domingo, 3 de maio de 2015

A desastrosa política monetária

http://jornalggn.com.br/noticia/a-desastrosa-politica-monetaria-por-motta-araujo

por Motta Araujo

As grandes variáveis da economia são ao mesmo tempo independentes e reflexivas. O ajuste fiscal que visa o equilíbrio das contas públicas, a inflação e o crescimento do PIB podem ser perseguidos independentemente. Perseguir duas variáveis ao mesmo é difícil, três ao mesmo tempo é quase impossível.
Mas é evidente por si só que uma política monetária não é uma variável autônoma como projeto, ela visa sempre atender ao conceito mais amplo de política econômica, da qual a monetária é uma ferramenta.
O Plano Levy persegue duas variáveis, o ajuste fiscal e a inflação. A proposta é complicada. Ao subir a taxa básica de juros visando controlar a inflação prejudica o ajuste fiscal, sem necessariamente conseguir baixar a inflação.
Ao elevar a taxa Selic aumenta a despesa de juros da dívida pública e aprofunda a recessão pelo encarecimento do crédito, fazendo em consequência cair a arrecadação de impostos.
Faz assim o Tesouro AUMENTAR a despesa e CAIR a receita, tudo vai contra o ajuste fiscal. As duas ações, subir os juros e procurar equilibras as contas publicas brigam entre si, uma ação vai contra a outra.
Ao aprofundar a recessão pela alta de juros e concomitantemente corte de gastos, duas ações recessivas, provoca desemprego autoalimentado, os 10.000 empregos cortados a cada semana vão fazer cair mais o consumo e isso em sequência faz aumentar a recessão.
Mais lógico seria perseguir o ajuste fiscal SEM AUMENTAR os juros, se  aumentar um pouco a inflação esse resultado deve ser aceito temporariamente porque o desemprego em massa é pior que a inflação. O Brasil viveu longos períodos com inflação e bom nível de emprego, como os anos JK (os "anos dourados"), os anos do milagre econômico 66-73.
A elevação de taxa de juros por outro lado NÃO é remédio eficaz contra a inflação na economia brasileira porque grande parte dos preços não são afetados pela alta de juros. São os chamados preços administrados, que não flutuam por oferta e demanda, tais como energia, telecomunicações, água, gás, combustíveis, IPTU, tarifas de ônibus, grande áreas de produtos CARTELIZADOS como cimento, aço, alumínio, derivados de cobre. A alta de juros se abate então para uma parte da economia, não afeta nem preços e nem demanda sobre outra.
Os salários de funcionários públicos, alguns absurdamente altos, na USP há 1.792 que ganham acima do teto de 27.000, vários ganham entre 45 e 60 mil Reais por mês, em todo campo jurídico público os vencimentos são muito altos e imunes a crise, todos esses segmentos não são afetados por alta de juros que atinge, porém, a industria automobilística, a de eletrodomésticos, móveis e construção civil, EXATAMENTE os grandes setores do emprego.
O alvo maior do ajuste fiscal, segundo o próprio Ministro Levy, é manter o chamado grau de investimento para o Brasil, a nota que as agências de rating atribuem. É um alvo desproporcional ao sacrifício do ajuste. A importância dessa nota é muito menor hoje do que era há 25 anos. A faixa de investidores que se guia por esse rating é hoje muito pequena, basicamente fundos de pensão, que investem quase nada no Brasil.
A variável crescimento não é sequer pensada nem no longo prazo pelo Plano Levy, essa equipe econômica não tem interesse em crescimento como componente central da política econômica, tanto que não tem qualquer cuidado para evitar a recessão, parece que a desejam como arma contra a inflação. É uma política alucinada para um País com graves problemas sociais e imensas carências de infra estrutura, uma onda de desemprego em massa terá profundos efeitos políticos e sociais sobre uma economia ainda imatura como  a brasileira.
Assusta a qualquer analista a ausência de qualquer preocupação da equipe econômica com o emprego e o crescimento. O que menos o Brasil precisa hoje é de uma política monetarista ortodoxa, que está LONGE de ser um consenso mesmo entre os prêmios Nobel de economia. Nomes como Tobin, Solow, Mundell, Akerhof, Stiglitz, Krugman, Schiller, Modigliani, Haavelmo, têm visões bem mais sofisticadas sobre política econômica.
O antigo antagonismo entre a Escola Austríaca e os keynesianos deu lugar a uma ideia mais moderna de que é preciso fazer COMBINAÇÕES de políticas e não engessar toda a economia numa só direção doutrinária como um plano puramente monetarista cujo eixo é a taxa de juros e a restrição de crédito.
Essa COMBINAÇÃO de políticas econômicas só pode ser regida por cérebros muito flexíveis como um Delfim Neto que conhecem todas as escolas e teorias e sabem fazer o MIX. Não vejo nessa equipe esse brilho, parecem burocratas de nível bem médio a quem falta ousadia para relançar um PLANO DE CRESCIMENTO simultâneo com o Plano de Ajuste Fiscal que julgo necessário e até insuficiente, há mais o que cortar do que a equipe se propõe a cortar.
Gestos simbólicos são fundamentais, porque não cortar TODOS os jatinhos da FAB que levam Ministros? Isso não tem em nenhum País, quem aceita ser Ministro tem que morar em Brasília, se não quiser que fique na sua terra. E viajar para cá e para lá não é necessário, as viagens para "inaugurações" visam o capital político pessoal  do Ministro e não a eficiência de seu Ministerio, 95% dessas viagens são inúteis.
Nas Universidades Federais há milhares de servidores ganhando acima do teto, se só na USP tem quase 1.800, nas outras também tem pelos mesmos truques e muitos professores recebem sem trabalhar. O TCU acabe de fazer um levantamento da folha de servidores da União e encontrou milhares de adicionais indevidos, mães sem filhos ganhando auxilio-creche foi um dos caos mais comuns.


Enfim, que o Plano Levy necessário caminhe par a par com um Programa de crescimento baseado em investimentos em infraestrutura por parcerias, concessões e garantias publicas, é preciso imaginação e agressividade, dinamismo e liderança, JK fez Brasília em 5 anos, querendo se faz, o Brasil não pode se conformar com um plano monetarista puro, como se isso fosse a única coisa a fazer para um Pais já em recessão.

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