Valor Online
03/02/2009
A queda da produção industrial brasileira em dezembro, de 12,4% ante novembro, foi considerada dramática pelo mercado. A baixa, divulgada hoje pelo IBGE, superou as previsões mais pessimistas e já contamina as projeções de economistas para este ano, agora negativas.
Alguns economistas já mencionam que o chamado "carry over" (herança estatística) de 2008 para 2009 seria negativo em 16% no setor industrial. Isso equivale a dizer que se a produção industrial ficasse estável durante todo este ano, sem nenhum crescimento sobre o nível do fim do ano passado, a atividade já teria baixa de 16% ao final de 2009.
Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas, previa queda de 8% na produção industrial de dezembro e espera agora um efeito estatístico negativo de 16% na produção industrial deste ano. No entanto, ele acredita que pode haver recuperação em janeiro, com expansão de 4% ante dezembro.
Mesmo assim, o dado divulgado hoje já reforça uma previsão negativa para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Ele acredita que o PIB em 2009 deve ficar negativo em 0,4% (perante variação nula prevista antes) e crescer 5,2% no ano de 2008, menos do que os 5,5% estimados ate então.
Mesmo assim, o dado divulgado hoje já reforça uma previsão negativa para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Ele acredita que o PIB em 2009 deve ficar negativo em 0,4% (perante variação nula prevista antes) e crescer 5,2% no ano de 2008, menos do que os 5,5% estimados ate então.
O cenário avaliado por ele como "complicado" mostra difusão da retração da atividade entre os vários setores industriais (25 dos 27 segmentos analisados pelo IBGE tiveram baixa na comparação com novembro). Isso pode levar, segundo ele, o Banco Central a manter o ritmo de corte da Selic em 1 ponto percentual em março. Até sexta-feira, quando os dados da Sondagem Industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) já antecipavam número ruins, Lintz esperava um corte de 0,75 ponto para o juro básico.
Alexandre Schwarstman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do Banco Central, concorda que o desempenho industrial surpreendeu - ele esperava também queda de 8% -, o que pode levar a um ajuste das expectativas em relação ao ciclo de corte do juro básico pelo BC. O economista, que também esperava redução de 0,75 ponto percentual da taxa Selic em março, agora acredita que esse corte pode ser maior.
Mesmo sem ter refeito ainda as previsões para PIB, Schwarstman adianta que elas ficarão piores. Ele avalia, no entanto, que essa desaceleração não poderia ter sido evitada por ações do governo. "Pela rapidez com que a crise se manifestou, seria difícil imaginar o que evitaria isso", diz.
Já o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), acha que o Banco Central não reagiu à altura da gravidade da crise ao manter por muito tempo a taxa de juros inalterada em nível elevado (de 13,75% ao ano) até o mês passado, quando a cortou em 1 ponto percentual. Além disso, o Iedi diz que as medidas para retomada do crédito são "tímidas", sobretudo aquelas dedicadas à exportação e agricultura.
Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Investimentos, não vê a situação dessa maneira. "O que está minando o crescimento é o cenário externo e contra isso não há muito o que o governo possa fazer", diz. Segundo ele, mesmo a flexibilização da política monetária tem ação limitada, pois o grande efeito para a economia é gerado pelas taxas de longo prazo. "E elas estão condicionadas pelo risco-país" diz.
Mesmo assim, Silveira acredita que o Copom deve reforçar o corte do juro para 1,5 ponto percentual em março e repetir o movimento em abril, encerrando a flexibilização em 4 pontos percentuais. Depois do dado industrial de hoje, a previsão do economista para o PIB do país neste ano passou de 0,8% de alta para 0,5% de queda. O PIB de 2008 foi revisto para 5,5%, com retração de 2,2% entre o terceiro e o quarto trimestres.
(Bianca Ribeiro | Valor Online)
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