O Estado de São Paulo 18/04/2008
Para governador paulista, medida piora ainda mais a situação da balança comercial e prejudica o desempenho das transações correntes do País
Silvia Amorim
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), condenou ontem o aumento da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual - chegando a 11,75% ao ano - e afirmou que a medida só vem piorar ainda mais a situação da balança comercial e das transações correntes do País.
“A medida de ontem (anteontem) não tem a ver com nenhuma solução para isso. Pelo contrário”, disse o tucano. “O aumento dos juros tende a agravar a situação da conta corrente, no balanço de pagamentos, porque valoriza ainda mais o real em relação ao dólar, o que encarece as exportações e barateia as importações.”
Em um evento para anunciar a construção na capital paulista da primeira fábrica de hemoderivados do Brasil, Serra fez uma avaliação das principais conseqüências para a economia dessa elevação dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anteontem - foi a primeira alta desde maio de 2005.
O governador paulista mostrou preocupação especial com o aumento da dívida pública. “Eles (os juros) vão encarecer ainda mais o serviço da dívida pública no que se refere aos títulos pós-fixados. Não será nada menos que R$ 2 bilhões por ano.”
Para Serra, a medida vai agravar o que ele considera o maior problema econômico a ser resolvido no País. “O principal problema do Brasil hoje na área da economia é a deterioração do saldo da conta corrente no balanço de pagamentos. O saldo em conta corrente já está negativo e vai se ampliar até o final do ano.”
Economista de formação e ministro do Planejamento no governo de Fernando Henrique Cardoso, Serra fez uma projeção pessimista para os resultados da balança comercial nos próximos meses. “Os déficits comerciais começarão a partir de agosto.” E mandou um recado à equipe econômica do governo: “Essa é hoje a questão número 1 para preocupar aqueles que estão envolvidos com a economia”.
COBRANÇA
Sem citar integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Serra cobrou medidas eficazes para resolver de vez a “deterioração do balanço de pagamentos”.
“Estamos aguardando, digo, nós aqui em São Paulo e o Brasil inteiro, medidas que contrabalancem essa deterioração, que está criando uma situação de estrangulamento externo para a economia brasileira.” E reforçou mais uma vez a preocupação com a valorização do real. “Estamos preocupados com essa deterioração da balança comercial e da conta corrente. E o fator fundamental para isso é a hipervalorização do real. A medida de ontem (anteontem) não contribui para resolver esse problema.”
Serra vê um cenário pouco otimista para a economia, caso nada seja feito em relação ao balanço de pagamentos. “Haverá uma marcha negativa para a nossa economia no futuro”, considerou. Principal nome da oposição para disputar a Presidência da República em 2010, ele ressaltou que o problema não será sentido no curto prazo, mas em gestões futuras. Em seguida, destacou como acredita que um governo responsável deveria tratar o assunto. “Quando estamos na administração pública, devemos ter uma espécie de estrabismo no seguinte sentido: um olho no presente e outro no futuro. Não dá só para olhar o presente.”
O que ele disse não é novidade. Todo mundo entende um pouco de economia e está preocupado com o Brasil aponta os mesmos problemas.
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