EUA e ultrapassa a cotação de 1981

O preço do barril de petróleo disparou nos principais mercados do mundo ontem. A alta foi tão forte que não só ultrapassou a barreira dos US$ 86, como também deixou para trás uma marca histórica conseguida ainda durante os anos subseqüentes ao segundo choque do petróleo. Ajustada pela inflação do período, a cotação de US$ 37,48 de março de 1981, uma das maiores do produto e fruto da decisão do Irã de suspender suas exportações, seria hoje de US$ 84,73.

Valor 16/10/07

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Remuneração do(a) professor(a) x qualidade do ensino

Em geral o salário inicial do professor da rede pública é muito baixo. Alguns estados pagam uma mixaria de salário base e adicionam uma remuneração extra dependendo da assiduidade e do desempenho. Esses "pinduricalhos" geralmente não acompanha a renda do professor na aposentadoria, nas férias ou quando adoece. Eu concordo que se avalie o professor e se recompense os mais esforçados. O que não se pode é fixar uma remuneração tão baixa que não atraia as melhores cabeças para área do ensino. Do jeito que está no Brasil, ser professor se torna uma opção quando não há mais outras.

Segundo a Folha de São Paulo (15/10/07), um professor do Acre ganha 39% a maior do que o de São Paulo (se considerarmos o custo de vida nos dois estados a diferença salaria vai a 60%).

"O baixo salário dos docentes é uma questão histórica no país. Basta ver o de outros países da América Latina, como Chile e Argentina, que são maiores", afirma Célio da Cunha, assessor especial da Unesco no Brasil. Para ele, o salário baixo é uma das explicações para a má qualidade do ensino. "Um salário justo motiva os professores."

O salário um pouco melhor no Acre começa a dar resultado. Prova disso pode ser a análise do Saeb (exame do MEC que avalia estudantes), divulgada em fevereiro. Na comparação entre 2003 e 2005, o Acre foi onde as médias dos alunos de 4ª série mais evoluíram. Em português, houve aumento de 13,8 pontos (de 156,2 para 170).

Se concordarmos que a educação é importante, também devemos concordar que um professor precisa ser bem remuredado.

Professor de SP ganha 39% menos que do AC

Professor de SP ganha 39% menos que do AC

Ranking dos salários de docentes da rede estadual em início de carreira traz SP, que tem o maior Orçamento entre os Estados, em 8º lugar

Se for levado em conta o custo de vida, a diferença entre São Paulo e Acre, que lidera a lista de melhores salários, aumenta para 60%

Greg Salibian/Folha Imagem
Luis Henrique da Costa, 45, professor da rede pública de SP; para ele, justo seria ganhar o dobro de seu salário atual, de R$ 2.500


DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os professores em início de carreira da rede estadual paulista recebem salário 39% menor do que os do Acre. Enquanto um docente com formação superior e piso inicial de São Paulo ganha R$ 8,05 por hora, o colega acreano recebe R$ 13,16. Se levado em conta que o custo de vida lá é menor, a diferença aumenta para 60%.
O ranking dos salários do país mostra que o Acre lidera a lista dos Estados que pagam melhor seus professores em início de carreira, seguido por Roraima, Tocantins, Alagoas e Mato Grosso. São Paulo vem em oitavo lugar, apesar de ter o maior Orçamento do país. Pernambuco tem o pior salário.
A remuneração acreana, porém, ainda não é a ideal para especialistas. "O baixo salário dos docentes é uma questão histórica no país. Basta ver o de outros países da América Latina, como Chile e Argentina, que são maiores", afirma Célio da Cunha, assessor especial da Unesco no Brasil. Para ele, o salário baixo é uma das explicações para a má qualidade do ensino. "Um salário justo motiva os professores."
O salário um pouco melhor no Acre começa a dar resultado. Prova disso pode ser a análise do Saeb (exame do MEC que avalia estudantes), divulgada em fevereiro. Na comparação entre 2003 e 2005, o Acre foi onde as médias dos alunos de 4ª série mais evoluíram. Em português, houve aumento de 13,8 pontos (de 156,2 para 170). Já São Paulo melhorou 1,1 ponto (de 176,8 para 177,9).
"Um docente bem pago trabalha melhor, sem dúvida", diz a professora da Faculdade de Educação da USP Lisandre Maria Castello Branco. Para ela, os governos continuam mais preocupados em melhorar a estrutura das escolas do que em investir no docente.
No Acre, os professores se organizaram para pressionar o governo, que criou um plano de carreira. "Houve também uma reorganização que tirou docentes de funções burocráticas e os colocou na sala de aula, permitindo melhor uso dos recursos", diz Mark Clark Assem de Carvalho, da Universidade Federal do Acre. A maioria é formada no Estado e não há falta de docentes. Mas eles reclamam de salas lotadas.
Em São Paulo, a situação se agrava se levado em conta o custo de vida. Um professor que trabalha 120 horas por mês (30 por semana) tem salário de R$ 966 e consegue comprar 4,9 cestas básicas. Já o do Acre recebe R$ 1.580 e compra 12,6. Ou seja, a diferença do salário/ poder de compra chega a 60%.
Para comparação, a reportagem considerou a cesta básica de setembro. A paulista tinha 13 itens e custava R$ 194,34. A do Acre -com um item a mais, a carne de frango-, R$ 124,47.
A secretária de Educação da gestão José Serra (PSDB), Maria Helena Guimarães de Castro, não deu entrevista sobre o assunto. Sua assessoria pediu que fosse procurada a Secretaria de Gestão, responsável pelos salários dos docentes. Esta também não se pronunciou.
A única explicação dada pela Educação foi a de que, em São Paulo, os professores já iniciam a carreira recebendo gratificações. Mas no Acre, assim como em boa parte dos Estados, também é assim. Para calcular os salários por Estado, nenhuma gratificação foi contabilizada, pois a maioria pode ser cancelada e não é incorporada no cálculo da aposentadoria.
O levantamento considerou o piso inicial de um professor estadual com licenciatura plena (ensino superior). Conforme a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), 25% dos docentes do país estão em início de carreira. Em São Paulo, segundo a secretaria, são 26%.
Os salários foram fornecidos pela CNTE, e a reportagem procurou todos os Estados para checar as informações. Dezessete retornaram o contato. Quatro tinham dados diferentes (BA, PE, PR e SP), que foram corrigidos para o cálculo.

Folha de São Paulo (15/10/2007)

domingo, 14 de outubro de 2007

A miséria no império

Nos últimos anos houve um grande aumento no abismo da desigualdade nos Estados Unidos. Os dados do censo de 2005 mostram que 16 milhões de cidadãos vivem "em profunda pobreza ou miséria". De 2000 a 2005, o número de pobres americanos cresceu 26%.

Dos 302 milhões de norte-americanos, 45 milhões não têm direito a nenhuma assistência médica pública.

O ensino vai à bolsa

Grupos privados abrem o capital no mercado e iniciam novo ciclo no setor, baseado em fusões, aquisições e na disputa por alunos de menor renda.

A estrela nessa onda é a Anhanguera Educacional que conseguiu captar R$512 milhões na bolsa de São Paulo. Mas no último exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) menos de 10% dos formandos no curso de direito do Centro Universitário Ibero-Americano, em São Paulo, e da Faculdade Comunitária de Campinas, escolas da rede Anhanguera, foram aprovados.

Os estudiosos ligados à educação estão muito preocupados com mercantilização da educação no Brasil. O que se vê hoje é um grande número de diplomados sem o respectivo conhecimento. Muitas famílias carentes gastam o que não podem na educação dos filhos sem saber que após a formatura seus filhos encontraram empregos na faixa de 2 salários mínimos.

A cabeça do brasileiro

O livro intitulado A Cabeça do Brasileiro, de Alberto Carlos de Almeida, baseia-se numa pesquisa destinada a mostrar que a "elite nacional é o farol da modernidade" enquanto o povo é responsável por todo atraso.

A elite inculta organizam um festival de besteiras e maior delas é dizer que a classe dominte é vítima da classe dominada. A turma que se acha portadora da modernidade lê Veja e Estadão e se acha extramemente culta, não exergam o obvio diante dos seus narizes. A cultura dessa turma em geral se resume a conhecer algumas pontos pitorescos na nossa história. Uma turma preconceituosa que fala mal dos desempregados como se estivessem nessa situação por opção, mas adora viver de juros e da especulação imobiliária.

A mentalidade de nossa elite é surreal.

sábado, 13 de outubro de 2007

O tucano Paulo Renato submete artigo criticando ação do BB ao presidente do Bradesco

Paulo Renato submete artigo a banco

Deputado do PSDB pede opinião do presidente do Bradesco sobre texto com críticas ao Banco do Brasil

Folha de São Paulo 10/10/07

O deputado federal Paulo Renato (PSDB-SP) submeteu à apreciação da presidência do banco Bradesco um texto assinado por ele e enviado anteontem à Folha para publicação. No artigo, ainda inédito, o deputado critica a intenção do governo federal de passar o Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) para o controle do Banco do Brasil.
O texto foi enviado ao jornal por e-mail. Por engano, o corpo da mensagem trouxe uma correspondência eletrônica anterior, na qual o parlamentar escrevera ao presidente do Bradesco, Márcio Cypriano: "Em anexo, vai o artigo revisto. Procurei colocá-lo dentro dos limites do espaço da Folha. Por favor, veja se está correto e se você concorda, ou tem alguma observação. Muito obrigado, Paulo Renato Souza".
Ouvido ontem pela Folha, o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, afirmou: "O deputado Paulo Renato me ligou perguntando se eu poderia ler um artigo que ele tinha escrito sobre bancos. O receio dele era de o artigo ter algum erro, já que tinha muitas questões e termos técnicos. Eu disse que podia ler e ele me mandou o artigo. Eu achei bom o artigo. Muito bem escrito, por sinal. Foi só isso".
Intitulado "Tentáculos da reestatização", o texto foi enviado dois dias após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter participado, em Florianópolis (SC), de um evento no qual dirigentes do BB se comprometeram a incorporar o Besc, federalizado na década de 90.
No texto, o ex-ministro da Educação (1995-2002) Paulo Renato reclama da ausência de um processo licitatório para definir os novos donos do Besc. Ele também critica supostas estratégias que estariam sendo empregadas pelo BB para expandir seus negócios no território nacional, o que seria, segundo ele, uma "nítida ofensa às regras concorrenciais".
O deputado Paulo Renato disse ontem à reportagem que não mantém nem manteve contratos com o grupo Bradesco por meio de sua empresa de consultoria, a Paulo Renato Souza Consultores. Afirmou que buscava apenas uma opinião técnica sobre o assunto.
"Eu tinha encontrado com o Márcio num almoço, comentei com ele que iria fazer esse artigo e pedi ajuda para ele para ver se não estava dizendo uma barbaridade sobre os temas que eu estava tratando. E ele se dispôs a me ajudar", disse.
Indagado sobre o verbo que utilizou, ao perguntar a Cypriano se ele "concordava" com o texto, o parlamentar afirmou: "Se concorda com os argumentos que eu coloquei no artigo".
O parlamentar disse ter feito o mesmo em relação a um artigo que produziu sobre a companhia siderúrgica Vale do Rio Doce: "Eu escrevi um artigo sobre a Vale do Rio Doce comparando com a Petrobras. Eu pedi os dados, obviamente, para o pessoal da Vale. Mandei o artigo [à Vale] para ver se eu tinha interpretado direito os dados que ele tinha mandado. A mesma coisa fiz agora", afirmou.
"Em economia, tem que se ter cuidado, pois os conceitos podem não estar precisos", disse ele, que foi professor titular de economia da Unicamp.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aracruz investirá US$ 2 bi no Rio Grande do Sul

A diretoria da Aracruz, a maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, vai submeter ao seu conselho de administração, entre o fim deste ano e o início de 2008, seu projeto bilionário de expansão no Rio Grande do Sul. A empresa planeja investir US$ 2 bilhões entre gastos com terras e florestas, a fábrica e a infra-estrutura para ampliar a capacidade de produção da unidade de Guaíba em 1,3 milhão de toneladas de celulose. Com isso, a empresa produzirá 1,8 milhão de toneladas no Sul do Brasil.

É duro ver o Brasil apostando suas fichas no agronegócio. Nas áreas onde a Aracruz vai chegando a pequena propriedade desaparece mais rapidamente e muitos empregos no campo são destruídos. A monocultura de eucalipto ocupa terras apropriadas para produção de alimentos, trás ruína para alguns municípios pequenos, uma vez que favorece a concentração de renda.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Depois de ter seu rolex roubado, o apresentador Luciano Huck em artigo na Folha clama pelo capitão Nascimento (personagem do filme Tropa de Elite). O policial-torturador do filme vira herói no pensamento conservador que predomina na mídia nacional.

Num país de miseráveis onde só 5% recebe mais de R$800 por mês, ostentar um rolex é nas ruas é algo surreal. Huck deveria agradecer por ter saído vivo e ileso, ao invés disso clama por mais dureza por parte da polícia. Como se esta já não fosse violenta!

De acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio, para cada policial morto em serviço no Estado, no primeiro semestre de 2006, 26 civis foram assassinados por homens de farda. No mesmo período de 2007, a relação aumentou de um para 40.

Os conservadores acham que apenas a repressão é a solução. Atacam as consequências e se esquecem das causas. Já ouvi falar que há países mais pobres onde que a violência é menor. Mais pobres sim, mais desiguais, eu duvido!

Que caminho tomaria um jovem que não tem acesso a uma escola decente? Que não consegue um emprego (as taxas de desemprego entre os jovens estão na casa dos 30%)? Filho de uma mãe que rala para ganhar uma miséria numa casa de madame e muitas vezes um pai desempregado?

A sociedade brasileira exclui milhões, como dizem os especialistas em economia do trabalho, são óleo queimado, não servem, não valem nada. Se a vida desse jovem não vale nada, o que impede de ele achar que a tua vida também não vale nada?

Por quê não oferecer uma escola pública de qualidade para todos? Os liberais deveriam defender igualdade de oportunidades. Mas educação de qualidade custa caro e a turma do andar de cima não abre mão dos polpudos juros proporcionados pela política econômica do governo Lula.

Che Guevara era fedido

Interessante a reportagem publicada na Veja da semana passada, onde "verdades inconvenientes" sobre Ernesto Che Guevara são reveladas.

Por exemplo: pessoas próximas a ele, ao Che, o chamavam de el cancho, o porco. Diziam que ele não gostava de tomar banho e, portanto, fedia.

Eu não sabia disso, mas, a partir de agora, passo a odiá-lo. Pelo que lutou e morreu, pouco importa. Como é que alguém pode querer mudar as coisas no mundo se nem ao menos cuida de sua higiene pessoal?

Em breve, o profundido jornalismo investigativo vai descobrir que Marx soltava pum de maneira incontrolável. Engels tinha mau hálito. Fidel tem um frieira crônica que adora coçar.


Seção Refogado (Márcio Alemão) da Carta Capital nr 465 de 10/10/07

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Pedágios, mais pedágios

A Federação dos transportes de Cargas do Estado de Santa Catarina (Fetrancesc) descobriu em documentos oficiais da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) com logotipo de empreiteiras. Essas notícia foi destaque nas páginas de Carta Capital poucos dias antes do leilão de vários trechos de rodovias federais.

Esse leilão vinha sendo adiado há alguns anos por causa do formato da licitação. O modelo montado pela Casa Civil buscou equacionar o menor custo para o usuário da rodovia. Nesse formato a concessionária assume o compromisso de realizar uma série de investimentos na manutenção e melhoria da estrada. Ganha quem cobrar a menor tarifa de pedágio.

Esse modelo é muito superior ao utilizado nas privatizações de rodovias federais na gestão FHC e em muitos estados, onde ganhou quem pagou mais pela concessão. Nesse caso o usuário pagou duas vezes, uma pela construção da rodovia (impostos) e outra ao utilizar.

Houveram absurdos, tarifas altíssimas. Segundo Cloraldino Severo1, "Estabelecem-se monopólios, os usuários não têm alternativas. Há pedágios em pistas simples. O usuário paga por obras que estão imaginadas." Por exemplo, de Campinas a São Paulo, trecho com menos de 100km se paga R$21 (ida e volta), multiplicando a tarifa muito alta e o volume elevado de veículos fazem esse trecho um dos mais rentáveis do país irrigando o bolso de concessionárias e empreiteiras (elas andam juntas, muitas vezes são sócias da concessionária).

Só para ter uma idéia, nos EUA são 7.150 km de concessões para uma malha pavimentada total 5 milhões de km. Na França são cerca de 6 mil km geridas por 9 empresas, sendo que 8 delas são públicas e controlam mais de 80% da extensao com cobranca de pedágio. No Brasil há 10.825 km de estradas com pedágio num malha total de 85 mil km de estradas pavimentadas.

Na última terça (09/10/07) o Governo Federal colocou à venda concessões de 25 anos para a exploração de sete trechos de rodovias federais, num total de 2.600 quilômetros. A grande novidade foi o deságio em relação preço inicial muito maior que o esperado. Ainda não há data definida para o início da cobrança.

A Fernão Dias que liga Belo Horizonte a São Paulo terá 8 pedágios a R$0,997 cada (deságio de 65% em relação ao preço inicial). A Regis Bittencourt terá 6 pedágios a R$ 1,364 (deságio de 49%). Curitiba-Florianópolis terá 7 praças de pedágio (R$ 1,028).

A BR-101 da divisa ES/RJ até a ponte Rio-Niterói terá 5 praças a R$ 2,258 (deságio de 41%). A Transbrasiliana (BR-153) terá tarifa de R$ 2,45.

O trecho da BR-116 Sul, entre Curitiba e a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul terá pedágio de R$ 2,54, com deságio de 39,35% em relação ao preço máximo de R$ 4,188, estabelecido pelo edital. O edital prevê cinco praças de pedágio neste trecho.

O trecho da BR-393, da divisa de Minas Gerais e Rio de Janeiro até a via Dutra terá R$ 2,94 por pedágio, o que representa um deságio de 27,17%.



Notas:
1. Cloraldino Severo tem 45 anos de experiência em planejamento de transportes no Brasil. Foi diretor do DNER, presidente da extinta Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes e Ministro dos Transportes no período de 1982-85.
2. Para mais informações ver Carta Capital, nr 465 de 10/10/07.

O "jurômetro"

CLÓVIS ROSSI (Folha de São Paulo, 07/10/2007)

SÃO PAULO - Nada contra o "impostômetro" montado pela Associação Comercial para mostrar o quanto o brasileiro paga de impostos. Mas o placar só ficaria completo se alguém se dispusesse a montar o "jurômetro", o quanto o governo paga de juros aos detentores da dívida pública.
Houvesse tal contagem, o brasileiro ficaria sabendo que é o pagamento de juros o maior responsável pelos números altíssimos do "impostômetro".
No primeiro mandato do presidente Lula, conforme compilação de João Sicsú, economista hoje no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), para a revista "Rumos do Desenvolvimento", os juros comeram R$ 587,9 bilhões. Correspondem a 25% de tudo o que país produziu em 2006, à imponente média de algo em torno de 6% ao ano.
Para comparação, sempre segundo a mesma fonte: com educação, os gastos somaram R$ 62,3 bilhões; com saúde, R$ 136,3 bilhões.
Como lembra freqüentemente Marcio Pochmann, ex-Unicamp, ex-secretário de Marta Suplicy e hoje presidente do Ipea, 80% do que é pago de juros vai para o bolso de apenas 20 mil famílias, a elite da elite, essa que o petismo ama atacar, mas alimenta caprichosamente ano após ano (como o fazia o governo anterior, aliás).
Como diria o próprio Lula, nunca neste planeta se transferiu tanto dinheiro do conjunto dos contribuintes para os ricos mais ricos.
Não há a mais leve perspectiva de que essa transferência maciça seja reduzida nos próximos anos. Logo, fica sendo mais uma bravata sem sentido a tese (de resto correta) de Lula segundo a qual o governo deveria "contratar mais gente, mais qualificada, mais bem-remunerada, porque aí teremos também serviços de excelência prestados para a sociedade brasileira".
É tudo o que não existe nem vai existir no futuro próximo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

INSS disponibiliza telefone para aposentado reclamar dos bancos

O Ministério da Previdência Social disponibilizou o telefone 135 para atender reclamações de aposentados e pensionistas do INSS que se sentirem mal atendidos nas agências bancárias e dos Correios nos dias de pagamento. Segundo o ministério, o serviço foi possibilitado por um acordo firmado entre INSS, bancos e Empresa de Correios e Telégrafos (ECT).

A ligação é gratuita, se feita de telefone fixo ou público, ou custa o valor de uma ligação local se feita de celular. Após a ligação, o INSS tentará solucionar o problema junto à agência bancária. Mantendo-se o erro, a agência será notificada e poderá ser penalizada com multa no valor do total dos pagamentos do dia naquela agência e descredenciamento.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Fundos levam R$ 21 bi para "fazer nada"

Os gestores dos fundos de investimento se apropriam de R$ 21 bilhões1, o equivalente a 1,5% do PIB brasileiro, apenas com taxas de administração, sendo que a maioria deles tem apenas a tarefa burocrática de comprar títulos da dívida pública do governo.

A afirmação foi feita em 24/08 pelo consultor Ney Ottoni Britto, professor de finanças da UFRJ, e causou constrangimentos em uma platéia de cerca de 800 pessoas, a maioria executivos do mercado financeiro, no congresso de derivativos da BM&F.

Será que eles não sabiam?

A taxa da administração não cobre despesas do fundo como o envio de extrato, corretagem, etc. O custo para manter um carteira pré-definida de título ou ações é irrisório, mesmo assim tem fundo de varejo e de previdência que cobra 4% ou mais de taxa de administração. Chamem a polícia, os bancos estão assaltando!!


Nota 1 - Fonte: Folha de São Paulo 25/08/07

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Ocupação da faculdade de Direito da USP: Dois pesos duas medidas

Ao discutir com amigos e colegas a desocupação violenta da Faculdade de Direito da USP (22/08/2007) boa parte das pessoas defendem veemente a ação da polícia como se fosse o mais terrível crime: lutar por direitos. Dá prá ver na cara das pessoas: a indignação com um movimento social parece até ser maior do que com os crimes hediondos.

O movimento composto por estudante e por trabalhadores pobres tinha por objetivo chamar atenção para o sucateamento da educação pública e pela democratização do ensino superior. A ocupação foi pacífica e legítima, e a própria policia admitiu que não houve depredação do patrimônio público. Afinal o objetivo dos manifestantes era que o governo construa faculdades de qualidade como a do Largo São Francisco. Ilegítima foi a forma truculenta como PM agiu.

De onde será que vem essa mentalidade de se criminalizar os movimentos sociais? Acho que a mídia vem plantando isso dia a dia na cabeça das pessoas. Nessa visão, os movimentos sociais podem até protestar, mas sem "atrapalhar" ninguém, do tipo vestir roupa branca ou soltar uma pomba branca na praça. O efeito disso é nulo.

A grande contradição é que protestos como o da elite cansada de São Paulo ou da classe média destruindo aeroportos (patrimônio público) são considerados legítimos. No entanto, há um grande ataque aos movimentos sociais e protestos de trabalhadores.

Muitas pessoas não estão dispostas a arriscar sua pele para lutar por um país melhor. Isso dá até para entender, mas ser contra aqueles que estão a defender o futuro dos nossos filhos. Não dá para esperar um Brasil mais justo ser construído pela bondade dos endinheirados ou por um governo de um “iluminado”. Sem pressão popular o governante mais bem intencionado sucumbe aos interesses da classe dominante, que não são os mesmos da grande maioria do nosso povo.