Supremo iniciou nesta quarta-feira, 14, análise dos recursos de
advogados dos condenados e o ministro novato, que será o relator do
chamado ‘mensalão mineiro’ - que atinge o PSDB -, foi o destaque da
sessão ao afirmar que corrupção não pode ser politizada
Eduardo Bresciani, Felipe Recondo e Mariângela Gallucci
Do Estadão
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,barroso-e-questionavel-dizer-que-mensalao-foi-maior-escandalo-do-pais,1064062,0.htm
BRASÍLIA - Em sua estreia no julgamento do mensalão, o ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou que a
corrupção não pode ser politizada, descolando, desta forma, o esquema
ocorrido em 2005 do PT. "Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB.
Existe corrupção. Não há corrupção melhor ou pior, dos ‘nossos’ ou dos
‘deles’. Não há corrupção do bem. A corrupção é um mal em si e não deve
ser politizada", disse o ministro Barroso em seu voto, tornando-se o
destaque da sessão que retomou o julgamento ao analisar recursos dos
condenados.
Ao embasar seu voto, Barroso comparou o mensalão - inclusive os
valores envolvidos - a outros escândalos de desvios de recursos
públicos. E afirmou que a lista de casos recentes de envolvimento de
políticos em esquemas de corrupção é uma consequência do modelo político
eleitoral brasileiro. O ministro será o relator do chamado "mensalão
mineiro", que atinge políticos do PSDB, no STF.
Barroso destacou o rigor do STF no caso. Ao ser sabatinado pelo
Senado após sua indicação para uma vaga no STF no fim de maio, o
ministro já havia afirmado que o mensalão foi um "ponto fora da curva",
pois o Supremo "endureceu" a jurisprudência ao analisar a ação penal.
Ontem, Barroso retomou a polêmica: "É no mínimo questionável a
afirmação de se tratar do maior escândalo político da história do País.
Talvez o que se possa afirmar, sem margem de erro, é que foi o mais
investigado de todos, seja pelo Ministério Público, pelo Polícia Federal
ou pela imprensa. Assim como foi, também, o que teve a resposta mais
contundente do Poder Judiciário".
Comparações. O ministro novato lembrou que a
estimativa de desvios no esquema do mensalão chegou a R$ 150 milhões. E
nominou outros casos recentes. Citou a CPI dos Anões do Orçamento, em
1993, com "desvio bilionário" de recursos de emendas parlamentares, o
caso dos precatórios, de 1997, com "perda de alguns bilhões para a
Fazenda Pública", a construção do Tribunal Regional do Trabalho de São
Paulo, de 1999, com "desvios de muitas dezenas de milhões" e o escândalo
do Banestado, em 2003, com a "remessa fraudulenta para o exterior de
mais de R$ 2 bilhões".
Reforma política. A solução para coibir a repetição
de casos como esses seria, na visão de Barroso, a aprovação de uma
reforma política, proposta defendida pela presidente Dilma Rousseff após
as manifestações de rua em junho. "A imensa energia jurisdicional
despendida no julgamento da AP 470 (mensalão) terá sido em vão se não
forem tomadas providências urgentes de reforma do modelo político, tanto
do sistema eleitoral quanto do sistema partidário. Sem reforma
política, tudo continuará como sempre foi. A distinção será apenas entre
os que foram pegos e outros tantos que não foram", afirmou.
Revisão de penas. O plenário do STF permitiu aos
ministros que votaram pela absolvição de réus na primeira fase do
julgamento do mensalão analisar, nesta segunda fase, os recursos movidos
por advogados contra o cálculo das penas (o que pode ocorrer na análise
dos embargos de declaração ou nos infringentes). A decisão abre brecha
para que a Corte reduza as punições impostas aos 25 condenados por
envolvimento no esquema, inclusive o ex-ministro José Dirceu, condenado a
10 anos e 10 meses de prisão por corrupção ativa e formação de
quadrilha.
Nesta segunda fase, os ministros que absolveram réus não poderão
aplicar a pena livremente, mas interferir nos critérios que levaram à
punição. Ou seja, não poderão alterar a pena em seus votos, mas opinar
sobre agravantes ou atenuantes usados para o cálculo da mesma.
A decisão teve como pano de fundo discussão entre o presidente
Joaquim Barbosa e o ministro Dias Toffoli. No debate sobre a multa
aplicada a Emerson Palmieri (tesoureiro do PTB), o presidente disse que o
voto do colega não poderia avançar ao mérito. "Meu voto está numa
camisa de força", ironizou Toffoli. "Vote de maneira séria", disse
Barbosa. "Presida de maneira séria" revidou Toffoli.
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