http://jornalggn.com.br/noticia/tres-anos-de-problemas-estaduais-em-mobilidade-viram-culpa-da-uniao
TER, 28/07/2015 - 18:33
Reportagem do Valor responsabiliza falta de repasse do governo federal pela paralisação de obras de metrôs. Os exemplos, contudo, são de erros em governos estaduais e prefeituras
Jornal GGN - O último livro de Umberto Eco ensina como contar uma inverdade sem mentir. Na edição de hoje, o jornal Valor Econômico deu uma boa demonstração de como se valer desses recursos.
A principal manchete de hoje é sobre as obras travadas do PAC mobilidade.
A reportagem tem duas versões: uma para a capa (com muito maior visibilidade) e outra para as páginas internas.
Na capa, todas as informações remetem a responsabilidade para o governo federal. O texto de capa informa que quase 100 quilômetros de linhas de metrô ou de veículos leves sobre trilhos, planejados há três anos, ficaram apenas no papel.
O jornal informa que em abril de 2012, a presidente Dilma Rousseff prometeu recursos para "espalhar linhas de metrô pelas maiores capitais do país", com um pacote de R$ 32 bilhões. No evento de anúncio do repasse de recursos, o Valor publicou que a presidente "atacou quem demonstrava complexo de viralata", referindo-se ao passado, quando "diziam" que o Brasil "não tinha condições de investir em metrô".
"Entre a promessa e a realidade, o retrato é frustrante", continua a matéria de capa. "Até o fim do primeiro trimestre, apenas R$ 824 milhões de tudo o que Dilma havia prometido tinham sido efetivamente pagos", aponta, como se o Orçamento da União fosse o único requisito para "tirar do papel" as construções de mobilidade.
São Tomás de Aquino dizia que uma das formas de mentir consiste em não contar toda a verdade. Na capa se resumiu tudo, menos o essencial: das sete capitais analisadas, em seis delas os atrasos são de responsabilildade dos respectivos governos estaduais: problemas de projetos, mudanças societárias no consórcio vencedor da licitação e outras razões pontuais.
Mas o jornal optou por colocar a parte mais relevante da reportagem apenas nas páginas internas.
Em Brasília, o projeto básico de engenharia (que deve ser apresentado pelo governo) atrasou. Em Goiânia, "faltam 90% das desapropriações" - por ser uma obra PPP entre a Odebrecht e o governo estadual, a desapropriação é de responsabilidade do estado. Em Belo Horizonte, erros também no projeto básico de engenharia. Em Curitiba, a licitação para as obras realizada pela prefeitura foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado e, depois de liberada, a prefeitura pede reajuste dos valores. Em Porto Alegre, "o governo estadual que entraria com a maior parte dos recursos complementares vive crise financeira".
No Rio de Janeiro, o impasse teve início porque o governo estadual espera o dinheiro ser liberado pela Caixa e do fundo perdido do Ministério das Cidades. Mas para liberar os recursos, a obra precisa ser licitada. E a licitação não ocorre, porque o Estado quer garantia de que os recursos vão ser repassados.
De todas as sete capitais listadas pelo Valor, Fortaleza é a única que "deu sinais concretos de avanço". E nela, "mais de 70% dos investimentos previstos têm origem no Orçamento Geral da União (OGU)". A obra, contudo, está abandonada. "Especula-se que houve falta de repasses, mas ninguém confirma", disse o coordenador do sindicato dos trabalhadores da construção no Ceará. Parte interessada na denúncia, se houvesse, a própria Secretaria Estadual de Infraestrutura "nega problemas orçamentários e atribui a paralisia a mudanças societárias no consórcio vencedor da licitação".
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