segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

As descobertas da Lava-Jato e próximas etapas

http://jornalggn.com.br/noticia/as-descobertas-da-lava-jato-e-proximas-etapas
Jornal GGN -  Apesar dos vazamentos seletivos na véspera das eleições, as apurações da Operação Lava Jato - nas mãos do juiz Sergio Moro - estão sendo amplas e abrangentes, abarcando empresas, partidos políticos da base e da oposição, conforme comprova o relatório divulgado esta semana pela reportagem da Carta Capital.
"O relevante aí não são as delações, mas o fato de terem sido obtidas por conta de farta prova de fatos delituosos, apurados pelos agentes policiais, por conta do trabalho eficiente e em equipe com o MP, e com o respaldo do Judiciário", afirmou o advogado e colunista Pedro Serrano.
Ainda em fase de diligências, a Justiça do Paraná tenta descobrir novas provas para o esquema. Entre as próximas etapas está, por exemplo, entender os pagamentos das empreiteiras no valor total de R$ 53 milhões para as empresas do doleiro Alberto Youssef.
Mas a instância deve focar os doleiros, empreiteiras e empresas públicas. Já os envolvidos políticos estão nas mãos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que paralelamente à investigação local, busca provas para conduzir o caso dos detentores de foro privilegiado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Entenda, a seguir, o esquema de corrupção, os nomes envolvidos, partidos políticos e as denúncias contra as empreiteiras.
O esquema: As empreiteiras decidiam, previamente, quem executaria cada obra licitada. Em cima do valor oferecido, acrescentavam um percentual desviado para funcionários públicos e partidos políticos. Essa verba era repassada pelas empreiteiras à quadrilha por empresas laranjas, que faziam a lavagem de dinheiro. A Polícia Federal aponta Alberto Youssef como operador financeiro do esquema, Paulo Roberto Costa como operador político. Mas a sétima fase da Operação revelou outros operadores políticos em setores diferentes da estatal, como Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras.
Quantia: Movimentou até R$ 10 bilhões, sem informações confirmadas de quanto foi desviado, podendo atingir "milhões ou até mesmo bilhões de reais", segundo despacho do juiz federal Sergio Moro.
Empresas públicas: O foco na operação é na Petrobras. Mesmo assim, foi encontrada com Youssef uma lista de 750 obras que envolviam grandes construtoras e obras públicas, não só da Petrobras. Outras empresas públicas estão envolvidas, como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), uma das principais concessionárias de energia elétrica do Brasil, que teria firmado contrato com empresa de fachada de Youssef.
Partidos: Segundo os depoimentos de Costa e Youssef, o dinheiro foi repassado aos cofres do PT (por meio do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto), PMDB (cujo operador seria Fernando Soares) e PP. Leonardo Meirelles, um dos donos da Labogen, laboratório para lavagem de dinheiro usado por Youssef, afirmou que o PSDB e possíveis padrinhos políticos também foram beneficiados do desvio.
Políticos:
Eduardo Campos: Costa afirmou que intermediou o pagamento de R$ 20 milhões para o caixa 2 da campanha de reeleição do candidato do PSB ao governo de Pernambuco, em 2010.
Gleisi Hoffmann: Paulo Roberto Costa também apontou o desvio da estatal de R$ 1 milhão para campanha da candidata do PT ao Senado.
Sérgio Guerra: Costa teria pago propina ao ex-presidente do PSDB em 2009, para que esvaziasse uma CPI da Petrobras naquele ano. Sérgio teria o procurado e cobrado R$ 10 milhões para que a CPI aberta fosse encerrada. O pagamento teria sido feito pela Queiroz Galvão.
Data: O esquema de cartel das empreiteiras em obras da Petrobras existe há pelo menos 15 anos, disse o MPF. E as indicações para as diretorias da Petrobras sempre foram políticas, disse Paulo Roberto Costa, que foi indicado pelo PP. "Quer seja no governo Collor, quer seja no governo Itamar Franco, quer seja no governo Fernando Henrique, quer seja nos governos do presidente Lula, foram sempre por indicação política", disse.
Empreiteiras e contratos:
- Camargo Corrêa: foram encontradas irregularidades em obras como a reforma e a ampliação da Refinaria Getulio Vargas, em Araucária, no Paraná, e na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, Pernambuco. Quatro executivos tiveram pedidos de prisão preventiva na sétima fase da Operação. Além da Camargo Corrêa, a refinaria pernambucana tem suas obras, a um custo estimado em R$ 35 bilhões, comandadas pelas empresas Queiroz Galvão, Iesa, Odebrecht e OAS, que integram os consórcios.
- OAS: O MPF encontrou estreita relação entre a construtora e empresas do doleiro Alberto Youssef, além de indícios de que a OAS também participava do cartel. Cinco executivos tiveram mandados de prisão e dois engenheiros obrigados a depor. A licitação para a conversão da refinaria Presidente Getúlio Vargas, no Paraná, está a cargo da OAS, Odebrecht e UTC, orçada em R$ 8,7 bilhões.
- UTC: O MPF também coletou provas de que empresas do grupo, incluindo a Constran, participavam do cartel, com repasses a partidos políticos, por intermédio de Youssef. Três executivos tiveram mandato de prisão.
- Odebrecht: A denúncia  é que seus executivos participavam das reuniões que formavam a lista de empresas que venceriam os processos licitatórios, entregue a Paulo Roberto Costa. A companhia tem contrato orçado em R$ 26 bilhões, na construção da estrutura do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.
- Mendes Júnior: Também é alvo de indícios na formação de cartel em contratações da Petrobras, além de desvio de dinheiro de licitações de obras, como a da Refinaria Presidente Vargas. O pedido de prisão preventiva foi para o vice-presidente do grupo, Sergio Cunha Mendes, e três executivos tiveram condução coercitiva.
- Engevix: Documentos mostram o repasse de verba da empreiteira para empresas fantasmas de Youssef, além de ser apontada na delação do doleiro e de Costa a participação no esquema de corrupção. Três executivos foram presos e dois intimados a depor. Do mesmo grupo, só no Rio Grande do Sul, a empresa Ecovix Engenharia fechou contratos nos Estaleiros Rio Grande (ERG) 1 e 2, que chegaram a R$ 15,1 bilhões.
- Queiroz Galvão: A mesma denúncia foi dirigida à Queiroz Galvão, como participante do esquema e repasse de dinheiro ao doleiro e a Paulo Roberto Costa, por meio de empresas fantasmas. Dois executivos tiveram prisão temporária decretada. Também no Rio Grande do Sul, o consórcio com a Iesa é responsável por duas plataformas em construção no Honório Bicalho, em Rio Grande, em contratos no valor de R$ 3 bilhões. Em 2013, o grupo também entregou três plataformas à Petrobras no valor de R$ 12,8 bilhões. No Maranhão, a empreiteira ganhou a licitação da Refinaria Premium I, a R$ 41 bilhões.
- Iesa Óleo & Gás: A Polícia Federal apreendeu documento e tabelas com Alberto Youssef, nas quais constava o nome da empresa repetidas vezes. A Iesa é investigada no cartel por meio do Consórcio CII, que também incluía a Queiroz Galvão. Dois diretores tiveram prisão decretada.
- Galvão Engenharia: A construtora integrava o cartel de licitações, segundo a Polícia Federal, que também identificou vários repasses da Galvão para empresas de fachada que desviava o dinheiro. O diretor presidente de Engenharia Industrial, Erton Medeiros Fonseca, teve pedido de prisão preventiva. 

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