TER, 29/09/2015 - 13:45
Do Le Monde Diplomatique
Trump vai provavelmente fracassar, mas não sem ter esclarecido, à sua maneira, o funcionamento do sistema político local: “Sou um homem de negócios. Quando [os candidatos] me pedem, eu dou. Se preciso de alguma coisa dois ou três anos depois, eu peço a eles, e eles estão lá para mim”
por Serge Halimi
Em 2012, Barack Obama e Mitt Romney consagraram cerca de US$ 1 bilhão cada um ao financiamento de sua campanha presidencial. Em vez de doar a um candidato, o bilionário nova-iorquino Donald Trump decidiu ele mesmo entrar na arena: “Ganho US$ 400 milhões por ano, então que diferença isso faz para mim?”. Outro bilionário, Ross Perot, prometia desde 1992 “comprar a Casa Branca para devolvê-la aos norte-americanos que não podem mais pagar por ela”.
Trump vai provavelmente fracassar, mas não sem ter esclarecido, à sua maneira, o funcionamento do sistema político local: “Sou um homem de negócios. Quando [os candidatos] me pedem, eu dou. Se preciso de alguma coisa dois ou três anos depois, eu peço a eles, e eles estão lá para mim”. Ex-senadora por Nova York e candidata às primárias democratas, Hillary Clinton também esteve “lá”: “Eu disse a ela para vir ao meu casamento, e ela veio. Vocês sabem por quê? Porque doei dinheiro para sua fundação”. A fim de obter um presidente incorruptível, sugere Trump, escolham na lista os corruptores!
Uma decisão da Suprema Corte suprimiu em 2010 a maioria das restrições às doações políticas dos indivíduos e das empresas privadas.1 Desde então, as grandes fortunas estampam sem pudor seus favores. Para explicar o número sem precedentes de candidatos republicanos à Casa Branca (dezessete), o New York Times ressalta que quase cada um pode contar “com o apoio de um bilionário, o que significa que sua campanha não tem mais nenhuma relação real com sua capacidade de levantar fundos se dirigindo aos eleitores”. Jeb Bush já redefiniu a natureza das “pequenas doações”. Para a maioria dos candidatos, é menos de US$ 200; para ele, menos de US$ 25 mil..
Três bilionários – Charles e David Koch, e Sheldon Adelson – se tornaram assim os grandes padrinhos da direita norte-americana. Os irmãos Koch, que execram os sindicatos, pretendem doar US$ 889 milhões às eleições do ano que vem, quase tanto quanto cada um dos grandes partidos. O governador do Wisconsin, Scott Walker, está entre seus favoritos, mas três de seus concorrentes republicanos deferiram sua convocação com a esperança de conseguir também alguma doação.2
Walker também tenta cativar Sheldon Adelson, oitava maior fortuna do país e adorador do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.3 Neste caso ainda, ele não é o único a bajular o bilionário octogenário.4 Há dois anos, Adelson estimava que os Estados Unidos deveriam expedir mísseis nucleares para o Irã em vez de negociar com seus dirigentes. Os dezessete candidatos republicanos talvez tivessem essa apreciação em mente quando debateram entre si em 6 de agosto passado. Em todo caso, todos se opuseram ao acordo recentemente fechado entre Washington e Teerã.
Serge Halimi é o diretor de redação de Le Monde Diplomatique (França).
1 Ler Robert W. McChesney e John Nichols, “Aux États-Unis, médias, pouvoir et argent achèvent leur fusion” [Nos Estados Unidos, mídias, poder e dinheiro concluem sua fusão], Le Monde diplomatique, ago. 2011.
2 Marco Rubio, Ted Cruz e Rand Paul, respectivamente senadores da Flórida, do Texas e do Kentucky.
3 Ler “Netanyahou, président de la droite américaine?” [Netanyahu, presidente da direita norte-americana?], La Valise diplomatique, 4 mar. 2015. Disponível em: www.monde-diplomatique.fr.
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