terça-feira, 16 de junho de 2015

Maria Alice Setubal questiona meritocracia e modelo de bônus no ensino público

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A educadora e acionista do banco Itaú disse que se afastou um pouco da política partidária e lança livro sobre o ensino brasileiro
 
 
Jornal GGN - Um dos principais dogmas dentro da luta pelas melhorias na educação, o bônus por desempenho para os professores da rede pública foi questionado pela educadora Maria Alice Setubal, doutora em psicologia pela USP e presidente do Cenpec, centro de estudos e formação de professores.
 
Para ela, o incentivo só funciona em escolas públicas que tenham pouca desigualdade, uma vez que gera a tendência de que os melhores professores desistam dos piores colégios. Ainda sem posicionamento claro sobre a prática adotada pelo estado de São Paulo, há seis anos, em que recebem o dinheiro extra os profissionais das escolas que atingem determinadas metas, Setubal afirmou, contudo, que "os resultados continuam ruins". 
 
"Quando você tem igualdade de oportunidades, um município com a mesma condição a todos, você pode aplicar a meritocracia. Mas no Brasil como um todo é mais difícil. Sou contra o bônus quando não se leva em conta as diferentes condições. Porque, se não, causa uma disparidade ainda maior, ninguém quer dar aula nas escolas piores, que em geral já ficam na periferia, e elas ainda terão professores piores", defendeu.
 
Na entrevista concedida à Folha de S. Paulo, a educadora e ex-assessora de Marina Silva na última campanha presidencial também disse que prefere se "concentrar mais na educação, neste momento". Setubal está lançando o livro "Educação e Sustentabilidade" (editora Peirópolis), em que defende que as escolas ensinem sustentabilidade ambiental, social e econômica, além de discutir temáticas exclusivas à educação.
 
Sobre sua atuação nas eleições de 2014, afirmou que continua próxima de Marina Silva. "Nos falamos sempre, serei filiada à Rede, mas me afastei um pouco do dia a dia da política partidária", disse Maria Alice Setubal, e criticou o governo de Dilma Rousseff. "Sobre a campanha, tudo aquilo que o PT dizia que não iria fazer, como cortes, aumento da taxas de juros, ele fez. A popularidade da presidente está baixa", afirmou.
 
Confira a entrevista completa:
 
Folha - Por que escolas devem se concentrar nos princípios da sustentabilidade? Há educadores que entendem que as escolas já têm incumbência muito pesada de ensinar o básico, como ler e escrever.
Maria Alice Setubal - As coisas têm de vir juntas. E quando vêm é que surge sentido [no conteúdo]. Não dá para trabalhar gramática e redação para depois, se der tempo, a cidadania. As questões de leitura e matemática devem ser abordadas dentro de discussões como mobilidade urbana, violência.
 
No livro, retomo Paulo Freire: leitura sem contexto não adianta.
 
Concordo que principalmente as escolas de periferia têm inúmeras demandas que são de saúde, de assistência social. Essas demandas é que precisam sair do âmbito da escola, para ela se concentrar na educação.
 
Por outro lado, você precisa apoiar mais as escolas em situações vulneráveis. Se você dá bônus apenas para quem vai bem, só aumenta a desigualdade.
 
No livro, você mostra ceticismo em relação a políticas como bônus e meritocracia na educação.
Quando você tem igualdade de oportunidades, um município com a mesma condição a todos, você pode aplicar a meritocracia. Mas no Brasil como um todo é mais difícil.
 
Sou contra o bônus quando não se leva em conta as diferentes condições. Porque, se não, causa uma disparidade ainda maior, ninguém quer dar aula nas escolas piores, que em geral já ficam na periferia, e elas ainda terão professores piores.
 
Ou há outras formas, como no Ceará, onde não é um bônus direto para o professor. A maior parte do prêmio vai para escola, e ela só recebe tudo se entrar numa rede de colaboração com escolas no entorno que têm notas piores.
 
A rede estadual de São Paulo tem uma política de bônus há seis anos, em que recebem o dinheiro extra os profissionais das escolas que atingem determinadas metas. O que você acha do modelo?
Preciso estudar um pouco mais a fundo o modelo. Mas não sei se está dando certo. Os resultados continuam ruins. O índice de qualidade da educação de São Paulo pode estar entre os cinco primeiros do Brasil, mas é muito baixo. A riqueza do Estado é incompatível com os resultados na educação.
 
Há muita contestação hoje no mundo sobre essa política. Você começa a treinar apenas para a prova. É outra contradição.
 
Você continua apoiando Marina Silva e a Rede? E ficou alguma mágoa da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff?
Sigo próxima da Marina, nos falamos sempre, serei filiada à Rede, mas me afastei um pouco do dia a dia da política partidária. Quero me concentrar mais na educação neste momento.
 
Sobre a campanha, tudo aquilo que o PT dizia que não iria fazer, como cortes, aumento da taxas de juros, ele fez. A popularidade da presidente está baixa. É tudo o que posso dizer.

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