sex, 11/09/2015 - 17:55
Primeiro passo: entender a grande disputa entre rentistas e economia real.
A disputa dá-se
em torno do orçamento público. Os rentistas se apropriam dele através
dos juros; a economia real através de subsídios ao crédito e compras
públicas; o cidadão através de gastos sociais e com serviços públicos.
Como esses interesses precisam ser legitimados perante a opinião pública, cada grupo tratará de desenvolver argumentos em defesa da política econômica que melhor atenda a seus interesses.
Segundo passo: entender os impactos da taxa de juros sobre a dívida.
Os juros pagos dependem de dois fatores: do nível da dívida e da taxa cobrada.
Uma taxa de juros elevada, incidindo sobre uma dívida pequena, poderá ser menor do que uma taxa pequena incidindo sobre uma dívida elevada.
No início
do Real, por exemplo, a relação dívida/PIB estava em 20%. No início doe
1995, o presidente do Banco Central Pérsio Arida jogou a taxa básica
para 45% ao ano, para enfrentar uma fuga de capitais. Pérsio caiu,
entrou Gustavo Loyolla, que manteve a taxa inalterada. Segundo ele,
poderia ocorrer outra crise cambial e o Banco Central ter novamente que
elevar os juros. Então, melhor derrubar vagarosamente a taxa. No final
do governo FHC, a relação divida/PIB beirava os 60%.
Em país sério, Gustavo seria preso ou internado. Por aqui, tornou-se festejado consultor de mercado.
A
política monetária do Real comprometeu o orçamento público por todo o
período FHC, mais o primeiro governo Lula, a fim de trazer a relação
dívida/PIB para níveis suportáveis.
Confira na tabela: manter por um ano uma taxa de juros de 45% incidindo sobre uma dívida equivalente a 20% do PIB é a mesma coisa que uma taxa de juros de 12,86% sobre uma dívida de 70% do PIB.
Toda a lógica mercadista consiste em definir sempre a mais alta taxa de juros possível, dentro de limites prudenciais.
Com a relação dívida/PIB em 20%, Loyolla pode elevar as
taxas para mais de 40% ao ano. Com a relação nos 60%, Alexandre Tombini
eleva para 14,5%. Na tabela abaixo, confira a taxa de juros necessária
para absorver 8% do orçamento de acordo com diversas hipóteses de
dívida.
Não
se pense em algo conspiratório da parte dos cabeções. Eles apenas
seguem a cartilha acriticamente e se curvam a princípios tratados como
dogmas. Tipo:
1. Para cada problema econômico, um instrumento.
2.Para a inflação, política monetária.
3. Para a política
monetária, só inflação, sem se preocupar com outros problemas, que
deverão ser tratados por outros instrumentos, não pelo monetário.
Seguindo automaticamente o manual, se irá sempre ao teto dos limites prudenciais.
É por isso que consolidou-se o acompanhamento do
déficit primário (que exclui os juros) e não o nominal. E que os
principais economistas especialistas em orçamento - como Raulo Velloso
ou Fábio Giambiagi - recusem terminantemente a incluir a conta de juros
nos seus cálculos e propostas.
Para os técnicos do BC, o ganho virá quando a inflação cair e as taxas de juros recuarem.
Terceiro passo - Vamos conferir como será esse ganho na tabela da S&P.
A tabela vai de 2009 a 2018.
Aparentemente
em 2018 se terá uma economia normalizada: o PIB correndo a 2,%, os
investimentos em 17,7% do PIB e a poupança em 16,2%; o déficit comercial
terá baixado de 4,4% para 3,3% do PIB e o superávit primário crescido
dos -0,3% de 2016 para 1,5%,
Tudo normal?
Não.
A
dívida líquida saltará de 46,7% em 2014 para 62% em 2018, como
proporção do PIB. A dívida bruta passará de 58,9% para 71,3%. Mesmo as
taxas caindo, pelo tamanho da dívida o orçamento continuará prisioneiro
dos juros futuro afora.
A
atual taxa Selic não comprometerá o orçamento apenas no próximo ano.
Levará uma década, pelo menos, para o país trazer a relação divida/PIB
para níveis razoáveis e liberar recursos para aquilo que traz
efetivamente o desenvolvimento: investimentos na infraestrutura e nas
pessoas.
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