5 de julho de 2015 | 09:15 Autor: Fernando Brito
Certos atos têm mais importância por serem praticados do que pela forma com que são praticados.
A entrevista do Diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello, ao Estadão é um destes.
O policial poderia, se desejasse uma entrevista sem dados e destinada a “não dizer”, ficar calado, como normalmente ficam os policiais.
Se falou, foi para dar sinais.
Esperto, Daiello trabalhou com uma “neutralidade formal que – ninguém chega a diretor da PF sendo ingênuo – permite o objetivo de sinalizar a seus subordinados o “liberou geral” para que sejam efetuados atos cada vez mais ousados de investidas contra o governo eleito da República.
Diante de uma pergunta sobre o que aconteceria se investigações chegassem ao ex-presidente Lula ou à presidenta Dilma, poderia ter dito o que até os promotores da Lava Jato e o juiz Sérgio Moro têm dito: que ambos não estão sendo investigados. Mas preferiu uma mentira polida – “nós investigamos fatos, aonde os fatos vão chegar é consequência da investigação” – e um retumbante (e oco, claro) “doa a quem doer”.
É o suficiente para sinalizar o “liberou geral” para ao exercício da “meganhagem” atrás dos “grandes prêmios”.
Depois, outras frases de “valor absoluto”: “A PF, por sua doutrina, é imune a qualquer tipo de pressão. Não nos interessa quem está sendo investigado, mas fazer uma investigação competente, com provas robustas.”
O que, é claro, não valeu para Daniel Dantas, não é?
Nem para tudo o que se relatou no “Privataria Tucana”…
E a escuta clandestina, comprovada pelo encontro de equipamentos, encoberta por uma sindicância fajuta e apontada, em depoimento, por um agente e um delegado da própria PF, é tratada com impressionante calma: “Toda e qualquer conduta duvidosa é apurada de imediato pela Corregedoria. Estamos apurando se o fato existiu e se foi ilícito administrativo ou penal.”.
Poderia ter dito: “estamos identificando as responsabilidades e, caso se confirme uma ação ilegal dentro da sede Polícia Federal, os eventuais responsáveis serão afastados e punidos “. Dispensava-se até o “doa a quem doer”, doutor…e não reclame se isso for interpretado como um “calma, não vai dar nada”. Porque, afinal, já não deu, na primeira sindicância, não é?
Mas é ao Ministro da Justiça, certamente, a quem o Dr. Daiello, reserva o maior – talvez por merecimento – o maior papel de bobo.
“O ministro da Justiça não é seu chefe?
O ministro da Justiça é o responsável pela PF, mas na esfera administrativa. As ações da PF na esfera de investigação são feitas no limite da lei.
Então, o que tanto o senhor conversa com o ministro da Justiça? O senhor vive no ministério…
Assuntos correlatos à PF, fronteira, tráfico de drogas, equipamentos novos…
E investigação do PT, das campanhas da presidente?
O ministro tem conhecimento de uma investigação no dia em que a operação é desencadeada, logo após as buscas e prisões. O diretor-geral, nesse momento, informa ao ministro o que esta acontecendo, mas só nesse momento.”
Jura, Doutor?
Antes só ficam sabendo a Veja, a Globo, os repórteres escolhidos para os vazamentos, essa turma… Coisa que o Doutor não menciona porque, afinal, não existe, não é?
Entrevistas que não dizem nada, em geral, querem dizer muita coisa.
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