TER, 14/07/2015 - 19:49
Fundada no moralismo mais acendrado, a crise política atual permitiu a ampliação de poder de quatro homens probos, figuras símbolos de um período em que o país purga seus pecados e consagra os virtuosos.
Mas não o julguem mal por isso. Só um homem extremamente probo - como ele - pode se dar ao luxo de arrostar o pecado sem pecar. É o Santo Antão do Supremo.
O segundo é Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Esse é um probo injustamente acusado pelo Ministério Público Federal, que confundiu propina com pagamento de dízimo.
O terceiro é Paulinho da Força. Foi injustamente acusado de receber propinas para impedir a continuação de uma greve no canteiro de obras do pagador. Não foi nada disso. Provavelmente trata-se de um prêmio em dinheiro concedido "ao pacificador do ano", pela inexcedível contribuição à paz social no país. É o nosso Ghandi redivivo.
No encontro dos três – Gilmar, Cunha e Paulinho – a Folha supôs que o tema principal fosse o impeachment de Dilma. Mas Gilmar esclareceu que “o tema central da conversa foi o Código de Processo Civil” (http://migre.me/qLquI).
Qual o interesse no Código Civil de dois acusados pela Lava Jato? Uma medalha da Madre Tereza para quem adivinhar. Muito provavelmente queriam saber das brechas processuais para estancar os inquéritos. Como, por exemplo, entrar com pedido de habeas corpus em dia de plantão de Gilmar Mendes no STF. Afinal, Gilmar é um conhecido “garantista”.
Cada cruzada moralista tem os catões que merecem. E não é papel dos jornais decepcionarem os leitores mais sonhadores. Pobre do país que não precisa de catões, dirão os muito crentes.
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