quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Os desequilíbrios na política cambial

http://jornalggn.com.br/noticia/os-desequilibrios-na-politica-cambial
Recente estudo do IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) constatou que a redução do investimento no país está associado à perda de rentabilidade das empresas. Associou essa perda de rentabilidade ao aumento dos custos salariais.
O buraco é mais embaixo, mas permite uma análise sobre as disfunções que acometeram a economia brasileira com a apreciação cambial.
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A apreciação do câmbio teve efeitos diversos sobre setores da economia. E produziu um enorme conjunto de distorções associadas:
  1. No mercado financeiro permitiu ganhos expressivos.
É conta fácil de fazer.
O investidor traz US$ 100 milhões a R$ 2,72 = R$ 272 milhões.
Aplica R$ 272 milhões a uma Selic de 12,5% = R$ 306 milhões
Sai com o dólar a R$ 2,20 = US$ 139.090 milhões, ou 39% em um ano.
  1. As operações de swaps de moeda. O investidor toma um empréstimo em dólares, a uma taxa de 1% ao ano e aplica no Brasil a 12,5%.
Sem precisar imobilizar um tostão de capital, meramente com essa operação o investidor teria um ganho infinito. Não aplicou um dólar e recebeu US$ 39 milhões.
  1. O Banco Central troca poupança interna por poupança externa. Não amplia em nada o investimento privado e arca com uma conta fiscal pesada.
O investidor traz US$ 100 milhões. Adquire no mercado interno o equivalente a R$ 272 milhões.
O aumento na entrada de dólares provoca uma apreciação no real. Para impedir que isso ocorra, o BC vende títulos, recebe reais e com eles adquire os dólares que são colocados nas reservas cambiais.
Ou seja, o resultado líquido final é que o investimento privado não saiu do lugar. O investidor externos trouxe US$ 100 milhões; como contrapartida, o BC aumentou a dívida pública em R$ 272 milhões, colocou os títulos no mercado e retirou R$ 272 milhões da economia.
O resultado final é que a poupança total ficou na mesma. Para cada dólar que entrou houve uma aumento equivalente na dívida interna que retirou da economia o montante de reais equivalente à entrada dos dólares.
O BC aumentou seu passivo (a dívida interna) em R$ 272 milhões; e engordou seu ativo (as reservas cambiais) em US$ 100 milhões. Pela dívida ele paga 12,5% ao ano, em reais; pelas reservas cambiais ele recebe 1% ao ano, em dólares.
Se o câmbio permanecer inalterado no período, o resultado líquido dessa operação é um custo fiscal equivalente a 11,5% ao ano – sem acrescentar um tostão à poupança total do sistema.
Se o dólar cair para R$ 2,20, como no exemplo, o custo final poderá chegar a 40% ao ano.
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Nos últimos anos, a política cambial comportou-se assim.
Para atender o mercado, sucessivos governos permitiram políticas de apreciação do real.
Para compensar os grandes grupos não –financeiros, ofereceu toda sorte de arbitragem – como swap reverso e outras – permitindo que esses grupos compensassem as perdas operacionais com os ganhos de tesouraria.
Tudo isso foi possível quando havia um quadro externo favorável, com abundância de divisas e de arrecadação fiscal.
Agora, chegou a hora da verdade, de criar um ambiente econômico que permita às empresas lucrarem em cima das suas atividades produtivas.

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