sexta-feira, 6 de junho de 2014

Roberto Setubal, possível ministro de Campos, vê futuro na infraestrutura

Não concordo com a crítica do Setubal ao BNDES. É claro que deveria ter mais critério ao financiar projetos (não devia ter financiado por exemplo a fusão de Brasil Telecom com a OI). No entanto, com a taxa de juros absurda que o BACEN pratica e com a falta de interesse dos bancos privados em financiar os grandes investimentos em infraestrutura, sem o BNDES, a maioria dos projetos seria inviável.

Segue matéria do blog do Nassif.

Jornal GGN – Meses antes de a disputa presidencial chegar efetivamente às urnas, é natural que a imprensa dispenda alguma energia na tentativa de apontar quem deve compor o primeiro escalão do governo federal na hipótese da atual chefe do Executivo, Dilma Rousseff, não emplacar a reeleição.
No caso de Eduardo Campos, presidenciável do PSB, não é certo que pasta seria destinada a Roberto Setubal, atual comandante do Itaú Unibanco, embora a Fazenda seja a mais cotada. Mas é certo que “Bob” – apelido empregado por Campos para se referir ao presidente do maior banco privado do país – é tão visado pelo pessebista que ele poderá escolher o ministério que achar conveniente. Pelo menos é nisso que aposta a grande mídia até o momento.
Para reforçar a tese, os jornais evidenciam que a postulante a vice-presidente na chapa do PSB, Marina Silva, é amiga muito próxima a Maria Alice Setubal, irmã do banqueiro. Ele se aposenta compulsoriamente da chefia do Itaú Unibanco em 2015, quando completa 60 anos de idade e duas décadas de casa.
Há quem destaque, também, que Setubal sempre viu com simpatia o PSDB do presidenciável Aécio Neves, tendo estreitado laços com o ex-governador de São Paulo, José Serra. Mas entrevistas recentes também provam o empresário como admirador da gestão do ex-presidente Lula e de sua sucessora no Palácio do Planalto.
Falando descompromissadamente sobre eleição, em dezembro passado, Setubal chegou a dizer ao jornal O Globo que apostava na “maior probabilidade de reeleição de Dilma”. Em relação ao PSDB, considera-o um partido sem perspectiva de poder. Em almoço recente, afirmou a um interlocutor que o PSDB só ganhou eleições porque tinha o DEM para articular a campanha.
O possível ministro de Campos também minimizou as críticas ao atual governo quando a equipe de reportagem lhe perguntou se ele concordava que o Brasil perdera parte das conquistas acumuladas nas gestões de Fernando Henrique Cardozo e Lula nos últimos anos. “Não é uma questão de perder as conquistas. Acho que a conjuntura é diferente”, respondeu. E acrescentou que o país caminha nos trilhos certos, devendo, no próximo período, fazer “correções de rumo”para se adaptar ao cenário econômico mundial. 
“Correções de rumo”
Na entrevista ao O Globo, em dezembro passado, Setubal avaliou que é necessário ao Brasil abrir mão da política de investimentos alicerçada na ampliação dos gastos públicos (sem ampliação proporcional da receita) em detrimento dos investimentos em infraestrutura, com apoio do capital privado. Nesse quadro, ele sugere ainda que o BNDES deve reformular seu papel de agente financiador do desenvolvimento e selecionar melhor os projetos que irá subsidiar. 
Na visão do banqueiro, o Brasil conseguiu, nos últimos anos, respirar melhor enquanto todos os países que mantém fortes relações econômicas com a Europa e os Estados Unidos registraram crescimento relativamente baixo. Mas fez críticas à gestão de Guido Mantega na Fazenda, alertando que é “preciso um controle mais rigoroso dos gastos públicos” e que “algum tipo de ajuste fiscal (deve ser) feito mais à frente”“Com um ajuste fiscal teríamos condições para reduzir os juros, tirar a pressão da inflação, criando condições melhores para o crescimento”, sustentou.
Mais de um ano antes, em janeiro de 2012, ao jornal O Estado de S. Paulo Setubal disse que estava gostando de tudo o que via a respeito do governo Dilma Rousseff, principalmente o fato de a presidente tentar despolitizar alguns setores do governo para dar margem a uma equipe mais técnica. Além disso, avaliou que o país consolidou a estabilização econômica. “Está institucionalizada no Brasil a intenção de manter isso, não é mais uma preocupação”, pontuou.
O que atacar no Brasil
Questionado pelo Estadão no início do segundo ano do governo Dilma sobre quais os grandes problemas que devem ser atacados no país, Setubal disse que vê duas áreas como fundamentais: infraestrutura, no curto prazo, e educação, no longo prazo. Ele também ressaltou a importância de manter os juros na casa de um dígito e fazer a inflação voltar à meta de 4,5%.
“Acho que existem duas formas de criar condições para o investimento. Na parte regulatória, o governo vem mexendo no marco, como no caso dos aeroportos. Mas, na área macroeconômica é preciso criar condições de termos juros de longo prazo mais baixos no Brasil. A redução dos juros para um dígito ajuda muito porque, quando os juros são muito elevados no curto prazo, o juro de longo prazo tem de ser ainda mais elevado, pelos riscos envolvidos, o que torna inviável o financiamento de longo prazo”, comentou naquela ocasião.
Um ano depois, na entrevista ao O Globo, o banqueiro reforçou que o governo federal deve aumentar o volume de investimentos em infraestrutura ao invés de continuar subsidiando o consumo com ampliação do acesso ao crédito, mas reconheceu que essa política foi corrigida e que devemos sentir os efeitos nos próximos anos.
“Iniciamos a troca desse modelo. Acho que a política de concessões mudou nesses últimos dois anos, tornou-se mais atraente para os investidores. E acredito que vamos ter uma mudança muito grande na infraestrutura do país. Todos os aeroportos importantes já passaram pelo processo de concessão. Acredito que em três anos veremos uma mudança relevante na infraestrutura brasileira”, projetou.
Um BNDES mais seletivo 
Setubal criticou, entretanto, o atual papel do BNDES.“O Brasil tem uma necessidade gigantesca de investimentos em infraestrutura, e é impossível imaginar que esses investimentos serão financiados pelo BNDES, que todos terão subsídios da ordem de 5% ao ano. Os volumes são muito grandes e seria inviável para as contas públicas. Precisamos rever isso, uma boa parte desses investimentos não precisa de subsídios. Seria o caso do aeroporto de São Paulo (Cumbica), a iniciativa privada teria todo o interesse em investir nele. Acho que o BNDES tem um papel a cumprir, mas deveria ser mais seletivo. Acho que ele deveria se concentrar em projetos que o mercado não financiaria naturalmente", pontuou.
À Folha, em dezembro de 2012, Setubal fez proposição similar, e acrescentou que o papel do investidor privado é de suma importância nesse contexto. Para ele, o governo deveria "flexibilizar”  o quanto antes as condições de investimento, para que o empresariado seja atraído e tenha mais expectativas de retorno.
"Diria que estamos ainda na fase de encontrar os modelos melhores (para a economia), essas coisas não nascem prontas, tem que ter um aperfeiçoamento e o próprio governo reconhece. Aí o importante é a direção, ou seja, permissão e flexibilização da legislação no sentido de permitir o capital privado. Ao fazer isso, o governo reconhece a importância dos capitais privados, a agilidade e a capacidade de realizar os investimentos, coisa que o setor público tem dificuldade de fazer.”
O banqueiro ainda destacou que o Brasil, após o crescimento do mercado de trabalho, tem que reforçar a produtividade, o que casa completamente com a necessidade de investimentos. “A produtividade terá que ser um driver muito importante daqui pra frente, não vamos ter mais preço de commodities e crédito puxando a demanda (como tínhamos no governo Lula), num país que tinha uma situação de emprego com grande folga, grande oferta de mão de obra. Esses motores puxaram muito bem a economia até esse nível de emprego. Daqui para a frente, sem investimentos para ganhar produtividade, não conseguimos criar riqueza e crescer”, finalizou.
Colaborou Tatiane Correia

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