quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O dia em que Arminio Fraga detonou a Tailândia

Armínio Fraga, candidato a ministro da economia de Aécio, já ganhou muito dinheiro com informações privilegiadas no mercado financeiro. Fez parte do ataque especulativo à Tailândia que quebrou a Tailândia e levou muitos para a pobreza. 


É esse cara que vocês querem por para comandar a economia do Brasil?


Segue o artigo do meu professor de economia brasileira na Unicamp.

http://jornalggn.com.br/noticia/o-dia-em-que-arminio-fraga-detonou-a-tailandia

O dia em que Arminio Fraga detonou a Tailândia

Armínio planejou ataques especulativos para Soros
Pedro Paulo Zahluth Bastos
O livro More Money Than God: Hedge Funds and the Making of a New Elite (Bloomsbury), publicado pelo jornalista inglês Sebastian Mallaby em 2010, traz uma revelação explosiva sobre a atuação de Armínio Fraga como gestor do Fundo Soros para mercados emergentes [link: http://books.google.com.br/books/about/More_Money_Than_God.html?id=JklJ0ZoJtmAC&redir_esc=y]. Armínio teria obtido informações privilegiadas que o levaram a planejar e executar o ataque especulativo contra a Tailândia, que gerou lucros hoje estimados em R$2,5 bilhões de reais para George Soros e ele mesmo.
A moeda tailandesa, o Baht, foi a primeira a ruir na Crise Asiática 1997, que deixou milhares de cidadãos desempregados, arruinou empresas e as finanças públicas de diversos países pobres e detonou a reversão do ciclo de expansão de liquidez para os chamados “mercados emergentes”, o que levaria à crise do Real no Brasil em 1999.
O livro tem como fonte uma série de documentos privados dos investidores e um conjunto de entrevistas gravadas com os operadores dos hedge funds, as empresas de gestão de recursos que realizam operações especulativas, a descoberto, com alto grau de alavancagem financeira.
Embora Armínio e outros operadores do Fundo Soros tenham sido entrevistados (um deles entregou notas diárias tomadas durante a crise), seria de se imaginar que as informações fossem questionadas pelos especuladores depois da publicação, considerando-se o conteúdo político sensível de algumas delas. Pelo contrário, Armínio conferiu entrevista ao jornal Valor Econômico em 24 de maio de 2013 [link: http://www.valor.com.br/cultura/3136868/cirurgiao-das-financas] em que o livro é citado sem reparos, embora sem sua parte mais explosiva.
Formação ou informação privilegiada?
A especulação bem sucedida contra a Tailândia tem o misto de formação privilegiada einformação privilegiada, obtida antes dos demais agentes de mercado com autoridade política ingênua do Banco Central da Tailândia. Quando a vulnerabilidade externa de um país coincide com a fragilidade financeira de seu sistema bancário, o banco central enfrenta um dilema: elevar taxa de juros para contornar o desequilíbrio cambial ou reduzir a taxa para limitar a inadimplência de empréstimos que pode agravar a situação dos bancos.
Esse dilema não é nada novo, tendo caracterizado crises cambiais e financeiras desde o padrão ouro-libra, mas Armínio se disse alertado para o problema asiático por uma palestra de Stanley Fischer (FMI) e pela leitura de artigo científico [link: http://mpra.ub.uni-muenchen.de/14081/1/MPRA_paper_14081.pdf] sobre as relações entre crise cambial e bancária.
A informação privilegiada que induziu o ataque especulativo foi obtida, porém, em entrevista de Armínio e outros dois economistas do Fundo Soros com alta autoridade do Banco Central Tailandês, que foi questionado por Armínio sobre a prioridade a ser conferida pelo banco: elevar taxa de juros para defender a moeda de um ataque especulativo ou reduzi-la para evitar o agravamento da situação dos bancos?
Segundo Mallaby (que entrevistou Armínio sobre a conversa), Armínio invocou sua própria experiência como diretor do Banco Central do Brasil (1991-1993) e pareceu, ao funcionário tailandês, “mais como um parceiro benigno de um mercado emergente do que como um ameaçador predador de Wall Street”.
O funcionário ingênuo respondeu que a prioridade de defender a moeda tailandesa com a mais elevada taxa de juros que fosse necessária poderia estar mudando, em vista da taxa de juros mais baixa requerida por conta dos problemas crescentes dos bancos. Fraga e seus colegas teriam visualizado uma maleta cheia de dinheiro caso especulassem com a moeda tailandesa, mas fingido não notar para não alertar o funcionário do Banco Central da Tailândia a propósito de sua ingenuidade. Se notasse, ele poderia elevar a taxa de juros para encarecer a especulação cambial ou mesmo recorrer a bloqueios administrativos contra especuladores estrangeiros.
Voltando a Nova Iorque, Armínio Fraga discutiu com o Fundo Soros sobre planejamento do ataque especulativo contra a moeda tailandesa. Um dos economistas que esteve na reunião com a autoridade inocente do Banco Central da Tailândia, Rodney Jones, questionou os outros dois sobre a moralidade de especular contra países em desenvolvimento: “se as moedas forem desvalorizadas sem controle, milhões de inocentes serão levados à pobreza desesperadora”. Mallaby parece sugerir que Armínio Fraga e os outros não consideraram o argumento suficiente para abortar o ataque especulativo que rendeu 750 milhões de dólares.
Em qual Armínio Fraga confiar?
Desde a década de 1990, a porta giratória entre o mercado financeiro e o sistema político vem sendo usada por um grande número de economistas que, em um momento, especula contra a moeda e o sistema financeiro de diferentes países, para em seguida serem nomeados como restauradores da confiança e credibilidade de algum dos países perante aqueles que podem ganhar com crises cambiais e financeiras.
Armínio Fraga usou a porta giratória em 1999, saindo do Fundo Soros para tornar-se presidente do Banco Central do Brasil. Ou seja, a autoridade responsável por defender a moeda e o sistema financeiro brasileiro, depois de ter sido decisivo para o ataque especulativo que iniciou a sucessão de crises cambiais que chegou ao Brasil e derrubou o Real em 1999.
No cargo, Armínio Fraga não hesitou em elevar a taxa de juros ao nível de 45% a.a., embora isso prejudicasse “milhões de inocentes levados à pobreza desesperadora” pela crise cambial. É provável que o remédio amargo tenha sido exagerado, mas inegavelmente ajudou a criar a credibilidade de Armínio Fraga perante o mercado financeiro.
Aécio Neves já deu a entender ter escolhido seu Ministro da Fazenda e disse que Armínio inspira confiança e credibilidade. Para quem?
Uma vez que Armínio Fraga é novamente cotado para atravessar a porta giratória, é legítimo que perguntemos em que Armínio Fraga devemos confiar: naquele que tem conexões políticas e formação privilegiada? Ou naquele que especula com base em informações privilegiadas obtidas de autoridades políticas ingênuas, ainda que um economista de sua empresa o alerte sobre os “milhões de inocentes (que) serão levados à pobreza desesperadora”? Na “autoridade benigna de um mercado emergente” ou no “ameaçador predador de Wall Street”?
Pedro Paulo Zahluth Bastos - Professor Associado (Livre Docente) do Instituto de Economia da UNICAMP e ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE).
Desregulamentação financeira dos 90 interrompeu avanço dos tigres asiáticos iniciado no pós-guerra
Marcel Gomes - Especial para Carta Maior
A crise asiática de 1997, iniciada na Tailândia no verão daquele ano, foi causada por uma conjuntura de alto endividamento interno, valorização cambial e descontrole bancário. É mais ou menos a receita que havia feito implodir o México, três anos antes, e que estaria na fonte do colapso do real no Brasil, em janeiro de 1999, primeiro mês do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Pressionado pelos mercados, e sem dólares para fazer frente às suas obrigações, o governo tailandês decidiu desvalorizar o baht, moeda local. A medida fez explodir a dívida externa do país e espalhou o caos para seus vizinhos de sudeste asiático, como Indonésia e Malásia. A dívida externa média dos países da região saltou de 100% do PIB para 167%, segundo a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Com a desvalorização generalizada das moedas locais, o problema virou político. Os preços de alimentos e outros bens de consumo dispararam. Na Indonésia, Suharto foi obrigado a abandonar o poder, após 30 anos no poder.
Em seguida, a crise rumou ao norte e chegou à Coréia do Sul. Na tentativa de conter a onda de contágio, que já ameaçava a economia mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) liberou um pacote financeiro de US$ 40 bilhões, com o objetivo de elevar a confiança dos mercados na região.
Apenas em 1999 as economias da região voltaram a crescer. Mas aí seria a vez de o Brasil demonstrar que o modelo de liberalização financeira, estimulado pelo próprio FMI, teria de fato um forte potencial de crise em sua concepção.
Em artigo publicado na revista Economia e Sociedade, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em dezembro de 1998, Carlos Aguiar de Medeiros detalhou o processo de abertura financeira no sudeste asiático, em geral estimulado por pressão externa.
Segundo ele, Coréia, Tailândia, Malásia, Formosa, Indonésia e Filipinas promoveram
incentivos ao investimento no mercado de ações, relaxaram os limites nos investimentos estrangeiros, e ampliaram o acesso de firmas internacionais de seguros ao mercado doméstico.
“Assim, economias com forte tradição de controle sobre os fluxos de
capitais e sobre o sistema financeiro doméstico passaram no início dos anos 90
por rápido desenvolvimento do mercado de capitais e progressiva abertura ao
capital estrangeiro”, explica Medeiros.
Em países como Coréia, Malásia e Tailândia, a relação entre o valor das ações negociadas em bolsa e o PIB atingiu valores elevados e superiores à média dos países da OCDE.
“Ao desregular os fluxos de capitais a Coréia, como outros países
asiáticos, abriu mão do controle das taxas de câmbio e da alocação seletiva dos
investimentos internos”, disse ele. Este processo, aponta o autor, terminou por minar os mecanismos de coordenação que fizeram da Coréia um caso espetacular de crescimento e de catch-up do pós-guerra.

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