O Jornal de todos Brasis
De acordo com os mais variados indicadores de confiança, é possível dizer que a perspectiva não é positiva no horizonte próximo para o Brasil. Nesse sentido, creio ser interessante analisarmos, ainda que brevemente, algumas questões.
Em artigo publicado no Valor Econômico, o professor Marcos Nobre afirma:
A descoordenação chegou a tal ponto que nem mesmo a parte importante do PIB que decidiu se expor e articular em favor da suspensão das movimentações pela saída de Dilma conseguiu produzir confluência no campo do grande empresariado. O que essa atuação produziu foi um susto no sistema político, sempre sensível a uma concertação da alta finança e do alto empresariado. Mas o susto passou rapidamente. Ao longo da semana, ficou claro que a movimentação não tinha sido ampla o suficiente para ser representativa. As forças favoráveis ao afastamento da presidente se colocaram em campo da mesma maneira caótica de antes.
Acontece que não é pela política que se produzirá o colapso, mas pela economia, que deteriora com rapidez. Uma economia sem o lastro necessário da política. Ficou agora patente aquilo que todos os principais atores sabiam, mas deixaram em suspenso para cuidar de seus afazeres: não há mais como ignorar a desgraça orçamentária do governo. E, como desgraça pouca é bobagem, isso precisa ser feito juntamente com a elaboração e aprovação de um orçamento crível para 2016. Não se vê no horizonte capacidade de coordenação e unidade de ação capazes de produzir esses dois resultados. E, no entanto, o preço de não se conseguir alcançar esses dois objetivos será não apenas alto, mas cobrado em dólares. E o país não está em condições de pagar esse preço [1].
Ao longo do ciclo econômico é muito comum que uma fase de boom seja acompanhada pelo aumento das taxas de juros e a retração seguida pela redução das taxas de juros. Entre nós, no entanto, as taxas de juros sobem inclusive no ciclo de retração da economia. Não é tão difícil de entender o motivo, pois ainda não nos livramos do subdesenvolvimento. A queda dos preços internacionais das commodities desde 2014 impactou adversamente na América Latina e há, portanto, pressão inflacionária na região por conta do repasse das desvalorizações cambiais das moedas nacionais.
A elevação da taxa básica de juros no Brasil não está objetivando atuar diretamente sobre a tomada de crédito em um contexto de recessão, mas busca segurar o câmbio, algo comum desde o Plano Real. O gráfico publicado no jornal Valor Econômico [2] revela o tamanho histórico desse gasto e não é tão difícil avaliar o seu impacto no resultado fiscal brasileiro:
Do ponto de vista das exportações brasileiras, é fato bem conhecido que a sua base perdeu complexidade econômica nos últimos trinta anos. A sobrevalorização cambial crônica do real desde 1994 e a desindustrialização prematura integram esse processo regressivo de inserção internacional. Segundo recomenda a literatura sobre desenvolvimento, leis de Engel e Thirwall, por exemplo, o Brasil deveria ter trabalhado efetivamente para elevar a elasticidade-renda da demanda das suas exportações. Entretanto, a participação da indústria de transformação atingiu 10,9% do PIB em 2014, algo comparável ao peso da mesma em 1947.
Matéria do NYT, por sua vez, destacou que os bancos brasileiros ganham em qualquer fase do ciclo econômico:
Yet the gains have been much more impressive for the nation’s banking industry, even as the manufacturing sector has stagnated and the broader economy has ridden the ups and downs of global commodity prices. The combined annual profits of Brazil’s four biggest banks have grown more than 850 percent to just over $20 billion, from $2.1 billion, in the 12 years of Workers’ Party rule [3].
Como se pode notar, há algumas graves distorções que mereceriam integrar as possibilidades de ajustes macroeconômicos em nosso país.  
Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)