Interessante a visão da Vale do Rio Doce sobre a economia Chinesa (Relatório 3º Trimestre 2008), otimista, mas muito bem fundamentado, melhor do que as análises que vemos por aí na mídia.
Dado que a China possui elevado superávit em conta corrente – 11,3% do PIB em 2007 –, o comércio externo é o canal de transmissão dos ciclos de negócio das economias desenvolvidas para a atividade econômica doméstica. Diferentemente de países asiáticos menores voltados para exportação, as exportações chinesas não se constituem no motor de expansão da demanda agregada. Devido ao porte de sua economia, a demanda externa líquida possui papel secundário no crescimento da demanda agregada. Em 2007, por exemplo, o PIB aumentou 11,9%, dos quais a demanda doméstica contribuiu com 9,4% e a demanda externa líquida com os 2,5% restantes.
Outro elemento importante é a natureza do comércio chinês com o restante do mundo: quase a metade das exportações da China compreende processamento de produtos importados, cujo valor-adicionado é relativamente pequeno. Nesse caso quando as exportações diminuem há também redução de importações. Tal característica não isola a China de choques externos, mas faz com que a demanda externa líquida seja menos sensível à desaceleração global.
Isso ajuda a explicar a resistência mostrada pela economia chinesa face a recessões passadas no mundo desenvolvido. A economia da China tem sua própria dinâmica e seus ciclos tem mostrado desde o início dos anos 80 forte correlação com a adoção de políticas macroeconômicas para estabilizar a inflação doméstica.
A expansão de crédito tem sido restringida desde 2007, em especial os empréstimos bancários para o setor imobiliário. Com a menor liquidez, as aquisições de imóveis e de terras têm diminuído e os investimentos e construção de imóveis se reduzido. O enfraquecimento das atividades da construção civil tem afetado negativamente a demanda por aço já que, segundo a CISA5, elas são responsáveis por 38% do consumo doméstico de aço.
O mercado imobiliário é muito importante como fonte de renda para os governos locais e para a criação de empregos e crescimento econômico, na medida em que é responsável por 20-25% do investimento em ativos fixos, que representa mais do que 40% do PIB chinês.
A desaceleração da construção civil na China é tipicamente um fenômeno cíclico na medida em que os fundamentos de longo prazo permanecem muito sólidos. A renda nas cidades está crescendo mais rapidamente do que os preços dos imóveis, elevando a capacidade de compra da casa própria. Apesar do impressionante processo de urbanização, mais da metade da população chinesa ainda vive em áreas rurais, em situação similar a do Brasil em meados dos anos 50.
A despeito do aumento de construção de imóveis residenciais nos últimos anos, o total construído ainda é relativamente pequeno em relação à demanda potencial. As famílias não estão endividadas e continuam sendo grandes poupadoras líquidas, com alta capacidade para tomar hipotecas. A resposta da política econômica ao desaquecimento da atividade tem sido limitada até agora. Além de outras medidas menos importantes, desde julho a taxa de câmbio nominal RMB/USD foi estabilizada para ajudar exportadores, algumas restrições de crédito foram revogadas e o People's Bank of China implementou duas rodadas de cortes de juros de 27pb – os primeiros desde 2002 – e uma redução de 100pb da taxa de recolhimento compulsório dos bancos.
Em linha com precedentes históricos, acreditamos que a governo chinês tomará medidas adicionais para reativar a economia, implementando medidas de política monetária e fiscal de modo mais proativo. O grau de saúde econômica é melhor do que em ocasiões anteriores nos quais o governo teve que agir para evitar deterioração do ritmo de atividade, como em 1998 e 2001: a inflação está em queda, há superávit fiscal e gigantescas reservas internacionais, a razão dívida pública/PIB é baixa e o sistema bancário desfruta de condições bem melhores.
O Conselho de Estado da China anunciou que pretende empregar medidas de política fiscal, de crédito e de comércio internacional para ajudar a manter um crescimento rápido e estável. Estas políticas implicam maiores gastos em infrainstrutora e habitação, isenções de impostos para exportação, redução de impostos para transações imobiliárias, apoio financeiro para empresas de pequeno e médio porte e reformas na agricultura.
(...)
A economia da China deverá desacelerar mais durante o restante do ano, à medida que demanda externa cai e a redução de investimentos em manufaturas leves e construção civil freiam a expansão da economia. Prevemos a reaceleração do crescimento econômico já no primeiro semestre de 2009, puxada por maiores gastos em infra-estrutura, estabilização e subseqüente recuperação do investimento na construção residencial, estimulando a demanda por minerais e metais.
Espera-se que as economias emergentes sirvam de fonte de resistência contra o choque financeiro global, usufruindo de fortes ganhos de produtividade e políticas macroeconômicas de melhor qualidade.
http://www.vale.com/vale/media/vale_brgaap_3T08p.pdf
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