sexta-feira, 22 de maio de 2015

A caminho da depressão econômica profunda

http://jornalggn.com.br/noticia/a-caminho-da-depressao-economica-profunda-por-andre-araujo

Por André Araújo
Países também cometem suicídio, caminham para o abismo sem olhar para os lados a passo firme e convicto. O atual conjunto de medidas de ajuste fiscal somado à politica monetária do Banco Central é uma mistura incompatível e explosiva. Uma correção de excesso de despesas é algo racional. Nenhum governo pode gastar muito mais que arrecada por muito tempo.
A política monetária do Banco Central, visando atingir em 2016 o "centro da meta" de 4,5%, é irracional porque a escalada de alta de juros não tem o poder de fazer recuar a inflação através do esfriamento da economia. A inflação brasileira não é mais causada por pressão da demanda sobre a oferta, fazendo os preços subirem. A atual inflação tem outras causas que não estão no excesso de demanda.
Não há uma explosão de compra de carros, televisões, geladeiras, roupas, nem mesmo de alimentos. Não havendo essa pressão de demanda porque derrubar mais ainda a demanda já fria? Qual a lógica mesmo na teoria econômica ortodoxa?  Alta de taxa de juros na teoria clássica visa a esfriar a demanda, porque fazê-la quando está já caiu?
Encarecer ao máximo o custo da dívida pública, beneficando detentores de liquidez e prejudicando devedores da economia produtiva?  Qual a defesa teórica dessa alta de juros e travamento do crédito numa situação já recessiva?
A teoria clássica recomenda a alta de juros para esfriar a demanda mas a demanda já está fria. Ao mesmo tempo a alta de juros PREJUDICA o ajuste fiscal porque encolhe a base de arrecadação e aumenta os custos do carregamento da divida publica. Não tem lógica. É como tomar remédio para dormir e tomar remedio para agitar ao mesmo tempo.
Minha impressão é que esse grupo não sabe o que está fazendo, a politica econômica como um todo é inconsistente.
O ajuste fiscal é defensável embora a qualidade dos cortes seja muito discutível. Não ouvi falar em corte de despesas em atividade meio, parece que estão sendo feitos cortes lineares sem exame do mérito.
Corta-se dos centros de gastos politicamente mais fracos, não vi o Ministro Levy se manifestar sobre isso, ele simplesmente quer cortar, se atingir esparadrapo de ambulatórios tanto faz..
A alta de juros é extraordinariamente maléfica porque reverbera nos empréstimos de todos os bancos que sobem em linha de múltiplos da Selic. E não adianta dizer que é para refrear a concessão de crédito novo. O grosso dos devedores JÁ DEVE, não pode escolher entre dever e pagar, eles simplesmente precisam rolar a dívida, não tem como pagar e aí, na rolagem, pagam juros cada vez mais altos. A inadimplência vai explodir na carteira dos bancos, mas será que o Banco Central não está preocupado com isso? Parece que não, eles usam alguma teoria que dá certo em Marte e nem se incomodam com as consequências na economia real e especialmente no emprego. Como disse o jornalista Carlos Alberto Sardenberg da CBN, o "Banco Central deve até achar bom o desemprego porque ajuda a atingir a meta de inflação para o ano que vem", falou sério e não com ironia.
O Senador Lindberg Faria enxergou a contradição absurda no conjunto da politica econômica em discurso de hoje.
O Ministro Levy tem um currículo respeitável, com mestrado na Universidade de Chicago, alma mater do monetarismo, mas o monetarismo não é uma escola contraditória. Tem uma base científica, ideologicamente discutível. Fiz uma longa análise dessa escola no meu livro MOEDA E PROSPERIDADE, análise crítica mas respeitando a consistência logíca do pensamento monetarista, nascido na década de 20, muito anterior a Milton Friedman, que é da segunda geração da escola. O monetarismo não é radical, tem consistência que não vejo no conjunto da política fiscal e da politica monetária, cada uma caminha na direção contrária da outra, não dá para entender. A observar a Diretoria atual do Banco Central, a mais medíocre dos últimos 20 anos, não se vê nenhuma potência intelectual no colegiado.
Minha sugestão é uma convocação da diretoria do BC na Comissão temática do Senado, onde a Diretoria deve explicar qual a racionalidade do conjunto da política fiscal e da política monetária, elas são absolutamente inconsistentes, como bem observou o Senador Lindberg. Muito mais lógica seria realmente atacar o ajuste fiscal mas não tentar ao mesmo tempo fazer recuar a inflação à metade do que é hoje em um ano, é um esforço demasiado para um organismo econômico já combalido, o que será na prática impossível mas o esforço em tentar pode matar o país por asfixia.
É possivel reativar a economia combinado com o ajuste fiscal com mais afrouxamento da politica monetária, ninguém vai morrer se a inflação em vez de 8% for a 6,5% no ano próximo, é melhor tentar o factível e não o sonhático.
A Índia vai este ano ter o maior crescimento entre as grandes economias, mais que a China, com inflação acima de 8% e ninguem lá ficou apavorado com essa taxa de inflação, estão mais ocupados em fazer o País crescer.
Estamos entrando em um túnel escuro sem luz no fim ou o Congresso se mexe agora ou depois para sair da recessão (ou depressão) é MUITO MAIS DIFÍCIL do que sair da inflação, essa é a lição da História Econômica.

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