domingo, 27 de abril de 2008

Ninguém gosta do Windows Vista

A Microsoft já admite manter as vendas do Windows XP, pois tem recebido muitas reclamações de clientes. A nova versão do Windows, o Vista, além de consumir boa parte dos recursos dos micros onde ele roda, há também várias reclamações de incompatibilidade com softwares populares, drivers de câmeras e scaners,etc.

Para mim a gota d'água foi quando o Vista parou de reconhecer os pendrives depois de uma atualização. Formatei e instalei o UBUNTU. Experimente.
http://www.ubuntu-br.org/
http://www.ubuntu.com/

Tempo que motorista gasta até chegar no trabalho é hora extra

O tempo gasto pelo motorista até chegar ao local de trabalho, em outra cidade, integra a jornada do empregado para todos os efeitos legais, pois configura tempo à disposição do empregador. O entendimento é da 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais.


Os desembargadores negaram recurso ajuizado por uma empresa de transporte coletivo que tentava afastar decisão de primeira instância que a condenou a pagar horas extras a um motorista.


"Compartilho do entendimento do juiz de primeira instância quando assinala que a empresa deve assumir os ônus da prática adotada em relação às escalas de trabalho, na medida em que torna imprescindível o deslocamento do empregado de uma cidade para outra, a fim de iniciar a sua jornada", destacou a relatora, desembargadora Deoclécia Amorelli Dias.


De acordo com ela, ficou constatado que o motorista fazia, em média, cinco deslocamentos por mês para cumprir escalas fixadas de acordo com a necessidade da empresa. Portanto, no entender da relatora, se a ré prevê a entrada em serviço do empregado em município distinto da sua residência, deve remunerar o tempo gasto nesses deslocamentos como horas extras, já que esse período configura tempo à disposição do empregador.


Revista Consultor Jurídico, 25 de abril de 2008
http://conjur.estadao.com.br/static/text/65826,1

quarta-feira, 23 de abril de 2008

E agora Lula? Vai ser contra o aumento de gastos sociais?

Os senadores, impulsionados pelos petistas Tião Viana (PT-AC) e Paulo Paim (PT-RS) aprovaram a Emenda 29, garantindo mais recursos para a Saúde, extinguiram o chamado fator previdenciário - que obriga o cidadão a trabalhar mais tempo para assegurar a aposentadoria integral - e vincularam o reajuste de todos os benefícios da Previdência ao aumento do salário mínimo.

A oposição (aquela no passado votou pela retirada de direitos) votou com os senadores do PT, só para ver o governo numa saia justa.

Recursos tem, eles são gastos para sustentar a mais alta taxa de juros do Universo.

Ponto de inflexão na gestão da economia

Interessante a coluna no Martin Wolf publicada no Valor de hoje (23/04/2008). Vejamos algumas partes.




Como observa a mais recente edição da "Perspectiva Econômica Mundial" (PEM), do Fundo Monetário Internacional, "a economia mundial penetrou num território novo e precário". O mais impressionante talvez sejam os contrastes entre a disparada nos preços das commodities e os colapsos no mercado de crédito e entre o crescimento aquecido nas economias emergentes e a recessão incipiente nos EUA.


A resposta da PEM à primeira pergunta é que a economia dos EUA poderá encolher em 0,7% entre o 4º trimestre do ano passado e o 4º trimestre de 2008. Enquanto isso, o crescimento na zona do euro deverá cair para apenas 0,9% entre o 4º trimestre de 2007 e o 4º trimestre de 2008.


Enquanto os mais importantes países de alta renda tropeçam, o quadro para as economias emergentes é de crescimento modestamente reduzido: 7,5% na Ásia emergente neste ano, com China a uma taxa de 9,3% e Índia com 7,9%; 6,3% na África e 4,4% no Hemisfério Ocidental.


No total, está previsto que o crescimento da economia mundial se reduzirá consideravelmente, de 4,9% em 2007 para 3,7% em 2008 (mensurados a taxas de câmbio pelo poder de paridade de compra). Em termos de crescimento a taxas de câmbio de mercado, a desaceleração é mais significativa, numa queda de 3,7% em 2007, para 2,6%. Ainda assim, o crescimento global se manteria bem acima dos níveis de 2001 e 2002.


Isso, portanto, seria um caso de "terremotos de vastas proporções mas não muitos feridos".


Não surpreende que a PEM conclua que os riscos pendem para a expectativa de perda. Tantos podem ser relacionados: agravamento das condições financeiras, riscos inflacionários, choques adversos adicionais no mercado de petróleo e a anulação desordenada dos "desequilíbrios" do sistema de pagamentos globais, especialmente se os investidores decidirem que o Federal Reserve abandonou o seu dever de conservar o poder de compra do dólar.


O que nos levou a esse ponto tem ao menos cinco componentes: o crescimento acelerado das economias emergentes, especialmente a China; a emergência de um gigantesco excedente de poupança em relação a investimento em importantes economias emergentes, particularmente China e países exportadores de petróleo; um período prolongado de baixa inflação e atividade econômica relativamente estável nos países de alta renda; liberalização e inovação financeira; e políticas monetárias de acomodação.


As economias emergentes têm sido as locomotivas do crescimento ao longo dos cinco anos passados: a China respondeu por um quarto; Brasil, Índia e Rússia, por quase outro quarto; e todos os países emergentes e em desenvolvimento juntos por aproximadamente dois terços (mensurados a taxas de câmbio pelo poder de paridade de compra) da expansão mundial.As economias emergentes também têm sido grandes exportadoras de capital.

O excedente de poupança tem sido absorvido em sua maior parte pelos países de alta renda com sistemas financeiros liberalizados peritos em canalizar crédito às pessoas interessadas em tomar emprestado na escala necessária: as famílias.


A PEM apóia o ativismo monetário do Fed e também recomenda relaxamento ao Banco Central Europeu; ele sugere estímulo fiscal arbitrário em alguns países. Propõe também mais apreciação cambial e taxas de juros mais elevadas para alguns países emergentes, especialmente a China. O que mais ressalta, a meu ver, nessa análise, contudo, são as quatro questões de política de prazo mais longo.


A primeira é se o padrão de pagamentos global pode ou poderá se adequar tranqüilamente sem desencadear outra rodada de crises financeiras, provavelmente em economias emergentes, em mais alguns anos. Seriam estas últimas agora robustas o bastante para acumularem déficits em conta corrente de forma segura?


A segunda questão é como administrar política monetária em meio a um vasto choque de preços de commodities. Os linhas-duras da inflação argumentam que a taxa de crescimento nos preços das demais coisas deve ser empurrada para baixo. O resultado seria um período sustentado de fraco crescimento.


A terceira é o que fazer com um sistema financeiro que se portou tão espetacularmente mal. Quão radicalmente deverá a regulação ser mudada?


Por fim, e mais fundamentalmente, será possível obter um consenso em países de alta renda em prol de uma economia liberalizada e globalmente integrada? Como persuadirmos os cidadãos de que a ascensão dos países emergentes, a mais promissora história da nossa era, deve ser bem-vinda, em vez de ser recebida com rancor ou combatida até, num momento em que eles estão experimentando desordem financeira, queda nos preços das moradias, recessão e disparada nos custos das commodities essenciais?


Este ano é um ponto de inflexão. Dependerá de nós fazê-lo virar na direção certa. Não será fácil.

Lebre X tartaruga

As importações crescem numa taxa 308% maior do que as exportações

O superávit comercial brasileiro acumulado até a terceira semana de abril foi de US$4,258 bilhões, valor 64% menor do que o acumulado do mesmo período do ano anterior.

As exportações continuam crescendo. A elevação neste período foi de 13%, no entanto, as importações estão crescendo numa velocidade muito maior: 40%!

No andar da carruagem teremos déficits comerciais ainda neste ano.

Prestar contas

Por ANTONIO DELFIM NETTO


A CADA DIA fica mais evidente que a "ciência econômica" assumiu, nas mãos de alguns dos nossos "cientistas", um caráter de perversão religiosa.


Kant apontou quatro dessas perversões: 1) a teosofia que se utiliza de conceitos metafísicos para confundir a razão ("produto potencial", "taxa natural de desemprego"); 2) a demonologia, que antropomorfiza o Ser Supremo (o Banco Central); 3) a teurgia, a crença de que o Ser Supremo possa se comunicar conosco (o Comitê de Política Monetária - Copom) e 4) a idolatria, a crença de que não estaremos em comunhão com o Ser Supremo se não tivermos fé nas "leis" que ele nos dita.
O símile é tão completo que chamam de "ortodoxo" o portador da crença verdadeira. "Heterodoxo" é todo o resto...


Para assegurar um bem público essencial à coesão social e à eficiência do sistema produtivo, que é a estabilidade do valor interno da moeda, a sociedade impõe ao poder incumbente (o governo passageiro no comando do Estado permanente) limites para a sua ação no campo monetário, onde o oportunismo eleitoral pode produzir profundos estragos socioeconômicos. Não é possível deixar de reconhecer, entretanto, que a autonomia do Banco Central, a quem é transferida aquela tarefa, implica um evidente déficit democrático.


O poder incumbente transitório, escolhido nas urnas, cede (por decisão "preventiva") a missão de garantir a estabilidade do valor da moeda a um grupo de indivíduos de integridade e conhecimento comprovados, mas não-eleito. Fomos, somos e provavelmente continuaremos a ser a favor de um Banco Central autônomo, mas temos imensa dificuldade de aceitar comportamentos idiossincráticos, supostamente suportados não por evidências empíricas fortes, mas pela perversão religiosa de um suposto conhecimento "científico" inspirado na imoralidade ínsita no DNA do sistema financeiro.


Diante das experiências recentes (2004 e 2008), fica cada vez mais claro que a sociedade (o Congresso Nacional) tem que exigir satisfação do corpo "não-eleito". Ele precisa revelar em tempo hábil as razões que informam suas decisões, porque elas influem no PIB e no emprego. Não de forma genérica, não protegidos cada um pela irresponsabilidade dos outros (como nas atas do Copom), mas por votos individuais explícitos, para que a sociedade possa convencer-se da qualidade das decisões tomadas.


Isso é ainda mais necessário agora que o Copom é dominado por um pensamento único que se pretende "científico".


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras na Folha de São Paulo.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2304200806.htm

Serra: atacar projeto de precatórios é ‘trololó’

www.estado.com.br/editorias/2008/04/22/pol-1.93.11...
Serra: atacar projeto de precatórios é ‘trololó’

Governador afirma que mudança vai ajudar a pôr os pagamentos em dia

Silvia Amorim

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), defendeu ontem agilidade na aprovação da proposta de emenda constitucional que modifica a forma de pagamento de precatórios em todo o País. O tucano classificou de “trololó” as acusações de que o projeto oficializaria um calote por parte de Estados e municípios.

“Isso é trololó. Essa história de calote quem está falando não é gente que tem a receber precatório. São grandes escritórios de advocacia e investidores internacionais que compraram esses títulos. É esse pessoal que está estrilando”, afirmou Serra. “A emenda ajuda a ficar com os pagamentos em dia e a respeitar o direito das pessoas.”

A proposta de alterar o pagamento de precatórios - dívidas de governos com decisões judiciais - tramita há anos no Congresso. A versão mais recente da emenda propõe a quebra da ordem cronológica dos pagamentos. A prioridade seria dada a precatórios alimentares (relativos a questões salariais de servidores) ou definidos por lei como de pequeno valor.

Serra disse que o pleito não é só do Estado de São Paulo, que deve R$ 16,3 bilhões em precatórios. “Não sou só eu. Muita gente pediu, governadores e prefeitos”, argumentou o governador, referindo-se à solicitação que fez ao presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Ele confirmou que esteve reunido com o senador e lhe pediu celeridade na tramitação da proposta sobre precatórios.

Reservas escassas de recursos podem travar expansão global

Estoques baixos indicam que era das commodities baratas acabou para sempre

PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"


NOVE ANOS atrás, a "Economist" publicou grande reportagem sobre o petróleo, que na época era vendido por US$ 10 o barril. A revista avisou que essa situação poderia não durar muito tempo. Sugeriu que, em lugar disso, o preço poderia cair para US$ 5. De qualquer maneira, disse a revista, o mundo "está diante da perspectiva de petróleo em abundância e a preço baixo durante o futuro previsível".


Na semana passada, o preço do barril chegou a US$ 117. Não se trata só de dizer que o petróleo desmentiu a complacência de alguns anos atrás. Os preços dos alimentos também subiram, assim como os de metais básicos. E o aumento mundial nos preços dos commodities está trazendo de volta pergunta que não ouvíamos com freqüência desde os anos 1970: as reservas limitadas de recursos naturais vão representar um obstáculo ao crescimento econômico futuro do mundo?


A resposta que se dá a essa pergunta depende em grande medida do que se acredita que esteja motivando a alta nos preços dos recursos. Há três pontos de vista distintos sobre isso. O primeiro diz que a razão principal é a especulação: que os investidores, interessados em obter retornos altos num período de juros baixos, investiram pesado em futuros de commodities, gerando alta nos preços. Segundo essa visão, a bolha deve se romper em algum momento não distante.


A segunda explicação é que os preços crescentes dos recursos devem-se a questões fundamentais -especialmente à demanda dos chineses-, mas que, com o tempo, vamos perfurar mais poços, plantar mais hectares, e o aumento da oferta reduzirá os preços outra vez.


O terceiro ponto de vista reza que a era das commodities baratas acabou para sempre -que estão se esgotando o petróleo, a terra na qual ampliar a produção de alimentos e, de modo geral, as reservas exploráveis do planeta.


Minha opinião fica em algum lugar entre a segunda e a terceira explicações. Algumas pessoas inteligentes -entre as quais George Soros- pensam que vivemos uma bolha de commodities. A objeção que faço a esse argumento é: onde estão os estoques? Normalmente, a especulação empurra os preços dos commodities para cima, motivando o armazenamento deles. Mas não se vêem sinais desse armazenamento: os estoques de alimentos e metais encontram-se em seus níveis historicamente mais baixos e os de petróleo estão apenas normais.


O melhor argumento em defesa da segunda explicação, a de que o arrocho dos commodities é real, mas temporário, está na semelhança entre o que estamos vendo hoje e a crise dos recursos vivida nos anos 1970. O que os americanos mais recordam sobre a década de 1970 são a alta dos preços do petróleo e as filas nos postos de combustíveis. Mas também houve grave crise global de alimentos, que provocou dor nas filas dos caixas dos supermercados e ajudou a causar períodos devastadores de fome generalizada em países mais pobres.


Olhando em retrospectiva, o boom de commodities de 1972-75 foi provavelmente fruto do rápido crescimento mundial, que superou a oferta, aliado aos efeitos de problemas climáticos e do conflito do Oriente Médio. O período difícil chegou ao fim, novas extensões de terra começaram a ser cultivadas, fontes de petróleo foram encontradas no golfo do México e no mar do Norte, e os recursos voltaram a custar pouco.
Desta vez, porém, pode ser diferente. As preocupações sobre o que acontece quando uma economia global em constante crescimento se choca com os limites de um planeta finito soam mais próximas da verdade hoje do que nos anos 1970.



Para começar, não prevejo que o crescimento da China vá diminuir no futuro próximo. É um contraste grande com o que aconteceu nos anos 1970, quando o crescimento no Japão e na Europa, os emergentes da época, diminuiu, aliviando a pressão sobre os recursos.
Enquanto isso, está se tornando mais difícil encontrar recursos. As grandes descobertas petrolíferas, em especial, passaram a ser poucas e raras.
E o mau tempo que prejudica a produção agrícola desta vez está começando a configurar-se como algo mais fundamental e permanente que o El Niño e La Niña, que prejudicaram as plantações 35 anos atrás. A Austrália passa pelo décimo ano de estiagem que, cada vez mais, parece constituir-se numa manifestação de mudanças climáticas de longo prazo.


Suponhamos que estejamos de fato topando com os limites do planeta. O que isso significa?


Mesmo que se verifique que de fato chegamos ao pico da produção petrolífera mundial, ou quase, isso não quer dizer que um dia digamos "oh, meu Deus! O petróleo acaba de se esgotar!" e assistamos à civilização desabar em anarquia ao estilo "Mad Max".
Mas os países ricos vão enfrentar a pressão constante da alta dos preços das commodities sobre suas economias, dificultando a elevação de seu padrão de vida. E alguns países pobres passarão a viver perigosamente perto do abismo -ou cairão nele.
Não olhe agora, mas é possível que os bons tempos tenham ficado para trás.

PAUL KRUGMAN , economista, é colunista do "New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA).

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2204200812.htm

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Fim da onda neoliberal

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Folha de São Paulo 21/04/2008
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2104200806.htm


O socorro ao Bear Stearns e as revoltas em países atingidos pela alta de preço de alimentos marcam esse fim inglório


CHEGOU AO fim a onda ideológica neoliberal que dominou o mundo nos últimos 30 anos no quadro da hegemonia americana. Dois fatos ocorridos nas últimas semanas marcaram esse fim inglório; de um lado, o socorro do banco de investimento Bear Stearns; de outro, as revoltas populares em vários dos 33 países hoje seriamente atingidos pelo aumento dos preços dos alimentos. Essa ideologia reacionária que visava reformar o capitalismo global para fazê-lo voltar aos tempos do capitalismo liberal do século 19 revelou ter fôlego curto. E não poderia ser de outra forma, já que estava em contradição com os avanços políticos e institucionais que transformaram o Estado liberal do século 19 no Estado democrático e social da segunda metade do século 20.


Apoiada na hegemonia americana, a onda ideológica neoliberal teve início em 1980, com a eleição de Ronald Reagan, e chegou ao auge nos anos 1990, com o colapso da União Soviética, mas nos anos 2000 entrou em declínio. Três fatores contribuíram para a crise: 1) o fracasso das reformas e da macroeconomia neoliberais em promover o desenvolvimento econômico dos países periféricos que a aceitaram; 2) o desastre político e humano representado pela guerra contra o Iraque; e 3), mais recentemente, a grande crise bancária que a desregulamentação financeira facilitou.


Nos últimos dias, a intervenção para salvar um banco de investimento e a ameaça de fome causada pela elevação dos preços dos alimentos marcam definitivamente o fim da utopia neoliberal de uma sociedade regulada principalmente pelo mercado. Não preciso de maior argumentação para demonstrar por que o socorro do Bear Stearns tem esse sentido. Conforme afirmou na ocasião Martin Wolf abrindo seu artigo semanal, "lembre a sexta-feira, 14 de março de 2008: foi o dia em que o sonho de um capitalismo de livre mercado morreu". (Folha, 26/ 3/08). Engana-se, porém, Wolf em falar em "sonho". Trata-se antes de um pesadelo, porque, se é verdade que o mercado é um excelente alocador de recursos, mesmo nesse campo precisa de regulação para evitar instabilidade. Já em relação aos demais valores que a humanidade tão arduamente construiu, o mercado é cego, ignorando os princípios mais elementares de honestidade, proteção da natureza e justiça social.


Essa cegueira assumiu caráter dramático com a notícia de que as populações pobres de pelo menos 33 países estão ameaçadas de fome devido à alta dos preços dos elementos. Se a ideologia neoliberal dominante nestes últimos 30 anos não houvesse se encarregado de convencer os países pobres de que não precisavam de suas culturas de produtos alimentícios, de que era mais econômico especializar-se em alguma outra atividade (geralmente de valor adicionado per capita igualmente baixo) e importar seus alimentos básicos, os povos desses países não estariam agora em justa revolta.


Creio que existem boas razões para acreditarmos no desenvolvimento econômico e político dos povos. É absurda, porém, a ideologia que pretende alcançar o bem-estar econômico capitalista sem se beneficiar do desenvolvimento político democrático -sem contar com a ação corretiva e regulatória do Estado democrático e social que tão arduamente a sociedade moderna vem construindo e do qual faz parte um mercado livre mas regulado. Não teremos saudades do neoliberalismo.


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 73, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br

sábado, 19 de abril de 2008

Estadão: Serra ataca alta do juro e prevê déficits comerciais

O Estado de São Paulo 18/04/2008

Para governador paulista, medida piora ainda mais a situação da balança comercial e prejudica o desempenho das transações correntes do País


Silvia Amorim

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), condenou ontem o aumento da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual - chegando a 11,75% ao ano - e afirmou que a medida só vem piorar ainda mais a situação da balança comercial e das transações correntes do País.

“A medida de ontem (anteontem) não tem a ver com nenhuma solução para isso. Pelo contrário”, disse o tucano. “O aumento dos juros tende a agravar a situação da conta corrente, no balanço de pagamentos, porque valoriza ainda mais o real em relação ao dólar, o que encarece as exportações e barateia as importações.”

Em um evento para anunciar a construção na capital paulista da primeira fábrica de hemoderivados do Brasil, Serra fez uma avaliação das principais conseqüências para a economia dessa elevação dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anteontem - foi a primeira alta desde maio de 2005.

O governador paulista mostrou preocupação especial com o aumento da dívida pública. “Eles (os juros) vão encarecer ainda mais o serviço da dívida pública no que se refere aos títulos pós-fixados. Não será nada menos que R$ 2 bilhões por ano.”

Para Serra, a medida vai agravar o que ele considera o maior problema econômico a ser resolvido no País. “O principal problema do Brasil hoje na área da economia é a deterioração do saldo da conta corrente no balanço de pagamentos. O saldo em conta corrente já está negativo e vai se ampliar até o final do ano.”

Economista de formação e ministro do Planejamento no governo de Fernando Henrique Cardoso, Serra fez uma projeção pessimista para os resultados da balança comercial nos próximos meses. “Os déficits comerciais começarão a partir de agosto.” E mandou um recado à equipe econômica do governo: “Essa é hoje a questão número 1 para preocupar aqueles que estão envolvidos com a economia”.

COBRANÇA

Sem citar integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Serra cobrou medidas eficazes para resolver de vez a “deterioração do balanço de pagamentos”.

“Estamos aguardando, digo, nós aqui em São Paulo e o Brasil inteiro, medidas que contrabalancem essa deterioração, que está criando uma situação de estrangulamento externo para a economia brasileira.” E reforçou mais uma vez a preocupação com a valorização do real. “Estamos preocupados com essa deterioração da balança comercial e da conta corrente. E o fator fundamental para isso é a hipervalorização do real. A medida de ontem (anteontem) não contribui para resolver esse problema.”

Serra vê um cenário pouco otimista para a economia, caso nada seja feito em relação ao balanço de pagamentos. “Haverá uma marcha negativa para a nossa economia no futuro”, considerou. Principal nome da oposição para disputar a Presidência da República em 2010, ele ressaltou que o problema não será sentido no curto prazo, mas em gestões futuras. Em seguida, destacou como acredita que um governo responsável deveria tratar o assunto. “Quando estamos na administração pública, devemos ter uma espécie de estrabismo no seguinte sentido: um olho no presente e outro no futuro. Não dá só para olhar o presente.”

quarta-feira, 16 de abril de 2008

COPOM eleva os juros para 11,75%: os rentistas fazem a festa

O COPOM elevou os juros em 0,5 pontos, com isso a SELIC vai para 11,75%. Dessa forma, no Brasil a taxa de juro real, a SELIC menos a expectativa de inflação, vai para 7,15%, ficando cada vez mais longe do segundo lugar no rank dos juros altos, a Turquia (5,6%) e do terceiro, a Austrália (4,6%). A taxa de juro real média mundial está em torno de 0,5%.

O FMI alertou na semana passada o risco de uma elevação nos juros no Brasil provocar uma deterioração ainda maior nas contas externas. O ganho de nas operações de arbitragem está muito elevado; isso é transferência na veia dos recursos gerados no país para especuladores que trazem dólares para ganhar com nossos juros estratosféricos e com a valorização do Real. Esse tipo de recurso não trás nenhum ganho ao país. Tanto é que até o Banco Mundial, celeiro de neoliberais, sugeriu que o Brasil limitasse as entradas de capitais de curto prazo para conter a valorização do Real.

Em qualquer manual ortodoxo de economia aprendemos que num país onde a conta de capitais é aberta, isto é, estrangeiros podem entrar e sair com recursos livremente, a autoridade monetária não tem autonomia para definir uma taxa de juros diferente da taxa praticada no resto do mundo. Assim, a nossa taxa deveria ser muito maior do que a taxa básica norte-americana acrescentada do risco país (na casa dos 230 pontos – 2,3%).


Além disso, num cenário de desaceleração mundial é muito temerário subir-se os juros e esfriar a atividade econômica. Não pressão excessiva da demanda interna, o que vemos são fortes investimentos na expansão da capacidade produtiva e elevações pontuais em algumas commodities no mercado internacional. Qual taxa de juros no Brasil seria capaz de compensar uma alta mundial nos alimentos? Será que o país está tão bem assim para sacrificar o crescimento para acertar a meta de inflação no alvo com quatro casas decimais? O BACEN resolveu aumentar os juros porque sua expectativa de inflação subiu para 4,6%!!! Lembremos que a meta estabelecida é de 4,5% podendo variar 2 pontos para cima ou para baixo.

A economia não é uma ciência exata como a física. Esse preciosismo do Banco Central custa caro à sociedade.

O mundo inteiro fica perplexo com o nível de juros no Brasil, aqui parece estar tudo bem. Nas rodas de bate papo se ouve dizer que os juros estão baixos. Não faltam recursos para investimentos, para a saúde, para as escolas, para a segurança pública...

Estima-se que os gastos com juros aumentarão nos próximos dois anos em cerca de R$10 bi se as “previsões” do mercado forem atendidas pelo BC. O Bolsa Família tem um orçamento de R$ 10,37 bilhões para atender a 11 milhões de famílias em 2008. O PAC prevê gastos fiscais em investimentos no valor de R$14,6 bi. No acumulado em 12 meses até fevereiro foram gastos cerca de R$165 bi em juros (por volta de 6% do PIB!!!).

Precisamos de um Banco Central independente. Independente do mercado financeiro e a serviço do país!

Mais arte do que ciência

Defim Netto Valor 15/04/2008

Os leitores deste jornal devem estar "aturdidos" (como diz o velho tango) com a diversidade de opiniões abalizadas a respeito da política monetária. Talvez uma página no estilo "magister dixit" possa ajudá-los a caminhar nessa selva.

"A economia não é uma ciência, ao menos não no sentido que experimentos repetidos produzem sempre os mesmos resultados. Previsões econômicas são freqüentemente erradas. Nos momentos de mudança no ciclo econômico em particular, dados inadequados, modelos deficientes e choques aleatórios, conspiram repetidamente para produzir resultados insatisfatórios. Ainda mais complicada é a tarefa de atribuir probabilidades aos riscos que rondam as previsões. De fato, essa tarefa é tão difícil que não seria exagero dizer que enfrentamos um mundo fundamentalmente incerto - um mundo no qual as probabilidades não podem ser calculadas - e não apenas um mundo arriscado.


A história econômica é um guia bastante útil neste ponto. A grande inflação dos anos 70 surpreendeu a imensa maioria dos analistas e formuladores de política econômica, assim como o fez o ritmo da desinflação e a subseqüente recuperação econômica depois de efetivamente enfrentados esses problemas. De maneira análoga, praticamente ninguém previu a Grande Depressão dos anos 30 ou as crises que afetaram o Japão e o Sudeste Asiático, respectivamente, no início e no fim dos anos 90. Na verdade, cada declínio foi precedido por um período de crescimento não-inflacionário suficientemente exuberante para levar vários analistas a sugerir a chegada de 'uma nova era'.


Surpresas similares podem ser notadas no nível micro. Por volta da época do colapso da LTCM em 1998, essa instituição enfrentou choques de preços em diversos mercados, que foram quase dez vezes maiores do que podiam ser razoavelmente esperados historicamente. Conseqüentemente, as premissas por ela utilizadas - de que estava adequadamente diversificada, amplamente líquida e bem capitalizada - mostraram-se desastrosamente equivocadas.


Obviamente, alguns irão dizer que a nossa compreensão do processo econômico melhorou graças a essas experiências. Entretanto, tal proposição não é tão fácil de ser provada. Considere, por exemplo, a forma típica com que os economistas de bancos centrais prevêem a inflação futura a partir de modelos econométricos de interação entre preços e salários.

Bancos centrais e mercados não são infalíveis

Para fazer isso de modo acurado, pelo menos cinco questões precisam ser respondidas corretamente: 1) Qual é a melhor forma de medir o excesso de capacidade da economia doméstica? ; 2) Qual é a taxa de crescimento da produtividade? ; 3) As influências externas limitam-se aos preços dos produtos importados? ; 4) Os salários são reajustados a partir das expectativas de preços futuros ou a partir da evolução dos preços passados? ; e 5) Se as expectativas forem importantes, elas são influenciadas pela credibilidade do banco central ou por outras coisas, tal como a inflação corrente ou a inflação percebida? As respostas a cada uma dessas questões são, atualmente, bastante controversas, e quando consideramos outras variáveis econômicas, o grau de dissenso em relação a várias outras questões - fundamentalmente tão importantes quanto as anteriores - é, também, grande.

De fato, à luz de expressivas mudanças estruturais (e das que estão em curso) não é difícil argumentar que a nossa compreensão dos processos econômicos pode ser hoje ainda inferior à que foi no passado. No lado real da economia, a combinação do progresso tecnológico com a globalização revolucionou a produção. No lado financeiro, novos participantes, novos instrumentos e novas atitudes se mostraram igualmente revolucionárias. Por fim, no lado monetário, bancos centrais cada vez mais independentes mudaram bastante, tanto em termos de suas ações quanto no que se refere à comunicação com o público. Em meio a toda essa mudança, poderia alguém seriamente argumentar que se trata de 'business as usual'?

Há, ainda, uma incerteza especial na área de política monetária. Apesar do comprometimento dos bancos centrais com a busca da estabilidade de preços nunca ter sido tão forte, o papel desempenhado pela moeda e pelo crédito tem sido cada vez mais discutido, devido à incerteza de sua relação com o processo inflacionário. Para alguns bancos centrais e, na verdade, muitos acadêmicos de ponta, nem a moeda nem o crédito são tidos como tendo qualquer importância efetiva na condução da política monetária. Para outros, entretanto, o crescimento acelerado de tais agregados pode predizer a inflação ou ser um sinal de um ciclo de expansão e retração impulsionado pelo lado financeiro, com suas próprias e indesejáveis características.


Nessa perspectiva, nem os bancos centrais, nem os mercados são potencialmente infalíveis em seus julgamentos, e isso tem implicações importantes. A implicação para os mercados é que eles precisam continuar a pensar de modo independente. Simplesmente olhar no retrovisor das convicções dos bancos centrais pode ser uma estratégia perigosa. A implicação para os formuladores de política é que eles devem continuar trabalhando para aprimorar a robustez do sistema em face dos inevitáveis, mas inesperados, choques."


O texto no estilo "magister dixit" não é obviamente de autoria do colunista. Foi traduzido do "77th Annual Report" (24/06/2007, pg. 139/140) do banco dos bancos centrais, o Bank for International Settlements (BIS).

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

Tesouro perde com alta dos juros

Valor
Alex Ribeiro, de Brasília

15/04/2008

O Tesouro Nacional vai perder cerca de R$ 10 bilhões nos próximos dois anos caso o Banco Central leve adiante um aperto monetário na duração e magnitude esperados pelo mercado financeiro. Mas, ao contrário do que costumava acontecer, os bancos desta vez não têm nada a ganhar com uma taxa básica mais alta. Hoje, eles estão aplicados em juros prefixados e apostam as suas fichas na expansão do crédito.

O Tesouro sai perdendo porque um bom pedaço de sua dívida é vinculada à taxa Selic - justamente aquela que, nas contas dos analistas do mercado financeiro, será elevada pelo BC dos atuais 11,25% ao ano para 12,75% ao ano até o fim do ano.

A dívida líquida do setor público somava R$ 1,157 trilhão em fevereiro, dos quais 52,4% são indexados à Selic. Os encargos dessa dívida serão tanto maiores quando maior for a taxa Selic média. Nas últimas quatro semanas, depois da sinalização feita pelo BC de que irá elevar os juros, a Selic média projetada pelo mercado para 2008 subiu de 11,25% ao ano para 12,09% ao ano. Caso se confirme essa alta na Selic, o gasto com encargos da dívida em 2008 será R$ 5,1 bilhão maior. Para 2009, os analistas do mercado subiram sua projeção para a Selic média de 10,69% ao ano para 11,52% ao ano, o que tende a ampliar os encargos com juros em R$ 5 bilhões.


Para ter uma idéia das magnitudes envolvidas, o custo anual do aperto monetário equivale à metade da despesa com o Bolsa Família, que tem um orçamento de R$ 10,37 bilhões para atender a 11 milhões de famílias em 2008. Representa ainda 34% dos R$ 14,6 bilhões que o governo planeja investir neste ano com recursos fiscais no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É também uma pressão adicional nos já alentados gastos com juros da dívida, que somaram R$ 163,172 bilhões nos 12 meses terminados em fevereiro.


Ao contrário do que acontecia no passado recente, o Tesouro já não é o único que perde com altas no juro básico. Hoje, uma parte representativa da dívida pública é em títulos prefixados, nos quais o Tesouro paga juros fixos independentemente do que o BC faz com a Selic. Em fevereiro, os títulos prefixados representavam 39,2% da dívida, bem acima dos 1,5% de dezembro de 2002.


Na parcela da dívida prefixada, quem perde são os detentores dos títulos - na maioria, bancos e cotistas de fundos de investimentos. Essa perda já vem sendo sentida nos últimos meses, quando os juros futuros passaram a embutir a possibilidade de alta na taxa básica de juros.


Os bancos, em especial, estão entre os grandes perdedores com a expectativa de alta de juros. Hoje, eles detém 29,97% dos títulos prefixados colocados pelo Tesouro em mercado. Os bancos perdem também em outras operações prefixadas fechadas com agentes privados - a principal delas são os empréstimos concedidos a empresas e pessoas físicas. O relatório de estabilidade financeira do BC mostra que, em junho de 2007, quando os juros futuros começaram a subir, os bancos estavam aplicados em ativos prefixados. As informações do BC são de que, hoje, ainda estão liquidamente aplicados em ativos com juros prefixados.


Um eventual aperto monetário prejudicará os bancos também se desacelerar a expansão de crédito - em geral, os bancos hoje ganham mais com empréstimos do que com operações com títulos. Também haverá prejuízos se o aperto monetário deteriorar as condições macroeconômicas e levar a um aumento da inadimplência. "Se a alta de juros for de até dois pontos percentuais, não deverá ter impacto sobre a expansão do crédito nem sobre a inadimplência", afirma Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.


As pessoas e empresas que investem em fundos de investimentos, em tese, podem ter algum ganho líquido coma alta de taxa de juros. Hoje, 54% dos papéis indexados pela taxa Selic estão no patrimônio dos fundos. Os fundos detêm 43,6% dos papéis prefixados e já perderam com a elevação dos juros futuros.


Na visão do BC, os custos fiscais da política monetária devem ser comparados com os benefícios gerados pelo controle da inflação. Um deles é que, ao longo do tempo, o risco inflacionário menor leva a taxas básicas de juros menores. Inflação fora do controle tem o efeito na direção inversa. A elevação dos riscos inflacionários, por exemplo, fez com que o mercado embutisse um prêmio maior nos papéis do Tesouro. Em abril de 2007, as NTN-Fs, um papel prefixado com vencimento em 2012, embutia uma inflação de 3,6%, na comparação com as NTN-Bs, um papel indexado pelo IPCA. Hoje, a inflação implicita no mesmo papel está em 4,96%, acima da meta de inflação, de 4,5%.


Outro ganho - não fiscal - do controle da inflação é a preservação da renda, sobretudo dos mais pobres. Há pouco mais de um ano, a inflação esperada no INPC nos 12 meses encerrados em fevereiro era de 3,82%, e o índice efetivamente apurado ficou em 5,5%. Essa surpresa inflacionária de 1,7 pp. representa uma perda anual de renda de R$ 170 milhões para os beneficiários do programa Bolsa Família.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Estadão:Dívida já custa 9 meses de trabalho

Estadão:Dívida já custa 9 meses de trabalho
14/04/2008

O brasileiro precisa trabalhar cada vez mais para quitar dívidas de financiamentos. Hoje são necessários mais de nove meses de trabalho para pagar empréstimos. Em 2004, essa conta era inferior a seis meses. O aumento de 60% no comprometimento da renda com empréstimos em três anos é resultado do ritmo de crescimento do crédito ao consumidor, muito superior à massa de salários.

É exatamente esse descompasso entre o crédito e a massa salarial que deve funcionar como um freio no consumo daqui para frente. "Nem precisava subir os juros para arrefecer a economia", diz o consultor para o sistema financeiro e economista pela Universidade de Brasília, Humberto Veiga.

Aumenta risco de cavalo-de-pau

Aumenta risco de cavalo-de-pau
Valor
14/04/2008

O Copom do Banco Central começará esta semana a atacar os efeitos trazidos à economia brasileira pela inflação mundial de alimentos. Para alguns analistas, trata-se de pretensão jactanciosa capaz de empurrar a economia brasileira para a recessão. Exagero? Eles lembram que um pouco mais da metade do IPCA de 12 meses acumulado até março - de 4,73% - resultou da alta de 11,22% sofrida pelo item alimentação. Se a inflação da comida tivesse sido zero nos 12 meses terminados em março, o IPCA do período seria ridiculamente baixo, de 2,27%. O BC sabe que a política monetária brasileira não tem o poder de mitigar um choque de demanda na área da alimentação, que, além de global, não dá mostras de ser transitório. Qual a saída? Agir na metade do índice que não é alimentação. Se a alta dos alimentos não for passageira, para o BC conseguir enquadrar o IPCA na meta de 4,5%, terá de reduzir drasticamente o crescimento da economia. A ficha parece estar caindo entre os analistas: se o BC não quiser acomodar o IPCA de 2008 na banda superior do sistema de metas, tolerando uma alta de até 6,5%, terá de dar um cavalo-de-pau na economia. Só assim sufocará a parte não-alimentícia do IPCA.

Como o BC brasileiro se orgulha de ser o banco central mais conservador do mundo, não parece haver possibilidade de aceitar, por força das circunstâncias globais, um IPCA de 6,5%, preservando produto. E não será fácil provocar uma parada na economia de forma a que a deflação na parte não-alimentícia compense a alta dos alimentos. A porção mais ortodoxa dos economistas de instituições financeiras já defende abertamente aperto monetário prolongado. O início, depois de amanhã, não pode ser o tímido 0,25 ponto consensual. Isso pode passar hesitação e tibieza. No mínimo, o Copom deveria aplicar uma alta de 0,50 ponto. Um dos expoentes dessa ala é o economista-chefe SLW Asset, Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho. Escreveu ele em relatório a clientes: "Estou particularmente pessimista com o tamanho do ajuste uma vez que há uma maior dificuldade da taxa de juros influenciar a atividade pelo canal do crédito. Assumindo que há um choque positivo sobre a atividade, dado pelo crédito consignado e a maior concorrência dos bancos, será mais difícil influenciar a dinâmica das concessões. Desta forma, pode ser que os modelos estejam subestimando o tamanho do ajuste necessário a fim de equilibrar a economia. Assumo aqui que a atividade segue robusta, hipótese que parece bem plausível. A taxa Selic deve alcançar 13,25%, mas existe o risco do ajuste necessário ser superior". Pela mediana do Boletim Focus, 100 instituições pesquisadas na primeira semana de abril esperavam Selic de 12,50% no fim do ano.


Para conduzir o IPCA de volta ao centro da meta, há alguma outra opção a não ser o cavalo-de-pau? A segunda via é a velha e sempre utilizada apreciação cambial. Se a crise financeira americana, cujo efeito mais nefasto globalmente é a ampliação da aversão ao risco, não acabar logo, aumentará a competição internacional pelos capitais. E hoje há uma corrida para saber qual país aumenta mais o juro. Ao divulgar o seu Relatório de Inflação referente ao primeiro trimestre do ano, o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, disse que não era só o BC brasileiro quem ensaia movimento preventivo de aperto monetário. Depois disso, o mercado passou a colecionar os casos de aperto. Há para todos os gostos, tamanhos e continentes: do Chile e Colômbia na América Latina, passando pela China, Coréia e Austrália, no outro lado do mundo, Hungria, Suécia e Polônia na Europa, África do Sul e na remota Islândia. Ou seja, para amordaçar o IPCA sem sacrificar produto, o BC teria de provocar uma nova feroz apreciação cambial. E, para isto, não basta qualquer alta de juro. Tem-se, de novo, um aperto que, além de capaz de dar uma guinada no crescimento, afetará as exportações e ampliará o déficit em conta corrente.


Diante da perspectiva de o BC desencadear um aperto mais drástico que o imaginado, o resultado e o comunicado pós-reunião reavivam o interesse por esse terceiro Copom do ano. Nos EUA, as atenções estarão concentradas nos balanços do primeiro trimestre que importantes instituições divulgarão esta semana. Para amanhã, está prevista a publicação dos resultados do Merrill Lynch e do Bear Stearns. Na quarta, sai o balanço do JP Morgan.

Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças

Colheitadeiras de algodão 'made in Brasil'

Marli Lima
Valor 14/04/2008

A paranaense Montana será a primeira empresa nacional a fabricar colheitadeiras para algodão. A máquina exigiu R$ 10 milhões em investimentos e muita pesquisa, diz Gilberto Zancopé, fundador da empresa. Havia 180 patentes de proteção e a Montana foi buscar a tecnologia da unidade de colheita em Israel. Zancopé terá diante de si dois concorrentes gigantes: Case e John Deere. O plano é produzir 20 unidades em 2008 e 50 em 2009, já com vistas à exportação.

Prosperidade do país é superficial e frágil, diz Mangabeira

Cristiano Romero
14/04/2008
Valor


Ruy Baron /Valor

Roberto Mangabeira Unger: "Culturalmente, somos caracterizados por um pendor para o improviso"

Trabalhando a toque de caixa num "projeto de desenvolvimento" para o país, o filósofo Roberto Mangabeira Unger diz que a atual prosperidade brasileira, decantada em prosa e verso por seu chefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é "aparente", "superficial" e "frágil". Ela é muito dependente, diz o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, do boom dos preços de commodities e da exportação de produtos primários. Se nada for feito, alerta, o Brasil se transformará no resultado da combinação de uma "grande fazenda" com uma "grande maquiladora".


"Essa prosperidade superficial e frágil não nos deve enganar a respeito da situação em que estamos. Ainda não encontramos o caminho necessário da reconstrução industrial", sustenta o ministro, que embarcou há oito meses no governo sob o olhar desconfiado do próprio presidente da República, que o nomeou num gesto de deferência ao vice-presidente José Alencar, colega de partido de Mangabeira - o PRB. Graças à sua ligação com o empresário Daniel Dantas, arquiinimigo de petistas próximos de Lula, o professor quase foi desconvidado na véspera da posse.


O mal-estar da nomeação, segundo atestam assessores diretos do presidente, foi superado. Mangabeira teria conquistado Lula durante reunião, realizada no início do ano, em que fez uma apresentação do esboço do seu projeto de desenvolvimento, baseado em cinco pilares - oportunidade econômica, educação, qualidade da gestão pública, Amazônia e defesa. O presidente, que antes o considerava um "bicho estranho", nas palavras de um auxiliar, passou a festejar sua presença no governo.


A mudança de prestígio é tal que já há, no Palácio do Planalto, quem cogite o nome de Mangabeira para ser o vice da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, numa possível candidatura à sucessão de Lula, em 2010. "A pessoa mais interessada e entusiasmada com o meu trabalho é o presidente. Ainda bem! Ele sabe que não estamos tratando apenas do futuro do país, mas do legado institucional de seu governo", diz o ministro em entrevista ao Valor. Seus principais aliados no governo são os ministros da Defesa, Nelson Jobim, da Educação, Fernando Haddad, da Ciência e Tecnologia, Sérgio Resende, e da Cultura, Gilberto Gil. Fora do aparato do Estado, informa, os cientistas, a igreja e as Forças Armadas.


"Há atributos comuns a esses três grupos: eles se identificam com a perspectiva nacional e estão fora do mundo do dinheiro", justifica. Os militares são os mais animados. Mangabeira desembarcou em Brasília, virou ministro, mas não tinha uma sala para trabalhar. O Comando do Exército lhe cedeu um andar inteiro no prédio do extinto ministério da força.


Adversário ferrenho da atual política econômica, Mangabeira evita falar de macroeconomia. "Não vou mentir aqui e dizer que mudei de idéia. Não mudei, mas não estou tratando disso." Suas críticas, no entanto, vão além. Ele sustenta que o coração do sistema industrial brasileiro é refém de um "fordismo tardio". "Alcança padrões de excelência fabril, mas é relativamente retrógrado no seu cerne organizativo e tecnológico. Ele se mantém competitivo à base de uma restrição dos setores ao fator trabalho", critica.


Na avaliação do ministro, o Brasil cresce tradicionalmente por meio de alguns setores avançados e internacionalizados, que geram riqueza. Parte dessa riqueza é apropriada pelo governo para financiar programas sociais, como o Bolsa-Família. É muito pouco, diz ele. "Agora, a nação e o governo querem mais. Querem transformar a ampliação de oportunidades econômicas e educativas no próprio motor do crescimento. Para isso, é preciso inovar nas instituições, inclusive naquelas que definem a economia de mercado, e essa é uma prática a que nós nunca nos acostumamos", explica.


Como tem restrições ao atual modelo industrial, amparado na concessão de incentivos fiscais e crédito subsidiado a grandes empresas, Mangabeira informa que seu projeto cria uma política industrial "paralela", voltada para pequenas empresas. "Culturalmente, somos caracterizados por um pendor para o improviso, a anarquia criadora e construtiva. Por todas as razões, deveríamos instrumentalizar essa multidão de empreendimentos emergentes com acesso a crédito, tecnologia e conhecimento", defende.


Para atingir esse objetivo, são necessárias, diz o ministro, três medidas: formar práticas e quadros; ampliar o crédito ao produtor; e promover o que chama de "extensionismo tecnológico". No primeiro caso, ele acha que o país avançou com o Sebrae. Quanto ao segundo, conta que está trabalhando com os bancos públicos para "compreender" os obstáculos que impedem a ampliação do crédito.


Nesse ponto, o professor critica formulação bastante disseminada no governo Lula: a de que o país passou a enriquecer à base da ampliação do crédito ao consumidor e da massificação do mercado de consumo, sem antes ter democratizado o acesso ao trabalho e à produção. "Como se olhássemos para a experiência dos EUA e da Europa nas últimas décadas do século XX, sem perceber que aquela massificação do consumo foi antecedida por gerações de luta a respeito da democratização dos acessos aos instrumentos de trabalho e da produção", pondera.


O plano de Mangabeira para o "extensionismo tecnológico" prevê a criação do que chama de "Embrapa industrial". Não se trata de uma empresa unitária, como a atual Embrapa, mas da criação de uma rede de instituições federais e estaduais, além de universidades, destinadas a disseminar novas tecnologias e técnicas de inovação entre pequenas empresas. Esta seria uma forma, diz ele, de romper com o "fordismo" e evitar que o Brasil se transforme na "grande fazenda e maquiladora" do mundo.


A transição do "fordismo" já teria começado a acontecer, segundo o ministro, no centro industrial do país, onde há formas de produção mais flexíveis, densas em conhecimento e sobretudo vocacionadas para a inovação permanente. O desafio, diz ele, é fazer a travessia, "na vasta periferia econômica do país", do pré-fordismo para o pós-fordismo, sem ter que passar pela etapa intermediária. "O país não tem que primeiro virar a São Paulo de meados do século XX para, depois, virar outra coisa", observa.


O projeto de Mangabeira prevê também mudanças profundas no sistema de trabalho, fundado no período Vargas. Seu diagnóstico é pessimista. Segundo ele, a economia brasileira está ameaçada de ficar imprensada entre as economias de trabalho barato e as de produtividade alta. A situação teria se complicado mais ainda porque países de trabalho barato, como a China, estão se tornando também economias de produtividade elevada.


"Isso cria uma situação extremamente negativa para nós, cuja gravidade é disfarçada por essa prosperidade superficial que estamos vivendo", adverte. "Um dos nossos interesses nacionais mais básicos é escapar dessa prensa pelo lado alto, de valorização do trabalho e de escalada da produtividade, e não pelo lado baixo, de aviltamento salarial, não tentar ser apenas uma China com menos gente. Para isso, precisamos reorganizar as relações entre capital e trabalho."


Mangabeira informa que a discussão desse tópico está focada em três temas: informalidade, participação dos salários na renda nacional e regime sindical. No primeiro caso, o principal objetivo é promover uma desoneração "radical" da folha de pagamento das empresas. A contribuição para o Sistema S e o salário-educação sairiam da folha e os benefícios diretos, como as férias remuneradas, ficariam. O financiamento da previdência social, principal item de custo das empresas, sairia da folha e passaria a ser feito por outros tributos.


Quanto à participação dos salários na renda, Mangabeira lembra que ela vem caindo há quase meio século. Trata-se de de uma tendência internacional, mas ele sugere que o problema seja enfrentado por meio de iniciativas institucionais e não apenas por políticas que influenciem o salário nominal, como vem fazendo o governo com o salário mínimo. Sua proposta é que o sistema tributário se torne neutro na base da hierarquia salarial, de forma a não castigar quem emprega e qualifica trabalhadores mais pobres. Para o topo da hierarquia, recomenda a generalização progressiva do princípio constitucional da participação nos lucros, o que, segundo ele, só funcionará se os sindicatos puderem ter acesso à contabilidade das empresas.


No caso do regime sindical, Mangabeira aplaude a legalização das centrais e diz que elas podem desempenhar papel importante na negociação de temas nacionais, como a vinculação de aumentos salariais à elevação da produtividade. "Os países onde é possível negociar esse tipo de vínculo são os que têm estruturas sindicais centralizadas, como os escandinavos. Esse é um papel que as centrais podem exercer no Brasil", aposta. O ministro também se junta às centrais na defesa de que o setor empresarial reconheça o princípio de que, no local do trabalho, o sindicato preponderante represente todos os trabalhadores. "É um exemplo de convergência entre os defensores e os opositores do princípio da unicidade", diz ele.


Por recomendação do presidente Lula, Mangabeira vem conversando com as centrais. Ele diz que, apesar das convergências que tem visto nesse diálogo, não se ilude. "Sei que, quando forem acesos os holofotes da discussão pública, uma parte dessa convergência vai evaporar, mas, se uma parte sobreviver, já será uma grande coisa para o país."


No tema "qualidade da gestão pública", o professor defende a profissionalização de todas as carreiras. Ele conta que se surpreendeu ao chegar a Brasília e descobrir que a maioria dos ministérios não possui funcionários de carreira. "São ministérios fantasmas. Temos ilhas de profissionalismo burocrático, como a Receita Federal e o Itamaraty, flutuando num oceano de discricionarismo político", critica.


Mangabeira combate a idéia de que criar uma burocracia profissional e meritocrática é inchar o Estado. "Criou-se uma antipatia com a idéia de burocracia no Brasil. A direita é contra porque supostamente o mercado é sufocado pela burocracia. O mercado depende da burocracia. A esquerda é contra porque a burocracia é contra a democracia, a radicalização democrática. A radicalização da democracia exige a burocracia. Ambas estão equivocadas", conclui.


Paralelamente à profissionalização, o ministro propõe a criação um órgão independente para avaliar os serviços prestados pelo setor público. Essa entidade não atuaria de forma punitiva, como o TCU, mas para auxiliar os vários órgãos a rever suas práticas.



Em seu modelo institucional, Mangabeira prega a redefinição das relações entre Estado e mercado, escapando dos dois modelos existentes - o americano, em que o Estado apenas regula o setor privado à distância; e o do Nordeste asiático, onde o Estado, por meio de um aparato burocrático, formula uma política industrial-comercial unitária e a impõe de cima para baixo.


O terceiro modelo, que ele deseja fundar no Brasil, prevê a "coordenação estratégica, descentralizada, pluralista, participativa e experimental entre Estado e empresas". O velho conflito entre o Estado e o mercado, diz ele, está morrendo e sendo substituído por um novo que diz respeito às formas alternativas da economia de mercado e da democracia política. "Não é aquele modelo liberal único, que ainda nos fascina - quanto mais Estado, menos mercado; quanto mais mercado, menos Estado. É a idéia de que o mercado não cria seus próprios pressupostos institucionais. Eles são criados na política e no direito. O Estado atua para criar mais mercados abertos a mais pessoas, de mais maneiras, portanto, inovando nas formas institucionais que definem a economia de mercado", teoriza.


O projeto de longo prazo de Mangabeira começa agora. Professor licenciado da Universidade de Harvard, ele diz que não deixou nos EUA sua família, seus livros e seu salário (cinco vezes maior do que o atual) para servir de "enfeite" em Brasília. Se por um lado faz críticas ao modelo econômico vigente, por outro diz que o momento atual é "mágico". "(Seu projeto) é uma visão de país, mas ela tem que estar ancorada em coisas concretas que comecem já. Não acredito no contraste entre o curto e o longo prazo. O único longo prazo que é para valer é o que começa já. O que importa é o caminho, a direção."

Mineração, siderurgia e bancos lideram em lucro

Silvia Fregoni
14/04/2008
Valor

Mineração, siderurgia e setor financeiro, que já haviam liderado o ranking da rentabilidade em 2006, tiveram novamente o melhor resultado (lucro líquido sobre o patrimônio) de 2007 e deverão repetir a dose neste ano. O setor de mineração, puxado pela Vale, teve excelente desempenho, com rentabilidade de 34,7%, conforme levantamento do Valor Data. Preços mais altos, produção maior e a consolidação da compra da canadense Inco garantiram resultados recordes à Vale. A rentabilidade média das empresas abertas ficou em 17,4% em 2007.


Siderurgia e metalurgia, o terceiro setor mais rentável, conseguiu um retorno de 27,6%. "Apesar do aumento do custo dos insumos, como o próprio minério de ferro, as companhias estão conseguindo repassar essa alta para os preços dos produtos vendidos", destaca o estrategista de renda variável da Unibanco Corretora, Vladimir Pinto. Isso é possível devido à forte demanda interna, proveniente da indústria automobilística, e também externa.


Bancos e empresas de serviços financeiros, como a processadora de transações de cartões de débito e crédito Redecard, se beneficiaram do excelente desempenho da economia doméstica. O maior acesso da classe C aos produtos bancários e o desenvolvimento de alguns tipos de financiamentos, como o habitacional e de veículos, impulsionam o setor, que teve rentabilidade de 26,5%. O de finanças e seguros foi de 24,2%.


Uma série de empresas de diversos setores teve a rentabilidade afetada pôr ofertas de ações. Essas operações resultam em aumento do patrimônio líquido e reduzem o indicador, como ocorreu em muitas empresas do Novo Mercado. As companhias do segmento de governança corporativa da Bovespa tiveram retorno de 14,5%, ante a média geral de 17,4% em 2007. Para este ano, a previsão é de que as companhias abertas continuarão a brilhar, ainda que o mercado de capitais não repita a excelente performance do ano passado.

sábado, 12 de abril de 2008

Folha de S.Paulo - Estado terceiriza laboratórios de hospitais públicos

Folha de S.Paulo - Estado terceiriza laboratórios de hospitais públicos - 12/04/2008
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1204200837.htm
Estado terceiriza laboratórios de hospitais públicos


Processo começou há seis meses na capital e na Grande São Paulo e vai se entender às demais instituições da rede

A iniciativa virou objeto de investigação do Ministério Público após denúncias de irregularidades nas terceirizações dos laboratórios

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo estadual está terceirizando todos os laboratórios de hospitais públicos do Estado. O processo começou há seis meses na capital e na Grande São Paulo e vai se entender às demais instituições da rede estadual, segundo o secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata.

A maioria dos exames está sendo feita pelo Laboratório CientíficaLab, comprado em 2007 pelo Laboratório Delboni Auriemo que, por sua vez, pertence ao Diagnósticos da América (Dasa). A contratação é feita por meio de OSs (Organizações Sociais) que administram os hospitais estaduais.

A iniciativa virou objeto de investigação do Ministério Público. Em dezembro, o SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado) entregou um dossiê à Procuradoria Geral de Justiça denunciando irregularidades nas terceirizações, como a falta de contratos próprios e o afastamento de funcionários.
Desde então, entidades representativas de médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde têm protestado contra o processo. Dizem que os hospitais cujos laboratórios foram terceirizados estão sofrendo atrasos nos resultados dos exames e limitação no número de testes.

Entre as unidades terceirizadas pela secretaria está o laboratório de alta complexidade do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência nacional no atendimento de doenças infecto-contagiosas.
A pedido da Procuradoria Geral de Justiça, a comissão de saúde da Assembléia Legislativa elaborou um parecer sobre a questão. O relator, o deputado Uebe Rezeck (PMDB), se posicionou contra a terceirização do Emílio Ribas.
Rezeck considerou injustificável o desmantelamento dos laboratórios próprios do hospital, refutou o argumento do Estado de redução de custos e aventou a preocupação com a qualidade dos exames e com a situação dos funcionários.
Para o deputado, a participação da iniciativa privada só se justificaria para complementar os serviços. No próximo dia 29, o secretário Barradas Barata deve ir à Assembléia prestar esclarecimentos sobre o caso.

Na opinião do médico Carlos Frederico Dantas Anjos, diretor clínico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, a decisão de terceirizar o laboratório da instituição coloca em risco todo o sistema de vigilância epidemiológica hospitalar.
Ele afirma que o governo do Estado deveria dialogar com o corpo clínico na busca por outras soluções que não a terceirização. "Há outras formas de reduzir custos, com metas de desempenho, qualidade e eficiência. Uma das formas é o uso mais eficiente dos recursos de custeio, com centralização de compras de equipamentos."
Anjos exemplifica sua preocupação com a terceirização relatando um caso recente. Ele diz que estava de plantão, em um sábado, quando uma mulher com suspeita de doença coronariana aguda deu entrada no pronto-socorro do Emílio Ribas. Entre os exames, foi pedida a dosagem da troponina (exame que detecta a presença de uma enzima liberada no sangue após a lesão do miocárdio).
O laboratório terceirizado, porém, só teria entregue o resultado do exame na terça-feira seguinte. "Na terça-feira, quando o exame chegou, ela já tinha feito uma angioplastia", conta.

O presidente do sindicato dos médicos, Cid Carvalhares, afirma que já recebeu várias reclamações de médicos sobre as terceirizações de laboratórios. "A maioria é sobre atrasos dos exames", diz ele.

Tercerizar ou implantar gestão?

Do blog do Luís Nassif sobre a terceirização de laboratórios de hospitais públicos no estado de São Paulo

Em princípio, terceirização não pode ser vista como uma prática deletéria. Em muitas empresas, terceirizam-se setores não vitais para concentrar a estrutura gerencial naqueles que são essenciais ao negócio. Muitas vezes terceirizam-se partes essenciais, pela incapacidade de melhorar a gestão. Aí vira gambiarra.

Não sei qual é o caso, mas há críticas consistentes à terceirização de laboratórios de hospitais públicos em São Paulo, conforme matéria de hoje de Cláudia Colucci, na Folha (clique aqui).

Sem ter ainda uma opinião formada, vamos às informações principais da matéria e aos argumentos que constam da matéria, contrários a essa terceirização:

1. A maioria dos exames está sendo feita pelo Laboratório CientíficaLab, comprado em 2007 pelo Laboratório Delboni Auriemo que, por sua vez, pertence ao Diagnósticos da América (Dasa). A contratação é feita por meio de OSs (Organizações Sociais) que administram os hospitais estaduais.

(N.do B: uma observação pessoal. Há um ou dos anos fiz meus exames de check-up no Delboni Auriemo, perto do meu escritório. Para exames um pouco mais complexos, meu próprio médico apresentou ressalvas ao laboratório. Visitando as instalações é nítida a sensação de que há uma deterioração no atendimento, ou fruto do crescimento vertiginoso dos últimos anos ou de outros problemas).

2. Entidades representativas de médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde têm protestado contra o processo. Dizem que os hospitais cujos laboratórios foram terceirizados estão sofrendo atrasos nos resultados dos exames e limitação no número de testes.

3. Entre as unidades terceirizadas pela Secretaria está o laboratório de alta complexidade do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência nacional no atendimento de doenças infecto-contagiosas.

4. Na opinião do médico Carlos Frederico Dantas Anjos, diretor clínico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, a decisão de terceirizar o laboratório da instituição coloca em risco todo o sistema de vigilância epidemiológica hospitalar. (...) "Há outras formas de reduzir custos, com metas de desempenho, qualidade e eficiência. Uma das formas é o uso mais eficiente dos recursos de custeio, com centralização de compras de equipamentos”, (diz ele).

5. Ele diz que estava de plantão, em um sábado, quando uma mulher com suspeita de doença coronariana aguda deu entrada no pronto-socorro do Emílio Ribas. Entre os exames, foi pedida a dosagem da troponina (exame que detecta a presença de uma enzima liberada no sangue após a lesão do miocárdio). O laboratório terceirizado, porém, só teria entregue o resultado do exame na terça-feira seguinte. "Na terça-feira, quando o exame chegou, ela já tinha feito uma angioplastia", conta.

Comentário

Vale uma boa discussão esse modelo de contratos de gestão, criação de fundações ou terceirização de hospitais públicos - nas áreas federal e estadual.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Terrorismo do BACEN

Vale a pena ler o artigo do Delfin Netto na Folha de ontem (09/04/08). Ele critica a atuação do BC, que tenta a todo custo justificar uma alta nos juros.


ANTONIO DELFIM NETTO

O Copom é autônomo

NA ÚLTIMA semana, o Brasil assistiu a um espetáculo de intrigas nos meios de comunicação para "afirmar" a autonomia do Banco Central diante do "jurássico" Ministério da Fazenda.

Como? Iniciando já um movimento de elevação da taxa de juros. O "merchandising" financeiro conseguiu quase unanimidade na direção do movimento. Para evitar eventual processo de formação de cartel, os agentes "fixaram" taxas de juros diferenciadas para a Selic em dezembro: de acordo com a "qualidade" da pseudociência, elas variaram de um modesto 12,5% até um fantástico 13,75%!

Tratou-se de um evidente suporte do "mercado" ao ridículo "terrorismo" da última ata do Copom. A coisa tem um ar estranho. Ouvindo a autoridade monetária e lendo as análises do sistema financeiro, alguém que ontem tivesse chegado de Marte concluiria que o Brasil está sob grave ameaça de voltar a uma superinflação, que deve ser "preventivamente" combatida por um "superjuros".

O "Relatório de Inflação", nos seus números (quando não afirma o óbvio, "que o Banco Central vai fazer o que tem que fazer"!), é mais tranqüilizador. No seu cenário básico (crescimento de 4,8%, taxa Selic de 11,25% e taxa de câmbio de R$ 1,70), ele estima as seguintes taxas de inflação anual para dezembro de 2008:

E, para o final de 2009, a projeção central é da ordem de 4,4%. O IPCA acumulado de 12 meses, até fevereiro, foi de 4,6%, fortemente influenciado pelo comportamento dos preços da carne, do leite e do feijão, o que tem pouco a ver com "excesso de demanda". De fato, sem esses três produtos, o IPCA de 12 meses é de 3,4%.

A preocupação com o aumento dos preços dos serviços é justificada. Eles refletem as conseqüências de um aumento da demanda produzido pela modificação na distribuição de renda, ainda não acompanhada pela oferta. E como se ajustaria a oferta senão por um aumento de preços relativos? O importante é que eles não têm a capacidade para reproduzirem-se como um processo inflacionário. Os salários reais na economia estão crescendo menos do que a produtividade (o que explica o aumento dos lucros), e o mercado de trabalho civilizou-se e encontrou formas de remuneração ligadas aos resultados das empresas.

Não parece portanto razoável iniciar um aumento da Selic que terá graves conseqüências sobre o custo da dívida pública (o mercado já ajustou o juro) apenas para "provar" a autonomia do Copom. Afinal, 4,5% é teto ou é meta?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Dá prá levar a sério as agências de risco

Depois de vários fiascos nos últimos anos dá prá levar a sério o que dizem o pessoal das agências de risco?

Lembramos alguns fatos recentes:
1)a Argentina tinha risco menor que o Brasil, quem deu o cano?
2)Bancos norte-americanos quase falidos, seguradoras e títulos lastreados em empréstimos eram classificados por essas agências como de baixo risco.

Hoje a presidente da filial brasileira da agência de classificação de risco Standard & Poor´s, Regina Nunes, disse que a austeridade da política monetária vai acelerar a obtenção pelo do grau de investimento.

Não bate! O câmbio valorizado por causa do juros altíssimos praticados pelo no BC está levando a uma deterioração muito rápida na nossa conta corrente. Em meio à uma crise internacional e previsão de baixa nos preços das commodities o BC não se mostra nem um pouco preocupado com as contas externas, cisma em ver inflação onde não há para poder justificar uma alta nos juros.

Se a situação está se deteriorando, como o Brasil está mais perto do grau de investimento? O risco país não mede a capacidade de pagamento da dívida soberana?

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Estado de SP entrega à editora Abril o ensino de "atualidades"

Do blog do Nassif

O portal do principal veículo da Abril, a Veja, aquele que reflete a opinião da casa, dissemina opiniões racistas, homofóbicas, intolerância, difamação e agressividade. A própria revista tem como linha editorial disseminar o ódio e a intolerância. A revista é claramente partidarizada. Enfim, nenhum dos atributos que se espera de um educador.

A imagem da Abril pedagógica, responsável, é uma foto esmaecida, dos tempos em que publicava "Os Pensadores", "Os Economistas", os fascículos. Hoje em dia, a cara da Abril é a cara da Veja.

Mesmo assim, a Secretaria da Educação entrega à Abril a responsabilidade pela seleção e análise dos fatos contemporâneos, para todos os alunos da rede estadual.

Recentemente entrevistei a Secretária Maria Helena que me disse que o Estado iria desenvolver cursos apostilados, comprando conteúdo e direitos autorais dos professores, para ter controle sobre o material e reduzir os custos.

Montar um sistema de publicação de notícias e análises, como esse da Abril, depende de duas coisas simples: uma redação com poucos nomes; e uma gráfica do Estado. E o Estado tem a Imprensa Oficial, das maiores gráficas do país.

Seria bom a Secretaria explicar melhor a natureza desse contrato.

domingo, 6 de abril de 2008

Bancário comete suicídio dentro da agência no interior de SP

26 de fevereiro de 2008
(Campinas) Um bancário, de 44 anos, de uma agência de Estiva Gerbi (SP), morador em Mogi Mirim (SP), cometeu suicídio na manhã desta terça-feira (26) dentro da própria agência onde trabalhava como gerente. Segundo informações reveladas para a elaboração do Boletim de Ocorrência (BO), o gerente disse ao vigia que pretendia comprar uma arma e pediu para ver o revólver de calibre 38 que ele portava. O funcionário entregou a arma descarregada. O gerente percebeu e pediu também a munição e o vigia, novamente, atendeu ao pedido.

Em seguida, viu quando o gerente se afastou e trancou-se no banheiro. Logo após, ouviu o barulho do tiro. Após chamar a subgerente, eles arrombaram a porta e se depararam com o corpo ensangüentado. O homem havia se matado com um tiro na cabeça através da boca. A Polícia Militar e a Guarda Municipal rapidamente chegaram ao local e acionaram a Polícia Civil e a Perícia Técnica.

A polícia não sabe o que teria levado o gerente ao ato e irá investigar o suicídio. No local, algumas pessoas disseram que ele costumava reclamar da "pressão", porém essas pessoas não quiseram se identificar nem fizeram declarações para a imprensa. O vigia, que entregou a arma e a munição para a vítima, não quis falar com os jornalistas alegando que não queria "se comprometer".

Fonte: Seeb Campinas

Mais de 60% dos clientes do Crediamigo sairam da linha de pobreza

Mais da metade(60,8%) dos clientesdo Programa de Microcrédito Produtivo Orientado do Banco do Nordeste, Crediamigo, saíram da linha da pobreza e deixaram para trás sua condiçãode miserabilidade.

Esta foi apenas uma das conclusões do “Estudo do Perfil Sócio-Econômico dos Clientes do Crediamigo do BNB”, elaborado pelo chefe do Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), professor Marcelo Neri.

O estudo descreve e analisa quantitativamente a atuação do Programa Crediamigo, a partir de uma base de dados composta pelas pesquisas da Economia Informal Urbana (Ecinf) de 1997 e 2003, utilizando regressões logísticas e o método de diferenças em diferenças.

“Quem quiser conhecer uma experiência de microcrédito de excelente qualidade com escala, sustentabilidade, retorno privado - aos clientes, que chega às mulheres e aos pobres e, portanto tem conseqüência social, não é preciso sair do País. Basta visitar o Crediamigo. Apesar de pouco conhecido do público doméstico, o programa não deixa nada a dever às melhores iniciativas internacionais. O Crediamigo, em função dessas características e por adotar a metodologia de aval solidário, é o Autentico Grammen Bank brasileiro!”, afirma Marcelo, comparando o Programa à experiência ícone de microcrédito em Bangladesh, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2006.


Linha da pobreza


O professor da FGV informa que a velocidade média de saída da linha da pobreza para os clientes do Crediamigo é de 7% a 8%.


Segundo ele, a probabilidade de um cliente do Programa ultrapassar a linha da pobreza aumenta consideravelmente a cada seis meses, quando ele se mantém como cliente ativo, e mais ainda quando permanece mais de 5 anos no Programa. Para os clientes novatos, a probabilidade varia de 35,72% a 40,69%, dependendo da linha utilizada.


Microcrédito nordestino


Marcelo Neri garante que o Crediamigo é o grande responsável pelo sucesso do microcrédito na Região Nordeste, cujas taxas de crescimento são superiores às brasileiras.


Ele informa que, comparando os resultados das duas pesquisas ECINF, publicadas pelo IBGE em 1997 e 2003, o acesso ao crédito na Região Nordeste subiu de 3,97% para 6,27%, enquanto nas outras áreas urbanas brasileiras passou de 5,34% para 5,99%. Para ele, estes resultados consolidam a atuação do Programa, que ocupa atualmente 60% do mercado nacional de microcrédito orientado.


Histórico

Há 10 anos em atuação, o Crediamigo já contratou mais de 4 milhões de operações de microcrédito, já tendo atendido mais de 766,5 mil clientes.

Somente no ano passado, foram desembolsados R$ 794,2 milhões, distribuídos em 824,7 mil microempréstimos. Se for considerado o tempo da atual gestão, iniciada em janeiro de 2003, estes números sobrem para R$ 2,7 bilhões e 3 milhões de empréstimos, respectivamente, na posição de dezembro de 2007.

O Programa oferece serviços financeiros e assessoria empresarial, utilizando metodologia de concessão do crédito baseada no aval solidário, contribuindo para o desenvolvimento do setor microempresarial, assegurando novas oportunidades de ocupação e renda, de forma sustentável, oportuna, adequada e de fácil acesso.

http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/Produtos_e_Servicos/Crediamigo/gerados/O_que_e_objetivos.asp

terça-feira, 1 de abril de 2008

Rede de celular LTE atinge 250 Mbps no Japão

A rede Super 3G da operadora de celular japonesa NTT DoCoMo Super 3G, atingiu 250 Mbps em teste.

A rede Super 3G, também chamada de LTE (Long Term Evolution), está sendo padronizada pela 3GPP (Third Generation Partnership Project). É considerada 4G, sucessora da tecnologia WCDMA/UMTS, que está começando a ser usada no Brasil para a 3G.