Jânio de Freitas, Folha, 28/07/15
Mais uma ideia original. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência produz em série. Está em planejamento, por exemplo, um aplicativo em que os portadores de celular tanto poderão receber as novidades governamentais, como enviar ao Planalto suas opiniões sobre o governo e a presidente. Consideradas as sondagens da opinião pública sobre Dilma e seu atual mandato, constata-se que a adesão da Presidência à modernidade tecnológica terá utilidade científica, como prática atualizada de masoquismo, assunto de interesse para os estudos das ciências psicológicas.
É um avanço, sim, embora ainda à espera de definição. A Secretaria de Comunicação instalada com o primeiro mandato tinha a peculiaridade de rejeitar a comunicação. Com isso, contribuiu muito para vários dos conceitos que se disseminaram sobre a presidente e sobre o governo. Como pregava o personagem mais característico da TV Globo, o Velho Guerreiro, depois do seu lema cultural "Tereziiiiinhaaaaa!!!", "quem não se comunica se trumbica". Ou vira especialista em comunicação.
A nova Secretaria atua até em política. Sempre com originalidade, claro. Por exemplo, tivesse ou não tivesse Lula a intenção de conversar com Fernando Henrique sobre o momento brasileiro, como a Folha noticiou, o Instituto Lula negou tal pedido do ex-presidente à intermediação de amigos. Com razões desconhecidas, se existiam, o secretário Edinho Silva desprezou a escapatória dos seus correligionários e fez a opinião pública saber que ele vê "com bons olhos a possibilidade de diálogo entre Fernando Henrique e Lula, como vejo com naturalidade que o mesmo aconteça com a presidente". Dada a importante opinião dele, é apenas natural que a da presidente da República a siga.
Assim, sem informação do que se passava, inclusive com a dúbia resposta inicial de Fernando Henrique, o comunicador ofereceu o microfone e soprou o petardo humilhante que esse ex-presidente mandou ao outro e a Dilma. É incerto, no entanto, que na original Secretaria de Comunicação hajam deduzido, dessa mancada, que também quem comunicar pode se trumbicar.
Mas o gasto de dinheiro público nessas originalidades é pequeno. Menos tranquilizadora é a conclusão ao deparar outras e caras iniciativas originais. É o que se passa com a visão de anúncio a cores, em página nobre de jornal carioca, do financiamento agrícola. Nesse caso, quem se trumbica com a Secretaria de Comunicação é o pagador de impostos.
ERRO, SÓ
Sem salamaleques verbais para considerá-la, a alta redução feita agora no superavit previsto para 2015 pelo plano Levy é bem simples: a previsão foi um erro grosseiro. Atribuí-la a inesperada queda de arrecadação não é decente. Se as medidas do governo foram todas recessivas, a queda da atividade econômica, o desemprego e a redução de salário e renda só poderiam refletir-se em queda da arrecadação, como sabia todo o governo.
Se o eixo do plano estava errado, corrigir apenas ele não conserta coisa alguma. Economia são conexões sem fim. E os fios manipulados pela equipe econômica estão trocados e desencapados. Nela, estão todos perplexos.
DE CLASSE
Madame Isabela Odebrecht indignou-se, como registrado em celular investigado, com o convite do marido a uma sindicalista: "Se sujar minha toalha de linho ou pedir Marmitex...vou pirar" (transcrito por Mônica Bergamo).
A transferência de presos da Lava Jato, retirados de celas na Polícia Federal para um presídio, é muito vantajosa. Madame Isabela Odebrecht agora pode levar Marmitex para o marido, que emagreceu com a má alimentação na cadeia da PF. Tomara que não esqueça de levar uma das suas toalhas de linho.
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