TER, 29/09/2015 - 17:40
Jornal GGN - "Dólar fecha a R$ 4,05, a maior cotação na história do Plano Real", publicou o Estadão, no dia 22 de setembro. "Dólar sobe e rompe barreira dos R$ 4, a maior cotação da história", também divulgou a Folha. Foram instantes até a notícia chegar às agências republicadoras: "Dólar passa dos R$ 4 e alcança maior cotação da história", propagou a Reuters. Não deixando de fechar o norte das pautas do dia, também o Jornal Nacional: "Dólar chega à cotação mais alta da história do real nesta terça (22)".
"Dólar se mantém acima de R$ 4 e volta a fechar no maior valor da história", não foi notícia repetida do G1, mas do dia seguinte (23) - o que se estendeu por novos jornais e repercussões ao longo da semana. Naquela quarta-feira, a coluna do Luis Nassif "A miopia na análise dos recordes do dólar", publicada aqui, denunciou a maquiagem das notícias sobre a alta.
Aos fatos:
Na semana passada, a cotação do dólar superou a marca simbólica de R$ 4, fechando o dia na terça (22) com R$ 4,05. Foi o maior valor nominal desde a implementação do Plano Real de 1994. As análises e repercussões não se lembraram, contudo, de corrigir os valores pelo IPCA no real e pela inflação no dólar. Ao invés de fazer a conversão ao peso efetivo desse valor aos leitores, os veículos trataram de escandalizar a notícia do "maior valor", de imediato.
O Estado de S. Paulo publicou, no dia 23, um "Para Entender - Até quando o dólar continuará a subir a montanha?", desdobrando-se em "quem ganha", "quem perde" e os "fatores que explicam" a alta do dólar. Deixando de lado os contextos necessários, a reportagem imprimiu um infográfico "Dólar subiu mais de R$ 0,50 em um mês", e trouxe especialistas para dizer que o aumento é resultado da "deterioração gradual dos indicadores da economia brasileira", que o mercado exportador ganha com a alta, mas de forma "temporária", e que quem perde são "os mais pobres".
Foi o suficiente para publicações nos dias seguintes como "Momento ruim do Brasil ganha apelido: é a crise da caipirinha - Analistas estrangeiros tentar encontrar apelido para a crise brasileira que levou o dólar a R$ 4 e a mantém a economia em recessão", "Alta do dólar vira piada nas redes sociais - Se sentindo mais pobre, os internautas reclamam da situação financeira", e até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) aproveitando-se da situação para afirmar que o PT estaria "mordendo a língua, de tanto que disse que recebeu um governo quebrado em 2002".
Na quarta (24), o GGN foi o único a alertar para as métricas reais.
Nos grandes jornais, a novela do dólar que começou na terça (23) só foi ser efetivamente contextualizada na sexta (25), quando o Estadão recuou e publicou: "Corrigido pela inflação, dólar está longe do pico de 2002". Agora, com a cautela devida, o repórter introduziu o texto: "À primeira vista, a cotação do dólar bateu nesta semana o recorde desde a criação do real, em 1994". E completou: "Mas quando se atualiza os valores, levando em conta a correção pela inflação, o dólar está longe de superar o patamar de 2002".
Ainda que com a correção, os reflexos de manchetes como essa ganham propagações sem volta.
"Brasileiros já trocam Disney por Beto Carrero - Com dólar alto, parque catarinense espera superar a marca de 2 milhões de visitantes", é manchete no mesmo jornal no dia seguinte."Com dólar a R$ 4, sonho da casa própria nos EUA fica mais longe", consegue disparar O Globo, no sábado. A Folha usou o alarde para estampar o editorial de domingo "O recado do dólar" na edição que também manchetou: "Subida do dólar acelera empobrecimento do Brasil".
"Dólar salta mais de 3%, maior avanço em 4 anos, e volta a R$4,10, com mercado testando o BC", retomou ao erro a Reuters, na noite desta segunda (28).
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