quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Legado Lula I - Um Colchão de Segurança

Recebi de um amigo um texto do Stephen Kanitz defendendo a manutenção de elevadas reservas cambiais. Só que o camarada, mesmo depois da crise só pensa em função do mercado financeiro. Aqui vai minha resposta e abaixo o texto do Kanitz.


Já parou para estimar o custo destas reservas? No mínimo uns R$30 bilhões por ano. É um custo muito alto, é mais que os gastos com edução. São mais de 3 bolsa-família. E para que servem essas reservas? Para garantir a saída tranquila dos especuladores que vêm aqui ganhar muito no mercado financeiro: ganham nas ações, na dívida pública e com a valorização do real. Esse dinheiro de curto prazo pouco contribui para o desenvolvimento do país.

Não vivem dizendo que o Brasil depende de capital estrangeiro para se financiar? Mas as reservas não são aplicadas em títulos da dívida dos EUA? Você tomaria dinheiro emprestado no cheque especial para aplicar na poupança? Mas é essa a política das reservas.

Essa conversa de que precisamos atrair capital estrangeiro é conversa fiada. Entram os dólares, o BC compra os dólares e em contrapartida emite dívida pública. Ele fica sentado nesses dólares até que o "investidor" decide sair ao menor sinal de crise. E somos nós contribuintes que sustentamos essa farra.

Há outros meios de manter certa estabilidade cambial. Por exemplo o professor de Economia Política Internacional de Harvard Dani Rodrik sugere que os países em desenvolvimento como o Brasil limite a entrada ou a saída de capitais de curto prazo. Afinal é esse capital volátil que entra num primeiro momento valorizando o câmbio, tirando competitividade das nossas empresas e estimulando importações. No momento seguinte esse mesmo capital sai de forma desordenada bagunçando as contas externas.

O capital que o Brasil precisa é daquelas empresas que vem para cá construir fábricas, trazer novas tecnologias. E boa parte desse capital está aqui mesmo, nos fundos girando em falso na ciranda da dívida pública. Um autor que explica bem a questão das distorções causadas no Brasil pelo excesso de liberdade do capital financeiro internacional é Bresser-Pereira (professor da FGV). Não é o autor que mais admiro, mas é bem didático nesta questão.

Tentativa de crescer com poupança externa é estratégia errada
Valor Econômico, 18.9.2009
http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=3557
Crises financeiras nos anos 1990 e poupança externa
http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=2927
É o câmbio, sr. presidente
http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=3491



2009/10/5 E. R. I. <xxxxxx@gmail.com>

Legado Lula I - Um Colchão de Segurança

Stephen Kanitz

http://blog.kanitz.com.br/2009/10/o-legado-lula-i-um-colchao-de-seguranca.html

Publiquei em 2004 na Veja, o artigo "Faça um Colchão de Segurança", onde colocava uma preocupação com o baixo nível de reservas internacionais do Brasil na época, e que diante da crise que viria em 2008 foi presciente.

"Volatilidade faz parte da vida - e sempre fará. O correto é conviver com ela, e não tentar impedi-la.

Governos anteriores acreditavam que saberiam intervir inteligentemente no câmbio ou nos juros, a cada nova crise, e portanto acumular reservas seria desnecessário e custoso.


Nunca criamos reservas internacionais suficientes para enfrentar crises. Hoje (2004) temos somente 18 bilhões de dólares, dez dias de nosso PIB.


Reservas financeiras substanciais compram tranqüilidade e tempo, já que nenhuma crise dura para sempre.


TODAS as crises foram nefastas para o Brasil porque nossas reservas sempre terminaram antes. Criar reservas nunca foi nossa prioridade.


A China vive uma fase de prosperidade porque possui nada menos que 420 bilhões de dólares, o suficiente para enfrentar a pior crise que se possa imaginar.


Ninguém sabe como será o amanhã, exceto que teremos muitas crises pela frente. Se você tiver zero de reservas familiares, a crise o afetará 100%. Quanto mais reservas você tiver, menos ela o afetará.

Quem enfrenta uma crise sem ter reservas acaba contraindo mais dívidas, como sempre acontece com o Brasil.

Gostaria de dizer que Lula leu este artigo na Veja e mandou o Banco Central começar a acumular os 200 bilhões de reservas que acabou nos protegendo da crise de 2008.

Certamente foi incentivado por Henrique Meirelles, primeiro administrador financeiro guinado ao Banco Central, que pensa como todo administrador.

Reservas internacionais será um legado do governo Lula, que nenhum sucessor terá coragem de desmontar.

Reservas internacionais
Dizer que Lula surfou a onda dos 18 bilhões de reservas deixadas pelo Plano Real é uma bobagem monumental. 18 bilhões não seguram crise alguma, desaparecem em duas semanas, como desapareceram em 1998 no final do Primeiro Mandato de FHC.

Lula ao criar estas reservas de 200 bilhões lutou contra dezenas de especialistas, inclusive economistas de seu próprio partido, que achavam que 200 bilhões de reservas deveriam ser gastos em "saúde e educação".

Estas reservas, apesar de óbvias, eram politicamente complicadas devido ao seu custo elevadíssimo.
O governo tinha que financiá-las a um juro interno de 16% ao ano, e só recebia 4% de juros quando aplicadas em títulos estrangeiros.

A crise americana de 2008 foi até uma benção, ao provar a tese de que reservas são necessárias, sempre. Nunca mais teremos que recorrer ao FMI, ou à amizade de um Bill Clinton.

Estas reservas acumuladas por Lula serão um legado para sempre. Nos salvou da crise de 2008, bem diferente do desastre da crise de 1998 quando não tínhamos reservas suficientes.

Ter reservas suficientes será política de todo futuro governo, e precisamos ficar atentos e protestar se um futuro presidente decidir torrar as reservas, como algo custoso e desnecessário.

http://blog.kanitz.com.br/2009/10/o-legado-lula-i-um-colchao-de-seguranca.html

E.R.I.

Brasília-DF


Um comentário:

  1. Como bem lembrou um dos comentários no próprio blog do Kanitz. Alemanha e Japão tem gigantescas reservas e nem por isso se safaram da crise.

    O Brasil nem era para entrar tão forte na crise. Os bancos aqui não estavam envolvidos com o esquema dos empréstimos subprime. A crise se deveu em boa parte à inércia do Banco Central que até dezembro falava enxergava grande pressões inflacionárias numa economia que já estava no buraco. Em setembro os bancos haviam cortado o crédito, estoques acumulavam-se e a diretoria do BC não via nada disso. Só estava preocupada em justificar altas taxas de juros para manter os ganhos dos seus patrões. Mais de seis meses depois que começou a agir derrubando os juros.

    O que tirou o país da crise foi a ação forte do ministério da Fazendo que manteve os gastos públicos (GASTO PÚBLICO = DEMANDA PARA O SETOR PRIVADO), reforçou o caixa para investimento da Petrobras, deu um safanão no BB, afinal seu dever é conceder financiamento e ganhar dinheiro com isso. A Caixa Econômica Federal também teve enorme papel ao aumentar as linhas de crédito imobiliário justamente no momento que os bancos privados puxaram o tapete da classe média dificultando os empréstimos imobiliários.

    A direção do BC está lá para garantir altos lucros da banca internacional e ponto final.

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