Segunda-Feira, 01 de Dezembro de 2008
Ex-economista-chefe da Febraban diz que Banco Central deveria punir os bancos por exagero nas taxas dos empréstimos
Leandro Modé
A economia brasileira está sendo prejudicada pelo abuso de alguns bancos no campo do crédito e o Banco Central (BC) não deveria tolerar esse comportamento. A crítica não é de nenhum sindicalista, economista de esquerda ou consumidor que tenha se sentido esfolado pelos recentes aumentos no custo dos empréstimos. Seu autor é Roberto Troster, que foi economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) por quase seis anos.
De acordo com pesquisas de várias entidades de acompanhamento econômico, nas últimas semanas o setor financeiro aumentou os juros dos empréstimos e reduziu o prazo de pagamento. Troster avalia que não há razões para que os bancos tenham subido tanto as taxas de juros e acha que eventuais abusos devem ser punidos pelo governo.
Por que alguns bancos não emprestam?
É uma visão imediatista. Não faz sentido emprestar com taxas tão altas e por prazos tão curtos. Estão visando ao lucro no curto prazo, em vez de lucros sustentáveis no médio e longo prazos.
Trata-se de não querer ou é resultado da piora da conjuntura?
A conjuntura piorou, mas também aproveita-se da falta de liquidez para emprestar a taxas desproporcionalmente mais altas. Não há justificativa para aumentarem as taxas na velocidade em que aumentaram.
Como combater os abusos?
Em alguns países, como a Inglaterra, o Banco Central faz isso; é chamado de persuasão moral, é a forma mais simples e deveria funcionar. O ponto é que não pode haver tolerância com abusos não justificados. Há banqueiros querendo emprestar, há dinheiro, mas registros de exageros no preço. Quem sofre é a economia. Já tem gente postergando investimentos, empresas adotando férias coletivas.
O governo deveria acompanhar as taxas na ponta, então, e, se não houver justificativa, intervir?
Sim, é isso.
A mudança no cenário não justifica uma cautela maior por parte dos bancos?
Antes do agravamento da crise, eu já havia escrito sobre o aperto que estava havendo aqui dentro. O sistema brasileiro é fechado. Temos um sistema de poupança importante. Boa parte do sistema financeiro da América Latina é dolarizado. A gente quase não tem isso. Portanto, não dependemos do resto do mundo. Há muitos bancos pequenos e médios que querem emprestar, mas não têm a matéria-prima, que é dinheiro. Por isso, têm sido obrigados a demitir funcionários.
Não ficou perigoso para os bancos emprestar?
Eles têm de ser mais cautelosos, claro, mas temos de ver a proporção. O crédito estava crescendo a 30% ao ano, com uma economia avançando 5%. Em setembro, o crédito para pessoas físicas até R$ 5 mil teve retração. Não faz sentido isso. Ou seja, estão pagando os juros e amortizando, já. É um senhor aperto do crédito. Ser mais precavido é uma coisa, aumentar as taxas desproporcionalmente é outra.
Qual o impacto na economia?
É recessão. Já há projeções para o crescimento do ano que vem na faixa de zero. Antes, estimavam 4%. O impacto é muito grande. Se você quebra o crédito, começa o efeito dominó. Temos que evitar isso a qualquer custo. O Banco Central tem atuado, mas ainda pode fazer mais. O crédito tem um papel importante neste momento da história, pode ser o herói ou o vilão da crise.
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Comentário: Enquanto alguns setores progressistas estão organizando a campanha "O Petróleo tem que ser nosso", eu aqui convoco os brasileiros para uma campanha mais importante: "O Banco Central tem que ser nosso". Esse aí claramente não trabalha prá nós. Não faz sentido a inércia do BC diante do abuso dos bancos e não faz sentido a manutenção da SELIC no nível atual. Outro dia ví no relatório dos economistas do banco UBS que se a SELIC estivesse a 6% já estaria remunerando muito bem.
Até a Moody`s anda dizendo que o banco central brasileiro exagera no aperto monetário. Não que eu leve a sério essas agências de risco, mas tem um pessoal que ainda escuta fielmente.
Esse BC do Meirelles é uma mãe, libera dinheiro para que os bancos apliquem na dívida pública de um país que faz um tremendo esforço fiscal e economiza quase 4% do PIB. Aí a classe média desinformada reclama da qualidade dos serviços públicos. Os serviços públicos são ruins e ineficientes porque não há dinheiro para gastar nessas áreas por dois motivos: a política econômica trava o crescimento (mais emprego, mais impostos) e ao mesmo tempo se consome uma enorme massa de recursos públicos pagando juros.
Por isso: "O Banco Central tem que ser nosso"
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Vladimir M Coutinho
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