SEG, 24/08/2015 - 11:37
Jornal GGN - Em 2007, quando decidiu abrir uma conta no HSBC Private Bank, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, foi classificado pelo banco como “pessoa politicamente exposta”, termo utilizado para pessoas com risco de receber dinheiro de fontes ilícitas.
Logo depois, o formulário de aprovação do banco dizia que o risco era baixo, devido a um relatório de um Bernardo Freiburghaus, também réu da Operação Lava Jato, acusado de operacionalizar o pagamento de propina da Odebrecht para Paulo Roberto Costa no exterior.
De acordo com o escritório da Procuradoria-Geral da Suíça, “o sistema financeiro suíço tem sido seriamente afetado pelo escândalo da Petrobras”, já que muitos acusados utilizaram contas no país. Estima-se que mais de cem contas bancárias estão na mira dos investigadores, em pelo menos dez bancos no país europeu.
Da Folha
Em 2007, Paulo Roberto Costa abriu uma conta em Genebra e o alarme do HSBC Private Bank soou.
O banco classificou o diretor da estatal brasileira como "pessoa politicamente exposta" –no jargão do mercado, alguém com risco receber recursos de origem escusa– e abriu uma apuração.
Pouco depois, o formulário de aprovação cravava que o risco era baixo.
O sinal verde veio após relatório de um consultor "independente": Bernardo Freiburghaus, hoje réu da Lava Jato sob acusação de operacionalizar o pagamento de propina da Odebrecht para Costa no exterior.
Ao menos dez instituições financeiras do país escoaram dinheiro desviado da estatal.
Inicialmente, as investigações no país se concentraram sobre ex-dirigentes da Petrobras e operadores. Em julho, a Odebrecht e pessoas ligadas à empresa passaram a ser alvo de inquéritos no país.
Segundo fontes próximas da investigação, mais de cem contas bancárias entraram no radar dos investigadores e o equivalente a R$ 1,2 bilhão já foi bloqueado. O número de contas é crescente.
"O sistema financeiro suíço tem sido seriamente afetado pelo escândalo da Petrobras porque muitas pessoas acusadas e até condenadas no Brasil conduziram operações altamente suspeitas em contas aqui", reconheceu o escritório da Procuradoria-Geral da Suíça à Folha.
Invocando sigilo judicial, a Procuradoria suíça não informou nomes dos suspeitos.
Ainda não existe investigação formal sobre nenhum banco suíço, segundo aFolha apurou, mas o setor financeiro deverá ser o próximo elo da cadeia da corrupção ligada à Petrobras.
Por meio do canal de cooperação internacional, o Ministério Público daquele país pediu acesso aos autos da Lava Jato para instruir suas próprias investigações.
GERENTE MILIONÁRIO
Três delatores da Lava Jato também implicaram funcionários graduados de bancos suíços. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco contou que Denise Kos, ex-executiva dos bancos Safra-Sarasin e atualmente do Lombard Oder, o ajudou a lavar US$ 97 milhões em propinas de contratos com a estatal.
Segundo ele, Kos fez o dinheiro circular por quatro bancos diferentes e também facilitou a abertura de contas. Após terem firmado acordos de delação em que concordaram em devolver R$ 226 milhões, os lobistas Julio Faerman e Mário Góes também disseram que tiveram a ajuda da executiva.
CONSEQUÊNCIAS
Segundo analistas, a Operação Lava Jato pode trazer consequências incômodas para o setor bancário no país, que nos últimos anos endureceu as regras antilavagem de dinheiro para melhorar a reputação do país.
"O sistema é muito estrito. Mesmo se a cumplicidade com a lavagem não for provada no plano criminal, condenações graves [de bancos] podem acontecer no âmbito do direito econômico", afirma Millicent Larrey, diretora da Vision Compliance, firma de consultoria que é baseada em Genebra.
Em junho, o HSBC pagou multa de 40 milhões de francos (R$ 148 milhões) em acordo para encerrar investigações do caso SwissLeaks.
OUTRO LADO
Procurado, o HSBC Private Bank na Suíça não quis emitir comentários sobre a abertura de conta para o então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, após de tê-lo identificado como "politicamente exposto" (com risco de receber recursos ilícitos).
Em nota, a instituição disse somente que "está colaborando com as investigações".
O banco também não quis responder sobre a relação com Bernardo Freiburghaus –réu na Lava Jato sob acusação de distribuir propina da Odebrecht a Costa. Freiburghaus foi o consultor que atestou idoneidade do ex-diretor para abertura da conta.
A Odebrecht e Freiburghaus sempre negaram a acusação feita pelo Ministério Público Federal de envolvimento com corrupção.
Denise Kos, executiva implicada em suspeita de lavagem de dinheiro por delatores, não foi encontrada.
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