QUI, 17/09/2015 - 20:12
Da Carta Maior
Sintoma desses tempos de avanço conservador, o NOVO se posiciona à direita da direita e tem Rodrigo Constantino como intelectual orgânico
Najla Passos
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou nesta terça (15) a criação do Partido Novo, o 33º do país, que será representado pelo número 30. Embora se apresente como o partido capaz de fazer política de uma forma vanguardista, o NOVO é a verdadeira síntese destes tempos sombrios de avanço conservador e despolitização levada ao extremo.
Seus ‘valores’ parecem não fazer muito sentido, mas dialogam com o sentimento difuso dos revoltados on e off-line que andam a protestar pelas ruas: não aceita dialogar com a política partidária tradicional, mas se registra conforme as regras traçadas pelos demais e aspira jogar o mesmo jogo; não aceita classificações ideológicas clássicas, mas se posiciona claramente à direita da direita.
Por isso, conquistou uma grande e rápida capilaridade. Em menos de um ano, reuniu quase 500 mil certidões reconhecidas em cartório de eleitores dispostos a se filiarem na nova sigla, número suficiente para atender as exigências da legislação eleitoral. Conseguiu formar diretórios em nove estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal, Mato Grosso, Roraima, Ceará e Rio Grande do Sul.
Seus membros não são pessoas ligadas à política partidária tradicional que se orgulham de dizer que são pessoas do mercado. Dentre os 181 membros fundadores, a maioria é de administradores, engenheiros, estudantes , advogados, médicos, economistas, empresários e arquitetos, nesta ordem. Atendem ao típico perfil coxinha: nível superior, renda superior e pouco entendimento do que é a vida para quem pega ônibus para chegar às periferias.
O presidente é João Dionisio Amoêdo, 52 anos, engenheiro civil pela UFRJ e administrador de empresas pela PUC-RJ. Trabalhou no Citibank, BBA Creditanstalt, Finaustria e Unibanco. O vice é Fábio Luis Ribeiro, 38 anos, administrador de empresas pela FAAP e mestre em Economia pela Università Bocconi em Milão. Trabalhou na TAM, no iG e no Credit Agricole e foi empreendedor do setor aeronáutico. Hoje é gestor do fundo de investimentos Neptuno.
Como todo partido que se preza, o NOVO também já cuidou de conquistar o seu intelectual orgânico: Rodrigo Constantino, o colunista da revista Veja que, em artigo saudando o partido, publicado no site da revista nesta quarta (16), afirma que o NOVO é diferente porque todos os partidos que existem hoje no Brasil são de esquerda. “Sim, até o PSDB, caro leitor desavisado”, defende ele.
Vanguarda do atraso
A despeito do nome, o partido bebe no liberalismo que foi vanguarda sim, mas lá no século 18, nos tempos de Adam Smith e a sua obra clássica “A Riqueza das Nações”. Os filiados ao Novo, que preferem ser chamados de “sócios”, acreditam naquela mítica mão invisível do mercado, capaz de reger todas as relações humanas com os melhores resultados possíveis. Para eles, a defesa da propriedade privada é um valor em si mesmo. A falácia de que tudo o que é privado é melhor do que público, também.
Formado genuinamente por universitários que, desde a redemocratização, escutam o mantra neoliberal que tomou conta da academia brasileira, os “sócios” do NOVO são favoráveis ao estado mínimo, praticamente sem nenhuma função social. Conforme o site do partido, de todos os serviços previstos como essenciais pela Constituição Federal, o único que o NOVO concorda que fique nas mãos do Estado é a educação, e mesmo assim apenas o ciclo básico.
Contraditoriamente, porém, seu presidente afirmou, em entrevista concedida às Páginas Amarelas de Veja, em novembro do ano passado, que o Bolsa Família é o melhor programa social em execução no país, porque permite ao cidadão decidir como irá gastar o subsídio do Estado. Segundo ele, o ideal é que o mesmo fosse feito com saúde e educação: o Estado fornecesse o crédito e o cidadão escolhesse em qual serviço privado iria emprega-lo. Constantino aplaudiu no seu artigo semanal.
Na mesma entrevista, o presidente que odeia o Estado paternalista, mas aprova o Bolsa Família, rechaçou as cotas raciais e sociais. Segundo ele, as cotas dividem a população e estabelecem privilégios. Para o NOVO, justiça social só se faz com meritocracia, aquele sistema no qual os que historicamente têm mais acesso e oportunidade sejam premiados por isso e se mantenham eternamente nas posições de poder. O ‘filósofo” do grupo, Rodrigo Constantino, chega a pregar que “desigualdade social não é problema”, já que alguns se esforçam mais do que outros.
Mas as cotas não são o único tema no terreno dos costumes que desvela o conservadorismo do NOVO. O partido fala muito em defesa dos direitos individuais, mas sequer tem a coragem de manifestar posição sobre temas como aborto, drogas ou casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Entendemos a importância de temas como esses, mas vamos focar, prioritariamente, na discussão de assuntos ainda mais relevantes, como, por exemplo, o papel do Estado, a eficiência da gestão, a atuação dos governantes, as políticas econômicas e outros”, justificam no site.
Seus ‘valores’ parecem não fazer muito sentido, mas dialogam com o sentimento difuso dos revoltados on e off-line que andam a protestar pelas ruas: não aceita dialogar com a política partidária tradicional, mas se registra conforme as regras traçadas pelos demais e aspira jogar o mesmo jogo; não aceita classificações ideológicas clássicas, mas se posiciona claramente à direita da direita.
Por isso, conquistou uma grande e rápida capilaridade. Em menos de um ano, reuniu quase 500 mil certidões reconhecidas em cartório de eleitores dispostos a se filiarem na nova sigla, número suficiente para atender as exigências da legislação eleitoral. Conseguiu formar diretórios em nove estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal, Mato Grosso, Roraima, Ceará e Rio Grande do Sul.
Seus membros não são pessoas ligadas à política partidária tradicional que se orgulham de dizer que são pessoas do mercado. Dentre os 181 membros fundadores, a maioria é de administradores, engenheiros, estudantes , advogados, médicos, economistas, empresários e arquitetos, nesta ordem. Atendem ao típico perfil coxinha: nível superior, renda superior e pouco entendimento do que é a vida para quem pega ônibus para chegar às periferias.
O presidente é João Dionisio Amoêdo, 52 anos, engenheiro civil pela UFRJ e administrador de empresas pela PUC-RJ. Trabalhou no Citibank, BBA Creditanstalt, Finaustria e Unibanco. O vice é Fábio Luis Ribeiro, 38 anos, administrador de empresas pela FAAP e mestre em Economia pela Università Bocconi em Milão. Trabalhou na TAM, no iG e no Credit Agricole e foi empreendedor do setor aeronáutico. Hoje é gestor do fundo de investimentos Neptuno.
Como todo partido que se preza, o NOVO também já cuidou de conquistar o seu intelectual orgânico: Rodrigo Constantino, o colunista da revista Veja que, em artigo saudando o partido, publicado no site da revista nesta quarta (16), afirma que o NOVO é diferente porque todos os partidos que existem hoje no Brasil são de esquerda. “Sim, até o PSDB, caro leitor desavisado”, defende ele.
Vanguarda do atraso
A despeito do nome, o partido bebe no liberalismo que foi vanguarda sim, mas lá no século 18, nos tempos de Adam Smith e a sua obra clássica “A Riqueza das Nações”. Os filiados ao Novo, que preferem ser chamados de “sócios”, acreditam naquela mítica mão invisível do mercado, capaz de reger todas as relações humanas com os melhores resultados possíveis. Para eles, a defesa da propriedade privada é um valor em si mesmo. A falácia de que tudo o que é privado é melhor do que público, também.
Formado genuinamente por universitários que, desde a redemocratização, escutam o mantra neoliberal que tomou conta da academia brasileira, os “sócios” do NOVO são favoráveis ao estado mínimo, praticamente sem nenhuma função social. Conforme o site do partido, de todos os serviços previstos como essenciais pela Constituição Federal, o único que o NOVO concorda que fique nas mãos do Estado é a educação, e mesmo assim apenas o ciclo básico.
Contraditoriamente, porém, seu presidente afirmou, em entrevista concedida às Páginas Amarelas de Veja, em novembro do ano passado, que o Bolsa Família é o melhor programa social em execução no país, porque permite ao cidadão decidir como irá gastar o subsídio do Estado. Segundo ele, o ideal é que o mesmo fosse feito com saúde e educação: o Estado fornecesse o crédito e o cidadão escolhesse em qual serviço privado iria emprega-lo. Constantino aplaudiu no seu artigo semanal.
Na mesma entrevista, o presidente que odeia o Estado paternalista, mas aprova o Bolsa Família, rechaçou as cotas raciais e sociais. Segundo ele, as cotas dividem a população e estabelecem privilégios. Para o NOVO, justiça social só se faz com meritocracia, aquele sistema no qual os que historicamente têm mais acesso e oportunidade sejam premiados por isso e se mantenham eternamente nas posições de poder. O ‘filósofo” do grupo, Rodrigo Constantino, chega a pregar que “desigualdade social não é problema”, já que alguns se esforçam mais do que outros.
Mas as cotas não são o único tema no terreno dos costumes que desvela o conservadorismo do NOVO. O partido fala muito em defesa dos direitos individuais, mas sequer tem a coragem de manifestar posição sobre temas como aborto, drogas ou casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Entendemos a importância de temas como esses, mas vamos focar, prioritariamente, na discussão de assuntos ainda mais relevantes, como, por exemplo, o papel do Estado, a eficiência da gestão, a atuação dos governantes, as políticas econômicas e outros”, justificam no site.
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