segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

IstoÉ desmonta argumentos de Serra sobre escândalo do Metrô

Jornal GGN - O ex-governador José Serra negou, desde o início das denúncias sobre a formação de cartel e superfaturamento dos trens, que houvesse irregularidades, bem como ter incentivado ou mesmo ter tomado conhecimento de tais casos. E este discurso não foi modificado até então. Agora, a Revista IstoÉ traz novas evidência e documentos sobre a ação de agentes públicos na gestão de Serra, que teriam incentivado a formação de cartel e, sim, superfaturado os contratos em quase R$ 1 bilhão. A reportagem é de Pedro Marcondes de Moura, Sérgio Pardellas e Alan Rodrigues.
De acordo com os documentos, que estão em poder do Ministério Público, as irregularidades ocorreram entre 2008 e 2011. No período de maior incidência de contratos irregulares Serra era governador (entre 2007 e 2010). Esses superfaturamentos estão  ligados ao controverso projeto de modernização de 98 trens das Linhas 1-Azul e 3-Vermelha do Metrô. De acordo com as autoridades que investigam o caso, a reforma se daria em trens já considerados “sucata”, com quase quatro décadas de operação, com custo de R$ 2,87 bilhões em valores da época, significando um prejuízo de quase R$ 1 bilhão ao erário paulista. Estes valores, segundo apurou a IstoÉ, são semelhantes aos desembolsados pelo Metrô de Nova Iorque na aquisição de trens novos, sendo que o vendedor de tais trens novos foi justamente uma das companhias responsáveis pela modernização dos trens de São Paulo.

O promotor Marcelo Milani afirma que o ‘conluio’ foi incentivado por agentes públicos em pelo menos um dos dez contratos relacionados à modernização, o que trata do sistema de sinalização. O engenheiro Nelson Branco Marchetti, ex-diretor técnico da divisão de transportes da Siemens, disse em depoimento ao MP que representantes da multinacional alemã e da concorrente da Alstom foram chamados para uma reunião por dirigentes do Metrô e da Secretaria de Transportes Metropolitanos, na época comandado por José Luiz Portella, o Portelinha, braço direito de Serra. Nesta reunião, as companhias foram incentivadas a montar cartel para vencer o contrato e, os executivos ainda sugeriram que o governo licitasse a sinalização linha por linha, triplicando a concorrência. Mas o governo, por seu turno, foi enfático ao dizer que gostaria que um consórcio formado por duas empresas vencesse os três certames. A Alstom acabou vencendo sozinha o contrato para o fornecimento do CBTC para as três linhas.
Em outro depoimento, à PF, Marchetti relatou que as pressões do governo paulista eram constantes. “No edital havia a exigência de um capital social integralizado que a CAF (empresa espanhola) não possuía. Mesmo assim, o então governador do Estado (José Serra) e seus secretários fizeram de tudo para defender a CAF”, declarou ele sobre o contrato para fornecimento de vagões pela CPTM em que o ex-governador e Portella teriam sugerido que Siemens e CAF se aliassem para vencer a licitação. A prática, narrada na IstoÉ,  acrescenta novos elementos ao escândalo na área de transporte, que Serra, apesar das constantes negativas, não tem mais como refutar.
Novos documentos e depoimentos em poder do MP reforçam, também, que o esquema criminoso acontecia sob o aval de políticos e funcionários públicos beneficiados pelo recebimento de propina. Outro executivo da Siemens confirmou, na semana passada, a existência de pagamento da comissão para agentes públicos em São Paulo. Em depoimento à PF, o vice-chefe do setor de compliance da multinacional, Mark Willian Gough, relacionou uma conta em Luxemburgo de Adilson Primo, ex-presidente da companhia no Brasil, no valor de US$ 7 milhões aos subornos. À ISTOÉ, um ex-dirigente da MGE, outra empresa envolvida no cartel, também confirmou que representantes da Siemens cobraram de sua companhia o pagamento de propina a autoridades, em troca da obtenção de contratos com o governo paulista. Segundo a reportagem, a cobrança teria partido do próprio Rheinheinmer. O dinheiro, segundo o ex-executivo da Siemens, teria como destinatários parlamentares da base aliada ao governo tucano na Assembleia Legislativa.
Na reportagem, o ex-dirigente da MGE afirma que Rheinheinmer também o teria procurado para abrir uma conta no banco suiço Credit Suisse, em Zurique. O ex-dirigente da MGE afirma que era para lá que a Siemens mandaria parte do dinheiro desviado. “Fui procurado por Everton da Siemens tanto para pagar propina para a base aliada quanto para abrir a conta na Suíça”, confirmou à ISTOÉ o executivo da MGE.

Nenhum comentário:

Postar um comentário