Por Nivaldo Pires
Do blog Contos do Uirapuru
Impressionado com a pregação de Marina Silva e de Aécio Neves do chamado “tripé macroeconômico”, a ponto de fazerem disso a bandeira principal de sua campanha presidencial, Simplício foi orientado pelo professor Galileu a procurar novamente o economista heterodoxo para ter uma explicação razoável do assunto. “Se isso é essencial para escolhermos o futuro presidente, nenhum esforço é demais para um bom entendimento do tema”, pensou, tomando o rumo de São Paulo.
— Isso não passa de um tremendo charlatanismo, observou o economista heterodoxo. O tripé teria maior significado se fosse o produto de elucubrações de quadrúpedes e não de bípedes. Uma cadeira que se equilibra em três pés nunca é bem segura. Esse é o caso. O “tripé macroeconômico” é uma espécie de cadeira de três pernas, cada uma de uma altura.
— Seja menos metafórico, interrompeu Angeline.
— Está bem, se querem conhecer como se faz essa enrolação, vamos lá. Uma perna do tripé é a política de metas de inflação manobrada pelo Banco Central independente.
— E isso não é bom?, perguntou Simplício. Não me agradaria a ideia de um BC que não tivesse uma meta de inflação baixa ou que fosse manipulado por qualquer deputado.
— Eu também não gostaria disso. Mas não se iluda: a política de meta de inflação não passa de um artifício para aumentar a taxa de juros tantas vezes quanto haja alguma ameaça real ou imaginaria de inflação. Ora, a relação entre taxa de juros e inflação é muitas vezes ilusória. Na maioria dos casos a taxa de juros não tem nenhuma influência sobre a inflação. Só serve para enriquecer mais quem já tem muito dinheiro emprestado ao Governo. Quando ao BC independente falarei depois.
— E a segunda perna do tripé?, quis saber Angeline.
— É a taxa de câmbio flutuante. Aí, mais uma vez, temos uma política que só beneficia os especuladores. O aumento da taxa de juros atrai dinheiro de fora, esse dinheiro de fora, o dólar, fica mais barato, com isso o real fica valorizado, pelo que as exportações são desestimuladas porque o exportador ganha menos real por dólar exportado, nos empurrando para a especialização em produção e exportação de produtos primários, o que é um desastre em matéria de criação de bons empregos.
— Mas quem sabe o terceiro tripé é a salvação?, ironizou Angeline.
— Se fazer superávit primário alto, como manda o terceiro tripé, é a salvação, devíamos todos buscar a condenação eterna, explicou o economista heterodoxo. Quando, numa economia em recessão, você faz superávit primário, o Governo está tirando mais recursos da economia do que lhe devolvendo em forma de compras e pagamentos de salários. O efeito é depressivo. Ou, no mínimo, estagnacionista, como vem acontecendo desde 2010.
— Mas até onde eu percebo na minha ignorância, disse Simplício, não é apenas Marina e Aércio que defendem o tripé. O ministro Mantega também defende o tripé com unhas e dentes, confiado em que, com isso, recuperará sua boa reputação na comunidade financeira e nas agências de risco.
O economista heterodoxo sugeriu que se tratasse disso em outra oportunidade porque tinha uma compromisso inadiável em Campinas.
Simplício, ao lado de Angeline, escreveu na agenda vermelha: “O tripé macroeconômico é uma forma segura de se fazer uma política preferencial para os ricos”.
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