QUA, 21/10/2015 - 18:53
ATUALIZADO EM 21/10/2015 - 19:40
Os PMs foram até a casa do Afonso de Carvalho Oliveira Trudes, suspeito de ter roubado uma bicicleta. Mesmo sem mandado, detiveram-no, levaram-no a uma quebrada e o entregaram a uma Delegacia de Polícia de Itaquera, São Paulo, quatro horas depois, todo machucado.
Informado sobre o ocorrido, com a confirmação dos laudos médicos, o delegado Raphael Zanon, da 13a DP. ordenou a prisão do sargento Charles Otaga, por prática de tortura.
Imediatamente a delegacia foi cercada por PMs, ameaçando ir atrás do delegado em sua casa ou de sua namorada.
O delegado solicitou apoio do GOE (Grupo de Operações Especiais). PMs garantiam que o preso tinha se machucado ao cair da bicicleta. Os PMs bradavam que o delegado "estava mostrando as garras" e atualizavam a todo momento pelas redes sociais o que estava ocorrendo na delegacia. Segundo a reportagem, um dos PMs disse aos colegas de farda "é hora da gente se unir e defender os nossos", segundo reportagem da Folha.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou agressão com objeto de choque no pênis, bolsa escrotal, percoço e perna, machucados nas costelas e múltiplas lesões na parte esquerda da coxa e das nádegas, tudo devidamente documentado.
É um episódio pouco usual, menos pelas torturas, mais pela coragem de um delegado de polícia de fazer cumprir a lei.
O delegado Zanon sabia bem que, ao cumprir a lei, estaria expostos à represália de uma força que abriga, entre os seus, esquadrões da morte.
De seu lado, provavelmente o Secretário de Segurança Alexandre Moraes não vai se pronunciar. Marqueteiro, como seu colega Ministro da Justiça, Moraes veio a público se manifestar sobre a motorista de 28 anos que, embriagada, matou dois trabalhadores que pintavam faixas de ciclovias. Mas foge dos temas sérios. Virou assunto muito mais pela beleza da motorista do que por solidariedade às vítimas.
A exemplo do Ministro José Eduardo Cardozo com a Polícia Federal, Moraes não possui a menor ascendência sobre a PM. Se a imprensa insistir, anunciará a abertura de um procedimento qualquer que se perderá no tempo, quando a memória seletiva da mídia deixar de cobrar resultados.
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