domingo, 31 de maio de 2015

De onde virá a retomada da confiança?

http://jornalggn.com.br/blog/rodrigo-medeiros/de-onde-vira-a-retomada-da-confianca


Não se pode dizer que nos últimos tempos os mais diversos levantamentos sobre os estados de confiança dos agentes econômicos tenham nos surpreendido no Brasil [1]. A recente divulgação por parte do IBGE tampouco se revela efetivamente surpreendente do ponto de vista das expectativas gerais pessimistas com a economia [2].
Segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou variação negativa de 0,2% na comparação do primeiro trimestre de 2015 contra o quarto trimestre de 2014, na série com ajuste sazonal. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve contração de 1,6% do PIB no primeiro trimestre do ano. No acumulado dos quatro trimestres terminados no primeiro trimestre de 2015, o PIB registrou queda de 0,9% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores.
O destaque negativo e bem preocupante é a queda dos investimentos (FBCF), da ordem de 6,9% nos últimos quatro trimestres. Em tempos de ajuste fiscal, resta saber de onde virá a retomada do crescimento brasileiro. Há quem aposte na retomada da confiança dos agentes econômicos, logo mais adiante, por conta de um ajuste fiscal de viés ortodoxo. Paul Krugman ironicamente vem nos alertando há alguns anos para o risco da crença generalizada na "fada da confiança" [3].
Afinal, qual é a estratégia ou a agenda de desenvolvimento do Brasil? Em um contexto adverso de contração dos gastos familiares, de retração dos investimentos produtivos, de elevação do desemprego e de ajuste fiscal contracionista, temperado por um aperto monetário do Banco Central, de onde virá mesmo o crescimento econômico? Não parece que virá de outro boom externo. Os índices de commodities Bloomberg e The Economist, por exemplo, apontam para quedas acumuladas entre 18% e 24% no último ano. Nos EUA, a recuperação esperada ainda não se mostrou sustentável [4]. A China desacelerou e poderá desacelerar mais logo adiante.
Para Hyman Minsky, são as expectativas de lucro que determinam os planos de produção e os empregos oferecidos pelas firmas [5]. A oferta não pode ignorar as condições de financiamentos da produção, sendo que na economia moderna capitalista a criação essencial de moeda envolve o financiamento dos investimentos ou as posições de ativos. A estabilidade é algo transitório no capitalismo, pois o investimento produtivo é um processo que consome tempo e é baseado na expectativa de lucros, realizando-se, portanto, sob a incerteza.  
Creio que uma retomada do crescimento sustentado entre nós demandará uma agenda progressista – tributação progressiva e transparente, redução/simplificação dos tradicionais excessos burocráticos, qualificação da mão de obra e avanços educacionais gerais previstos no novo PNE (Plano Nacional de Educação), elevação dos investimentos em infraestrutura (concessões e PPPs, por exemplo), evolução institucional das agências reguladoras e uma reforma do sistema financeiro nacional. Há outros pontos que podem ser considerados, mas o importante seria termos de fato uma base mínima de consensos sobre o que priorizar no momento.

Rodrigo Medeiros é professor do Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo)

[1] Sondagens e Índices de Confiança da FGV (clique aqui).
[2] PIB recua 0,2% e chega a R$ 1,408 trilhão no 1º trimestre de 2015 (clique aqui).
[3] Death of a Fairy Tale (clique aqui).
[4] Economia dos EUA tem queda de 0,7% com revisão do PIB do 1º trimestre (clique aqui).
[5] Estabilizando uma economia instável (clique aqui).

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