Da Isto É
N° Edição: 2274
| 14.Jun.13 - 20:45
| Atualizado em 26.Jun.13 - 23:34
Marmelada mineira
Crimes do mensalão tucano podem prescrever em função das decisões burocráticas incomuns que a juíza do Tribunal de Justiça de Minas Gerais impõe ao processo envolvendo integrantes do PSDB
Josie JeronimoHá dois anos e meio, a Justiça de Minas Gerais recebeu a denúncia do chamado mensalão mineiro, esquema de desvio de recursos públicos que abasteceu o caixa de campanha de políticos do PSDB local e, tal qual o do PT, também era operado pelo publicitário Marcos Valério. De lá para cá, o processo transcorre em ritmo lento e os crimes imputados aos principais envolvidos caminham para a prescrição. É uma situação bem diferente da que se verificou no julgamento contra a cúpula petista, que já se encontra em fase de apresentação de recursos no STF. No processo mineiro, nem todas as testemunhas foram ouvidas e muitas não foram sequer intimadas. Dos 130 mandados expedidos até agora, apenas 75 chegaram às mãos dos destinatários. Contrariando o trâmite usualmente adotado pela Justiça, testemunhas que moram em oito cidades vizinhas a Belo Horizonte estão sendo ouvidas por carta precatória. Depoentes do município de Nova Lima, a 20 quilômetros da capital, por exemplo, foram acionados por correspondência, em vez de comparecer a audiências no Fórum Lafayette, no bairro Barro Preto, região central de Belo Horizonte.
OS RÉUS AGRADECEM
Esquema de desvio de recursos públicos que abasteceu o caixa de
campanha de políticos do PSDB local, operado por Marcos Valério,
só será julgado depois das eleições de 2014
Sem pressa aparente para concluir o processo, Neide decidiu reservar apenas um dia da semana para analisar o caso. Nos outros, debruça-se sobre outros processos sob sua batuta. Para tornar o trâmite ainda mais lento, audiências de instrução são escassas e costumam ser desmarcadas no decorrer da tramitação. Na última sessão, do dia 7 de junho, a juíza estava afônica e cancelou a reunião. Formada em letras antes de cursar direito, Neide também aplica aos advogados do mensalão mineiro uma cartilha de padronização de texto, dando margem para os defensores ganharem mais prazo ao reformar peças fora das normas de estilo ditadas pela magistrada.
A burocrática condução do mensalão mineiro pela magistrada já produziu
até folclores. No ano passado, Neide suspeitou que o advogado Leandro
Bemfica, representante de Eduardo Guedes – ex-secretário do governo
Eduardo Azeredo e responsável pela produção do programa nacional do
PSDB –, estava piscando para uma testemunha. O objetivo seria o de
conduzir o conteúdo do depoimento. A juíza arguiu o advogado, que
saiu-se com esta: “Eu pisquei porque estamos apaixonados”, justificou. A
juíza aceitou a explicação esdrúxula e seguiu com o depoimento. No
esquema mineiro, Guedes tinha atuação semelhante à de Luiz Gushiken,
ex-ministro absolvido no mensalão. À ISTOÉ, o advogado justificou a
provocação atribuindo a história a um “incidente de audiência”. Ele
afirma que a demora no julgamento prejudica seu cliente, profissional da
área de comunicação. “Nós temos o maior interesse que seja julgado
logo, porque meu cliente está sofrendo danos profissionais”, afirmou.
Durante a semana, a ISTOÉ procurou a juíza por meio da assessoria do
TJMG. Ela informou que não poderia falar sobre o processo, pois a ação
ainda está em curso, e não respondeu às perguntas enviadas pela
reportagem.
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