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DOM, 02/11/2014 - 06:00
ATUALIZADO EM 02/11/2014 - 06:00
São complexos os desafios do segundo governo Dilma Rousseff para a transição de uma economia baseada no consumo para o investimento.
Há o desafio de recuperar a confiança dos agentes econômicos. O maior fator de desconfiança é o estilo autocrático da presidente, de tomar medidas no impulso sem consultar ninguém e sem pesar as consequências. E há o desafio de organizar as contas públicas.
No primeiro governo, o voluntarismo de Dilma resultou no seguinte:
- No início de governo, um choque na demanda com as medidas prudenciais que derrubaram a economia sem derrubar a inflação.
- No meio do governo, o recuo da estratégia de derrubar a taxa Selic e as manobras contraditórias entre aumento da Selic numa ponta e flexibilização monetária na outra.
- Quando a economia desabou, medidas de estímulo fiscal, sem análise mais aprofundada das consequências sobre o orçamento público.
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A maneira de Dilma recuperar a confiança dos agentes econômicos depende de alguns fatores centrais.
O mais relevante é a garantia de que acabou a era das decisões de impulso e do gerenciamento pessoal da economia pela presidente. Por tudo isso, a decisão intempestiva de aumentar a taxa Selic em 0,25 pontos não ajuda.
A alegação de fontes do Palácio é que teria sido uma sinalização para acalmar o mercado enquanto não se define o próximo nome para a Fazenda. Com a divulgação, ontem, do maior déficit público pós-Real, ficou claro que era um antídoto contra a péssima notícia, que provavelmente provocará o rebaixamento do risco Brasil pelas agências de rating.
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E aí se entra no segundo desafio: a transição entre o modelo atual (baseado no consumo) para um novo fator dinâmico, baseado no investimento. Não se trata de um trabalho trivial, mecânico, de reduzir (ainda mais) o consumo para automaticamente brotar o investimento.
Consumo é condição necessária para o investimento. E se não é mais o fator dinâmico, que sustenta o crescimento, é a perna que ainda sustenta a economia. Se quebrá-la, a economia afunda e o desemprego aflora. E toda o cacife eleitoral de Dilma vai por água abaixo em pouco tempo.
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O desafio é grandioso. Trata-se de escolher o timing correto para manter de pé a perna do consumo enquanto tenta-se deslanchar o investimento.
Certamente não serão o Ministro da Fazenda Guido Mantega, o Secretário do Tesouro Arno Agustin e o presidente do Banco Central Alexandre Tombini os condutores ideais dessa travessia. Conseguiram perpetrar a maior barbeiragem fiscal da história recente do país, ao provocar um déficit público recorde. Há meses voltou a praga do contingenciamento, desorganizando todo o sistema de despesas públicas.
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Agora - para acalmar o mercado, aumenta-se a Selic, para recompor o “bom ambiente” econômico.
- Aumenta o custo fiscal da dívida.
- Encarece a Taxa Interna de Retorno de todos os projetos de investimento. Quem vai investir, agora, com essa Selic e a perspectiva de novos aumentos?
- Reforça a ideia do voluntarismo de Dilma Rousseff.
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Mesmo que se considerasse inevitável o aumento da Selic, se deveria aguardar o próximo Ministro, a próxima equipe econômica, a elaboração de um plano factível a ser anunciado por um Ministro com um mínimo de capacidade de organizar as ideias centrais em torno de um discurso público.
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