sábado, 4 de outubro de 2014

Os erros do Banco Central com o câmbio

http://jornalggn.com.br/noticia/os-erros-do-banco-central-com-o-cambio

Ex-Secretário de Política Econômica do governo Dilma Rousseff, principal responsável pela política econômica proativa na crise de 2008, Nelson Barbosa tem reparos à política cambial praticada pelo Banco Central.
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O câmbio tem três implicações macroeconômicas: na competitividade da economia (quanto maior a desvalorização, mais setores internos serão competitivos), na inflação (quanto maior a desvalorização, maior a inflação, e menor o poder de compra dos salários), e do crescimento (tanto apreciação quando depreciação excessiva comprometem o crescimento).
O ideal para a política macroeconômica seria ter sempre uma taxa de câmbio real elevada para manter a estabilidade do balanço de pagamentos e uma alta participação nas exportações mundiais., diz Barbosa.
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Com base nas três correlações mencionadas, para ele, o atual sistema de metas inflacionárias - “pelo menos do ponto de vista teórico” – é consistente com a estabilidade da taxa de câmbio real e do saldo em conta corrente. Ao definir o piso e a meta de inflação, o BC acaba por estabelecer limites informais para a flutuação da taxa de câmbio que, por sua vez, define limites para o saldo em conta corrente e para a taxa de crescimento potencial da economia.
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O problema é quanto se passa da teoria à prática.
Sua crítica maior é em relação à magnitude das operações cambiais do BC. Na gestão Alexandre Tombini o banco vendeu o equivalente a 25% das reservas internacionais na forma de swaps cambiais (operações no mercado de derivativos). Gastos uma munição gigantesca para meramenmte trazer a taxa de câmbio real de volta à sua média de longo prazo. “O BC deveria ter esperado mais antes de usar tamanho arsenal cambial”, criticou ele em trabalho recente, apresentado na Semana de Economia da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
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O erro do BC foi ter levado em conta apenas os impactos da variação cambial de curto prazo e não os fundamentos da economia. “O aumento do déficit em conta corrente, o financiamento crescente deste déficit por capitais especulativos atraídos pelo carry trade, o alto custo unitário do trabalho em USD e a perda de competitividade internacional da economia brasileira indicam que ainda é necessário algum ajuste da taxa de câmbio real. O BCB pode e deve suavizar a velocidade deste ajuste, mas não deve se opor a este ajuste”.
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Diz Barbosa que uma elevação adicional da taxa de câmbio real terá efeitos inflacionários no curto prazo, mas que podem ser combatidos pelos mecanismos usuais de política monetária, como a taxa de juros e os depósitos compulsórios.
“Além disso, o impacto inflacionário de uma elevação adicional da taxa de câmbio também pode ser compensado por outros instrumentos de política macroeconômica, como uma elevação do resultado primário do governo, bem como por outras ações estruturais que melhorem a produtividade e a eficiência da economia”.
O “pass-through” – efeito do câmbio sobre os preços ao consumidor – é de 5% a 10%, dependendo do ajuste ou não dos preços dos combustíveis. Esse efeito total tende a ocorrer em um período de 18 meses. “À medida que a taxa de câmbio real se estabiliza num novo patamar, o impacto inflacionário da depreciação cessa e a inflação cai no médio prazo”.

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