Como observa a mais recente edição da "Perspectiva Econômica Mundial" (PEM), do Fundo Monetário Internacional, "a economia mundial penetrou num território novo e precário". O mais impressionante talvez sejam os contrastes entre a disparada nos preços das commodities e os colapsos no mercado de crédito e entre o crescimento aquecido nas economias emergentes e a recessão incipiente nos EUA.
A resposta da PEM à primeira pergunta é que a economia dos EUA poderá encolher em 0,7% entre o 4º trimestre do ano passado e o 4º trimestre de 2008. Enquanto isso, o crescimento na zona do euro deverá cair para apenas 0,9% entre o 4º trimestre de 2007 e o 4º trimestre de 2008.
Enquanto os mais importantes países de alta renda tropeçam, o quadro para as economias emergentes é de crescimento modestamente reduzido: 7,5% na Ásia emergente neste ano, com China a uma taxa de 9,3% e Índia com 7,9%; 6,3% na África e 4,4% no Hemisfério Ocidental.
No total, está previsto que o crescimento da economia mundial se reduzirá consideravelmente, de 4,9% em 2007 para 3,7% em 2008 (mensurados a taxas de câmbio pelo poder de paridade de compra). Em termos de crescimento a taxas de câmbio de mercado, a desaceleração é mais significativa, numa queda de 3,7% em 2007, para 2,6%. Ainda assim, o crescimento global se manteria bem acima dos níveis de 2001 e 2002.
Isso, portanto, seria um caso de "terremotos de vastas proporções mas não muitos feridos".
Não surpreende que a PEM conclua que os riscos pendem para a expectativa de perda. Tantos podem ser relacionados: agravamento das condições financeiras, riscos inflacionários, choques adversos adicionais no mercado de petróleo e a anulação desordenada dos "desequilíbrios" do sistema de pagamentos globais, especialmente se os investidores decidirem que o Federal Reserve abandonou o seu dever de conservar o poder de compra do dólar.
O que nos levou a esse ponto tem ao menos cinco componentes: o crescimento acelerado das economias emergentes, especialmente a China; a emergência de um gigantesco excedente de poupança em relação a investimento em importantes economias emergentes, particularmente China e países exportadores de petróleo; um período prolongado de baixa inflação e atividade econômica relativamente estável nos países de alta renda; liberalização e inovação financeira; e políticas monetárias de acomodação.
As economias emergentes têm sido as locomotivas do crescimento ao longo dos cinco anos passados: a China respondeu por um quarto; Brasil, Índia e Rússia, por quase outro quarto; e todos os países emergentes e em desenvolvimento juntos por aproximadamente dois terços (mensurados a taxas de câmbio pelo poder de paridade de compra) da expansão mundial.As economias emergentes também têm sido grandes exportadoras de capital.
O excedente de poupança tem sido absorvido em sua maior parte pelos países de alta renda com sistemas financeiros liberalizados peritos em canalizar crédito às pessoas interessadas em tomar emprestado na escala necessária: as famílias.
A PEM apóia o ativismo monetário do Fed e também recomenda relaxamento ao Banco Central Europeu; ele sugere estímulo fiscal arbitrário em alguns países. Propõe também mais apreciação cambial e taxas de juros mais elevadas para alguns países emergentes, especialmente a China. O que mais ressalta, a meu ver, nessa análise, contudo, são as quatro questões de política de prazo mais longo.
A primeira é se o padrão de pagamentos global pode ou poderá se adequar tranqüilamente sem desencadear outra rodada de crises financeiras, provavelmente em economias emergentes, em mais alguns anos. Seriam estas últimas agora robustas o bastante para acumularem déficits em conta corrente de forma segura?
A segunda questão é como administrar política monetária em meio a um vasto choque de preços de commodities. Os linhas-duras da inflação argumentam que a taxa de crescimento nos preços das demais coisas deve ser empurrada para baixo. O resultado seria um período sustentado de fraco crescimento.
A terceira é o que fazer com um sistema financeiro que se portou tão espetacularmente mal. Quão radicalmente deverá a regulação ser mudada?
Por fim, e mais fundamentalmente, será possível obter um consenso em países de alta renda em prol de uma economia liberalizada e globalmente integrada? Como persuadirmos os cidadãos de que a ascensão dos países emergentes, a mais promissora história da nossa era, deve ser bem-vinda, em vez de ser recebida com rancor ou combatida até, num momento em que eles estão experimentando desordem financeira, queda nos preços das moradias, recessão e disparada nos custos das commodities essenciais?
Este ano é um ponto de inflexão. Dependerá de nós fazê-lo virar na direção certa. Não será fácil.
Neste blog eu vou comentar algumas notícias, mostrar minha opinião sobre a economia brasileira, política e mídia.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Ponto de inflexão na gestão da economia
Interessante a coluna no Martin Wolf publicada no Valor de hoje (23/04/2008). Vejamos algumas partes.
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