terça-feira, 4 de novembro de 2014

Em meio a críticas, entidades repercutem decisão do Copom

Da Folha Online, 30/10.
A economia tá na pendura, não precisa nem subir juros nem fazer grandes cortes nos gatos públicos.

Jornal GGN - A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) em aumentar a taxa básica de juros para 11,25% não só surpreendeu os economistas, como também gerou críticas entre algumas entidades representantes do setor produtivo que, além de abordarem o impacto da medida, ressaltaram a necessidade de que outras iniciativas sejam tomadas para conter o avanço da inflação.
Na visão da diretoria do sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), "a economia brasileira passa por um período de baixo crescimento, piora da inflação, erosão do quadro fiscal e aprofundamento do déficit externo". Em nota, a entidade também mostra preocupação com a trajetória futura de inflação, levando em conta a necessidade de correção dos preços administrados. "Os desequilíbrios são inúmeros e o Sistema FIRJAN considera que a solução não passa por mais juros. Particularmente, é condição necessária uma nova postura no campo fiscal, com retorno à transparência e diminuição dos gastos públicos de natureza corrente, permitindo um recuo efetivo da inflação. Só assim voltaremos a ter um ambiente econômico mais saudável, com crescimento sustentável, inflação dentro da meta e juros em queda.”
Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Rogério Amato, o aumento "revela que predominou, na reunião do Copom, a preocupação com a inflação, apesar do baixo nível da atividade econômica" e, na visão do executivo, isso poderá levar a uma desaceleração ainda maior da atividade econômica. "O que se espera, agora, é que o governo anuncie um ajuste fiscal crível e rigoroso que permita ao BC reduzir novamente os juros em sua próxima reunião”, afirma Amato.
Já a Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomercio RJ) diz que o Copom "parece não ter dimensionado bem o momento vivido pela economia doméstica ao elevar os juros básicos". Em nota, a entidade diz que "diante dos comportamentos recentes da atividade econômica, das contas públicas e dos índices de preços, o Banco Central preferiu não reconhecer a limitação do arrocho monetário como estratégia de controle da inflação a todo custo. Mesmo porque a alta dos juros já cumpriu seu papel na ponta".
José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, acredita que o aumento dos juros "não vai contribuir em nada para diminuir a inflação" uma vez que, para ele, "o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano deve ser zero". Em comunicado, o executivo diz que "é preciso urgentemente diminuir o custo de se produzir no Brasil e incentivar investimentos que aumentem a oferta e a concorrência", de forma a levar a inflação para patamares menores. "Os juros altos esgotaram-se como único mecanismo de controle à inflação. Precisamos, sim, de ações estruturadas em médio e longo prazos para que a taxa básica de juros do Brasil deixe de ser refém do problema fiscal".
Segundo Coelho, "o único caminho para voltarmos a crescer, sem inflação, é realizar mudanças profundas nas políticas fiscal e industrial, além de aumentar a competitividade para se produzir no Brasil a custos mais baixos. O custo de produção no Brasil é pelo menos 34% superior ao dos nossos concorrentes".
Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), o aumento dos juros "não só impede qualquer tipo de retomada da atividade econômica no curto prazo, como também derruba ainda mais a confiança de empresas e consumidores, fator este preponderante para retomada futura, pois sem confiança não há investimento".
"Colocar toda a responsabilidade do combate à inflação na taxa de juros vem se mostrando uma estratégia equivocada, uma vez que está pondo em risco o maior patrimônio da economia brasileira atual, que é o emprego", diz o executivo, ressaltando ainda a inflação como outro ponto de preocupação, uma vez que a taxa oficial está próxima do teto da meta. "Está cada vez mais evidente que o modelo atual se esgotou. O Brasil precisa urgentemente de uma nova política econômica, baseada no controle do gasto público, para que possamos obter baixa inflação e alto crescimento econômico", conclui Skaf.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) diz que a decisão de aumentar os juros surpreendeu o setor produtivo, mas que "o desafio do país é criar as condições para uma redução sustentada da taxa de juros. A adoção de uma política fiscal restritiva é fundamental para a reversão das expectativas inflacionárias e para que o ciclo de alta dos juros seja o mais curto possível".

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