ENVIADO POR MAYARANGER TER, 27/01/2015 - 09:38
ATUALIZADO EM 27/01/2015 - 09:53
Auditores, controllers e diretores financeiros dirigindo grandes corporações têm um roteiro clássico: tudo é feito para gerar lucros no curto prazo À CUSTA do futuro da companhia. É um processo simples e fácil. Cortam-se despesas que são fundamentais para a sobrevivência da empresa e com esse corte de custos aumenta-se o lucro no balanço do ano à custa de destruição dos ativos da companhia por falta de manutenção.
Em 5 anos a empresa está em ruínas, o atual dirigente já está fora mas garantiu seu emprego no presente e ganhou bônus sobre um lucro fictício porque feito à custa da deterioração do ativo e da imagem da empresa.
Um personagem clássico desse processo foi o executivo americano Alfred Dunlap, presidente da companhia de eletrodomésticos Sunbeam, fabricante de ótimos produtos. Quando chegou na empresa esta tinha 30.000 empregados, em um ano Dunlap, que tinha o apelido de ”Serra Eletrica” demitiu 20.000, saiu na capa da Business Week como um gênio. Na realidade era um crápula manipulador, um estelionatário do sistema corporativo americano, mesmo nessa selva de dirigentes ele foi demais.
Seu corte de custos acabou com a Sunbeam, destruiu a qualidade dos produtos, acabou com a rede de revendedores, mas gerou lucros no curto prazo e grandes bônus para Dunlap, processado depois pela SEC e proibido até hoje de ser diretor de qualquer empresa. Sua ficha é horrorosa:
Temos um roteiro parecido na Eletropaulo, cuja origem é uma das mais importantes empresas do Brasil moderno, a São Paulo Tramway Light and Power Co.Ltd., pioneira na produção de energia elétrica no País, por um processo na época (1898) revolucionário, jogar água Serra do Mar abaixo, um desnível de 890 metros e mover turbinas em Cubatão, que até hoje funcionam.
Para tanto a São Paulo Light construiu duas represas símbolos de São Paulo, a Guarapiranga e a Billings. Apesar da poluição, essas duas represas garantem água para 4 milhões de habitantes da Grande São Paulo, se fossem limpas seriam suficientes para toda São Paulo.
A empresa sempre teve boa gerencia técnica e operacional, estatizada no Governo Militar, reprivatizada em 1996, manteve bom padrão de serviços, com pessoal de excelência e experiência, alguns com décadas de casa.
O cenário mudou completamente quando a empresa, hoje controlada pelo Grupo AES, dos EUA, procurou através de um head hunter um novo diretor financeiro . Encontraram um que não é paulista e mora no Rio de Janeiro. Contratado esse novo diretor foi promovido a presidente não só da Eletropaulo mas de todo grupo no Brasil, uma função para o qual ele não tinha preparo, experiência, vocação e perfil. O anterior presidente, o engº eletrecista Eduardo Bernini já tinha sido presidente na fase estatal e conhecia a empresa como a palma da mão, homem de fios, postes, transformadores, quando havia problemas graves na rede ia pessoalmente ao local, não importava a que horas, os problemas de rede eram mínimos e rapidamente solucionados.
Na era do diretor financeiro adotou-se o MANTRA DO CORTE DE CUSTOS para maximizar resultados financeiros, típico da mentalidade de financistas.
Ora, a tarifa autorizada pela ANEEL tem uma parte dela para CUSTEAR A MANUTENÇÃO DA REDE, essa parte é paga pelo cliente da Eletropaulo e não pode ser transferida para lucro.
1. Árvores nas ruas existem em São Paulo há cem anos, não aumentou o número de árvores nas ruas, ao contrário, diminuem ano a ano.
2. Sempre choveu em São Paulo, não é só agora, aliás hoje chove menos do que no passado. Assim fica prejudicada a alegação de que é a queda de árvores que provoca interrupção da rede. E em 1990 não caía árvore?
3. Até a gestão Bernini era a mesma rede de fios, porque não havia interrupções e agora está uma CALAMIDADE? Interrupções de 200 mil residências e prédios por mais de 40 horas, ruas, bairros e casas chegam a ficar sem luz por uma semana, cortes continuados em regiões centrais, na minha casa nos Jardins, área central, houve nove interrupções em Dezembro, duas de mais de 15 horas e em Janeiro já foram três interrupções, não chegamos ainda ao meio do mês. Em outros bairros têm sido muito pior, interrupções de 20, 30 horas são hoje consideradas normais, a Galeria dos Pães, uma das maiores padarias de São Paulo, com 300 funcionários teve o último fim de semana sem luz, apesar de ter gerador tiveram sérios problemas para funcionar. São Paulo está virando o maior mercado de geradores do mundo. Quem pode, compra gerador, altamente poluente mas hoje indispensável.
4. A empresa é a mesma, a rede é a mesma, os fios são os mesmos, as árvores são as mesmas, há uma extraordinária piora nos serviços, o Governador Alckmin deu entrevista reclamando da empresa cinco dias atrás, o Secretário de Energia foi à empresa na semana passada exigindo um relatório em 10 dias sobre providências a tomar.
5. Na área de outra concessionária, a de Campinas, os serviços de reparos se fazem em meia hora, a queda de energia é rara, por qual motivo a diferença?
6. Há um sério problem de gestão na Eletropaulo, essa se dá na área operacional, há incapacidade de gerir a rede ou as falhas são decorrentes de deliberado corte de custos para fazer caixa de curto prazo. Os problemas não são só de reparos na rede mas também de atendimento, o call center é PÉSSIMO, não dá previsão de religação, que é obrigatória e se dão a previsão é quase sempre furada, na maioria das vezes o atendimento é eletrônico, o que frustra o cliente.
7. É evidente o excesso de terceirizações nos serviços de manutenção de rede. Não se pode terceirizar tanto. A empresa tem que ter um “core group”, um nucelo próprio de técnicos com mais experiência do que tercerizados para situações críticas. Não pode ser 100% tercerizado.
Quando foi privatizada a Eletropaulo tinha 27.000 funcionários, numero razoável para atender cinco milhões de clientes, não é só a Capital, a maior parte da Grande São Paulo também. Hoje tem pouco mais de 3.000 funcionários, é ridículo, é muito pouco, pior ainda, terceiriza-se pelo menor custo possível, daí aparece pessoal sem treinamento e sem experiência.
A ANEEL não tem nada a dizer sobre esses índices? Não existe uma relação de pessoal de manutenção com quilômetros de rede? Pelas informações que tenho são 2.000 de pessoal de rua na manutenção de rede. Isso é NADA, hoje são 6 milhões de casas e prédios na rede. A questão que a ANEEL deve responder é: pela tarifa quanto dinheiro a Eletropaulo dispõe para manutenção da rede, está sendo gasto nessa função? Isso é fácil de auditar.
Pelas entrevistas dadas pelo diretor comercial da Eletropaulo, que parece sem nível para o cargo, não se prevê nenhuma mudança, ele disse isso em entrevista na CBN logo depois da visita do Secretário de Energia.
A registrar a passividade extraordinária da ARCESP, agencia delegada de fiscalização da energia em São Paulo, da ANEEL, que já devia ter dado prazo para correção dos problemas sob pena de intervenção, do BNDES, sócio da AES na Eletropaulo.
A solução óbvia é a troca de comando da Eletropaulo colocando gente com experiência OPERACIONAL, a Eletropaulo é a maior distribuidora de energia do País e está entre as maiores do mundo, não pode ser dirigida dessa forma, é o interesse publico que está em jogo, a saúde econômica da região da Grande São Paulo já entra em risco com tantas paralisações.
A controladora AES é uma grande corporação com presença global, provavelmente a matriz ignora a gravidade da situação em São Paulo, são informados pela administração local que não tem nenhum interesse em mostrar falhas dela própria. Os executivos nos EUA são excelentes, por isso o que acontece com a Eletropaulo não combina com o nível da controladora, tudo indica estar havendo também uma falha de conhecimento.
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