terça-feira, 19 de maio de 2009

BNDES aponta potencial da petroquímica brasileira

Valor Econômico 18/05/2009

A descoberta de petróleo na área do pré-sal, gerando perspectiva de abundância de matérias-primas, e a manutenção do programa de investimentos em refino, inclusive a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), com investimentos estimados em US$ 8,4 bilhões, abrem “perspectivas auspiciosas” para a inserção da petroquímica brasileira no cenário internacional.

Esta é uma das conclusões do estudo “Desafios da Petroquímica Brasileira no Cenário Global” que está sendo publicado na próxima edição da revista “BNDES Setorial”, elaborado pela economista Valéria Delgado Bastos, do Departamento de Indústria Química do banco estatal. O trabalho, obtido com exclusividade pelo Valor, diz que “o avanço histórico” da petroquímica brasileira dependerá, entre outros aspectos, da capacidade de resposta das empresas brasileiras à crise global e, “principalmente, de políticas ativas para assegurar os investimentos estruturais do pré-sal e da expansão da petroquímica, inclusive com medidas destinadas ao fortalecimento do segmento de transformados plásticos (terceira geração)”.

Questionada sobre a possibilidade de a crise global atrapalhar o programa de investimentos brasileiros, atualmente centralizado na Petrobras, Valéria disse que “os investimentos na petroquímica não se definem em função de um cenário conjuntural”, embora admita que o cenário de dificuldades possa gerar atrasos pontuais nos cronogramas previstos. A Petrobras, que retornou ao setor nos últimos anos, detendo hoje 30% do capital votante da Braskem e 46% do da Quattor, as duas maiores empresas do setor, tem sustentado seu cronograma, embora ainda procure parceiros, especialmente para o Comperj.

O planejamento da estatal prevê, além do Comperj (refinaria de 150 mil barris por dia voltada para a petroquímica e mais cinco empresas de segunda geração), com operação prevista para final de 2012 ou início de 2013, três outras refinarias: Pernambuco (230 mil barris de óleo por dia, 2011), Ceará (300 mil barris/dia) e Maranhão (600 mil barris/dia), as duas últimas com conclusões previstas para 2015/2016. As três refinarias do Nordeste, embora não estejam voltadas para a petroquímica propriamente dita, são consideradas essenciais para a produção de nafta, insumo petroquímico do qual o Brasil importa atualmente cerca de 30% do que consome.

Um estudo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), citado no trabalho do BNDES, estima que, mesmo com os investimentos previstos, o Brasil terá um déficit de aproximadamente 2,2 milhões de toneladas anuais em 2020, uma posição melhor do que a estimada para 2010 (4,2 milhões de toneladas), mas ainda deficitária. Contudo, a economista do BNDES avalia que com os investimentos programados e as exploração do pré-sal, o Brasil poderá tornar-se um importante exportador de resinas termoplásticas.

No estudo de 38 páginas, Valéria traça um panorama da petroquímica mundial, mostrando o inevitável deslocamento do eixo dos maiores produtores do mundo dos Estados Unidos (26%) e Europa (23%) para a Ásia (já líder, com 39% em dupla com a Oceania) e Oriente Médio. Esta última região, junto com a África, responde hoje por apenas 7% da produção e deverá chegar a 20% em 2015, com os investimentos já programados e associações de estatais locais com multinacionais, processo que a economista considera irreversível.

A América Latina, que produz hoje somente 4% do total, da qual o Brasil é disparado o maior produtor (mais de 50% do eteno e mais de 60% do propeno, para ficar nos petroquímicos básicos), tem chances de também pegar uma fatia desse rearranjo geográfico do setor. O estudo do BNDES mostra que esse deslocamento do eixo da produção obedece a uma lógica centrada no controle das matérias-primas e no acesso a mercados. Até recentemente, a lógica da expansão petroquímica era determinada pelo estágio de desenvolvimento econômico dos países produtores.

Ela mostra também que, por suas características de concentração em grandes empresas, a expansão do setor petroquímico acontece aos saltos, com períodos de excesso de oferta (quando se completa um ciclo de investimentos), logo, de margens deprimidas, com outros de demanda superior à oferta, com preços elevados e exigência de um novo ciclo de expansão.

Essa característica justificaria a manutenção dos investimentos atuais, especialmente no Brasil, ainda que a crise possa fazer surgir uma onda de barreiras protecionistas não-tarifárias do lado dos países desenvolvidos (grandes consumidores). Como a indústria brasileira é historicamente mais voltada para o mercado doméstico, a economista considera essencial que seja estimulado o incremento da indústria de artigos de plástico, consumidora final da cadeia, para assegurar demanda para a primeira e a segunda gerações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário