SAB, 19/09/2015 - 18:48
Jornal GGN – Pesquisadores brasileiros publicaram no exterior um estudo sobre o colapso do Sistema Cantareira, um dos principais reservatórios do estado de São Paulo. De acordo com eles, o problema foi causado principalmente pela demora do governador Geraldo Alckmin de reduzir a exploração do manancial.
“A culpa não é do sistema natural, ele sempre funcionou assim. Foi um problema de gestão, que negligenciou aspectos fundamentais do funcionamento de bacias hidrográficas”, afirmo o ecologista Paulo Inácio Prado, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
Do Estadão
Por Fábio Leite
Pesquisadores brasileiros mostram como bacia hidrográfica passou para estado de ineficiência na produção de água em janeiro de 2014
Um artigo recém publicado por pesquisadores brasileiros em uma revista científica americana afirma que o Sistema Cantareira sofreu uma “transição catastrófica”, entre o fim de 2013 e o início de 2014, provocada pela demora dos gestores em reduzir a exploração do manancial, apesar dos indícios de estiagem.
Os cientistas afirmam que, desde janeiro de 2014, quando a crise foi anunciada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Cantareira já havia mudado do “estado normal” para um “estado de ineficiência”, no qual a água da chuva já não se reverte em aumento do nível de armazenamento das represas porque é absorvida pelo solo seco, no chamado “efeito esponja”.
“A culpa não é do sistema natural, ele sempre funcionou assim. Foi um problema de gestão, que negligenciou aspectos fundamentais do funcionamento de bacias hidrográficas”, afirma o ecologista Paulo Inácio Prado, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores.
Para explicar a transição catastrófica, um termo da física que descreve mudanças bruscas de um estado para outro, o pesquisador Roberto Kraenkel, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), compara a situação do Cantareira com a de um barco no lago. “Ele está sob o efeito do vento e das ondas, mas não vira. Se existir um evento excepcional, sabemos que o barco pode virar, e de forma rápida. Depois que ele vira, fica muito difícil desvirálo. Infelizmente, foi isso que aconteceu.”
Segundo Kraenkel, as chuvas na região do Cantareira não diminuíram de repente e o volume de água que entra nas represas por meio da chuva, dos rios e do lençol freático já vinha em queda há mais tempo. “Era possível ter percebido isso antes e reduzido a retirada de água do sistema desde de outubro (de 2013), mas isso só começou a ser feito em fevereiro. Desta forma, (os gestores) acabaram jogando o sistema dentro da catástrofe”, diz.
Segundo Prado, se as medidas tivessem sido tomadas naquela época, o racionamento de água seria menor hoje e a recuperação do sistema, mais rápida. “A retirada de água já está em menos da metade e ainda estamos com volume baixo. Se os próximos meses não forem muito chuvosos, será preciso reduzir ainda mais a distribuição da água”, diz. O estudo também é assinado pelo pesquisador Renato Mendes Coutinho, da Unesp.
Em nota, a Agência Nacional de Águas (ANA) cita relatório climático que aponta que a estiagem foi “anormal” e “imprevisível” e desde fevereiro de 2014 defende reduções significativas do uso do Cantareira. A Sabesp e o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) não se manifestaram até as 20 horas.
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