domingo, 20 de julho de 2014

Brasil 2015: o desafio de mudar o tripé econômico

Do blog do Nassif

Primeiro: controle da inflação, das contas fiscais e das contas externas são medidas de responsabilidade, independentemente de qualquer conversa de tripé.
Entendido isso, vamos ao desafio de substituir as metas inflacionárias.
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Em geral, movimentos inflacionários começam com altas pontuais, provocadas por fenômenos imprevistos  que acabam se irradiando para outros preços, seja através da cadeia produtiva dos setores afetados seja pelas expectativas dos agentes econômicos.
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Historicamente, a política econômica consagrou um conjunto de ferramentas para atacar o fenômeno pontualmente, onde se manifestam as pressões inflacionárias, como estoques reguladores, medidas de impacto direto sobre o crédito etc.
As metas inflacionárias trocaram tudo isso por uma espécie de pedra filosofal.
Define-se uma meta inflacionária com uma margem de manobra. Depois, medem-se as expectativas do mercado em relação à inflação. Se estiver acima da meta, aumentam-se os juros básicos da economia. Se abaixo, diminuem-se.
O que ocorre, de fato, é que com mais juros há maior atração de dólares, provocando uma apreciação do câmbio – que reduz o peso dos chamados produtos comercializáveis (aqueles cujas cotações são em dólares). É o câmbio que segura a inflação, não a demanda.
A teoria é falsa, nefasta, afeta política industrial, pressiona o orçamento público, mas influencia as expectativas. É uma macumba planilhada.
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Se é tão nefasta assim, porque é tão incensada?
Porque seu único objetivo é preservar o capital e minimizar os estragos sobre as grandes companhias, com poder de mercado.
Quando o Banco Central aumenta a taxa Selic e aprecia o câmbio, são os seguintes os efeitos sobre os diversos agentes econômicos, supondo-se aumento da inflação e da Selic:
Investidor em US$  - ganha com o aumento dos juros e com a apreciação do real. No exemplo, mostro como sua rentabilidade pode saltar de 7,5% ao ano para mais de 26%.
Investidor em R$ - sua rentabilidade real (descontada a inflação) aumenta porque a alta da Selic, em geral, é superior à alta da inflação esperada.
Grandes empresas com domínio de mercado – tem poder para reajustar seus preços e compensar as perdas com aumento de custos. Seus ganhos financeiros crescem com juros maiores.
Empresas em mercados competitivos – perdem na redução das vendas, no aumento dos custos operacionais, na dificuldade em reajustar preços e na elevação do custo financeiro.
Pessoa física – ganha nos investimentos, perde no crediário. A médio prazo, perde com o menor dinamismo da economia.
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O Banco Central não é cobrado quando erra para cima; mas é crucificado quando erra para baixo (reduz os juros e a inflação aumenta, mesmo não tendo relação alguma). É isso que explica o comportamento burocrático do Banco, de convalidar tais teorias.
Daí que não basta simplesmente eliminar a teoria, mas desenvolver um conjunto de princípios que permitam retomar as ferramentas originais de combate à inflação sem perder o controle sobre as expectativas.

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