TER, 29/09/2015 - 18:55
JORNAL GGN - Foi num crescendo: Janot recomendou ao STF que Lula seja ouvido pela Polícia Federal nas investigações da Lava Jato. Certo? Errado. Ao contrário do que divulgaram os jornais na última semana, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não "recomendou" que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja ouvido nas investigações da Operação Lava Jato. Contrariando a grita dos títulos, Janot afirmou que não há indícios que justifiquem a inclusão de Lula no rol de investigados, mas incluiu que isso não impede que, se necessário, o ex-presidente e os outros listados sejam ouvidos como testemunhas.
A informação foi divulgada incorretamente pelo Estado de S. Paulo, na última sexta-feira (25), que não teve cuidado ao interpretar o processo. Na primeira parte do despacho de Janot, ele elenca o "Relatório" do que foi solicitado pela autoridade policial, antes de tomar a sua decisão na segunda parte do documento. Ao relatar os pedidos do delegado, Janot descreve que a autoridade:
A repórter do Estadão, entretanto, agregou esse trecho à decisão final de Janot, como se ambas as partes fossem o posicionamento do procurador-geral da República. (http://bit.ly/1FDCa59)
Em outra reportagem (Janot pede ao Supremo que Lula seja ouvido pela PF na Operação Lava Jato), atualizada duas horas depois, a jornalista, após manter o tom de "recomendaçao" do procurador-geral da República, descreve que "até o momento não há o que “justifique” a ampliação da lista de investigados perante o Supremo" e que "de forma cuidadosa, o parecer aponta que os nomes mencionados pela Polícia Federal não são investigados", segundo Janot.
A Folha de S. Paulo seguiu a mesma linha e manchetou: Janot recomenda que STF autorize PF a ouvir Lula sobre Lava jato. E O Globo tampouco teve o cuidado no seu título: Janot é favorável a convocação de Lula como testemunha. Ambos os jornais, entretanto, descreveram no conteúdo das reportagens a postura real do procurador.
A ênfase negativa do Estadão, que posteriormente teve uma tentativa de conserto do erro, manteve-se na pauta do jornal, que neste domingo (27) publicou uma sugestiva análise de bastidores indicando que a possibilidade de um depoimento do ex-presidente "deixou o governo em alerta".
"O temor é que uma eventual convocação do petista, mesmo sem ser investigado, amplie a crise do governo Dilma Rousseff", afirma a reportagem (abaixo), que traz fontes generalizadas para o suposto "temor", como "governo", "Planalto" e "PT". O jornal escutou apenas líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), que restringiu-se a criticar como "conotação política" a intenção de se chamar Lula para testemunhar.
Leia a reportagem e, em seguida, a decisão de Rodrigo Janot na íntegra:
Para Planalto, eventual convocação para depor na Lava Jato ampliaria crise, mesmo que ele não seja investigado
Por Daniel Carvalho e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestar depoimento à Polícia Federal como testemunha do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato deixou o governo em alerta. O temor é que uma eventual convocação do petista, mesmo sem ser investigado, amplie a crise do governo Dilma Rousseff.
No Planalto, a avaliação é de que qualquer ação que associe a imagem do ex-presidente ao escândalo é algo que abre um precedente “muito ruim”. O PT tenta desqualificar e minimizar o fato. Anteontem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal no qual recomenda ao relator, ministro Teori Zavascki, que aceite o pedido da PF para ouvir Lula, como testemunha.
“O ex-presidente vai testemunhar sobre o quê? Há uma clara conotação política nessa iniciativa”, afirmou o líder do PT do Senado, Humberto Costa (PE).
Para o senador, não há nenhum fato que envolva o ex-presidente no escândalo da Petrobrás. Ele qualifica como uma “coisa isolada” a iniciativa do delegado da PF Josélio Sousa, que além da autorização para ouvir Lula, pede também os testemunhos dos ex-ministros Gilberto Carvalho e Ideli Salvatti.
Para o deputado tucano Antonio Imbassahy (BA), 1.º vice-presidente da CPI da Petrobrás, a decisão de Janot é acertada. “Lula é um cidadão comum que tem de observar a legislação como todos. Todo o esquema do 'petrolão' foi iniciado no governo dele, por isso tem obrigação de prestar os esclarecimentos. Como presidente, ele tinha responsabilidade sobre as ações de seus subordinados.”
Segundo a edição da revista Veja desta semana, o ex-deputado Pedro Corrêa, preso desde abril por envolvimento no esquema de desvios na Petrobrás, estaria negociando com o Ministério Público um acordo de delação premiada. A publicação afirma ainda que Corrêa teria dito aos procuradores da Lava Jato que Lula e a presidente Dilma Rousseff sabiam da existência do esquema de corrupção que funcionava na estatal.
Também de acordo com a revista, Corrêa contou, em conversas preliminares, que o “petrolão” nasceu em uma reunião no Planalto, da qual participou. No encontro, cuja data não foi informada pela publicação, definiu-se a nomeação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da estatal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário