Da Carta Capital 26\fevereiro
LIDERADOS POR UM POLÍTICO CORRUPTO, ESTUDANTES TOMAM AS RUAS NA VENEZUELA
Tentamos ir ao morro convencer os pobres a descer e nos ajudar, mas não nos deixaram entrar. São muito ignorantes. não sabem da realidade e por isso apoiara o governo. Isso é o chavismo", relata Victoria Guevara, de 19 anos. Acompanhada do irmão Raul, de 21, e um grupo de universitários, ela se "aventura" a cruzar a zona confortável do leste de Caracas para ir a Petare, uma das maiores favelas da América Latina. Integrantes do conselho e comunitário chavista, diz a estudante, interditaram o caminho. "Fomos expulsos." Os irmãos Guevara são ativos participantes do movimento que há mais de uma semana tomou as ruas de várias cidades para protestar contra o governo do presidente Nicolás Maduro, herdeiro político de Hugo Chávez, morto no ano passado. "Não podemos esperar até 2019, quando termina o mandato de Maduro, para acabar com isso", afirma o impaciente Raul. Em meio a uma manifestação no leste da capital, o rapaz reclama da impossibilidade de um "futuro exitoso", que, para a classe média local, significa comprar um carro de luxo e passaras férias em Miami. Raul estuda Engenharia. Direito é o curso da irmã, que se considera "prisioneira" e lamenta os efeitos da escassez de produtos em sua vida. "Não quero ficar na fila para conseguir comida. Quero viver bem, poder comprar o que desejo. Eu tenho educação e não tenho de me submeter a isso."
Tentamos ir ao morro convencer os pobres a descer e nos ajudar, mas não nos deixaram entrar. São muito ignorantes. não sabem da realidade e por isso apoiara o governo. Isso é o chavismo", relata Victoria Guevara, de 19 anos. Acompanhada do irmão Raul, de 21, e um grupo de universitários, ela se "aventura" a cruzar a zona confortável do leste de Caracas para ir a Petare, uma das maiores favelas da América Latina. Integrantes do conselho e comunitário chavista, diz a estudante, interditaram o caminho. "Fomos expulsos." Os irmãos Guevara são ativos participantes do movimento que há mais de uma semana tomou as ruas de várias cidades para protestar contra o governo do presidente Nicolás Maduro, herdeiro político de Hugo Chávez, morto no ano passado. "Não podemos esperar até 2019, quando termina o mandato de Maduro, para acabar com isso", afirma o impaciente Raul. Em meio a uma manifestação no leste da capital, o rapaz reclama da impossibilidade de um "futuro exitoso", que, para a classe média local, significa comprar um carro de luxo e passaras férias em Miami. Raul estuda Engenharia. Direito é o curso da irmã, que se considera "prisioneira" e lamenta os efeitos da escassez de produtos em sua vida. "Não quero ficar na fila para conseguir comida. Quero viver bem, poder comprar o que desejo. Eu tenho educação e não tenho de me submeter a isso."
Jovens como Raul e Victória são a base dos protestos violentos e protagonistas dos confrontos coma Polícia Nacional que duram mais de uma semana. Por trás dele há, porém, um político esperto. Leopoldo López tem 43 anos, nasceu de uma família com negócios na indústria e no setor do petróleo, estudou em Harvard e simboliza a elite venezuelana. Quando prefeito de Chacao, município rico e bunker do antichavismo próximo a Caracas, acabou deposto por receber dinheiro da PDVSÀ, estatal venezuelana de petróleo, para fundar o então partido de oposição Primeiro Justiça. A verba foi repassada por sua mãe, Antonieta Mendonza, gerente da petroleira. López também foi acusado de se apropriar de parte dos salários de funcionários municipais.
Sem viabilidade política, por estar impedido de disputar eleições, o ex-prefeito decidiu assumir o comando da ala mais radical do antichavismo. Os protestos fazem parte do plano chamado de "A Saida" cujo objetivo é forçar a renúncia de Maduro. O clima interno favorece as manifestações. Nas prateleiras dos supermercados faltam itens básicos de consumo, e até papel higiênico. A inflação chegou a 56% ao ano e o aumento da criminalidade assusta os venezuelanos. Segundo o governo, a crise de abastecimento é fruto de uma "guerra econômica" promovida pela oposição, que controla as redes de distribuição de alimentos e grande parte das importações.
Na região metropolitana de Caracas, os protestos são divididos em dois atos, em especial em Chacao. Desde 12 de fevereiro, jovens de classe média protestam durante o dia de forma pacífica. Empunham cartazes com críticas a Maduro e ao chavismo. À noite cedem lugar a grupos de choque. Encapuzados, motoqueiros assumem a rebelião e promovem terror entre a vizinhança. Instalações públicas, bancos e estações de metrô viraram alvo constante de apedrejamento e incêndios. Ao amanhecer, o cenário é de depredação e desolação.
Nas redes sociais, vídeos amadores exibem a repressão policial e o enfrentamento com tiros dos dois lados em meio a barricadas de fogo. Também na internet, manifestantes ensinam a preparar coquetéis molotov. No estado de Táchira, fronteira com a Colômbia e região onde se iniciaram os protestos, paramilitares têm espalhado o terror, denuncia o governo. Em Àragua, 2 mil munições de alto calibre foram encontradas em uma casa ao lado de galões de gasolina. Para Maduro, há uma tentativa de golpe de Estado apoiada por Washington. Na segunda-feira 17, a Venezuela expulsou três funcionários da embaixada norte-americana sob a acusação de conspiração e financiamento das ações radicais.
Tanto o governo quanto a ala moderada da oposição, contrária aos protestos, temem que os confrontos saiam do controle. O presidente reiteradamente pede calma aos chavistas e promete levar à cadeia quem usar armas de fogo em nome do movimento bolivariano.
"As ordens são muito claras: preservara paz, o respeito construir convivência, amansar os loucos fascistas, amansá-las com a lei, com autoridade" discursou. Em uma tentativa de afastar o fantasma de um golpe militar, as Forças Amadas emitiram um comunicado, em que afirmam a unidade na defesa da Constituição e do presidente.
Do lado da oposição. Henrique Capriles, derrotado por Maduro nas últimas eleições presidenciais, não poupa críticas a López. Ele classifica de aventureiro o movimento "A Saída" e rejeita uma tomada de poder pela força, até por falta de apoio popular. "E preciso entender que, se o povo humilde não saias ruas, não há maneira de promover mudanças."
"As ordens são muito claras: preservara paz, o respeito construir convivência, amansar os loucos fascistas, amansá-las com a lei, com autoridade" discursou. Em uma tentativa de afastar o fantasma de um golpe militar, as Forças Amadas emitiram um comunicado, em que afirmam a unidade na defesa da Constituição e do presidente.
Do lado da oposição. Henrique Capriles, derrotado por Maduro nas últimas eleições presidenciais, não poupa críticas a López. Ele classifica de aventureiro o movimento "A Saída" e rejeita uma tomada de poder pela força, até por falta de apoio popular. "E preciso entender que, se o povo humilde não saias ruas, não há maneira de promover mudanças."
Apesar da crescente tensão nas ruas, os analistas políticos não acreditam na possibilidade de a oposição radicalizada conseguir apear Maduro do poder. "Todo mundo tem o direito de protestar, mas é incorreto afirmar que os protestos ocorrem pelo fato de Maduro estar enfraquecido", afirma Luls Vicente León, da consultoria Datanafisis. "Não se pode pretender dar um chute no presidente e tomar seu lugar sendo minoria, sem ter sido eleito."
Na terça-feira 18, os irmãos Guevara esperavam com ansiedade a chegada de López a uma praça no leste de Caracas. Agora à frente do partido Vontade Popular, López se reuniria à manifestação para, em seguida, e em uma encenação digna de novela, se entregar aos policiais escalados para acompanhar o protesto. A Justiça havia emitido uma ordem de prisão contra o excretei to por incitação à onda de violência que até a quinta-feira 20 havia provocado seis mortes, além de dezenas de feridos.
"Hoje me apresento a uma Justiça injusta, corrupta (...) se a minha prisão servir para despertar o povo, valerá a pena", discursou antes de se entregar. Jogo de cena, López negociara sua rendição com o governo. O acordo foi costurado entre a família do ex-prefeito e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, número 2 do chavismo. Motivo: uma gravação obtida pelo serviço de inteligência venezuelano revelara que grupos de extrenia-direita pretendiam assassinar López para transformá-lo em mártir, culpar Maduro e aprofundar a crise política.
As investigações sobre as mortes ocorridas nos protestos ainda estão em curso. Imagens de vídeos fotografias indicam, no entato que agentes do serviço de inteligência do governo foram os responsáveis pelos três primeiros assassinatos (dois opositores e um chavista) na semana anterior, Os agentes desobedeceram às ordens do presidente para se aquartelar no dia do protesto. O diretor do serviço secreto foi demitido e três policiais estão presos.
As investigações sobre as mortes ocorridas nos protestos ainda estão em curso. Imagens de vídeos fotografias indicam, no entato que agentes do serviço de inteligência do governo foram os responsáveis pelos três primeiros assassinatos (dois opositores e um chavista) na semana anterior, Os agentes desobedeceram às ordens do presidente para se aquartelar no dia do protesto. O diretor do serviço secreto foi demitido e três policiais estão presos.
Enquanto Victória Guevara pintava de branco as mãos de seus colegas, símbolo do movimento opositor, em outro canto da cidade, preocupado com o enfrentamento entre estudantes e policiais. Luis Ordaz ensinava alunos do ensino médio a preparar as cores usadas em um mural em homenagem ao cantor Alí Primera. De família opositora, Ordaz integra o coletivo cultural chavista Comando Criativo. "Sou a ovelha negra", brinca. Segundo Ordaz, a oposição "entra numa onda de loucura" quando não há eleições. "Se querem mudar o presidente, convoquem um referendo revocatório. Pela força, não vamos permitir". A Constituição prevê a possibilidade de um referendo sobre o mandato presidencial na metade do governo.
Ordaz diz gostar de Hugo Chávez desde pequeno. "Adorava me fantasiar para defender minhas irmãs. As vezes era de Ninja, outras de Rambo, Até que vi Chavez na tevê e troquei a faixa vermelha pela boina." O artista ressente-se, porém, da falta de um programa chavista para atrair a juventude. "Acabámos por entregar esses jovens à direita".
No outro extremo, no bairro 22 de Enero, bastião bolivariano, sobra indignação. Para Luiz Vásquez, do comitê de saúde, há 15 anos a oposição luta para retomar o controle da renda gerada pelo petróleo. A Venezuela é o quinto maior exportador mundial de óleo cru e possui a maior reserva petrolífera do mundo. "A maioria apoia o projeto socialista e na democracia isso se resolve assim, na base do voto". Vásquez se diz incomodado com as reclamações de estudantes de classe média em relação à alta dos preços e à falta de produtos. "Nós é que estamos fazendo fila, aguentando a inflação e essa crise toda por culpa deles, da sabotagem dessa oposição."
Sobre o motivo de a população de baixa renda não apoiar os protestos, ele é taxativo: "Em 2002, eles deram um golpe e em 48 horas desmantelaram todas as instituições democráticas, nos perseguiram por ser chavistas e a situação só piorou. No dia que quiser mudar as coisas, o povo vai descer o morro, mas não será com eles que irá ao baile".
Nenhum comentário:
Postar um comentário