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DOM, 17/08/2014 - 06:00
ATUALIZADO EM 17/08/2014 - 12:04
Os tais ajustes prometidos para 2015 são fantasmas que assombram o sono dos empresários sem que se materializem em discussões objetivas sobre seu alcance.
No início de sua gestão, Lula promoveu um duro ajuste monetário e fiscal. Depois disso, o país cresceu. No início de sua gestão, Dilma promoveu um duro ajuste monetário e fiscal. E a economia desabou.
Essa diferença mostra que o mantra de que, fazendo a lição de casa no início de governo, se terá o céu depois, depende das circunstâncias de cada momento.
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Reunidos no Rio de Janeiro, economistas de linha heterodoxa participaram de dois dias de debates no Seminário Brasil em Perspectiva e discutiram o tema.
Na avaliação geral, seja quem for o eleito, não haverá espaço para políticas radicais.
No caso de Lula, o ajuste se fazia necessário porque o quadro econômico, em 2002, era imensamente mais deteriorado do que o quadro atual. No início do governo Dilma, o quadro era outro. E, agora, é muito diverso, sem nenhum dos riscos criados em 2002.
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No ajuste radical os efeitos negativos são evidentes - recessão, desemprego - mas os benefícios para frente, não.
Essa ideia de que basta ter previsibilidade para despertar o espírito animal do empresário é balela. O que desperta é previsibilidade e garantia de mercado. Se se retirar a perna do consumo interno, o que resta?
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Como apontou a ex-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Vanessa Petrelli, estão esgotados os fatores que garantiram a dinâmica da economia nos últimos anos.
- Depois de 2008 houve a desaceleração do comércio mundial, deixando de ser alavanca de crescimento.
- O aumento de preços de commodities arrefeceu.
- A carga tributária não irá mais crescer no mesmo ritmo.
- Com o mundo crescendo menos, todos crescendo relativamente menos.
- Problemas de monta nas contas correntes, tanto na balança comercial como um crescimento expressivo na conta de serviços, com aumento na remessa de lucros, aluguéis de equipamentos e turismo.
- O elemento de controle inflacionário pela apreciação do câmbio está esgotado.
Se derrubar o emprego e renda, a economia afunda.
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Nesse dilema, não haverá como fugir de uma discussão ampla sobre o tal tripé econômico.
Vanessa considera essencial preservar espaço fiscal para garantir a política ativa de estímulos à economia e de garantia de emprego e renda.
Até hoje o governo não se valeu do espaço aberto por lei para retirar os investimentos do PAC do cálculo do superávit primário, diz ela. E o nível atual da dívida pública e do quadro fiscal é muito melhor do que na maioria absoluta de países.
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Vanessa não considera plausível nem racional tratar a inflação brasileira como choque de demanda. No início do governo Dilma, um choque de custos externo foi tratado com restrições de crédito e aperto fiscal e afundou o crescimento.
Em 2011, o BC conduzia uma competente rota de redução de juros quando outro choque de custos - motivado pela especulação com preços internacionais de commodities - promoveu um recuo, nova elevação dos juros que significou um tiro no peito do processo incipiente de transição da poupança para o médio e longo prazo.
Sem uma revisão das políticas de tratamento da inflação, o país continuará patinando.
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